domingo, 26 de maio de 2019

Análise não-verbal: Joana D'arc Félix de Souza explicando sobre seu diploma de Harvard. Sinais de falsidade. Transtorno psicológico?

Recentemente a professora e química, Joana D'arc Félix de Souza passou por uma polêmica. Após confirmar e comprovar que possui pós-doutorado na Universidade de Harvard, a professora foi desmentida em relação a sua certificação.
Jornalistas reuniram provas mostrando que a história contada por Joana D'arc, de que ela foi morar nos Estados Unidos e conseguiu ser certificada da Universidade de Harvard, é mentirosa. O diploma universitário apresentado por ela é falso, segundo a própria Universidade.
Quais são os sinais verbais e não-verbais que nos mostram que existe falsidade em sua história?

Vamos à análise:

Logo no primeiro segundo do vídeo podemos ver uma expressão de medo devido a elevação das sobrancelhas na parte interna e externa, elevação das pálpebras superiores, e estiramento horizontal dos lábios.

A partir de 0:02, ela fala: "Tá não... não!. Aquilo lá eu... eu acabei de conta a história pra ela, do que aconteceu daquele diploma"
A primeira frase emitida ("Tá não... não!") contém um aumento no timbre vocal. A voz fica mais aguda. Essa alteração indica nervosismo, tensão e ansiedade, devido a contração dos músculos da garganta.
"Aquilo lá" indica falta de especificação. De acordo com estudos de Análise de Declaração, é uma linguagem de distanciamento.
Esse distanciamento também pode ser observado com o corpo. Em 0:03 há um afastamento corporal para trás, indicando desejo de se distanciar do assunto.
Podemos observar gagueira ("Aquilo lá eu... eu"). Esse distúrbio vocal indica nervosismo, ansiedade.
Ao dizer "daquele diploma" observamos que o gesto feito com sua mão está fora do ritmo. Novamente nervoso e tensão

A partir de 0:09, Joana diz: "Siiimm... o que eu tô te falando, eu coloquei no currículo lattes; eu conversei com o professor à distância; eu tô falando, o erro foi eu ter colocado que... que... que tem... mas eu tenho lá... ééé... trabalho realizado com orientação à distância"
O prolongamento do "sim" somado com aumento do timbre vocal indicam uma altíssima carga de tensão e nervosismo
O trecho que diz: "o erro foi eu ter colocado que... que... que tem... mas eu tenho lá... ééé..." contém inúmeros distúrbios de voz e outros elementos verbais.
Primeiramente existe uma auto-incriminação quando ela diz que o erro foi dela ter colocado. Logo depois vemos o primeiro distúrbio vocal que é a gagueira, seguido de omissão ("que tem...") - devemos nos perguntas: "que tem, o quê?";
Em seguida, temos o uso do "mas". Essa preposição indica que todo o conteúdo anterior a ele não possui importância e pode indicar convencimento.
Em seguida, vemos mais um distúrbio vocal, que é o uso de agregador verbal ("ééé..."). Esse elemento indica que o cérebro está ganhando tempo para pensar em uma resposta que não é genuína.
Não-verbalmente, podemos notar desse trecho uma inquietação corporal demonstrando desequilíbrio emocional. Reparem que ela se movimenta de um lado para outro.
A união de todos esses elementos nos indicam uma altíssima carga de tensão, nervosismo e ansiedade. Nesse contexto está ligado a desonestidade.

A partir de 0:27 a repórter diz a Joana D'arc que o professor que teria seu nome citado no diploma confirmou em uma jornal que não a teria orientado em Harvard. A partir de 0:35, Joana D'arc responde a esse questionamento da repórter, dizendo: "Não... quem... não, não... quem... quem me orientou lá, eu preciso ver o nome que tá lá nesse diploma. Quem me orientou faleceu em 2017..."
Podemos ver aqui muitas incongruências verbais. Primeiramente vemos muita gagueira e confusão de pensamento. Observamos também que há uma incoerência discursiva, pois ela diz que precisa ver o nome do orientador no diploma, e logo depois diz que o orientador faleceu em 2017. Se ela sabe que ele faleceu, ela sabe quem é o orientador e logo não precisa confirmar o nome do diploma.
Novamente vemos um inquietude corporal indicando ansiedade e nervosismo
Essa incoerência somado aos distúrbios vocais indica ansiedade e nervosismo quanto ao orientador. Há forte desonestidade

A partir de 0:45, enquanto a repórter faz a pergunta, Joana D'arc coloca a mão no queixo. Esse gesto indica avaliação crítica ao que está sendo perguntado. Geralmente esse gesto é projetado quando não gostamos, não respeitamos ou não confiamos na pessoa ou no assunto que está sendo abordado. Pode indicar também impaciência.
O uso desse gesto, nesse contexto, é um forte indício de que ela não confia no que ela mesma vai dizer.

