quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Análise não-verbal: Silvio Santos e Cláudia Leitte no TELETON. Assediada?

Nos dias 10 e 11 de novembro foi ao ar a edição 2018 da maratona televisiva TELETON, com o objetivo de arrecadar uma determinada quantia em dinheiro, pré-estabelecida, para ajudar a associação sem fins lucrativos AACD, que se destina a auxiliar crianças e adolescentes com deficiência de qualquer espécie.
No dia 11, um pouco antes do encerramento da maratona, Silvio Santos chamou a cantora Cláudia Leitte ao palco. Durante a sua participação aconteceu um episódio que gerou muita polêmica.
A cantora veio à público e disse que se sentiu desconfortável e assediada pelo apresentador. Será que esse assédio realmente aconteceu?

Vamos à análise:

Logo no começo do vídeo, a cantora estende seu braços com o intuito de abraçar o comunicador.
Pela Proxêmica (distancia entre os interlocutores em uma relação inter pessoal) que a cantora está se sentindo à vontade próxima ao apresentador Silvio Santos
Edward Hall, na década de 50 - 60, dividiu o espaço e pessoal e inter-pessoal em zonas. Zona pública, zona social, zona pessoal e zona íntima. Quanto mais próximos os interlocutores estão, mais confortáveis entre eles, eles se sentem, e maior é sua relação.
Podemos dizer aqui, que Cláudia Leitte e Silvio Santos estão entre a zona social e a pessoal.
Há conforto nessa interação.

A partir de 0:03, Silvio Santos diz: "Esse negócio de ficar... de eu ficar dando abraço, me excita e eu não gosto de ficar excitado"
No final desse trecho, Silvio Santos se afasta, e Cláudia Leitte também.
Podemos ver que a Proxêmica aumentou.
O fato de Silvio Santos ter se afastado, mostra uma intenção de distanciamento, que é incongruente com um desejo de assediar.

Em 0:30, enquanto Silvio Santos fala e vai se aproximando, Cláudia Leitte assume uma postura defensiva cruzando o braço esquerdo na frente do corpo e apoiando o braço direito enquanto segura o microfone.
As posturas defensivas são realizadas quando estamos diante se algo que nos causa desconforto e queremos nos proteger; ou quando queremos nos defender de algo que não gostamos.

Em 0:41, enquanto Silvio Santos continua falando, podemos notar que a Cláudia Leitte demonstra nojo, em um primeiro momento, e logo depois junto ao novo, ela emite o medo
O nojo pode ser visto pela elevação da prega naso-labial e elevação do queixo com uma sutil elevação no lábio superior
O medo já pode ser observado pela elevação nas pálpebras superiores, aumentando a porção branca dos olhos.
Essa combinação pode ser vista, nesse contexto como uma apreensão do que Silvio Santos iria continuar dizendo.
De acordo com Paul Ekman quando uma emoção aparece na face e perdura por aproximadamente mais que 2 segundos, podemos dizer que essa expressão é deliberada; bem como, se as intensidades das ações musculares que constituem a expressão da emoção tem uma intensidade alta, ela também é considerada deliberada e a intenção do agente, nesse momento, é gerar empatia, fazendo com que o outro veja a emoção que está sentindo.
Aqui, podemos ver que a expressão realizada pela cantora dura um tempo considerável e sua intensidade é bastante alta, o que podemos classificar como uma dramatização - embora, ela de fato, possa ter sentido essas emoções, e nesse contexto, realmente sentiu.
Juntamente, ela se inclina para trás, o que é congruente com as emoções expressadas. Essa inclinação é um desejo de afastamento.
Há também uma tensão nos ombros.
Há uma discordância de Cláudia Leitte em relação ao que o apresentador Silvio Santos falou, mas não sente a emoção negativa, na intensidade que está querendo transmitir.

