domingo, 30 de setembro de 2018

Análise não-verbal: Ex-mulher de Jair Bolsonaro fala sobre suposta ameaça de morte.

Na terça-feira, dia 25 de setembro, o jornal Folha de São Paulo publicou uma reportagem, na qual apresenta uma denúncia da ex-mulher de Jair Bolsonaro, Ana Cristina Valle, junto ao Itamaraty, alegando que sofreu ameaça de morte do candidato em 2011.
Logo após a divulgação, Ana Cristina, vem a público, por meio de um vídeo, desmentir a reportagem do jornal; e negar que tenha sofrido qualquer tipo de ameaça.

"Este presente artigo não tem como objetivo manter ou defender uma posição política. A análise é feita, exclusivamente, com base em ciências comportamentais e tem a única finalidade de instruir."

Vamos à análise:

No começo do vídeo, em 0:01, Ana Cristina emite uma expressão de medo pela sutil elevação nas pálpebras superiores e separador dos lábios. 
Seus ombros tensos são congruentes com a emoção de medo.

Em 0:03, ao falar: "... ex-esposa do nosso presidenciável Jair Bolsonaro", Ana Cristina fecha os olhos indicando não visualização ("Eye Shielding").
Geralmente, esse gesto está ligado à emoção negativa.

Em 0:05 depois de falar que é ex-esposa do presidenciável Jair Bolsonaro, Ana Cristina exibe uma expressão de desprezo, pela contração no bucinador com uma ênfase maior no lado direito da extremidade do lábios.
Existe uma probabilidade desta emoção estar ligada ao fato dela ter sido casada com Jair Bolsonaro.

Em 0:06, ao falar a palavra "indignada", Ana Cristina realiza um movimento exagerado de verbalização. 
Esse exagero indica um estado emocional alfa do agente realizador. Mostra que Ana Cristina está se sentindo assertiva, confiante.

Em 0:15 ao dizer: "Que o Jair me ameaçou de morte", se referindo a afirmação feita pela Folha de São Paulo na reportagem, Ana Cristina demonstra a expressão de medo novamente. Desta vez pelo levantamento das sobrancelha na parte interior e exterior, contração do corrugador (responsável pelo abaixamento das sobrancelhas), elevação das pálpebras superiores, estiramento horizontal dos lábios pela ação do músculo Risorius.
Há também um desnível nos ombros indicando ansiedade e incerteza em seu discurso.
Suas mãos estão espalmadas para cima. Esse gesto é chamado por Joe Navarro como "Rogatory Position" e indica que a pessoa deseja que acreditem no que está falando.
Essa posição denota um apelo, e nesse contexto, Ana Cristina está pedindo que acreditem nela quando diz que a Folha de São Paulo publicou que ele a tenha ameaçado.

Um pouco antes desse trecho, a partir de 0:09, Ana Cristina diz que a Folha de São Paulo publicou que o Jair a ameaçou de morte. Na verdade, a publicação da folha se refere ao fato da Ana Cristina ter falado que ele a ameaçou.
Existe, portanto uma diferença entre o conteúdo da publicação e o que Ana Cristina está falando. 
(Uma coisa é dizer que o jornal disse que Bolsonaro a ameaçou; outra coisa é dizer que Ana Cristina disse que foi ameaçada).
Essa diferença pode indicar fuga e evasividade por parte de Ana Cristina.
Ana Cristina nega que Bolsonaro a agrediu, e não, que citou a ameaça à embaixada.

Podemos concluir nesse segmento que não foi a Folha que disse sobre a ameaça, foi ela quem citou tal ameaça, mas Aná Cristina transfere a culpa para o jornal e deseja que acreditem que a notícia de ameaça tenha partido da Folha.

Em 0:17 ao falar: "Nunca", ao se referir a ameaça de morte, ela exibe um conjunto gestual congruente com o contexto: corpo projetado para frente, movimento rápido de cabeça de um lado para outro.
O movimento rápido de cabeça de um lado para outro, é chamado por Jack Brown de "Head Wiggle", indicando um alto nível de assertividade e confiança. O corpo projetado para frente confirma essa segurança no discurso.

Em 0:19, Ana Cristina realiza o gesto de espalmar completamente a mão no peito.
Esse gesto possui um alto coeficiente de sinceridade, pela forma como é realizado. Em contrapartida, se o mesmo gesto fosse realizado apenas com a ponta dos dedos tocando o peito, o significado seria o oposto, haveria uma falta de sinceridade e um discurso completamente racional.

Em 0:21, ao falar que o ex-marido Jair Bolsonaro é muito querido, há congruência.
A cabeça de Ana Cristina afirma no mesmo momento em que verbaliza uma afirmação.

Em 0:25, mais uma vez vemos congruência ao dizer que Jair Bolsonaro não tem essa índole, sua cabeça nega enquanto suas palavras são de negação.

Em 0:32, Ana Cristina diz: "Espero que vocês acreditem"
Podemos notar que existe movimentos exagerados de vocalização conjugado com emoção de raiva pela contração do corrugador e afinamento dos lábios.
Esse conjunto nos mostra que ela tem o desejo de convencer, de que acreditem em suas ideias.

Em 0:46, após dizer que acredita que seu ex-marido ganhe no primeiro turno, e espera que as pessoas acreditem também, Ana exibe um gesto de projetar a língua para fora ("Tongue Jut").
Esse gesto, por si só, é um indicativo de ansiedade. Geralmente mostra uma contradição com o que está sendo falando. Isso porque, essa projeção de língua tem ligação com manifestação de auto-incriminação. Como se o corpo estivesse dizendo: "Fiz besteira", "Consegui sair ileso", "Fui pego", etc.

Em 0:47, ao se direcionar à mídia, Ana Cristina realiza um gesto ilustrador de apontar o dedo. Esse gesto denota uma intensa agressividade à pessoa a quem o está sendo direcionado.
Na grande maioria das vezes deve ser evitado, restando raríssimas exceções.
A agressividade é confirmada pela raiva em sua face, devido a sutil contração do corrugador (abaixamento das sobrancelhas), tensão nas pálpebras inferiores e afinamento dos lábios.