Em 0:52, o repórter pergunta se ela fez ou não o pós-doutorado em Harvard. Joana D'arc responde: "... se foi a distância, então não é... não, eu não cheguei... não fui aluna efetiva não. Não fui aluna efetiva não" (é essencial assistir ao vídeo para que se possa captar a forma como ela fala esse trecho)
Primeiramente observamos a latência de resposta. À isso se refere o tempo entre terminar de ouvir a pergunta e o tempo para começar a responder. Essa latência, de acordo com estudos, é de em média 1 segundo. A latência aumenta de acordo com a necessidade do cérebro de criar a resposta. Uma resposta simples e que não precisa ser criada, tem uma latência menor. Quanto maior é a necessidade de criação, maior é a latência. Durante essa pausa para começar a responder, vemos uma expressão de medo pela elevação das pálpebras superiores e estiramento horizontal dos lábios (foto acima)

Assim que começa a proferir as primeiras palavras, notamos uma elevação com os ombros, em um gesto chamado de "Turtle Effect". Esse gesto indica falta de confiança no que está sendo falado. Tem esse nome porque simula uma tartaruga entrando em seu casco em um momento de perigo, em que há a necessidade de se proteger por não confiar em suas habilidade para sair de determinada situação. Juntamente vemos o gesto de fechar os olhos ("Eye Shielding") que indica desejo de não visualizar o que está falando. Logo em seguida há um afastamento corporal.
Joana D'arc não começa com uma resposta direta. De acordo com os ensinamento da Análise de Declaração, uma resposta direta contém "sim" ou "não" e o complemento. Aqui não vemos isso. Ela já começa falando: "se foi a distância..."
Em seguida ela assume que não é certificada no pós-doutorado em Harvard ao dizer "então não é...". Podemos dizer que aqui aconteceu um "ato falho", que consiste em um vazamento do inconsciente. O inconsciente expõe o que o consciente deseja esconder.
As gagueiras e inconsistências vocais indicam nervosismos, e nesse caso, desonestidade.

Em 1:01, o repórter continua: "Então a senhora não fez"
Em 1:02, Joana D'arc diz: "Não. Então digamos que eu não fiz então..."
Observamos o aumento no timbre vocal ao dizer "não". Corporalmente há a elevação dos dois ombros. Esse gesto é chamado de "Turtle Effect" e indica falta de confiança no que está falando. Podemos notar também que há uma inquietação corporal e falta de sincronia.
Esse conjunto gestual e verbal indicam desonestidade

Em 1:05, o jornalista afirma: "Então a senhora mentiu no seu currículo lattes"
Em 1:07, ela responde: "Não. Eu tive orientação à distância. Então já agora... eu tô te falando agora... se isso não é válido, então quer dizer que eu não fi... (???)... se essa orientação à distância não é válida"
Ao dizer que teve orientação a distância, podemos ver uma elevação unilateral de seu ombro esquerdo. Esse movimento indica falta de confiança no que está dizendo (foto acima)
Logo depois quando diz: "Então já agora... eu tô te falando agora...", notamos gagueiras e palavras riscadas. De acordo com Análise de Declaração, palavra riscada acontece quando não terminamos a palavra e já iniciamos outra. Indica omissão e desonestidade. Nesse momento podemos observar que há um desnível do ombro direito em relação ao esquerdo. Esse desnível indica desequilíbrio emocional, e nesse contexto, desonestidade

Ao dizer "então quer dizer que eu não fi...", novamente vemos o "Turtle Effect" indicando falta de confiança. Os pontos de interrogação trazem a chamada "inferência de som incoerente", que são sons confusos emitidos pelo agente, sendo difícil o seu entendimento. Essa inferência acontece devido a confusão mental entre a verdade e a mentira.

Em 1:21, novamente vemos o "Tutrle Effect".

