sábado, 27 de abril de 2019

Análise não-verbal: Entrevista de Lula na prisão. Dominância

Recentemente o ex-Presidente Lula concedeu a primeira entrevista na cadeia desde que foi preso. Com autorização judicial, a entrevista foi realizada pelos jornais Folha de São Paulo e El País. Ela aconteceu em uma sala preparada pela Polícia Federal na própria sede do Órgão, em Curitiba; e foi autorizada, mediante revisão, pelo Presidente do STF, Dias Toffoli.
Após mais de um ano preso, o que será que sua Linguagem Corporal tem a nos dizer?

Vamos à análise:

Podemos observar em 0:12 que Lula chega para a entrevista emitindo uma emoção de felicidade devido a contração dos músculos do zigomático maior e os orbiculares dos olhos.

A partir de 0:42, a repórter do jornal Folha de São Paulo dirige uma pergunta a Lula: "A gente queria saber o que passou pela cabeça do senhor quando o senhor tava... sendo preso, sendo conduzido... para a prisão?"
Lula começa respondendo: "eu tomei como decisão que meu lugar é aqui". Nesse momento ele se inclina para a frente porém nega com a cabeça. Gesto incongruente. Enquanto o verbal afirma, o não-verbal nega

A partir de 0:54, Lula continua: "Eu tenho tanta obsessão de desmascarar o Moro. Desmascarar o Dallagnol e sua turma. E desmascarar aqueles que me condenaram... sabe?..."
Lula começa esse trecho fazendo um gesto mãos fechadas em forma de socos. Esse gesto é considerado alfa (maior dominância, assertividade e até agressividade); ele nos indica intenção de resistência, luta.

Ainda referente ao trecho acima, quando Lula fala da sua obsessão em desmascarar o atual Ministro da Justiça e o Procurador Daltan Dallagnol, podemos notar um sutil desalinhamento corporal. O tronco de Lula aponta para uma direção diferente da cabeça.
Por ser um comportamento corporal atípico, podemos dizer que existe algum fator de desonestidade nessa fala.

Em 1:03 - 1:04, Lula diz: "... que eu ficarei preso cem anos"
Nesse momento podemos notar um avanço corporal juntamente com uma negação de cabeça. Há, portanto, incongruência. Enquanto o ex-Presidente afirma com as palavras, ele nega com a cabeça

Em 1:14, Lula diz: "Por isso, eu vim pra cá com muita tranquilidade"
Aqui podemos notar três sinais interessantes. Lula gesticula com as palmas das mãos para baixo. Esse gesto ilustrador (ilustram a fala) é considerado alfa, pois indica dominância, autoridade, e em alguns casos, até agressividade. Juntamente com o gesto, Lula nega com a cabeça, mostrando uma incongruência entre o que fala (afirmação) e com o que expressa não-verbalmente (negação). Além disso, podemos notar um desnível em seu ombro direito, que está mais elevado que o esquerdo, o que indica um desequilíbrio emocional e insegurança em suas palavras.
Podemos concluir desse trecho que há desonestidade em relação a tranquilidade sentida pelo ex-Presidente

Em 1:35 - 1:36, a jornalista da Folha de São Paulo, pergunta: "O senhor já pensou que o senhor pode ficar aqui para sempre?"
Lula responde: "Não tem problema", e nesse momento ele se afasta com o corpo. Esse movimento indica distanciamento do que está falando. Nesse contexto há desonestidade. Existe uma preocupação do ex-presidente em continuar preso

A partir de 1:39, Lula diz: "Eu tenho certeza... que eu durmo todo dia...com a minha consciência tranquila; que eu tenho certeza que o Dallagnol não dorme; tenho certeza que o Moro não dorme."
De acordo com estudos de Análise do Discurso, existem palavras e frases que são verbalizadas apenas para convencer do que está sendo dito. Elas são consideradas desnecessárias em um discurso. Ou seja, a presença ou ausência delas não altera o sentido do discurso, mas a sua presença é usada para reforçar uma ideia afim de tornar seu discurso mais crível. De acordo com Mark McClish, a pessoa que tenta convencer tende a acrescentar o maior número de elementos verbais sob a conclusão de que isso vai tornar o seu argumento mais convincente.
Lula, começa dizendo "Eu tenho certeza que eu durmo todo dia com a consciência tranquila". A expressão "eu tenho certeza" é desnecessária. O fato dele verbalizar que dorme todo dia com a consciência tranquila, já pressupõe que ele tem certeza disso. O uso do elemento desnecessário "eu tenho certeza" em um discurso com uma certeza implícita mostra sua tentativa de convencimento.
Nesse trecho há também um elemento não-verbal importante. Ao dizer "tranquila" (referindo-se a sua consciência), Lula eleva assimetricamente o ombro direito além da gesticulação (foto acima). Esse gesto chamado de "Shoulder Shrug" indica insegurança em suas palavras (Joe Navarro).