A partir de 0:49, diz: "Não adianta, nada vai fazer com que ele caia..."
Nesse momento, podemos notar congruência entre o verbal e o não-verbal. Sua cabeça nega juntamente com a negação verbal.
Após dizer "caia" podemos notar que ela faz um gesto único de afirmação com a cabeça. Esse gesto está sendo realizado de forma consciente e tem o intuito de confirmar a negação feita anteriormente.


No final do vídeo, Ana Cristina exibe novamente uma expressão de desprezo pela contração bilateral do bucinador.
Esse tipo de contração, dependendo do contexto, pode ser vista como um sinal de "Regret" (arrependimento).
De acordo com o especialista Jack Brown, essa expressão se assemelha muito ao desprezo. A diferença básica entre elas é que, no desprezo, existe um estreitamento das comissuras, devido a contração do bucinador, e um estiramento para cima, feito pelo zigomático maior; na expressão de arrependimento, não existe o estiramento para cima, existindo apenas o estreitamento das comissuras.
O arrependimento pode ter como fato gerador o que Ana Cristina falou em algum momento, no vídeo, ou até mesmo antes.


SUMÁRIO: Ana Cristina Valle, apresenta comportamento congruente. Não houve ameaça direta de morte por parte do ex-marido Jair Bolsonaro - o que não exclui o fato de já terem tido discussões sérias e agressivas.
A agente realiza algumas expressões de medo, que podem estar ligado à publicação, ou ao que ela falou à Folha.
A expressão de "Regret" ao final do vídeo são indícios de que existe uma grande probabilidade de Ana Cristina ter comentado que Jair a ameaçou de morte, mas essa ameaça não aconteceu diretamente.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Análise não-verbal: Anitta diz que não apoia Jair Bolsonaro e é a favor do movimento "Ele Não"

Anitta aceitou o desafio da cantora Daniela Mercury, e veio à público se manifestar a favor da hashtag "Ele Não" - movimento contra a candidatura de Jair Bolsonaro.
Isso aconteceu após a cantora já ter falado que não iria se manifestar sobre de quem seria o seu voto à Presidente.
A cantora Anitta realmente apoia a hashtag "ele não"?

Vamos à análise:

No começo do vídeo em 0:01, Anitta, ao cumprimentar os espectadores, exibe uma acentuação na prega naso-labial, elevação do queixo (Mentalis) e uma pressão nos lábios. Essa configuração está presente na emoção de nojo. 
A pressão nos lábios é uma intenção de suprimir essa emoção
Anitta não queria estar ali falando sobre esse tema.

Aos 0:03 - 0:04 ao falar que foi desafiada pela Daniela Mercury a apoiar a hashtag "ele não", novamente podemos ver a pressão nos lábios juntamente com uma configuração de nojo ao citar o desafio

Em 0:05, ao verbalizar a palavra "apoiar", podemos notar que o pitch vocal de Anitta se eleva, deixando sua voz mais aguda. Isso indica uma forte ansiedade. 
Sua cabeça se lateraliza quebrando a harmonia corporal.
Podemos concluir uma possível desonestidade de Anitta quanto a veracidade de seu apoio.

Em 0:13 Anitta diz que não apoia o candidato Jair Bolsonaro.
Nesse momento, podemos reparar dois movimentos de cabeça incongruentes com o contexto.
Em um primeiro momento, Anitta inclina a cabeça para a sua direita, e logo em seguida ela realiza um movimento de cabeça partindo da esquerda para o centro. 
De acordo com o antropólogo, Desmond Morris, quando movimentamos a cabeça do centro para as laterais e depois retornamos ao ponto inicial, estamos negando ("Head Shake"); se realizamos esse gesto partindo do centro para apenas uma das laterais e depois retornamos ao começo, também é sinal de negação; mas se iniciamos o movimento na lateral para o centro, significa uma afirmação.
Ao final desse trecho, Anitta, novamente pressiona os lábios em uma tentativa de suprimir alguma emoção ou o que realmente gostaria de dizer (foto acima).

Em 0:17, Anitta diz: "... em momento nenhum eu desmereci... a hashtag"
Nesse momento, a cantora Anitta novamente nega com um gesto de cabeça partindo da lateral esquerda para o centro. De acordo com Desmond Morris, é um gesto de afirmação.
Podemos notar também que Anitta eleva sua sobrancelha direita de forma sutil, ao falar "em momento nenhum". Esse gesto é chamado de "Skeptical Eyebrow" e indica ceticismo, dúvida, incredulidade no que está vendo, falando ou escutando.
Anitta realiza uma pausa desnecessária entre as palavras "desmereci" e "hashtag" quebrando o fluxo verbal.
Esse cluster (conjunto) indica incongruência e descrença no que está dizendo.

Em 0:20 - 0:21, Anitta diz: "Eu só quis dizer para vocês que... além de se posicionar com hashtag, agente pode fazer durante a nossa vida. São os nossos dias também... as nossas atitudes, que mostram a nossa luta contra o preconceito, contra o racismo, machismo, homofobia; nossa luta pelas minorias"
Durante esse trecho, Anitta eleva o ombro direito em vários momentos. Um desses momentos se dá durante a palavra "além" (foto acima).
Esse gesto chamado de "Shoulder Shrug" de forma unilateral, feito durante tantas vezes e um trecho relativamente pequeno, indica desonestidade no discurso, pois há uma dissonância entre o que ela realmente pensa e o que ela está verbalizando.

Em 0:41 Anitta diz: "Eu apoio sim o uso da hashtag "ele não""
Nesse momento, ao final, novamente vemos Anitta comprimindo seus lábios com o intuito de suprimir uma emoção, uma fala, um desejo, etc.
É comum fazermos esse gesto quanto estamos contrariados de termos que fazer algo.

Em 0:45 após dizer: "... quero desafiar...", podemos notar que Anitta inspira mais profundamente
Indica nervosismo, tensão e recrutando forças para uma ação indesejada.