Depois de analisar seus sinais verbais e não-verbais que indicam desonestidade de sua parte quanto à sua certificação em Harvard, podemos nos perguntar: "Será que Joana D'arc Félix possui algum tipo de transtorno psicológico?"
Não podemos confirmar tecnicamente qual é o transtorno da professora - essa confirmação pode se dar somente com um laudo emitido por um psiquiatra - mas podemos dizer que ela possui as características de uma mitomaníaca.
A mitomania é um transtorno psicológico caracterizado pela compulsão de contar mentiras, sem benefícios externos e geralmente restrito a assuntos específicos. O objetivo geralmente é ter uma boa visibilidade social.
O mitomaníaco, em muitos casos, prefere acreditar mais na sua verdade do que na verdade dos fatos. Ele conta as histórias falsas para se sentir bem consigo mesmo.
Notaram alguma semelhança com Joana D'arc Félix?


SUMÁRIO: A emoção predominante em Joana D'arc Félix é o medo.
Ela apresenta, durante todo o vídeo, comportamento de ansiedade, nervosismo e tensão. Nesse contexto,falta de confiança em suas palavras devido as excessivas elevações de ombro. A desonestidade está presente durante todo o momento.
Existe uma alta probabilidade de Jona D'arc ser mitomaníaca.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Análise não-verbal: Ciro Gomes falando sobre declaração polêmica. Houve edição?

Em 2002, o até então candidato a Presidência da República, Ciro Gomes, fez uma declaração pública polêmica ao se referir a sua esposa na época, a atriz, Patrícia Pilar.
Durante uma entrevista em São Paulo, quando questionado por um jornalista, qual o papel de Patrícia Pilar no dia-a-dia da campanha, o político Ciro Gomes deu uma resposta, vista pela imprensa, como constrangedora. Ciro Gomes disse que um dos papéis mais importantes da atriz, em sua campanha, é dormir com ele. Logo depois ele reformulou a resposta dizendo que era brincadeira.
Recentemente, em um programa para o Youtube, o político foi perguntado novamente sobre esse evento.
O que sua linguagem corporal tem a nos dizer tantos anos depois?

Vamos à análise:

A partir de 0:15, enquanto o apresentador Marcelo Tas está formulando a pergunta à respeito dessa declaração, a câmera corta para Ciro Gomes. Nesse momento podemos ver um aumento significativo no número de piscadas indicando ansiedade. Quando estamos experimentando esse estado, o número de piscadas aumenta consideravelmente devido ao maior envio, para o corpo, de hormônios ligados ao estresse, como por exemplo, o cortisol.
Se observarmos bem, existe também micro espasmos na região naso-labial (área marcada na foto acima). Esses micro movimentos podem, também, estar ligados ao estresse que o assunto gera no político

A partir de 0:22, ainda enquanto a pergunta está sendo formulada, há um plano de câmera aberto aonde podemos ver Ciro Gomes realizando um gesto pacificador.
Gestos pacificadores são aqueles cuja a função é de nos acalmarmos diante de um momento de nervosismo, estresse e até ansiedade. São gestos que consistem em auto-toques ou toques em objetos. Esses auto-toques são coceiras, leves passadas de mão na pele, etc.
Nesse momento, podemos ver Ciro Gomes esfregando os dedos indicador e polegar.
Podemos dizer que aqui ele está sob tensão e deseja se acalmar.

Em 0:33 enquanto Marcelo Tas elogia a atriz Patrícia Pilar dizendo que ela não aceitaria ter ouvido isso, podemos ver Ciro Gomes emitindo três gestos interessantes, em sequência.
Primeiramente ele emite um sorriso de desprezo, devido a leve contração no bucinador. Nesse contexto, podemos ver que, somado a esse desprezo, há também uma satisfação em toda a sua face. Quando vemos desprezo com satisfação, estamos diante do chamado "Duping Delight", que segundo Paul Ekman, é um sorriso emitido quando percebemos que o interlocutor se convenceu do que nós falamos e/ou que a nossa manipulação foi bem sucedida. Esse sorriso vem juntamente com o gesto de fechar os olhos, que nesse contexto, pode ser visto como um intensificador emocional (foto 1)
Logo depois, Ciro realiza o gesto de projetar a língua para fora, umedecendo os lábios, chamado de "Tongue Jut". Segundo Joe Navarro esse gesto indica dentre outras coisas auto-incriminação. Ao realizarmos esse gesto, é como se o corpo estivesse falando, dentre outras coisas: "Eu escapei ileso do que eu fiz" (foto 2)
Existe uma forte probabilidade de que Ciro Gomes se sinta satisfeito por entender que, de certa forma, Marcelo Tas está do lado dele e por isso tem a sensação de que vai sair ileso das perguntas e/ou dos julgamentos, etc. ("Ele está do meu lado, não vou sofrer nenhuma represália, ou terei que me justificar muito")