A partir de 1:53, Lula diz: "Você pensa que eu não gostaria de estar em casa?"
Aqui o ex-presidente realiza um gesto de espalmar a mão em seu peito. Esse gesto tem um alto valor emocional se feito de forma correta e em perfeita sincronia.
Quando nos referimos a nós mesmos em um contexto de envolvimento emocional, tendemos a espalmar as mãos no peito para demonstrar esse envolvimento. Basta lembrar que ao tocar o hino, realizamos esse gesto para mostrarmos que estamos emocionalmente inserido naquele contexto.
Quando Lula fala que gostaria de estar em casa ele realiza esse gesto de mão espalmada, o que a princípio estaria congruente com o contexto, porém, aqui ele é realizado fora de sincronia.
Como o gesto tem uma intenção de se auto-referenciar, ele deve ser realizado no momento em que o indivíduo verbaliza a palavra "eu". Se o gesto ocorrer depois desse momento, podemos concluir que ele está sendo feito de forma mecânica, ou seja, pensado antes de ser realizado. E em relação a isso, a comunicação não-verbal tem uma regra: os gestos devem ser feitos durante ou antes da verbalização; se realizado depois, a intenção é de convencer.

A partir de 2:04, Lula diz: "... eu quero sair daqui com a cabeça erguida, como eu entrei"
Aqui vemos dois gestos ilustradores seguidos. 
Gesto de apontar para cima ao dizer "eu quero sair daqui". Esse gesto é considerado alfa e indica que o que está sendo dito é importante e merece atenção (foto 1)
O próximo gesto é chamado de "Pinçamento". Esse gesto indica desejo de transmitir uma ideia. A tensão do gesto indica uma dominância excessiva. Especialistas como Jack Brown, dizem que esse gesto, quando realizado com tensão funciona como um comportamento de compensação. O indivíduo está experienciando ansiedade, e o gesto o faz compensar essa ansiedade sendo mais agressivo e assertivo (foto 2)

A partir de 2:30, após um jornalista citar a morte do neto na pergunta, em 2:37, Lula reage à esse acontecimento.
Nesse momento, vemos alguns conjuntos de sinais interessantes.
Lula abaixa a cabeça, tampa os olhos com os dedos, logo depois notamos uma leve tremedeira em suas mãos e na área da mandíbula.
Os movimentos de abaixar a cabeça e tampar os olhos tem ligação com um distanciamento do fato. O desejo de não visualizar o que aconteceu. Jack Brown, afirma que esse conjunto gestual está ligado a processamento emocional relacionado ao fato
As tremedeiras acontecem pela alta carga emocional que o fato traz. É uma reação do Sistema Nervoso à liberação de hormônios ligados ao estresse e ansiedade. Essa reação também pode ser vista, dependendo do contexto, como um vazamento emocional. O agente está sob forte emoção mas deseja suprimi-la. O corpo quer externar, mas o agente controla para que isso não aconteça.
Pelo que podemos observar na foto acima, existe o abaixamento do canto dos lábios, contração essa ligada a emoção de tristeza

A partir de 2:43, Lula volta dizendo: "Eu as vezes penso que... seria tão mais fácil... que eu tivesse morrido..."
Notamos alterações em sua voz. A voz fica trêmula pela carga de emoção negativa.
Podemos notar também uma contração no músculo do corrugador (responsável pelo abaixamento das sobrancelhas), levantamento da parte interna das sobrancelhas, queda do canto dos lábios e uma leve elevação no queixo pela ação do músculo mentalis. Essas ações musculares estão presentes na emoção de tristeza
Ao dizer que "seria tão mais fácil", Lula eleva os dois ombros. Esse gesto simboliza descrença no que está falando
Lula realmente exibe tristeza ao falar da morte do neto, mas não acredita que seria mais fácil que ele tivesse morrido no lugar do neto.