SUMÁRIO: Anitta não se sente a vontade no vídeo. Existem incongruências.
Não podemos confirmar se ela apoia o candidato Jair Bolsonaro, mas podemos afirmar que o apoio a hashtag "ele não" foi feito de forma racionalizada. Isso significa dizer que não houve vontade, por parte de Anitta, de oferecer apoio a esse movimento contra Bolsonaro.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Análise não-verbal: Eduardo Costa fala sobre suspeita de estelionato. Venda de imóvel


O cantor sertanejo Eduardo Costa está sendo acusado de estelionato devido à venda de uma mansão construída em terreno de reserva ambiental em um balneário mineiro.
O cantor vendeu a mansão a um casal por um valor entre R$ 6,5 e R$ 7 milhões de reais. Em troca recebeu um imóvel em Belo Horizonte no valor de R$ 9 milhões de reais. Para compensar a diferença, o cantor deu um automóvel da marca Ferrari, uma lancha e uma moto aquática ao casal.
Ao tentar registrar a mansão, o casal foi informado que o imóvel era alvo de uma ação civil pública do Ministério Público Federal e uma ação de reintegração de posse por estar construída parcialmente em uma área de preservação permanente que pertence a FURNAS.
O casal alega que não sabia dos processos envolvendo o imóvel.
O cantor Eduardo Costa prestou depoimento no dia 18 de julho.

Vamos à análise:

Em 0:06, o cantor realiza um gesto chamado de projeção da língua umedecendo os lábios. Esse gesto indica tensão e nervosismo ao falar do tema.
Isso ocorre porque em alguns casos, quando estamos nervosos sobre um assunto do qual estamos falando, o nervosismo resseca os lábios e esse gesto acontece para que possamos umedecê-lo e automaticamente nos acalmarmos. Sendo portanto um gesto pacificador.

Essa projeção da língua ocorre em vários momentos durante o vídeo.
De acordo com o especialista Joe Navarro, esse gesto de passar a língua nos lábios pode ser um indicativo de auto-incriminação. Significando que o agente errou, "fez besteira", deseja escapar ileso.
Nesse mesmo momento, se reparamos nos delegado. Ele está com os lábios pressionados, indicando tensão e nervosismo; e até mesmo apreensão.

Em 0:08, ao falar que a maioria dos imóveis na região têm esse processo cível, podemos notar que ele "coça" a face. Esse gesto é chamado de pacificador, e tem o objetivo de acalmar, tranquilizar. Sempre que esse gesto é realizado podemos dizer que o agente está passando por um momento de nervosismo e tensão.

Em 0:21, momentos antes do cantor dizer que toda pessoa que compra ou vende imóvel na região é ciente desses processos, ele eleva o ombro direito.
Esse gesto chamado de "Shoulder Shrug" é um indicativo de conflito cognitivo entre o que ele sabe que é verdade e o que ele diz. Pode ser interpretado como um sinônimo de incerteza.


Em 0:25, o cantor diz: "quando eu fiz a negociação, é... do meu imóvel, eu já fiz essa negociação, éééé... deixando bem claro pra pessoa que existia esse processo..."
Nesse trecho existem duas considerações relacionadas ao seu discurso: uso de agregadores e pausas desnecessárias. 
Ambos os elementos indicam processamento mental do que vai ser falado. De acordo com Mark McClish, o uso de agregadores verbais (éééé...) indicam um ganho de tempo para o cérebro pensar no que vai falar; para buscar as palavras certas.
A pausa, logo após os agregadores, indicam um alto nível de ansiedade, significando hesitação e reformulação de pensamento. Certamente Eduardo Costa iria dizer algo, mas desistiu.
Após a pausa, ele direcionou seu olhar pra cima e esquerda, conjugado com uma tensão nas pálpebras inferiores, gesto chamado de "Eyes Squint" (foto acima). Indica tentativa de lembrar de algo.
Todos esses gestos nos indicam que o cantor sertanejo quis ganhar tempo para pensar no que ia dizer, após concluir o pensamento do que ia verbalizar, desistiu e mudou suas palavras.
Esse trecho, não necessariamente, nos indica uma desonestidade total em relação ao fato, mas houve omissão.


Em 0:36, Eduardo Costa emite uma expressão de desprezo devido a contração do músculo do bucinador.

A partir de 0:59, o cantor diz: "todos nós estamos sujeitos a passar por situações constrangedoras, e... eu jamais levaria uma pessoa a passar por isso..."
De acordo com a análise do discurso, o fato dele ter falado que "todos estão sujeitos a passar por situações constrangedoras", indica que o cantor reconhece que houve uma situação constrangedora.
O uso de "todos nós" mostra uma tentativa de justificar a situação através de generalização e criar conexão.
O uso de "uma pessoa" ao invés de se referir a outra parte do processo mostra impessoalidade e distanciamento.

A partir de 1:10, ao falar "tô bem tranquilo, em relação a isso", ele eleva o ombro direito de forma contundente.
Novamente há um conflito cognitivo entre a verdade e o que ele diz. O cantor, definitivamente, não está tranquilo.
Juntamente com esse gesto, podemos notar que o cantor fecha o olho esquerdo. Esse é mais um gesto assimétrico. De acordo com o Paul Ekman, a assimetria é um forte indicativo de desonestidade no discurso.

Em 1:23, Eduardo Costa diz: "Não tenho o que esconder"
Logo após ele verbalizar essa frase, podemos notar que ele sinaliza "sim" com a cabeça. Nesse caso há uma incongruência entre o que é verbalizado e o que o corpo expressa.
Novamente há uma elevação do ombro direito indicando incerteza no seu discurso.

Em 1:33, antes do cantor verbalizar: "Tô respondendo normalmente como cidadão de bem que sou", eleva o ombro direito ("Shoulder Shrug").
Podemos concluir que Eduardo Costa não está tranquilo, com o que está acontecendo.