A partir de 0:43, Marcelo Tas pergunta: "O que esse episódio te ensinou?"
Em 0:46, antes de Ciro responder, ele realiza um gesto de projetar os lábios para frente, formando uma espécie de bico exagerado. Esse gesto é um indicativo de falsa consideração. Esse gesto é feito somente por indivíduos contextualmente dominantes. Ele quer transmitir a ideia de que levou o episódio em consideração, mas isso não aconteceu.
Juntamente ele direciona seu olhar para baixo e esquerda. O direcionamento ocular para esse sentido indica o acesso ao diálogo interno. Ele está avaliando o que falar.

Logo em seguida, em 0:46, Ciro responde: "Veja. Me ensinou muita coisa. Muita coisa mesmo..."
Esse trecho, apesar de ser pequeno, contém importantes sinais verbais, paralinguísticos e não-verbais.
Em relação ao âmbito verbal, podemos notar que Ciro inicia a sua resposta com a palavra "Veja". De acordo ensinamentos de Statement Analysis, palavras como "veja", "olhe bem", "veja bem", entre outras, indicam uma forma de ganhar tempo para a resposta. Quando uma resposta é direta não necessita dessa intenção de ganhar tempo. Uma resposta direta consiste em "sim" ou "não" e o complemento. O uso de palavras para ganhar tempo, tiram a naturalidade estrutural que uma resposta deve ter. 
Além disso há também o uso de palavras desnecessárias. Quando Ciro diz que "ensinou muita coisa", o complemento dito por ele ("muita coisa mesmo") é desnecessário, pois essa informação já foi passada . Essa repetição com palavras desnecessárias tem a intenção de convencer.
Paralinguagem é o estudo da voz (timbre, volume, intensidade, velocidade). Podemos notar, nesse aspecto, que Ciro Gomes começa a sua resposta com a voz mais aguda, o que é diferente de seu habitual. Essa alteração na voz, principalmente deixando ela mais aguda, indica ansiedade e nervosismo ao tratar do tema.
Em relação ao aspecto não-verbal podemos notar um desconforto com o corpo e uma rápida negação com a cabeça ao dizer que "ensinou muita coisa". Há nervosismo e incongruência
Há desonestidade em relação a esse trecho.

A partir de 0:52, Ciro diz: "O ambiente onde eu vivo não é um ambiente honesto, é um ambiente desonesto"
Esse trecho é rico em sinais verbais e não-verbais. Vamos nos atentar primeiramente ao sinais verbais.
A priori, é importante falar que o nosso cérebro não reconhece palavras de negação. Elas são excluídas. Por exemplo, se pedirmos para alguém NÃO imaginar um elefante cor de rosa, automaticamente o sujeito vai imaginar o elefante cor de rosa. Com base nisso, podemos concluir que falar "não é um ambiente honesto" é diferente de falar "é um ambiente desonesto". O "não" muda toda a forma como o cérebro vê essa imagem criada.
No começo da primeira parte da declaração ("o ambiente onde eu vivo..."), ele olha para cima e direita. De acordo com estudos da PNL, o movimento ocular para esse sentido, pode estar associado a criação de imagens. (foto acima)
Ao falar "ambiente desonesto", Ciro nega com a cabeça. Havendo uma incongruência entre a afirmativa verbal e a negação corporal
Podemos concluir que Ciro, ao dizer que o ambiente NÃO é honesto, sua mente automaticamente excluir a negação e ele começa a criar uma imagem de um ambiente honesto - essa criação é congruente com o movimento ocular. Quando diz que o ambiente é honesto ele nega com a cabeça confirmando que ele não acha que o ambiente é desonesto.

Em 0:59, Ciro diz: "Eu fui editado", se referindo ao que ele falou àquela época
Ao dizer isso, podemos ver uma gesto de cabeça, rápido, de um lado para outro, seguido de um afastamento.
Esse primeiro gesto de cabeça é muito semelhante a uma negação, porém o fato dele ser feito nessa velocidade e curto, indica um outro significado. Esse gesto é chamado de "Head Wiggle", e indica um estado alfa de assertividade e confiança.
O afastamento de cabeça para trás, adicionado ao gesto, indica incredulidade, duvida no que está dizendo
Juntamente, podemos ver um sorriso com um misto de desprezo e satisfação. Novamente há a presença do "Duping Delight" (foto acima), indicando satisfação por terem acreditado na sua manipulação
Há um gesto tido como positivo ("Head Wiggle") e dois gestos negativos (afastamento com a cabeça e o "Duping Delight").
Podemos concluir que ele sabe que não houve edição, mas a sua segurança e assertividade vêm do fato dele ter conseguido, na época, manipular e reverter esse depoimento prejudicial para sua imagem, dizendo que tudo foi brincadeira e ter tecido elogios a favor de Patrícia Pilar. A satisfação também vem do fato dele ter conseguido reverter a situação