A partir de 2:56, Lula diz: "Mas não é... não são apenas esses momentos que deixam a gente triste"
Primeiramente vemos um ato falho. Ele inicia usando o singular "não é", se referindo a um momento, e depois o consciente interrompe dizendo que "não são apenas esses momentos"
É interessante observar que esse trecho vem logo depois da tristeza sentida com a morte do neto.
Ao dizer "apenas" se referindo a tristeza da morte do neto, ele tira toda a importância do fato, no sentido emocional. Adicionado a isso, Lula coloca outros eventos no mesmo patamar de representação negativa que a morte do neto teve.

Logo a pós esse trecho, até o final do vídeo, podemos notar que Lula volta ao seu discurso racional, se desfazendo da carga emocional.
Sua intenção aqui é deixar de lado o emocional e manter o racional, a dominância. Não quer deixar que eventos emocionais atrapalhem seu objetivo
Um exemplo dessa sua intenção acontece em 3:16 - 3:17 quando ele dá um soco na mesa (foto acima) Esse gesto é completamente dominante e agressivo; e aconteceu logo depois dele falar da morte do neto.


SUMÁRIO: Lula apresenta desonestidade quando fala que estava tranquilo ao ser preso e que permaneceria preso por mais tempo. Há desonestidade também ao falar que tem sua consciência tranquila
Notamos dominância e agressividade ao falar de Sérgio Moro e do Procurador Daltan Dallagnol.
Existe tristeza ao falar da morte do neto, mas também uma intenção de suprimi-la. Aqui Lula não quer dar importância a esse fato negativo. Sua intenção é se manter como líder e dominante. Ele percebe sua função de líder e dominante acima de qualquer acontecimento negativo pessoal.

terça-feira, 16 de abril de 2019

Análise não-verbal: Maria do Rosário falando sobre a condenação de Danilo Gentili.

Recentemente o humorista Danilo Gentili foi condenado à seis meses de prisão por injúria contra a Deputada Maria do Rosário, em ação movida em 2016.
Após essa condenação a Deputada gravou um vídeo aonde fala sobre a condenação do humorista. O que Maria dos Rosário está comunicando de forma não-verbal?

Vamos à análise:

A partir de 0:04, a Deputada diz: "... recebi a notícia de que Danilo Gentili foi condenado em ação que nós movemos contra ele em 2016, pela juíza, a Doutora Maria Isabel do Prado da 5ª Vara Criminal de São Paulo... no crime de injúria"
Durante esse trecho a Deputada exibe algumas expressões de felicidade devido a ação do músculo caninus promovendo a elevação do ângulo da boca e o consequente inflamento nas bochechas.

No final do trecho acima, Maria do Rosário exibe mais uma vez uma expressão de felicidade, mas dessa vez há pressão nos seus lábios.
De acordo com os ensinamentos de Paul Ekman, quando sorrimos mas temos os lábios pressionados, podemos concluir que há o chamado "sorriso suprimido ou refreado". Esse tipo de sorriso é emitido quando o agente sente uma emoção/sensação positiva, mas deseja mostrar que tal emoção/sensação é mais fraca do que realmente está sentindo. Um exemplo clássico é quando estamos na escola e um colega cai no chão. Nosso desejo é de rir, mas temos que suprimir essa sensação para que não percebam sua intensidade real.
Esse sorriso também pode estar ligado ao chamado "Schadenfreude". Essa palavra é de origem alemã e significa a alegria ou satisfação perante o infortúnio ou o dano causado a um terceiro.

A partir de 0:42, a Deputada diz: "Eu até acredito que... a sentença é uma convocação à sociedade brasileira para o bom senso; para que as pessoas usem as redes sociais com respeito, para que ninguém destrate o outro, para que ninguém... utilize de pseudos... brincadeiras, quando na verdade o seu objetivo é apenas o da humilhação"
A preposição "até", de acordo com Statement Analysis, é chamada de palavra adicional. É um elemento desnecessário na oração cuja sua ausência não afeta o sentido. O uso de palavras desnecessárias indicam uma tentativa de convencimento.
Devemos nos atentar também para a utilização da palavra "pseudos". Seria interessante averiguarmos o significado dessa palavra no dicionário interno da Deputada. Se ao se referir a "pseudos brincadeiras", ela estiver querendo dizer brincadeiras falsas, com a intenção de causar degradação, vexame, estamos diante de mais uma tentativa de convencimento. Isso porque o uso da expressão "na verdade" indica oposição e usar "pseudo brincadeiras" (dependendo de seu dicionário interno) e logo depois usar a palavra "humilhação" não mostra oposição de significados e sim convergência. Caso ela Tenha usado duas palavras com o mesmo significado, estando ligadas pela expressão "na verdade", o seu discurso se trona extremamente racional, havendo também a descrença no que está falando. Há o desejo de convencimento.
No campo não-verbal, ao dizer a palavra "pseudos" ela eleva sutilmente o ombro esquerdo, de forma unilateral. Esse movimento indica falta de comprometimento e evasividade (foto acima).