Em 1:46, o jornalista pergunta se ele responde ao processo de crime ambiental. Mais a frente, em 1:48, Eduardo responde com um gesto incongruente.
O cantor faz um movimento de rotação com a cabeça a partir da esquerda até o centro.
De acordo com Desmond Morris, o gesto de negação com a cabeça pode ocorrer quando o movimento se dá do centro até a direita ou a esquerda, voltando a sua posição inicial. A esse gesto chamamos de "Head Twist".
Como dito anteriormente, Eduardo Costa faz o movimento inverso - da esquerda até o centro. Portanto, não significa negação. Pode ser considerado um gesto de inclusão, afirmação

A partir de 1:56, o cantor diz: "Quando eu comprei o meu imóvel eu já tinha consciência, de que existia esse processo".
Durante a palavra "consciência", ele projeta a cabeça para frente e realiza uma ênfase verbal. Esse conjunto indica confirmação.
Logo depois ele realiza um gesto de projetar a língua lateralmente (foto acima), indicando estresse. De acordo com a melhor doutrina de comunicação não-verbal, quando esse gesto acontece, é como se o corpo estivesse dizendo: "Eu fui uma pessoa má", "Eu fui pego", "Eu fiz uma coisa estúpida", "Eu errei", "Eu consegui escapar ileso" (Joe Navarro).
Esse gesto pode ser visto como um sinal de que, subconscientemente, há a admissão de culpa.
Eduardo Costa, de fato, sabia que algumas casas da região tinham esse processo judicial, porém ele se sente culpado por ter causado algum prejuízo. Existe uma probabilidade dele se achar culpado pela demolição parcial do imóvel.

Em 2:13, após um jornalista perguntar o valor do imóvel vendido, o cantor Eduardo Costa realiza um gesto pacificador de coçar o ombro.
Esse gesto nos diz que ele está nervoso e tenso, e necessita se acalmar. O fato dele estar pacificando o ombro esquerdo com o braço direito acrescenta um desejo de se defender, pois o uso do braço para pacificar a outra extremidade do corpo cria uma barreira, indicando defensividade.
Ele não quer falar sobre o valor do imóvel. A defensividade mostra que existe uma necessidade maior de manter esse valor em segredo.

Entre 2:14 e 2:23 podemos notar que a voz do cantor fica mais aguda. Esse aumento do "pitch" vocal indica nervosismo e tensão.
Isso acontece porque quando estamos vivenciando esse estado de nervosismo, o organismo libera cortisol e adrenalina na corrente sanguínea e simultaneamente os músculos da garganta se tencionam e por isso a voz se afina.

Em 3:11, um jornalista pergunta se foi ele (Eduardo Costa) que construiu essa área que está em litígio.
Apesar do cantor ser congruente, respondendo negativamente ao mesmo tempo que nega com a cabeça, no momento em que ele diz "não", há uma sutil elevação no ombro direito, demonstrando incerteza
O cantor ainda complementa que já comprou o imóvel pronto. Nesse momento ele afirma com a cabeça - congruência.
O cantor é congruente ao dizer que ele não construiu o imóvel e que comprou ele pronto, mas a incerteza mostra que ele pode ter feito alguma obra que ocasionou o litígio, ou contribuiu para ele.

Em 4:16, o cantor Eduardo Costa se refere ao fato de o terem acusado de estelionato, dizendo: "Eu não faço isso; eu jamais faria isso. Não faz parte do meu caráter fazer isso..."
Não verbalmente, durante as frases "eu não faço isso" e "eu jamais faria isso" ele assente com a cabeça, porém esse assentimento se dá de forma mais intensa, sendo nesse caso um assentimento de confirmação à sua negativa. Congruência e veracidade.
Em relação ao seu discurso, em nenhum momento ele disse que não fez, que não errou. Ele diz "eu não faço isso". Verbo no presente. Logo depois complementa "eu jamais faria isso". Verbo no pretérito imperfeito.
O uso desses tempos verbais se dá de forma parcialmente incorreta, tendo em vista que em nenhum momento ele usou o tempo verbal correto para esse contexto, que seria o pretérito perfeito ("Eu não fiz isso").
O que o cantor quis dizer nesse trecho é que no momento presente ele não faz; o que não exclui a ideia de que no passado ele não tenha feito, não tenha errado.
No momento em que diz "não faz parte do meu caráter fazer isso", ele é sincero.
Podemos chegar a conclusão de que não faz parte do caráter dele agir dessa forma, mas ele pode ter feito algo errado por um descuido ou por um desejo de omitir tal informação sobre o imóvel.

Em 4:25, o cantor emite uma emoção de desprezo, pela contração do bucinador. Sua postura e sua cabeça ligeiramente erguida indicam orgulho
Nesse contexto pode haver a presença de um "Duping Delight" (sorriso do manipulador). De acordo com Paul Ekman esse sorriso é emitido quando o agente se sente satisfeito após perceber que conseguiu convencer em seu argumento.

A partir de 4:28, Um repórter pergunta: "Resumindo: Você nega o prejuízo para a pessoa e que a pessoa já sabia desse dano ambiental da casa?"
O cantor Eduardo Costa responde: "Nego o prejuízo, a pessoa já sabia, e eu jamais daria prejuízo em qualquer pessoa."
Antes de começar sua resposta, em 4:26, Eduardo Costa realiza um gesto chamado de "Lip Purse" - que consiste em projetar os lábios para frente. De acordo com a doutrina, esse movimento indica desacordo e/ou que o agente está planejando algo e deseja manter essa ideia em segredo. E ele sabe que será bem sucedido nesse desejo.
Sua gesticulação com a cabeça é exagerada para trás. De acordo com o especialista Alexandre Monteiro, esse exagero nos indica um gesto de compensação, pois vem depois de um "Duping Delight" e de um pacificador de passar a língua nos lábios
Ao falar "... em qualquer pessoa" ele realiza um gesto que o especialista Jack Brown chama de "Head Wiggle", que consiste em um movimento rápido de cabeça de um lado para outro. Esse gesto significa confiança, segurança e um estado emocional alfa.
Apesar dele demonstrar confiança nesse momento, os estudos de Statement Analysis de Mark McClish mostram que existe evasividade e distanciamento em seu discurso. Segundo McClish, a palavra "jamais" não é negação por não especificar o tempo, sendo considerada linguagem vaga; o uso do verbo "dar" no futuro do pretérito é considerado, para esse contexto, uma negação sem valor, pois o uso desse tempo verbal evita que o agente use o verbo no pretérito perfeito.
A frase "qualquer pessoa" é uma linguagem de distanciamento, pois ele não fala dos compradores nesse caso específico, ele usa de generalização
Em outras palavras, falar: "eu jamais daria prejuízo..." mesmo sendo uma verdade, não exclui a ideia de que já possa ter dado prejuízo antes; pelos usos da palavra "jamais" e da ausência do pretérito perfeito.