Em 1:01, Ciro diz: "Foi uma grande bobagem"
Novamente vemos incongruência entre o verbal e o não-verbal. Ele afirma com as palavras mas nega com a cabeça. Há desonestidade



A partir de 1:09 - 1:10, Ciro Gomes diz:"... na verdade, eu vim de uma sequência, em que eles programaram uma mesma pergunta, e eu sempre respondia: ela é tudo pra mim... é uma inteligência privilegiada, é minha parceira, é minha companheira, é meu amor, etc..."
De acordo com estudos de Statement Analysis, a expressão "na verdade" indica uma palavra desnecessária. Quando essa expressão aparece no discurso, existe uma comparação interna. O que ele tá falando não é o que ele tá pensando. Isso significa que existe desonestidade, ou omissão, no discurso. 
Ainda em relação ao seu discurso, podemos reparar no uso do artigo indefinido ao dizer "programara UMA mesma pergunta". O artigo é um dos elementos mais confiáveis na análise de declaração. O uso do artigo indefinido (no caso, "uma"), indica distanciamento, falta de precisão, indefinição, desconhecimento, generalização. Diferente de se usar o artigo definido ("o", "a", etc.). Esse artigo indica exatidão, conhecimento, definição. Quando Ciro Gomes se refere a pergunta como sendo "uma pergunta" ele não se refere a pergunta exata feita, mas à qualquer pergunta
Ao dizer que veio de uma sequência de perguntas programadas, podemos notar um gesto ilustrador. Ciro movimenta seu braço de sua esquerda para a sua direita, exatamente ao verbalizar a palavra "sequência", indicando progressão de tempo. Como se o corpo verbalizasse "ao longo do tempo...".
Além disso, podemos notar que existe uma piscada desregular - somado a um aceno de cabeça - ao dizer a palavra "seQUÊNcia". Piscada desregular acontece quando o intervalo ente as piscadas é muito curto.
Existe uma leve pausa entre "programaram" e a palavra anterior. Essa pausa sutil significa uma forma para ganhar tempo e pensar na palavra a ser usada. Ainda durante essa palavra, ele realiza um gesto ilustrador chamado de "Hand Chop". Esse gesto é feito ligeiramente fora de ritmo (a voz e os gestos estão fora de sincronia rítmica - o gesto está mais rápido do que a voz)
Notamos também a emoção de desprezo devido a contração do músculo do bucinador, no lado esquerdo (foto acima).
Apesar de haver uma probabilidade de, ao longo dos anos, jornalistas perguntarem sobre sua ex-esposa, Patrícia Pilar, podemos concluir desse trecho que Ciro Gomes é desonesto ao usar esse fato como justificativa; e ele não veio dessa sequência de perguntas programadas.

Em 1:23, podemos ver a elevação unilateral de seu ombro esquerdo. Esse gesto chamado de "Shoulder Shrug" indica em um primeiro momento, falta de comprometimento emocional, e em um segundo momento mostra que existe uma disparidade entre o que ele está falando e o que realmente aconteceu. 
Ele realiza esse gesto ao afirmar que o comentário, de que o papel mais importante de Patrícia Pilar é dormir com ele, foi feito logo após ele ter elogiado ela.
Há desonestidade. 
Esse comentário foi feito antes do elogio, e tal elogio foi usado para criar um álibi.


SUMÁRIO: Esse assunto polêmico ainda provoca ansiedade e nervosismo em Ciro Gomes.
Ele sabe que não houve edição no que falou, mas acredita que o fato dele ter elogiado ela e dito que tudo era brincadeira, de alguma forma dá confiança a ele, funcionando como um álibi.
Realmente, durante essa época vários jornalistas faziam perguntas parecidas a respeito de sua esposa Patrícia Pilar, mas ao contrário do que o político diz, esse evento não foi o responsável pelo comentário polêmico.
Ele não racionaliza o ambiente político como desonesto.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Análise não-verbal: O goleiro Sidão recebendo o troféu de "craque do jogo". Humilhado?