A partir de 1:12, a Deputada diz: "Cabe ao judiciário definir qual é a proporção dos termos da condenação"
Ao dizer "proporção", Maria do Rosário adota uma postura de arrogância pela elevação da sua cabeça em um ângulo maior que noventa graus, contração unilateral na extremidade da boca e olhos semi-fechados.

A partir de 1:18, Maria do Rosário diz: "Eu acredito que... aquilo que... cada um ou cada uma realiza tem contra-partidas de realizada"
O trecho a cima se refere a uma sentença declarativa ("Eu acredito que..."). Esse tipo de sentença tem como objetivo transmitir uma informação. Declara os fatos ou uma opinião, deixando que o interlocutor saiba de alguma ideia ou informação específica. Aqui, Maria do Rosário deseja transmitir suas crenças.
Por estar transmitindo o que acredita, é comum que essa informação seja passada, não-verbalmente, da forma mais congruente, direta e dominante possível.
No caso da Maria do Rosário, ao dizer que ela acredita, sua Linguagem Corporal é de incerteza e até submissão, pois ela declara sua crença ao mesmo tempo em que fecha os olhos ("Eye Shielding"), como não querendo ver o que está dizendo.

A partir de 1:30, a Deputada diz: "Acredito que toda a pessoa tem direito à defesa, mas quando entramos judicialmente em um caso como este, nos buscamos, pelo menos, a reparação... mínima."
Mais uma vez se trata de uma sentença declarativa, e novamente ao dizer "toda pessoa" ela fecha seus olhos como uma não-visualização do que acabou de dizer.
Curiosamente, nessa declaração, ela omite o pronome pessoal "eu" ("eu acredito..."). De acordo com Mark McClish, a omissão do pronome pessoal, é um indício de distanciamento do que está falando.
A Deputada usa a preposição "mas". Ainda de acordo com Mark McClish, o uso dessa preposição exclui a completamente a importância da oração que a precede. Isso significa dizer que para a Deputada, não é importante que toda a pessoa tenha direito à defesa. Essa oração é completamente racional.

A partir de 1:56, Maria do Rosário diz: "Tudo isso vai fazendo parte de um ambiente político tóxico, que tem diminuído nossa capacidade de refletir sobre o que é certo e o que é errado"
Ao dizer a palavra "errado" sua voz se torna trêmula. De acordo com estudos da Paralinguagem, a voz trêmula indica nervosismo e ansiedade. Isso acontece porque, ao estarmos nesses estados, existe a contração do músculo da garganta, afetando a vocalização. Devemos nos perguntar, porque a Deputada está nervosa ao falar do que é errado.

A partir de 2:07 - 2:08, Maria do Rosário diz: "Eu lamento um dia ter acontecido esse vídeo... quando eu só queria dialogar com esse senhor... mas eu prezo a decisão judicial"
Aqui percebemos alguns elementos de incongruência.
Após dizer "eu lamento", podemos perceber que ela esboça um sorriso. Esse sorriso, de acordo com o psicólogo Paul Ekman indica o chamado "Dumping Delight" (sorriso do manipulador) e acontece quando o a gente sente satisfação quando percebe que sua manipulação ou desonestidade está surtindo efeito (foto acima)
Durante a verbalização de "um dia ter acontecido esse vídeo" seus movimentos são descoordenados. Estão em ritmo diferente da fala. Há desonestidade.
Os movimentos corporais devem ser realizados durante a fala e congruente com as pontuações verbais. Quando tais movimentos ocorrem depois da fala e não coordenados com as pontuações verbais, podemos dizer que não há sincronia, e de acordo com a doutrina da comunicação não-verbal, quando não há sincronia, existe um altíssimo coeficiente de desonestidade.
Novamente há o uso do "mas", excluindo toda a importância da oração que precede.

