Há uns dias foi divulgado nas redes sociais um vídeo em que o jornalista William Waack profere comentários de cunho racista, enquanto se prepara para entrar ao vivo, no dia das eleições presidenciais norte-americanas em 2016.
O que o jornalista está nos comunicando, de forma não verbal, durante esse infeliz episódio?
Vamos a análise:
0:19. Waack se vira para seu colega, o jornalista Paulo Sortero, e verbaliza: "Preto, né?". Imediatamente, Sotero emite uma expressão de medo através da contração do músculo risorius, provocando o estiramento horizontal dos lábios. Esse medo provavelmente está ligado a repercussão negativa que esse comentário poderá ter no futuro. Realiza também um afastamento com o corpo, em direção oposta a Waack. Esse fenômeno de distanciamento ocorre quando não gostamos ou não concordamos com o que estamos ouvindo/vendo.
0:21. A contração do músculo risorius aumenta. Nesse momento Paulo Sotero tenta mascarar o medo com um sorriso falso. O distanciamento em relação a William Waack também aumenta.
Esse sorriso é falso devido a trajetória da expressão. De acordo com Paul Ekman, quando a expressão é espontânea, ela começa de forma gradativa, chega no ápice e vai se desmanchando também de forma gradativa. Quando a expressão começa e termina de forma brusca, significa que ela é deliberada, pois sua trajetória é menor. Podemos notar que o distanciamento em relação a William Waack também aumenta.
Em um sorriso, falso ou verdadeiro, existe a presença do zigomático maior, responsável pelo estiramento dos cantos da boca pra cima. No caso, o estiramento é horizontal para os lados, devido a presença do medo.
0:22. O Jornalista William Waack emite uma expressão de felicidade, através de um sorriso verdadeiro. Em um sorriso verdadeiro existe obrigatoriamente a contração de dois músculos: o zigomático maior (eleva as extremidades da boca para trás e para cima) e os orbicularis oculi responsável por contrair as extremidades dos olhos formando os "pés de galinha". Essas contrações estão expressas no rosto de Waack.
0:23. William Waack realiza um gesto chamado de "up on toes" ao verbalizar "...coisa de preto". Esse gesto consiste em elevar os ombros e até mesmo o corpo todo na ponta dos pés por uma fração de milésimos. Esse movimento feito pelo jornalista deve ser observado na dinâmica do vídeo para melhor entendimento. Esse gesto ocorre pela liberação de grandes níveis de adrenalina, e significa um estado de excitação. A felicidade continua em sua face.
"... coisa de preto" é um discurso carregado de discriminação. Quando verbalizamos usando, por exemplo, a expressão "isso é coisa de..." estamos limitando a ação a determinado grupo de pessoas. Quase na maioria das vezes a ação da qual estamos nos referindo é negativa, prejudicial. Quando essas expressões aparecem e há a intenção de tratar determinado grupo de forma desigual ou injusta, a palavra escolhida para se referir a esse grupo é sempre com a intenção de desprezar, submeter, inferiorizar. Por exemplo: "Isso é coisa de preto", "isso é coisa de gordo", etc. As palavras "preto" e "gordo" tem intenção menosprezar o grupo.
0:31. William Waack demonstra a expressão de desprezo devido a contração do músculo do Bucinador responsável pela retração dos lábios e estreitamento das comissuras. A contração de Waack ocorre no lado esquerdo da sua face. (na foto abaixo podemos ver a prototipagem básica do desprezo).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.