A partida entre Santos e Vasco da Gama que ocorreu no domingo dia 12/05 foi marcada por um acontecimento atípico.
A Rede Globo criou o "Craque do Jogo" que é uma premiação dada pela emissora ao melhor jogador da partida, através de votação dos internautas. Nessa partida o vencedor desse prêmio foi o goleiro do Vasco, Sidão, que atravessa uma má fase com falhas em jogos importantes, inclusive neste último. Apesar do goleiro ter reconhecido suas falhas, foi o premiado com o troféu de "craque do jogo".
Esse evento foi tido, pelos demais torcedores e pela imprensa, como uma humilhação ao jogador.
O que será que a Linguagem Corporal do goleiro nos diz?

Vamos à análise

No começo do vídeo, podemos ver um gesto de passar a língua nos dentes. Esse gesto indica nervosismo e tensão. Aqui há um alto nível de ansiedade

Logo depois, em 0:05, podemos a retração dos lábios de Sidão.
De acordo com autores como Pierre Weil, esse gesto indica "Mutismo". Significa uma forma subconsciente de suprimir o crescimento interno de uma emoção negativa, bem como evitar uma manifestação externa dessa emoção.
Podemos notar também que existe a contração do músculo do corrugador, responsável pelo abaixamento das sobrancelhas; e o levantamento da parte interior das sobrancelhas. Essas duas ações musculares são responsáveis pela formação de rugas horizontais no centro da testa. Essas rugas são chamadas  de "Rugas do Pesar" e indicam emoções negativas como tristeza, pesar.
Podemos concluir que Sidão está triste com o resultado do jogo, mas deseja suprimir parcial ou totalmente essa emoção

Em 0:07, a pós a repórter pedir para o Sidão falar sobre a atuação do time no jogo, ele abaixa a cabeça.
Esse movimento de cabeça, nesse contexto, é um indicativo de vergonha. Quando essa emoção está presente, tendemos a abaixar a cabeça em um gesto de submissão e fuga, pois o contato ocular é anulado
Juntamente, podemos ver que, mais uma vez, existe a formação de rugas horizontais no centro da testa, indicando pesar, tristeza.

Em 0:13, existe pressão nos lábios e uma leve retração. Mais uma vez vemos o gesto de "Mutismo", representando o desejo de querer se conter.
Juntamente podemos ver os olhos fechados. Esse gesto chamado de "Eye Shielding" indica desejo de não visualização. James Borg chama de Ação de Desligamento. Exprime um desejo de se desligar daquela cena, daquele evento.
Sidão nesse momento não quer falar sobre o ocorrido

Ainda referente ao trecho acima, antes de começar a responder à repórter, podemos ver uma elevação dos dois ombros. Esse gesto é chamado "Turtle Effect". Consiste em elevar os ombros para se proteger de uma situação que provoca um estímulo negativo. Esse gesto tem esse nome porque se assemelha ao gesto de uma tartaruga que entra no casco diante de uma situação ameaçadora.

A partir de 0:14, Sidão responde: "Acho que até o primeiro gol ali, num erro individual meu, o time tava bem..."
Ao dizer "erro individual meu" ele faz um gesto de passar a língua no lábio inferior. Esse gesto, primeiramente, indica uma alta carga de ansiedade e nervosismo. Quando ficamos nervosos e tensos, há o ressecamento dos lábios, por isso precisamos umidificá-los, daí o gesto.
Joe Navarro vai mais além. Segundo suas pesquisas como agente do FBI, esse gesto também pode indicar auto-incriminação (como se o corpo estivesse dizendo: "eu fiz besteira", "eu errei")
Podemos ver, nesse trecho um outro movimento interessante - o movimento ocular.
Se vocês repararem, o goleiro movimenta seus olhos de um lado para outro de forma contínua. Esse movimento ocorre com bastante frequência entre os jogadores de futebol. Indica rota de fuga. Desejo de não estar ali, de fugir. Representa a procura de uma rota de fuga para sair dessa situação.