Ao dizer "com esse senhor", ela se refere ao comediante Danilo Gentili. Durante esse momento, ela exibe um sorriso de desprezo pela contração unilateral do canto dos lábios, juntamente com os olhos fechados, o que nesse caso funciona como um potencializador da emoção de desprezo.
Tratar o comediante como "esse senhor" mostra um desejo de se distanciar mentalmente, fisicamente, dele

A partir de 2:29, Maria do Rosário diz: "Cabe avaliar... aquele que proferiu a injúria... se vale a pena agir dessa forma... diante... dos resultados que acarreta agora. E diante... dos resultados, que sem dúvida... em termos de humilhação e de... ataque, também me conferiu e conferiu ao meu entorno..."
Nesse trecho existem muitas pausas desnecessárias. Esse recurso é usado pelo cérebro para ganhar tempo na resposta, buscando as melhores palavras para serem usadas. Isso mostra um discurso completamente racional.
Ao tratar o comediante Danilo Gentili como "aquele que proferiu a injúria" ela cria um distanciamento
Entre as palavras "dúvida" e "em termos de humilhação" existe uma pausa maior juntamente com o direcionamento ocular para cima esquerda. Calibrando os movimentos oculares de Maria do Rosário, por meio de outros vídeos, é possível perceber que toda vez que ela movimenta os olhos para essa direção, ela está buscando as palavras para dizer, criando.

Ainda no trecho acima, ao dizer "... também me conferiu..." se referindo a humilhação, ela realiza um gesto incongruente e racional
Quando estamos nos referindo a um episódio emocional, devemos realizar gestos emocionais. Um desses gestos é a mão espalmada no peito. Quando nos referimos a nós mesmos em um contexto emocional, tendemos a espalmar a mão no peito.
Levando em consideração que o discurso, nesse momento é emocional ("A humilhação foi direcionada a mim"), o gesto realizado deveria ser a mão espalmada completamente no peito.
Aqui, a Deputada não faz o gesto, como mostrado na foto acima. Demonstrando que seu discurso é completamente racional


A partir de 3:07, Maria do Rosário diz: "Não comemoro quando alguém ééé... ééé tem uma sentença... desse tipo..."
Aqui, a Deputada faz uso de agregadores verbais (ééé) e pausas desnecessárias. Ambos os recursos são utilizados pelo cérebro para ganhar tempo e pensar no que falar. Trata-se portanto de um discurso racional.
Juntamente, podemos ver um desvio de olhar da Deputada. Nesse caso, tal desvio está ligado a não acreditar no que diz, e portanto não quer que vejam essa descrença.
Se observarmos seus ombros, nesse momento, vamos ver que ela está mexendo em alguma coisa que está na mesa. Esse gesto é chamado de "bengala emocional". Devido a falta de confiança em suas palavras, ela se sente ansiosa e nervosa, e para que se acalmar ela realiza um gesto pacificador
Como já dito em outros artigos desse blog, os gestos pacificadores tem a função de fazer nos acalmarmos diante de momentos de ansiedade e nervosismo. Geralmente eles são realizados no nosso próprio corpo, quando nos tocamos, coçamos durante momentos de estresse. Essa pacificação pode ser realizada também em objeto, tendo o mesmo objetivo.



SUMÁRIO: A Deputada Maria do Rosário, durante todo o vídeo faz um discurso completamente racional. Podemos afirmar que existe uma alta probabilidade dela não ter se sentido emocionalmente afetada com a ação do comediante.
Há felicidade com a condenação de Danilo Gentili. Aqui temos o "Schadenfreude", que é a felicidade sentida pelo dano sofrido por alguém.
Existem momentos de arrogância relacionados à condenação.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Análise não-verbal: Pastor Felipe Heiderich declarado inocente. Discurso

Em 2016 o Pastor Felipe Heiderich foi denunciado por sua ex-esposa Bianca Toledo por ter, supostamente, abusado sexualmente de seu filho; à época com 5 anos. Felipe foi preso e posto em liberdade até a conclusão do caso. Segundo o processo, Felipe também foi internado em um manicômio.
Recentemente o juiz julgou improcedente sua condenação e o absorveu, livrando de todas as acusações.
O Pastor veio à público comemorar sua inocência.
O que sua linguagem corporal e seu discurso podem nos dizer?

Vamos à análise:

Até os 4 segundos de vídeo, podemos notar que existe um pouco de ar em sua voz e um tom artificial.
Esses elementos indicam que sua fala não é natural, e que provavelmente foi ensaiada. Essas características da fala são comuns em pastores que se utilizam desses recursos para gerar empatia e dar um valor emocional ao discurso.