Em 5:18, Eduardo Costa projeta seus lábios para frente. Esse gesto indica que há uma intenção de omitir alguma ideia, plano ou intenção.
Em outras palavras, o agente do gesto tem alguma ideia, plano ou intenção que não deseja divulgar; e acha que terá, ou está tendo, sucesso em sua execução.

Em 5:20, ele realiza mais um gesto pacificador, visando se acalmar de algum momento de tensão, nervosismo ou ansiedade.

Em 5:21 - 5:22, Eduardo Costa responde à pergunta da jornalista sobre o porquê do casal ter entrado na justiça contra ele.
O sertanejo diz: "Olha... eu não sei. Sinceramente eu não sei. Eu juro por Deus que eu não sei..."
Ele projeta sua cabeça lateralmente para trás havendo desalinhamento corporal. Esse sinais indicam nervosismo e desejo de fugir da situação.
De acordo com estudos de Statement Analysis, começar uma resposta com "olha" indica incerteza no que responder ou como responder, funcionando como uma forma do cérebro ganhar tempo na resposta. Nesse contexto, essa palavra é desnecessária, tendo em vista que Eduardo Costa poderia começar sua resposta com "eu não sei".
Ele reafirma o desconhecimento ("Sinceramente eu não sei. Eu juro por Deus que eu não sei") em uma tentativa de convencer. Quando o agente não sabe, ele não tem essa necessidade de reafirmação.
De acordo com Mark McClish, o uso da frase "juro por Deus" pode ser um indicador de desonestidade. McClish diz que quando o agente cita divindade na resposta é uma incerteza e deseja que a certeza seja garantida ao citar tal divindade.
Em resumo, o cantor faz ideia do motivo de terem procurado a justiça para processá-lo.

Em 5:36, após o jornalista perguntar se a pessoa que comprou era próxima, Eduardo costa exibe uma expressão de medo devido a elevação da parte interna e externa das sobrancelhas, elevação das pálpebras superiores, separação dos lábios.
O advogado também exibe uma expressão de medo pela elevação das pálpebras superiores. Juntamente há um sinal de apreensão pela pressão dos lábios.
Logo depois ao começar a resposta, ele gagueja, indicando que não estava preparado para a resposta e não sabe o que vai responder.
Em 5:39 ao falar que eles se tornaram próximos por causa da negociação, o cantor realiza um gesto mecânico de afirmação com a cabeça, aumenta a velocidade da fala e o tom de voz. Esse conjunto gestual indica uma desonestidade em relação a proximidade que tinham.

Em 5:49, ele realiza o gesto de passar a língua nos lábios de forma mais contundente. Indica muito nervosismo, tensão, ansiedade ao tratar do assunto.
Esse gesto foi realizado por diversas vezes durante o vídeo.

Em 6:12 o jornalista pergunta se ele se arrepende de ter comprado essa casa. A partir de 6:15, o cantor responde: "De hipótese nenhuma. De hipótese nenhuma".
Não-verbalmente, ele nega com a cabeça demonstrando congruência, porém a frase "De hipótese nenhuma" não é considerada uma negação valiosa, tendo em vista que não é verbalizada a palavra "não".
Repetição da mesma frase é uma tentativa de reafirmar.
Ele teve ótimos momentos no imóvel, mas em algum momento, pode ter havido algum tipo de arrependimento, e talvez isso, o tenha feito vender.

Em 7:03, ao falar que compraria o imóvel de novo, ele apresenta muita tensão corporal e faz uma expressão denominada de "Not Face".
Essa expressão foi descoberta em 2016 por pesquisadores da Universidade de Ohio. As pesquisas descobriram uma nova expressão facial que é formada pela união das expressões de desprezo, raiva e nojo. O agente ao emitir essa expressão de "not face" tem a contração do corrugador presente na raiva; o enrugamento do queixo presente no nojo; e a contração dos lábios presente no desprezo. Esse expressão significa desaprovação, discordância.


SUMÁRIO: Eduardo Costa demonstra intenso nervosismo e tensão ao longo de todo o vídeo, que pode ser observado pelas várias vezes em que passa a língua nos lábios. O mesmo gesto, é reconhecido por Joe Navarro como um forte indício de auto-incriminação.
O cantor omitiu informações ao casal, a cerca do processo sobre o imóvel. Essa omissão pode ser em relação ao processo em si, ou em relação a alguns itens do mesmo.
O cantor reconhece que errou e que houve constrangimento.
O sertanejo não compraria de novo um imóvel nessa região, apesar da sinceridade ao afirmar que teve momentos bons no local.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Análise não-verbal: Depoimento de Adélio Bispo de Oliveira. Agressor de Jair Bolsonaro

No dia 6 de setembro, o candidato à Presidência Jair Bolsonaro, foi esfaqueado na região do abdômen durante um ato de campanha em Juiz de Fora, enquanto estava sendo carregado nos ombros por seus apoiadores.
O agressor foi identificado como Adélio Bispo de Oliveira.
Em 10 de setembro, o agressor participou de uma audiência de custódia em Juiz de Fora, aonde teve o seu depoimento gravado.

Vamos à análise:

Logo no começo do depoimento, em 17 segundos, podemos ver que o agressor realiza uma microexpressão de desprezo, devido a contração do bucinador no lado esquerdo.

Em 0:26, Adélio passa a língua nos lábios. Esse gesto é considerado um gesto pacificador e tem a finalidade de se acalmar diante de uma situação ou evento que gera muita ansiedade e nervosismo.

Em 0:35, podemos ver novamente a contração do bucinador no lado esquerdo, indicando desprezo.

Em 0:47, ao dizer que está com muita dor na região das costelas, ele não é honesto.
Ausência completa de qualquer expressão de dor.
Durante o vídeo ele vai se mexer em alguns momentos e a suposta dor não vai impedi-lo

A partir de 0:53, ele diz: "Fui preso depois de um certo incidente, então, houve um tumulto, uma confusão muito grande; ali fui espancado bem. Bem espancado, a princípio, mesmo dominado pela polícia..."
Falar "um certo incidente" ao invés de se referir ao que realmente aconteceu é considerada uma linguagem de distanciamento e eufemismo. Adélio tira completamente a importância do que aconteceu.
Ao dizer "ali fui espancado bem", ele realiza gesto rápidos com a cabeça, de um lado para outro. Esse gesto é chamado por Jack Brown como "Head Wiggle" e indica um estado emocional alfa, confiança e segurança no que está dizendo.
Nesse momento, seu discurso é verdadeiro.