Em 0:44, temos um momento muito interessante.
Cláudia Leitte vai desfazendo a expressão apreensiva, e essa vai dando lugar a um sorriso sutil e suprimido.
Esse sorriso é considerado verdadeiro, pois ocorre o estiramento para cima dos cantos da boca, e uma elevação muito sutil nas bochechas.
Esse sorriso é incongruente com uma sensação de ter sido assediada, mas pode ser congruente com um desconforto social.

Em 0:49, Cláudia Leitte ajeita sua saia. Esse gesto é conhecido como adaptador.
Os gestos adaptadores ocorrem quando estamos vivenciando momentos de ansiedade e nervosismo, e precisamos nos acalmar.
O fato de ajeitar a saia é uma forma dela se acalmar e se tranquilizar.

Em 1:07, podemos ver que ela volta a ficar em uma distância mais próxima de Silvio.
Quando sofremos algum tipo de assédio ou algum outro tipo de violência, tendemos a nos distanciarmos do agente realizador da ofensa, e/ou adotamos uma postura defensiva (cruzar os braços, as pernas, ...)
Aqui, Cláudia Leitte adota um padrão comportamental oposto ao que se espera.

Em 1:36, Cláudia Leitte realiza uma postura chamada "Akimbo" que consiste em colocar a(s) mão(s) em sua cintura. Temos que nos atentar para um detalhe importante: a posição das mãos.
Existem basicamente duas configurações para essa postura. Com o polegar para cima e com o polegar para baixo.
A postura com o polegar para baixo se tornou conhecida como a "Postura da Mulher Maravilha" e indica dominância, confiança, assertividade. Estado emocional alfa
A postura com o polegar para cima, como a de Cláudia Leitte demonstra, segundo Jack Brown, um elevado nível de conforto, suporte, confiança, estado emocional amigável.
Ainda de acordo com Jack Brown esse tipo de configuração do "Akimbo" é realizado em momentos de curiosidade por parte do agente realizador.
Essa postura é incongruente com uma sensação de assédio.

Em 1:52, após Silvio dizer que prefere que ela troque de roupa de novo, para poder cantar, ela exibe um conjunto gestual muito interessante.
Seu maxilar se movimenta para o lado e suas bochechas são sugadas parada dentro. Esse cluster (conjunto) indica um grau de ansiedade e constrangimento e uma tentativa de se acalmar
De acordo com Jack Brown, em alguns contexto, como é o caso desse, podemos interpretar esses dois gestos com uma expressão de: "Você me pegou", "Você venceu".
Pelo tempo em que ela se mantém nessa expressão, podemos assumir que ela também é deliberada.

Em 2:12, enquanto Silvio Santos elogia Cláudia Leite, ela demonstra um sorriso verdadeiro devido ao estiramento dos cantos da boca para cima e a elevação das bochechas.


SUMÁRIO: Cláudia Leitte sentiu-se ansiosa, nervosa e tensa com o comentário do apresentador.  Além disso, podemos notar apreensão, constrangimento e desacordo com a situação.
Cláudia Leitte não está congruente com um comportamento de quem sofreu assédio, mas podemos afirmar de que sofreu um incômodo muito grande.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Análise não-verbal: Caso Daniel Corrêa - Parte II. Depoimento de Allana Brittes, filha do homem acusado de matar o jogador Daniel Corrêa.

Allana Brittes, filha de Edison Brittes - o homem responsável por matar o jogador de futebol Daniel Corrêa, fala pela primeira vez depois do crime de homicídio contra o esportista.
A presente análise será feita com base no depoimento de Allana. Para ver a análise não-verbal do autor do crime e pai de Allana, Edison Brittes, basta clicar AQUI.

Vamos á análise:


Logo no começo do vídeo, Allana diz: "Aí estávamos na área de festa..."
Nesse momento ela realiza um gesto pacificador de coçar próximo ao lábio superior. 
O gesto pacificador indica que a agente está sentindo ansiedade, tensão e nervosismos e precisa pacificar.
Quando estamos em um momento de nervosismo, a circulação aumenta e acontecem micro-coceiras na camada mais superficial da pele, daí a a necessidade de coçar.