Aos 0:06, Felipe realiza a expressão de nojo devido a contração do corrugador (músculo responsável pelo abaixamento das sobrancelhas), elevação do lábio superior e abaixamento dos cantos dos lábios.
Essa emoção aparece ao falar do sofrimento pelo qual passou.

Em 0:12 - 0:13, Felipe diz: "O juiz acaba de decretar que eu sou completamente inocente de tudo que me acusaram."
Existe um aumento no volume vocal juntamente com a afirmação de cabeça, na palavra "acaba", confirmando a ação do juiz de decretar sua inocência.
Ao dizer "completamente" Felipe faz um gesto de meia negação - a cabeça se movimenta do centro para a esquerda, logo após, retorna para o seu ponto inicial. De acordo com Desmond Morris, esse meio maneio de cabeça é chamado de "Head Twist" e indica negação.
Podemos concluir desse trecho que apesar dele ter sido inocentado, por algum motivo ele não se sente completamente inocente.
Contextualizando, algo pode ter acontecido que o fez não acreditar em sua completa inocência.

A partir de 0:17, Felipe diz: "Eu sei que existem muitas perguntas: Por que eu fui sequestrado. Mantido em cárcere privado. Por que tudo isso aconteceu. Mas, mesmo que eu esteja com 25 quilos a menos, eu só quero abraçar minha família... e poder sair na rua."
Ao afirmar que sabe que existem muitas perguntas, ele fecha os olhos e nega com a cabeça. Esse conjunto gestual, nesse contexto, indica incerteza.
Em sua face notamos a expressão de desprezo, pela contração unilateral do músculo do bucinador (foto acima)

Agora vamos para dois momentos interessantes.

Ao dizer a palavra "seQUEstrado", ele realiza um gesto ilustrador dominante, o que é congruente com sua intenção de ser assertivo; porém, enquanto realiza esse gesto notamos uma sutil elevação unilateral em seu ombro esquerdo. Esse gesto é chamado de "Shoulder Shrug" e indica incerteza de que realmente houve sequestro (vídeo acima)


No momento em que diz "mantido em cárcere privado" reparem que ele não completa o gesto, parando no meio do movimento. Essa quebra de fluidez do gesto é um indicativo de insegurança em suas palavras e/ou ideias. Essa insegurança faz com que o corpo "trave" o movimento. (A foto acima mostra o gesto sendo realizado até a metade no movimento completo)
O uso do "mas", de acordo com estudos de Statement Analysis, exclui a importância de todo o período verbal anterior a ela. Significa dizer que para ele, não é importante falar do suposto sequestro, cárcere privado; Felipe está mais interessado em dizer que está com 25 quilos. Essa frase, inclusive, indica um desejo de criar, gerar empatia nos interlocutores, mostrando todo o sofrimento pelo qual passou. O que confirma essa intenção é o fato dessa frase não ter lógica com o restante do discurso.
Ao afirmar que quer abraçar a família ele nega com a cabeça. Há incongruência. O verbal afirma e o não-verbal nega.

Ainda relacionado ao trecho acima, no momento em que Felipe expõe a vontade de sair na rua, ele eleva sutilmente o ombro direito. Esse gesto, conhecido como "Shoulder Shrug" indica, nesse contexto, uma falta de comprometimento emocional com o que está dizendo. (Deve-se observar o vídeo para captar o movimento).

A partir de 0:41, Felipe diz: "Vocês não precisam acreditar só na minha palavra"
O uso do verbo "precisar" indica uma necessidade do Pastor para que acreditem nele; e igualmente ele tem a necessidade de que acreditem na decisão judicial
Em um contexto de inocência X culpa, o agente deve mostrar dominância, e consequentemente assertividade. O verbo "precisar" mostra submissão e pouca assertividade, por significar uma necessidade, e não uma imposição.
Durante a verbalização da palavra "acreditar", Felipe eleva sutilmente o ombro esquerdo, de forma unilateral, demonstrando insegurança em suas palavras.