Em 1:56, ao dizer: "... foi muito tumulto, não dá pra saber na verdade, né?..."
Adélio verbaliza essa frase com intenso nervosismo. Reparem que a frase sai confusa e a velocidade de sua fala aumenta, junto com uma gesticulação descoordenada.
Ao final, ele expira profundamente, indicando alívio após um evento estressante.

Em 2:00, a juíza pergunta para onde ele foi levado após o tumulto. Em 2:03, Adélio responde: "Havia um pequeno comércio fechado, inclusive com portão de grade; aí o senhor dali, acho que até queria me agredir também com um pedaço de pau, mas o policial, o barrou... obrigou... se identificou e obrigou a abir o portão para que eu entrasse."
Ao falar do comércio com o portão de grade, ele ilustra com as mãos essa localidade. Há, portanto, congruência. De fato, ele foi conduzido para essa localidade.
Segundos depois, ao se referir ao homem com um pedaço de pau, ele demonstra incerteza pelo uso da palavra "acho".
Com a cabeça, ele realiza gestos rápidos de um lado para outro. Esse gesto é chamado por Jack Brown, de "Head Wiggle" e indica segurança, confiança no que está falando.
Não houve essa tentativa de agressão.

No momento em que fala: "se identificou..." ele realiza um gesto pacificador de coçar a área lateral do pescoço, demonstrando ansiedade. Nesse caso, a ansiedade tem uma forte ligação com constrangimento

A partir de 2:27, ele repete a mesma história, da seguinte forma: "Havia um portão, acho que de um pequeno comércio, que tava fechado; portão de grade... E quando me colocaram ali pediram... o próprio dono veio com um porrete; acho que queria me agredir. Os policiais o contiveram e fizeram abrir o portão pra que eu entrasse, me jogaram ali para dentro e tentaram fechar. Aí me levaram para a parte de cima, e depois foi chegando mais policiais, mais policiais; e ali começou uma série de interrogatórios"
Nessa segunda vez, ao dizer que o dono do comércio veio com um porrete e queria agredi-lo, ele demonstra incerteza mais uma vez pelo uso da palavra "acho" .
Adélio realiza um gesto pacificador de coçar a cabeça. Um detalhe interessante é que ele realiza o gesto com o dedo do meio. (foto acima)
Nesse caso há um vazamento corporal do que ele realmente está sentindo. Qualquer gesto realizado com esse dedo, em específico, passa uma mensagem agressiva, destinada talvez a quem queria agredi-lo.
Apesar da veracidade em seu discurso, não houve ação de agressão por parte do dono do imóvel, e portanto, não houve contenção por parte da polícia.

Em 4:19, a juíza pergunta se ele teve a oportunidade de falar com algum familiar. Nesse momento Adélio é verdadeiro ao dizer que um policial que estava disposto a deixa-lo falar com a família, e que ele (Adélio) pediu que não.
Há congruência entre o gesto de negação com a cabeça e a negação verbal.

Em 4:39, a juíza pergunta se ele sofreu, por parte da polícia, alguns maus-tratos, alguma agressão.
Adélio, responde em 4:43: "(vocalização)... um ou outro policial, assim né?, bem autoritário, né? ameaçando; na saída da escadaria, fui entrar no camburão, tomei um soco, foi de um policial mas não lembro quem; tomei um soco e caí. Me pegaram e me jogaram no camburão; mas não lembro qual foi também, muito tumulto, né?"
No começo podemos notar que seu "pitch" vocal aumenta consideravelmente deixando sua voz mais aguda. Isso nos indica uma forte carga de hormônios como cortisol, demonstrando que o Adélio está experienciando um momento de forte nervosismo e ansiedade.
Ao falar que tomou um soco, ele ilustra o soco na cara, porém podemos reparar que ele eleva a sobrancelha esquerda ("Skeptical Eyebrow"). Esse gesto assimétrico demonstra dúvida e incerteza, de quem foi o autor do soco
De fato, ele levou um soco, mas não tem certeza de que foi um policial.

Em 5:59, ao falar que o presos que estão na cela dele são muito humanos, ele eleva a sobrancelha direita - gesto conhecido como "Skeptical Eyebrow". Indica ceticismo e dúvida.
O gesto que ele realiza com a mão é chamado de "Dominant Spider" - é um ilustrador que indica dominância, autoridade e assertividade.

A partir de 6:20, Adélio diz: "... muito desacato, digamos assim, né?, me chamam de bicha, me chamam de viado, disse que ia colocar em uma sala pra ser estuprado por um negão. Disse que eu tinha matado os sonhos dele, o Presidente dele, né?, coisas dessa natureza e... empurrão pra parede, eu tava descalço, pisando com o coturno nos dedos do pé, coisas dessa natureza, né?... e... muita humilhação verbal."
O uso da expressão "digamos assim", significa dizer que o que Adélio está dizendo não deve ser entendido exatamente como declarado. Portanto, pode ser sinal de omissão, desonestidade ou eufemismo.
Ao falar que o chamaram de bicha, de viado, e colocado em uma sala para ser estuprado, ele faz um gesto com as mãos chamado pelo especialista Paulo Sergio de Camargo, de "Carretilha". Indica exatidão e desejo de expor suas ideias (Paulo Sérgio de Camargo).
Quando Adélio diz: "Disse que tinha matado os sonhos dele, o Presidente dele...", ele realiza um gesto chamado "Pistola" (foto acima). Congruente com a ideia de matar alguém.
Ao final, no momento em que diz: "... coisas dessa natureza, né?", ele realiza uma elevação sutil com o ombro esquerdo. Esse gesto chamado "Shoulder Shrug", segundo Joe Navarro, indica falta de comprometimento emocional com o que está falando. Pode indicar também evasividade.
Ao falar que sofreu empurrão na parece e pisão enquanto estava descalço, ele ilustra o ocorrido. Congruência
No momento em que fala "muita humilhação verbal", ele direciona seu olhar no sentido horizontal-esquerdo. Esse movimento, de acordo com a PNL, está ligado a lembranças auditivas. Existe também uma descoordenação entre gesto e fala. A fala está em ritmo diferente do gesto, demonstrando nervosismo.
Podemos concluir que pode ter havido xingamentos, mas ele não foi afetado emocionalmente por eles. Adélio, não vê esses xingamentos e acontecimentos como desacato.