Podemos concluir que esse tema para Allana gera muita ansiedade. Existe a probabilidade dela também estar sendo desonesta, pois esses tipos de gestos, dependendo do contexto, podem ter uma correlação com a desonestidade. Nesse contexto, essa desonestidade pode estar ligada ao fato de Allana não ter estado na área de festa nesse momento, ou ligada aos fatos que serão narrados, como um todo.


Em 0:10, Allana diz que escutou algumas gritarias segundos depois de ter ido dormir com uma amiga. 
Nesse momento, podemos ver uma elevação unilateral da sobrancelha esquerda. De acordo com a doutrina de comunicação não-verbal, essa assimetria na sobrancelha, é chamada de "Skeptical Eyebrow" e indica ceticismo, dúvida, em relação ao que está sendo falado, visto ou escutado.
Allana não acredita no que está falando.


Em 0:13, Allana diz que desceu de seu quarto e abriu a porta (da onde estava vindo a gritaria).
Nesse momento ela faz um giro lateral com sua cabeça para a direita. 

Podemos considerar que esse gesto foi realizado para ilustrar a ação de abrir a porta. Sendo, portanto, um gesto ilustrador. Nesse caso, temos que avaliar, dentre outras coisas, o tempo em que o gesto foi realizado, sua velocidade e a relação de ritmo entre a fala e o gesto.
O gesto foi realizado poucos milésimos de segundos antes dela verbalizar "abriu a porta", o que pode indicar que o discurso foi armado por isso gesticulação ocorreu antes ou que ela pensou em gesticular antes de verbalizar.

Quanto a sua velocidade, existe uma pequena diferença entre a velocidade em que Allana verbaliza e a velocidade com que gesticula. Isso pode indicar nervosismo e ansiedade.
Allana usa a palavra "abrir" ao invés de "arrombar", divergindo da versão do contada pelo pai - que diz que teve que arrombar a porta para entrar no quarto.
Essa cena dela abrindo a porta, não aconteceu como ela está narrando.


A partir de 0:15, Allana diz: "Ele tava em cima da minha mãe... Tentando estuprar ela"
Ao falar "tentando", ela eleva as sobrancelhas ao mesmo tempo em que fecha os olhos. Temos aqui movimentos inversos - enquanto as sobrancelhas se elevam (movimento para cima), os olhos se fecham (movimento das pálpebras para baixo). Movimentos opostos podem indicar desonestidade por serem incomuns.
Nesse mesmo momento, a voz de Allana se altera diminuindo o pitch vocal. Essa diminuição pode estar ligado ao desejo de fuga e omissão.

No final do trecho, Allana realiza um gesto chamado de "Tongue Jut", que consiste em projetar a língua para fora. Esse gesto, segundo Joe Navarro indica ansiedade, auto-incriminação, fuga da situação. Simboliza uma mensagem não-verbal semelhante a: "Eu fiz besteira", "Saí ileso", "Estou em meio a um dilema".


Em 0:23, Allana realiza um gesto de fechar os olhos por mais tempo que o normal. Esse gesto chamado de "Eye Shielding" indica não visualização de algum evento negativo

A partir de 0:25, Allana diz: "Todo mundo começou a... a querer fazer alguma coisa contra ele, porque minha mãe gritava; e ele não falava nada"
"... fazer alguma coisa..." é uma frase vaga, indicando omissão ("Alguma coisa o que?").
No momento em que verbaliza "gritava", sua voz fica trêmula. Essa mudança na voz acontece porque hormônios ligados a ansiedade são liberados no organismo e tensionam as cordas vocais, alterando a voz.
No final do trecho, Allana engole a seco. Esse gesto é conhecido pela doutrina de comunicação não-verbal como um sinal de ansiedade e nervosismo pelo mesmo motivo citado acima. Além do cortisol e adrenalina tensionarem as cordas vocais, pode ocorrer também o seu ressecamento, havendo a necessidade de lubrificação.
Nesse trecho Allana se mostra extremamente ansiosa e tensa. Nesse contexto, pode demonstrar desonestidade.