Em 0:48, ao dizer "inocente de tudo", Felipe exibe uma expressão falsa de tristeza.
Essa expressão é considerada falsa pela alta potência de arranque e pelas intensidades altas das contrações musculares.
Intensidade de arranque diz respeito da trajetória da formação da emoção na face. As expressões faciais tem um momento de formação (onset), o ápice (appex) e o seu declínio (offset). Aqui podemos ver que ela se forma de maneira muito rápida, sem respeitar essa trajetória.
Uma emoção verdadeira, geralmente tem intensidades A e B; aqui sua intensidade é mais alta
Sua intensão aqui é gerar empatia dos interlocutores.
A frase "inocente de tudo", de acordo com estudos de Statement Analysis indica uma omissão e fuga. Ele evita dizer do que ele é inocente

Em 0:50 vemos uma expressão, a princípio, de felicidade pela contração do músculo do zigomático maior, responsável pela elevação dos cantos da boca; e pela contração dos orbiculares dos olhos, responsável pela formação dos "pés de galinha". Porém existe uma forte assimetria facial, tendo uma contração maior no seu lado direito. Isso é característica de uma emoção falsa de felicidade.
Novamente, sua intenção aqui é gerar empatia


SUMÁRIO: O Pastor Felipe Heiderich demonstra nojo ao falar de sua acusação, havendo, nesse ponto, congruência.
Apesar dele se achar inocente, ele sabe que essa inocência não é completa.
Ele tem dúvidas se houve mesmo sequestro, e sabe que não houve cárcere privado, devido a insegurança mostrada nesse trecho.
No âmbito da Paralinguagem (estudo da voz - tonalidade, volume, fluência, etc.) e as emoções falsas demonstram intenção de gerar empatia com os interlocutores.
Sua impostação de voz e fluidez são congruentes com as realizadas por Pastores.

sábado, 6 de abril de 2019

Análise não-verbal: Menina pede desculpas após praticar ofensas com funcionário do Bob's. Desculpas verdadeiras?

Recentemente duas meninas, identificadas como Júlia Rodrigues e Thaís Araújo, verbalizaram ofensas contra um funcionário da rede de FastFood Bob's.
As meninas elas estavam em uma das franquias do restaurante, um dos funcionários, chamado Pedro estava limpando o chão. Enquanto isso acontecia, elas proferiam palavras ofensivas e agressivas contra tal funcionário.
Após esse episódio as meninas receberam duras críticas dos internautas, as acusando de racismo e injuria racial.
Júlia Rodrigues veio à público e gravou um vídeo se desculpando pelo ocorrido. Será que seu pedido de desculpas foi verdadeiro?

Vamos à análise:

Em 0:04, podemos ver em Júlia a contração do músculo do corrugador, localizado entre as sobrancelhas, responsável pelo abaixamento das mesmas.
Essa contração muscular indica tensão, nervosismo e dificuldade de falar sobre o assunto.
Notamos também uma contração no músculo do bucinador, na extremidade esquerda do lábio, indicando a emoção de desprezo
Um segundo depois, enquanto diz que até então não havia falado nada em relação ao ocorrido, Júlia realiza um leve afastamento de cabeça para trás
Esse gesto indica um desejo de fugir do fato.

Em 0:07 novamente vemos a contração no bucinador. Novamente há desprezo.

Em 0:09, podemos ver a contração do corrugador juntamente com a elevação da parte interna das sobrancelhas e a queda dos cantos dos lábios. Essas ações musculares indicam a emoção de tristeza.

Em 0:13 - 0:14, ao afirmar que as pessoas estão falando coisas que não aconteceram, ela realiza um gesto com a cabeça de forma descoordenada. Notem que o ritmo vocal é diferente do ritmo corporal. Essa disparidade rítmica indica ansiedade e nervosismo com um alto coeficiente de desonestidade.

Em 0:29, ela realiza uma engolida em seco logo depois de dizer "Eu sei que isso não foi certo"
Isso acontece porque, devido a liberação de hormônios ligados ao estresse e tensão a garganta seca e precisa de lubrificação.
Podemos afirmar que nesse momento, Júlia está experimentando ansiedade.
A pergunta que devemos fazer é: Por que Júlia estaria ansiosa e tensa ao dizer que o que fez não foi correto?

Em 0:33 existe uma contração assimétrica no músculo do bucinador, responsável pela retração dos lábios e estreitamento das comissuras. Essas ações musculares indicam a emoção de desprezo.