Em 7:08, Adélio diz: "Acho que não tenho mais nada a acrescentar"
A palavra "acho", de acordo com estudos de Statement Analysis, mostra dúvida.
Ele gostaria de acrescentar mais coisas, mas deseja omitir.

Em 7:41, existe uma expressão de desprezo pela contração do bucinador no lado esquerdo. Podemos notar que existe também uma satisfação em sua face.
Nesse contexto, podemos concluir que ele realiza uma expressão chamada de "Duping Delight". Segundo Paul Ekman, essa expressão ocorre quando o agente percebe que foi bem sucedido no que acabou de dizer ou manipular.
Adélio sabe que está no comando da situação, e isso lhe traz satisfação.

Em 8:54, Adélio diz: "... o fato ocorreu, entendeu? houve um ferimento, correto? embora pretendíamos, pelo menos dar uma resposta, um susto, alguma coisa dessa natureza, entendeu?..."
Existe nesse trecho um "ato falho" ao falar "pretendíamos".
De acordo com Sigmund Freud, o ato falho é um equívoco na fala provocada pelo inconsciente. É uma relação entre o intuito consciente da pessoa e o reprimido.
Ao falar "pretendíamos", Adélio assume que não agiu sozinho. Existem outras pessoas por trás do atentado.

Em 10:05, perguntam ao Adélio se ele tem algum receio de permanecer no interior do CERESP. Em 10:13, ele responde: "Olha, se fosse depender dos internos, não"
A palavra "olha" é usada para ganhar tempo em uma resposta.
Ao verbalizar a palavra "não" ele, em um primeiro momento, nega com a cabeça e logo depois afirma.
Significa dizer que conscientemente ele quis negar, mas inconscientemente ele afirma. Sendo assim, é considerado um sinal de desonestidade.

Em 11:33, ao falar que não está fazendo uso regular de medicamento, ele é sincero.
Ele nega com a cabeça, de forma congruente, com a negação verbal.


SUMÁRIO: Adélio Bispo, aparentemente pode se mostrar tranquilo, mas existem sinais de ansiedade e nervosismo.
Apesar de Adélio dizer que está machucado, não existe face de dor.
Ele trata o atentado contra o candidato Jair Bolsonaro, como um incidente. Não existe sinal algum de arrependimento ou vergonha pelo que fez
A história contada por ele do que aconteceu após o atentado mistura verdades e mentiras.
Não houve agressão física por parte dos policiais
Adélio assume que não fez sozinho.
Adélio demonstra uma verdadeira "frieza".

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Análise do discurso: Bispo Charles H. Ellis III pede desculpas a Ariana Grande pelo ocorrido no funeral de Aretha Franklin.

No dia 31 de agosto, o bispo Charles H. Ellis III, foi criticado amplamente por ter tocado na cantora Ariana Grande próximo ao seu seio direito, enquanto estavam na cerimônia do funeral da cantora americana Aretha Franklin (link da análise não-verbal).
Após a repercussão mundial do fato, o bispo veio à público para se desculpar com a cantora e com todos que se manifestaram negativamente.

Discurso:

"It would never be my intention to touch any woman's breast. I don't know, i guess i put my arm around her. 
I hug all... all the female artist, everybody that was up. I shook there hands and hug them and that's what we're all about in the church. We're all about love. And again, maybe i crossed the border or maybe i was to friendly or familiar, but again i apologize.
I, certainly, want to apologize to Ariana and to her fans, and to her family and to her entire community, if what i said was taken the wrong way and, listen, maybe it's just a joke that went bad, but when you're doing a programme for nine yours, you know, you're trying to keep it lively, you're trying to make some funny references and what have you. I love everybody. And i certainly hope that she will forgive me, and the last thing i want to do is to be a distraction for miss Aretha Franklin, the queen of soul. This is all about her, it's not about me; and i am so sorry"

Tradução:

"Nunca seria minha intenção tocar o peito de qualquer mulher. Eu não sei, eu acho que coloquei meu braço em volta dela.

Eu abraço toda ... toda artista feminina, todo mundo que estava em cima do palco. Eu apertei as mãos e as abracei e é isso que nós somos na igreja. Nós somos todos sobre amor. E de novo, talvez eu tenha cruzado a fronteira ou talvez tenha sido amigável ou familiar, mas de novo peço desculpas. Eu, certamente, quero pedir desculpas a Ariana e aos seus fãs, e à sua família e toda a sua comunidade. Se o que eu disse foi levado ao caminho errado e, veja bem, talvez seja apenas uma piada que deu errado, mas quando você está exercendo uma atividade por nove anos, você sabe, você está tentando mantê-la cheia de energia, você está tentando fazer algumas referências engraçadas e o que você tem. Eu amo todo mundo. E eu certamente espero que ela me perdoe, e a última coisa que quero fazer é tirar o foco da senhorita Aretha Franklin, a rainha do Soul. Isso é tudo por ela, não é sobre mim; e eu sinto muito."

Análise:


"Nunca seria minha intenção tocar o peito de qualquer mulher. Eu não sei, eu acho que coloquei meu braço em volta dela.


I - De acordo com estudos de Statement Analysis, a palavra "nunca" não é uma negação. Quando o discurso se refere a um evento específico que aconteceu, o uso da palavra "nunca" indica um discurso vago. Estatisticamente, um mentiroso usa essa palavra para negar um fato de que foi culpado.

O correto é falar: "Eu não tive a intenção de..."

II - Uso do tempo verbal incorreto. Tendo em vista que o fato aconteceu, o verbo utilizado teria que ser o pretérito perfeito, e não o futuro do pretérito, usado pelo bispo em seu discurso.

Uso do tempo verbal incorreto indica desonestidade.

III - O uso da frase "qualquer mulher" indica distanciamento, tendo em vista que o fato aconteceu com uma mulher em específico e não "qualquer mulher"


IV - "Eu não sei, eu acho..." indica incerteza.