Em 0:35, o repórter pergunta: "Você teve algum relacionamento com esse rapaz?"
Allana responde: "Nunca, nunca, nunca, nunca"
De acordo com Mark McClish, a repetição de palavras indica um desejo de convencer de que está falando a verdade. Pois a repetição é um ato de confirmação e de certificação.
Ainda de acordo com McClish, a palavra "nunca" não significa uma negação, pois ela evita que uma negação valiosa ("não") seja dita; e além disso, essa palavra não especifica tempo, indeterminando-o. Quando uma negação é valiosa e real, o agente fala "não"
Podemos nos atentar também para o tempo de resposta de Allana. Existe um lapso de tempo normal entre escutar a pergunta e iniciar a resposta. Quando esse tempo é reduzido e a resposta acontece quase antes de terminar a pergunta, podemos dizer que a resposta já estava pronta para ser verbalizada.
Allana certamente já teve um envolvimento ou relacionamento com a vítima.

Em 0:43, Allana utiliza novamente a repetição da palavra "nunca" como um desejo de convencimento.

A partir de 0:46, o repórter pergunta: "Ele foi convidado para a festa, na sua casa?"
Logo após, Allana responde: "Na minha casa não. Ninguém chamou ele."
Ela começa sua resposta com "na minha casa, não", dando ênfase de que o convite não foi estendido à sua casa, mas houve um convite para outro lugar.
Allana é congruente nesse momento. Ela nega com a cabeça ao mesmo tempo que nega verbalmente. Há indícios de honestidade.
Ao falar que "ninguém chamou ele", podemos notar que Allana troca o verbo ("convidar" por "chamar") e ela emite uma emoção de desprezo devido a contração do bucinador, em seu lado esquerdo do canto da boca. (foto acima). De acordo com o especialista Alexandre Monteiro, esse desprezo pode ser visto também como um sinal de manipulação.
Ao final do trecho ela olha para baixo pode demonstrar vergonha, e nesse contexto, incerteza.
Essa sequência gestual indica que Allana, de fato, não convidou Daniel para ir à sua casa, mas houve convite para um outro momento. E há incerteza de Allana quanto ao fato de ninguém tê-lo chamado; Há indícios de que alguém o chamou.

A partir de 0:50, o repórter pergunta: "Como que ele chegou lá?"
Antes de começar a responder Allana olha para baixo e realiza um gesto de projetar a língua para fora da boca chamado de "Tongue Jut". Indica um alto nível de ansiedade. Segundo Joe Navarro, podemos pensar que esse gesto representa os pensamentos de: "Eu fui (vou ser) uma pessoa má", "Eu fiz (vou fazer) uma coisa estúpida", "Eu fui pega", "Consegui escapar ilesa".
Allana não tem certeza do que vai falar.

Durante a resposta da Allana, podemos nos atentar para um gesto que acontece com uma certa frequência. Durante esse trecho, podemos notar que a sobrancelhas direita de Allana se eleva de forma assimétrica por três vezes.
Esse gesto chamado de "Skeptical Eyebrow" indica dúvida em relação ao que está contando.
Ela não foi testemunha ocular dessa cena, e não acredita que realmente aconteceu dessa forma.

A partir de 1:17, o Reporter pergunta: "E ele estava sóbrio?"
Allana responde negativamente, e simultaneamente, realiza um gesto negativo com a cabeça. E continua: "Ele tava bem alterado", respondendo afirmativamente com a cabeça
Nesse trecho há congruência entre o verbal e o não-verbal. Veracidade.