A partir de 0:34, Júlia diz: "Eu queria pedir desculpas ao menino do vídeo, aos... aos familiares. Inclusive eu já falei com ele; eu já pedi desculpa"
Primeiro vamos analisar esse trecho sob o prisma da Análise do Discurso. Júlia utiliza o verbo "querer" no futuro do pretérito indicando uma incerteza. O correto seria verbalizá-lo no presente do indicativo, tendo em vista que é um desejo atual.
Júlia se refere à vitima como "menino". O uso do substantivo "menino" ao invés do nome da vítima despersonaliza e indica um afastamento.
Há também quebra de raciocínio lógico. Júlia começa dizendo que "queria pedir desculpas", depois ela diz que "já pediu desculpas". Como pode alguém querer pedir desculpas, já tendo pedido anteriormente? 
No âmbito da comunicação não-verbal, ao dizer "Eu queria pedir desculpa ao menino do vídeo", durante a verbalização da palavra "pedir", Júlia ao piscar os olhos os mantêm fechados por uma fração de milésimos além do normal. Consideramos isso um "Eye Shielding" (desejo de não ver o que está dizendo)
No momento em que diz: "aos familiares", ela eleva sutilmente o ombro esquerdo (foto acima), indicando falta de confiança e insegurança em suas palavras.
Todos esses sinais verbais e não-verbais, em conjunto, indicam que não houve esse pedido de desculpas e não existe essa intenção.

No final do trecho, em 0:40, Júlia ao terminar a afirmação pressiona levemente os seus lábios. De acordo com a doutrina de comunicação não-verbal, pressionar os lábios ao terminar qualquer afirmação indica insegurança em suas palavras.
Há um desejo inconsciente de não ter dito o que disse

A partir de 0:41, Júlia diz: "Eee... queria dizer queee... realmente eu errei"
Notamos nesse trecho um distúrbio da fala, estudado na Paralinguagem, que é o prolongamento verbal. Ela prolonga a conjunção "e" e a conjunção "que". Esse tipo de distúrbio indica a intenção de ganhar tempo para que o cérebro pense no que dizer em seguida. Esse recurso é muito comum em um contexto de desonestidade.
Há também a ausência do pronome "eu" quando diz "queria dizer que". Essa falta do pronome nos mostra que ela não quis assumir sua culpa. Júlia, literalmente está se omitindo
De acordo com estudos de Análise do discurso, a palavra "realmente" é chamada de potenciadora, e tem a intenção de adicionar ênfase com o objetivo de persuadir. Podemos notar que o uso dessa palavra se faz completamente desnecessária para que se entenda o contexto. Geralmente quando ocorre essa falta de necessidade, existe uma intenção de convencimento.
Ao final desse trecho, vemos a contração do bucinador, responsável pela emoção de desprezo (foto acima)

Em 0:47, mais uma vez notamos a contração do bucinador, no lado esquerdo do canto da boca. Desprezo

Em 0:54 - 0:55, Júlia diz: "Eu não sou racista... Eu queria dizer que eu não sou racista porque... eu tenho vários amigos negros"
Ao dizer "eu não sou racista", Júlia projeta sua cabeça para frente a aumenta o contato ocular direto. Esses dois gestos indicam uma tentativa de convencimento do que está falando. Logo após existe uma pausa como uma forma de pensar no que falará em seguida. Esse conjunto é comum em declarações racionais
Em seguida, Júlia novamente utiliza o verbo "querer" no tempo verbal incorreto. O certo seria o verbo no Presente no indicativo, e não no Futuro do Pretérito. Aqui a intenção é atual e não deveria ser uma mera possibilidade e incerteza
Antes de dizer que o motivo de não ser racista se dá por ter vários amigos negros, Júlia projeta sua língua para fora, em um gesto chamado de "Tongue Jut". Esse movimento de língua indica, segundo Joe Navarro, uma intenção de escapar ileso do mal causado. Como se o corpo comunicasse: "Eu quero escapar ileso".


SUMÁRIO: O pedido de desculpas é um ato submisso ("Eu me submeto a você, pois eu errei"). No vídeo não vemos em nenhum momento uma linguagem corporal submissa. Pelo contrário; Júlia emite, em vários momentos a emoção de desprezo, que indica superioridade intelectual e/ou física em relação a uma pessoa, a um evento ou a uma forma de pensar.
Os elementos paralinguísticos e da análise de declaração adicionam uma racionalidade ao discurso; o que também é contrário ao contexto de um pedido de desculpas. Além da submissão, o pedido de desculpas deve ser completamente emocional.
Podemos concluir, portanto, que o pedido de desculpas de Júlia é falso. Não existe qualquer intenção nesse aspecto.
A agente não acredita que tenha errado em suas atitudes.
As emoções negativas, como a tristeza, são devidas às criticas que sofreu, e não ao ato realizado.