Tendo em vista que o bispo estava presente na cena e foi o agente da ação de colocar o braço em volta da cantora, essa incerteza indica mentira no discurso e um desejo de fugir do que aconteceu. Ele não quer assumir o que fez.

Eu abraço toda ... toda artista feminina, todo mundo que estava presente. Eu apertei as mãos e as abracei e é isso que nós somos na igreja. Nós somos todos amor.


I - Há mudança de tempo verbal em uma mesma frase

Ele diz que "abraça" (presente do indicativo) e depois usa o pretérito perfeito ao dizer "todo mundo que estava presente" Essa mudança indica desonestidade

II - Ao falar "toda artista feminina, todo mundo..." ele usa de generalização. Sendo uma linguagem de distanciamento e, portanto nesse contexto, indica desonestidade.


III - "é isso que nós somos na igreja. Nós somos todos amor" é uma tentativa de justificar o que fez.


E de novo, talvez eu tenha cruzado a fronteira ou talvez tenha sido amigável ou familiar, mas de novo peço desculpas.


I - Tendo em vista que essa é a primeira vez no discurso que ele reconhece que "talvez" tenha agido de forma errada, o uso da palavra "de novo" é desnecessária.


II - A palavra "talvez" indica incerteza. Essa incerteza é uma tentativa de reduzir o comprometimento com o que fez. Ele não diz se fez ou não, diz que "talvez" tenha feito.

Um mentiroso quando não quer assumir o que fez usa esse recurso.

III - O uso da expressão "cruzado a fronteira" é feito para evitar falar o que fez. Funciona como uma figura de linguagem. O uso desse recurso gramatical indica fuga, distanciamento e dificuldade em assumir o que fez.


IV - Uso do "mas".

De acordo com estudos de Statement Analysis, o "mas" é uma conjunção que exclui a importância de toda a sentença anterior a ele, voltando a importância para a segunda sentença. O "mas" é usado também para justificar uma mentira.

V - Novamente, há o uso da palavra "de novo" de forma desnecessária, tendo em vista que é a primeira vez, no discurso, que ele pede desculpas.


Eu, certamente, quero pedir desculpas a Ariana e aos seus fãs, e à sua família e toda a sua comunidade


I - De acordo com estudos de Statement Analysis, a palavra "certamente" é um recurso usado para reafirmar o que está falando e convencer que o discurso é verdadeiro. É considerado uma palavra desnecessária

Quando o agente não tem confiança na veracidade do que está dizendo, ele usa o "certamente" para ajudar no convencimento e compensar toda a falta de confiança que possa ter.

II - Uso excessivo e desnecessário da conjunção aditiva "e". Indica desejo de ganhar tempo e um discurso vago.


Se o que eu disse foi levado ao caminho errado e, veja bem, talvez seja apenas uma piada que deu errado, mas quando você está exercendo uma atividade por nove anos, você sabe, você está tentando mantê-la cheia de energia, você está tentando fazer algumas referências engraçadas e o que você tem


I - "se" é uma conjunção subordinativa condicional. Como o nome já diz, emprega uma condição.

É fato que as ações do bispo foram criticadas negativamente por todos, portanto, não cabe aqui, o uso de uma conjunção que indica condição.

II - "escute". Palavra desnecessária para ganhar tempo e pensar no que irá falar em seguida.


III - Novamente há o uso do "talvez" indicando distanciamento e fuga do que ele fez. Podemos concluir que o bispo não quer assumir o que fez e tenta novamente reduzir o comprometimento com o fato.


IV - Se referir ao fato como "apenas uma piada" é um desejo de reduzir a importância do ocorrido.

Essa frase pode confirmar a redução do comprometimento.

V - O "mas" é usado pra excluir a importância de toda a sentença anterior.

Ele quer excluir e diminuir a importância do que ele fez e, para isso, ele justifica falando que é normal usar de referências engraçadas e todos os recursos que possui para manter a energia do trabalho.

VI - Podemos notar que nesse trecho existem algumas mudanças de tempo verbal e uso desnecessário da forma nominal (gerúndio).

Essas duas aplicações indicam falta de sinceridade no discurso.

Eu amo todo mundo


I - Frase desnecessária no contexto. Essa frase destoa do objetivo do discurso, que é explicar o que aconteceu durante o evento.

Falar que ama todo mundo não acrescenta nenhuma informação contundente.

E eu certamente espero que ela me perdoe, e a última coisa que quero fazer é tirar o foco da senhorita Aretha Franklin, a rainha do Soul.

I - Uso de uma palavra desnecessária ("certamente"). Palavra usada para ganhar tempo no discurso.

Nesse contexto, indica falta de interesse que a cantora Ariana Grande o perdoe.
De acordo com Mark McClish, essa palavra é usada pelos mentirosos para tornar o seu discurso mais crível e confiável.

II - Nesse contexto, dado os sinais verbais, o uso da expressão "a última coisa que quero fazer..." é uma forma de dramatização para convencer o seu discurso.


Isso é tudo para ela, não é sobre mim; e eu sinto muito.


I - Esse trecho final indica a intenção de diminuir o foco e a atenção do que aconteceu com a Ariana Grande. Temos aqui um desejo de se evadir e se distanciar do fato.

Nesse momento ele se coloca como principal agente, desviando toda atenção da maior prejudicada, a cantora Ariana Grande.

II - Apesar dele ter falado que sente muito, o bispo não explica o porquê sente muito. A ausência do motivo mostra que essa frase não é emocional, não é verdadeira.



Sumário: As mudanças de tempo verbal, a falta de lógica em suas palavras, o uso de palavras para ganhar tempo, o uso de figuras de linguagem, de palavras desnecessárias mostram que o pedido de desculpas é falso, bem como ele não faz questão de ser perdoado.

Ele não reconhece o erro que cometeu.
Existem mudanças em seu depoimento. Ele não segue uma linha lógica de raciocínio.
Em alguns momentos ele deixa claro que "talvez" tenha feito alguma coisa, mas não confirma se errou ou não.
Se ele acredita que não fez nada de errado, não existia a necessidade de pedir desculpas.
Em nenhum momento ele explica o motivo do pedido de desculpas e não deixa claro suas ações.