A partir de 0:35, a repórter diz: "Sidão, vou, vou, ter que te entregar aqui o troféu de "Craque do Jogo" que foi uma votação feita por torcedores; é uma votação que é feita apenas por torcedores, ééé... na internet. É um jogo que foi complicado pra você, uma partida bastante difícil, mas... ééé... fica aqui esse troféu pra você, Sidão"
Esse trecho tem vários pontos verbais e não-verbais interessantes de serem analisados. Vamos começar com os pontos verbais
A repórter começa dizer que "vai ter que" entregar o troféu para Sidão. Essa expressão ("vou ter que...") indica uma obrigação. Aqui é mostrado que a repórter não deseja entregar o troféu, mas tem a obrigação de fazê-lo.
Outro momento à respeito do discurso acontece quando ela fala "votação feita apenas por torcedores". O uso da palavra "apenas" dá uma intenção de excluir qualquer responsabilidade dela e/ou dos colegas da emissora. Somente os torcedores votaram, e mais ninguém.
Os agregadores verbais (ééé...) indicam um processo cognitivo de pensar no que dizer. Isso se dá pelo desconforto que a repórter está sentindo na hora.

No âmbito não-verbal, quando a repórter fala que vai ter que entregar o troféu, o goleiro Sidão, imediatamente abaixa a cabeça sinalizando vergonha, e logo depois começa a manipular sua garrafa de água. Esse segundo gesto indica nervosismo e tensão, sendo portanto, um gesto pacificador.

Ainda referente ao trecho acima, em 0:46, o goleiro, de cabeça baixa, realiza um gesto chamado "Nose Pinch". Esse gesto de pinçar o nariz (foto acima) é um forte indicador de ansiedade. Nesse momento, o goleiro está em um estado de baixa assertividade e confiança, e deseja se recuperar disso. A cabeça baixa indica vergonha.
Sidão está em um momento de intensa vergonha, e deseja se recuperar desse momento, se tornando mais assertivo e confiante

Em 0:51, ao receber o troféu das mãos da repórter, podemos notar na face de Sidão a emoção de desprezo devido a contração do bucinador e a emoção de raiva pela tensão apresentada na região da mandíbula. De acordo com observações, essa composição de emoções pode ocorrer em situações em que o agente se sente ultrajado, insultado.


SUMÁRIO: Podemos concluir que o goleiro Sidão realmente se sente culpado, apresenta vergonha, e outras emoções negativas, diante do resultado negativo do jogo. Seu desejo é de não externar o que sente e se tranquilizar diante desse evento negativo.
Ao receber o troféu, ele exibe emoções de nojo e raiva que podem indicar um sentimento de insulto, ultraje.

terça-feira, 7 de maio de 2019

Análise não-verbal: Ana Maria Braga falando sobre sua suposta demissão da Rede Globo. Veracidade?

Recentemente, a apresentadora da Rede Globo, Ana Maria Braga, veio por intermédio de seu programa esclarecer sobre sua suposta demissão da emissora.
Foi divulgada na internet uma notícia falando que a apresentadora das manhãs teria sido demitida da emissora após divergências com sua produção. Segundo a notícia, Ana Maria Braga teria, supostamente, lançado um produto para emagrecer e queria que esse produto fosse anunciado em seu programa. Após a recusa da produção, a apresentadora teria pedido demissão
Será que Ana Maria Braga realmente foi - ou será - demitida da emissora carioca? E mais; será que a apresentadora tem alguma relação com produto para emagrecer?

Vamos à análise:

Em 0:12, Ana Maria Braga exibe uma expressão de aversão devido a elevação unilateral do lábio superior.
Essa emoção tem como fato gerador a notícia de que ela teria sido demitida da Rede Globo.

A partir de 0:14, a apresentadora diz: "Eu tenho amigos meus ligando, perguntando se eu vou sair da Globo"
Ao dizer que ela ter amigos ligando, a apresentadora aumenta o número das piscadas. Esse gesto indica nervosismo, tensão, e em alguns contextos, ansiedade. Algo, no fato de amigos ligarem para ela, a deixa nervosa.
Pode significar também desonestidade quanto às ligações, porém precisaríamos de mais detalhes para termos essa confirmação.
Ao verbalizar "da Globo", notamos uma risada suprimida. Essa risada pode ter vários significados, dentre eles nervosismo e descrença. A descrença, mais especificamente, pode estar relacionada com o fato das pessoas, em geral, acharem que ela realmente iria sair da emissora ("É inacreditável acharem isso")