A partir de 1:26, o repórter pergunta: "Qual que é a imagem que fica daquela noite com a tua mãe, no quarto?"
Allana responde, em 1:31: "O pior dia da minha vida, né? Eu acho que ninguém quer ver isso"
De acordo com estudos de Statement Analysis, terminar uma afirmativa com uma pergunta ("né?") indica incerteza, pois passa a ideia de que o agente não sabe o que sente e está transferindo a responsabilidade da certeza, para os interlocutores.
Logo em seguida, Allana diz: "Eu acho...". "Achar" é uma palavra clássica que indica incerteza.
Não-verbalmente, podemos nos atentar pela ausência de emoção congruente com o contexto. Allana não esboça nenhuma emoção negativa relacionada com o que aconteceu com a sua mãe.
Há desonestidade no que Allana está transmitindo. Aquele não foi o pior dia da sua vida e ela não viu nada que pudesse transformá-lo no pior dia.


SUMÁRIO: Allana, contou quase a mesma versão de seu pai. E podemos afirmar que ela está nervosa em tratar desse tema.
Ela apresenta algumas incongruências ao dizer que ouviu gritarias, entrou no quarto e viu Daniel em cima de sua mãe, tentando estuprá-la. Segundo sua comunicação não-verbal, nada disso aconteceu.
Ela é congruente ao dizer que Daniel não foi convidado para continuar a comemorar seu aniversário, em sua casa. Nesse momento ela apresenta omissões e se sente culpada por ele não ter sido chamado para continuar a comemoração na sua casa.
Ao contar como a vítima chegou até sua casa, ela conta o que contaram a ela, mas ela não tem certeza se realmente foi daquela forma que aconteceu.
Allana é desonesta quando fala que aquele foi o pior dia da sua vida. Ela sabe que não houve a tentativa de estupro.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Análise não-verbal: Edison Brittes, acusado de assassinar o jogador de futebol Daniel Corrêa. Há honestidade em sua versão?


O jogador de futebol Daniel Corrêa Freitas foi encontrado morto em Curitiba, após ter supostamente estuprado Cristina Brittes em sua própria casa, durante uma festa. O autor do assassinato foi o empresário Edison Brittes.
Segundo depoimento que consta nos autos, o jogador estava comemorando o aniversário de 18 anos da filha de Edison, com um grupo de amigos, em uma boate de Curitiba. Essa comemoração se estendeu até a casa da aniversariante.
Já na casa, Daniel Corrêa, através de mensagens trocadas com amigos, demonstrou interesse em dormir com a mãe da aniversariante. Além das mensagens, foram enviadas fotos da vítima deitado na cama com Cristina Brittes, enquanto ela estava dormindo. Minutos depois, Daniel Corrêa foi assassinado.
O principal suspeito, Edison Brittes confessou o crime e contou a sua versão do que aconteceu. Será que ele mostra verdade ou desonestidade em seu depoimento?

A análise começa em 1:46. Vamos à ela:

Edison Brittes começa dizendo: "E de repente... uns quarenta minutos que eles tinham chego... eu escuto gritos: Socorro! Socorro! Socorro!..."
O uso do artigo "uns", demonstra incerteza, nesse caso, quanto ao tempo de chegada.
De acordo com estudos de Statement Analysis, o uso do tempo verbal incorreto demonstra inconsistências no que realmente aconteceu e afastamento da cena. Edison conjuga o verbo "escutar" no presente, e não no pretérito perfeito como deveria ser. Isso mostra um desejo de se distanciar da cena, aliviando o seu papel no contexto. Há desonestidade no discurso.
Ainda no âmbito da Análise do Discurso, podemos salientar a repetição da palavra "socorro". mostrando que há uma intenção de dramatizar e convencer do que está falando.
Enquanto verbaliza "Socorro! Socorro! Socorro!" novamente vemos uma elevação nos ombros, dessa vez de forma mais bilateral, demonstrando incerteza.
Ainda nesse segmento podemos ver a elevação da pálpebra superior fazendo com que a esclera fique mais visível, porém existe uma alteração na intensidade dessa elevação. Durante a verbalização do primeiro socorro, a intensidade da ação muscular responsável por essa elevação é bem marcada e pronunciada; já durante a segunda e a terceira verbalização da palavra "socorro", a intensidade passa a ser mais severa. Essa distinção de intensidade no mesmo segmento e em um timing curto, pode indicar manipulação e desejo de criar empatia.
Ao final do trecho podemos ver um sinal de negação com a cabeça.

Em 1:57, Edison continua: "Quando eu cheguei no meu quarto, fui forçar a porta... a porta fechada"
Ao falar que chegou no quarto, existe a elevação unilateral do ombro direito, demonstrando incerteza.
Nesse trecho existe uma inversão na ordem cronológica dos fatos. Primeiro deve-se ter o conhecimento de que a porta estava fechada, para depois forçá-la; então, Edison deveria dizer, primeiramente que a porta estava fechada, para depois verbalizar que a forçou. Essa troca de ordem cronológica, segundo Mark McClish denota incongruência e desonestidade; pois, segundo o mesmo, contamos uma verdade naturalmente na ordem cronológica, e como a mentira é mais trabalhosa de ser contada, como resultado, essa ordem pode ficar comprometida.

Ao falar que forçou a porta, ele realiza um gesto ilustrador de forçar a porta, complementando sua fala; porém temos que nos atentar para a forma como ele ilustra a cena. Quando o gesto ilustrador é feito de forma mais ampla, exagerada e o ritmo da voz não acompanha essa amplitude, podemos dizer que há uma incongruência não-verbal, confirmando o desejo de convencer.

A partir de 2:07, Edison diz: "... eu peguei e dei uma ombrada na porta... e arrebentei a porta..."
Podemos observar que ao falar que deu uma "ombrada na porta" ele realiza novamente um gesto ilustrador de "dar uma ombrada na porta", porém existem alguns pontos a se considerar.
Antes dele iniciar o trecho, existe uma pausa de movimentos e quando ele realiza o gesto ilustrador, sua intensidade de gesticulação se torna muito alta, de repente. Esse salto na intensidade torna a gesticulação mecânico, demonstrando novamente um desejo de convencimento.

Após terminar verbalizando "... e arrebentei a porta..." ele realiza um gesto desnecessário e fora do ritmo da fala; seguido por uma negação com a cabeça. Estamos diante de uma incongruência.
Esse elementos demonstram uma falta de coordenação entre o verbal e o não-verbal, confirmando a desonestidade.

A partir de 2:16, Edison diz: "... Daniel tá em cima dela... tentando estuprar a minha mulher"
Antes de começar a verbalização, Edison engole a seco demonstrando muito nervosismo, tensão e ansiedade
Novamente podemos perceber a utilização errada do tempo verbal. Ele teria que utilizar o pretérito perfeito ("...estava em cima dela...), e não o presente, como foi usado. O uso errôneo do tempo verbal demonstra que esse fato não aconteceu
Enquanto diz "em cima dela" ele eleva unilateralmente o ombro direito, demonstrando dissonância e incerteza no que está dizendo. (foto acima)
O uso da palavra "tentando" pode ser usado para confirmar a incerteza (Mark McClish).
Ao final desse trecho, podemos notar que Edison nega com a cabeça como uma forma de excluir toda a confirmação verbalizada, em relação ao estupro.

Em 2:24, Edison realiza uma elevação unilateral do lábio superior, demonstrando nojo. Essa expressão acontece no momento em que ele diz que viu o Daniel e sua mulher na cama.
Há congruência. Essa foi a emoção que Edison sentiu ao ver os dois juntos na cama.

Em 2:29 ao dizer: "Eu fiquei desesperado", ele nega com a cabeça demonstrando incongruência.
Não, necessariamente foi desespero que ele sentiu.

Em 2:44 a repórter pergunta: "Foi você que matou ele?"
Edison responde "sim" ao mesmo tempo que afirma com a cabeça de forma intensa. Há congruência.
Juntamente ele emite uma emoção de raiva pela contração no corrugador (abaixando as sobrancelhas), contração nas pálpebras inferiores e pressão nos lábios.
Podemos observar também uma contração no bucinador, responsável pela retração dos lábios e estiramento das comissuras. Aqui há também uma emoção de desprezo.


SUMÁRIO: Edison realmente matou Daniel, porém ele não está sendo honesto em sua versão.