A partir de 0:30 - 0:31, Ana Maria Braga diz: "Eu não estou saindo da Globo, né?"
Ao verbalizar essa frase, a apresentadora realiza um gesto de cabeça chamado de "Head Wiggle". O conceito desse movimento foi trazido pelo especialista em linguagem corporal Jack Brown e consiste em movimentos rápidos, com a cabeça, de um lado para outro. Esse sinal não-verbal indica assertividade, alta confiança em suas palavras e/ou ideias. O "Head Wiggle" pode vir conjugado com um movimento de cabeça para frente ou para trás. Se for para frente, indica repreensão; se o movimento for para trás, é adicionado ao significado incredulidade e rejeição.
No caso, da Ana Maria Braga, podemos ver esse "Head Wiggle" com um movimento adicional para frente. Podemos chegar a conclusão que a apresentadora tem um alto grau de confiança de que não vai sair da emissora.
Ainda nesse trecho, existe um outro sinal interessante, mas dessa vez é verbal. O uso do agregador "né?" no final da frase. De acordo com estudos de Análise do Discurso, o uso dessa expressão, nesse contexto, indica dúvida.
Podemos concluir que a apresentadora realmente acredita e tem convicção de não vai sair da emissora, mas ela tem dúvidas de como será o seu futuro na Rede Globo.
Outro elemento que confirma essa dúvida, é a escolha da estrutura verbal "eu não ESTOU SAINDO" e não o futuro do presente ("eu não SAIREI"). Essa escolha pode nos confirmar que ela sabe que no momento ela não está saindo da emissora, mas ela é omissa quanto ao futuro.

A partir de 0:35, Ana Maria Braga diz: "Não tenho previsão nenhuma, nem de aposentadoria"
Nesse momento ela está sendo sincera. Ela nega verbalmente ao mesmo tempo que faz um sinal negativo com a cabeça. Há congruência.
Nesse trecho ela também mostra as mãos. Esse gesto é clássico de sinceridade. (foto acima)

A partir de 0:53, Ana Maria diz: "porque primeiro a gente tem que se divertir"
Nesse momento ela aponta para si mesma com as pontas dos dedos.
Os gestos de auto-referência apesar de pouco explorados pelos estudos de comunicação não-verbal, tem um papel importante nas análises. Quando nos referimos a nós mesmos, pela forma como a mãos ou as mãos tocam no peito, podemos dizer se tal momento do discurso é emocional ou racional. Se tocamos inteiramente com as palmas das mãos, o discurso é sentido, emocional; se tocamos com parte das palmas das mãos ou com os dedos apenas, o discurso é racional.
Aqui podemos ver, que ao dizer que primeiramente Ana Maria Braga tem que se divertir, ela realiza esse gesto de auto-referência com a ponta dos dedos, nos indicando um discurso racional, sem ter qualquer cunho emocional.
Tendo em vista que ela está falando de diversão (âmbito emocional), podemos concluir que há desonestidade

Em 1:04, ao se referir aos espectadores, ela realiza um gesto de apontar com a palma da mão pra cima. Esse gesto indica abertura, generosidade, importância com os interlocutores. É o gesto ideal para criar conexão.
Aqui podemos dizer que Ana Maria Braga adota uma linguagem corporal excelente e congruente com a intenção que deseja transmitir

A partir de 1:10, Ana Maria diz: "Temos muuuiito trabalho pela frente"
O prolongamento do advérbio "muito" indica racionalidade e desejo de convencimento. Ela prolonga essa palavra para convencer o público da quantidade de trabalho que ainda será feita. Esse recurso verbal é muito utilizado por oradores para dar ideia de intensidade.

A partir de 1:28, a apresentadora diz: "Eu não tomo comprimido para emagrecer"
Aqui vemos dois sinais importantes. Um não-verbal e um verbal
Antes de haver o corte de imagem, podemos notar que a apresentadora faz um movimento assimétrico com o braço esquerdo. Tendo em vista que o corpo se movimenta simetricamente em um contexto de honestidade, pois há um equilíbrio entre o verbal e o não-verbal, movimentos corporais assimétricos atípicos são forte indicadores de desonestidade.
Ainda nesse trecho, ao dizer "comprimido para emagrecer" ela quebra o padrão verbal, mantido durante todo o vídeo ao acelerar sua fala.. Quebra de padrão é um forte indicativo de desonestidade.


SUMÁRIO: A apresentadora Ana Maria Braga está confiante ao dizer que não está saindo da Rede Globo, porém há indícios de dúvida em relação ao tempo em que ficará.
Ao se referir a seus espectadores, Ana Maria Braga tem uma linguagem corporal muito correta e congruente com a intenção que quer passar. Ela sabe criar conexão com seu público.
Existe indícios de desonestidade ao dizer que não toma comprimidos para emagrecer.