Segundo a Polícia Militar, a vítima teria discordado da posição política do suspeito, e esse como resposta cometeu o crime.
O suspeito é Paulo Sérgio Ferreira de Santana e será o nosso analisado. O que sua comunicação não-verbal tem a nos dizer?
Vamos à análise:
Em 0:02 a 0:04, Paulo Sérgio que no dia, antes do crime acontecer, ele estava conversando com o dono do bar.
Ele afirma verbal e não-verbalmente. Há congruência, portanto veracidade
A partir de 0:05, o suspeito diz: "Esse senhor aí, que veio a óbito aí, que a gente teve essa confusão, levantou me chamando de viado... e negro. Viadinho negro; viadinho negro..."
Ao dizer as frases: "levantou me chamando de viado..." e "viadinho negro; viadinho negro", podemos notar uma elevação bilateral dos ombros. Esse gesto é considerado um emblema e seu principal significado é "desconhecimento", porém também pode significar insegurança no que está dizendo.
Alguns autores como Mark Knapp defendem que em algumas culturas esse gesto pode indicar transferência de culpa.
Podemos notar que existe uma pausa desnecessária entre as palavras "viado... e negro". Essa pausa quebra a fluidez do discurso e indica que o cérebro precisa de tempo para reformular um pensamento. Nesse contexto, podemos concluir que esses xingamentos não foram proferidos pela vítima.
A repetição da frase "viadinho negro" indica um desejo de convencimento por parte de Paulo; pois a repetição é desnecessária.
Nessa foto podemos notar que um olho está fechado enquanto o outro está aberto (nesse contexto, o gesto é realizado de forma inconsciente). Podemos marcar como assimetria facial.
De acordo com Paul Ekman, assimetria facial é um forte indicativo de desonestidade.
Em 0:14 o suspeito diz: "Eu não disse nada com você; eu não falei nada com você".
Existe um aumento na velocidade com que verbaliza as palavras, fazendo com que ele embole algumas palavras. Há também um aumento do "pitch" vocal deixando sua voz mais aguda.
No começo desse trecho, novamente podemos ver a elevação dos ombros.
As alterações verbais indicam um alto nível de nervosismo e tensão. Isso acontece porque quando estamos sob hormônios ligados ao estresse como cortisol, existe a tensão no músculo da garganta e essa tensão provoca uma mudança no tom de voz. O aumento da velocidade está ligado a uma intenção de passar a mensagem de forma mais imediata.
O fato não aconteceu da forma como o suspeito está narrando.
Nesse momento podemos notar dois gestos seguidos: o chamado olhar enviesado e a projeção de língua, chamado de "Tongue Jut".
O olhar enviesado indica desconfiança e insegurança no que está dizendo;
A projeção de língua, segundo Joe Navarro indica auto-incriminação e culpa. Como se o corpo estivesse expressando as ideias de "Eu fiz besteira", "Saí ileso", "Eu errei", etc.
A partir de 0:24, Paulo diz: "Todos viram também, e hora nenhuma... Peço, continuo pedindo desculpa a todos os familiares dele. Hora nenhuma foi de intenção. Me entreguei"
Sob a ótica da Análise do Discurso (Statement Analysis) essa frase é completamente racional e desonesta, isso porque, sua estrutura está contaminada pela ausência de lógica, quebra da ordem cronológica e má formulação verbal
Esses elementos podem ser observados quando ele diz:
(1) "... hora nenhuma..." e não continua com a sua linha de raciocínio;
(2) "Hora nenhuma foi de intenção. Me entreguei". Além da frase de início ("hora nenhuma foi de intenção") ter sido mal formulada, não há lógica no que está falando (Se ele não teve a intenção, por qual motivo ele se entregou?)
Ao verbalizar "Hora nenhuma foi de intenção" podemos notar também que sua voz perde a intensidade ficando com o volume mais baixo. Desejo de omitir e incerteza.
Em 0:33 após o repórter afirmar que foram doze facadas, Paulo diz: "Não, mas aí eu estava me embolando com ele no chão"
Paulo não se defende e não nega as doze facadas; sua justificativa é completamente deflexiva, ou seja, não fala diretamente das doze facadas. Além disso podemos notar uma dificuldade em verbalizar e gagueira no começo de sua fala.
Esse conjunto indica desejo de fugir da situação e ansiedade ao falar desse tema.
Não-verbalmente, existem sutis elevações no ombros demonstrando, nesse contexto, insegurança
Em 0:38, o suspeito diz: "Não, não. Não foi nada por trás" se referindo ao fato das facadas terem sido dadas por trás.
Nesse momento Paulo eleva sutilmente a sobrancelha em um gesto chamado "Skeptical Eyebrow" indicando ceticismo e dúvida no que está falando.
Em, sua face podemos ver uma expressão de medo pela elevação da pálpebra superior responsável pelo aumento da esclera (parte branca dos olhos), acionamento do depressor do lábio inferior e a contração do risórios responsável pelo estiramento horizontal dos lábios.
Apesar do suspeito negar verbalmente, as facadas realmente foram por trás.
Em 0:50 - 0:51 o suspeito afirma: "Eu não disse nada".
Podemos notar um desequilíbrio nos ombros. Eles sobem de forma descoordenada e o ombro direito permanece mais elevado que o esquerdo. Esse gesto indica desonestidade pois há um conflito interno entre a verdade e o que ele está verbalizando no momento (dissonância cognitiva).
Em sua face, novamente, o medo, pela elevação da parte interna e externa das sobrancelhas, contração do corrugador (responsável pelo abaixamento das sobrancelhas), elevação das pálpebras superiores e contração do risórios estirando os lábios horizontalmente.
Em 0:54, Paulo afirma que o fato não aconteceu por discussão política.
Nesse momento notamos novamente a elevação bilateral dos ombros, indicando incerteza no seu argumento. Incongruência corporal indica desonestidade no discurso.
Em 0:59, Paulo diz: "Eu estava conversando normal com o dono do bar..."
Novamente vemos a elevação bilateral de seus ombros por um tempo maior. Nesse caso, podemos interpretar esse gesto como o chamado "Turtle Effect", que significa um desejo de se proteger, se defender. Tem esse nome porque as tartarugas quando querem se proteger de seus predadores entram em seus cascos. Nesse caso, o agente eleva os ombros para retrair a cabeça.
Adotamos essa postura quando não estamos confortáveis e temos pouca confiança no que estamos dizendo.
Em 1:01 Paulo diz que ele estava no bar conversando sobre futebol. Nesse trecho acontece algo de interessante.
No momento em que ele fala isso, ele realiza movimentos rápidos com a cabeça, de um lado para outro. Esse gesto é chamado por Jack Brown como "Head Wiggle" e indica assertividade e segurança no discurso; Por outro lado existem indicadores de ansiedade, como por exemplo o aumento no tom de voz e movimentos corporais descoordenados.
Podemos concluir que de fato Paulo ia ao bar e conversava sobre futebol, mas naquele momento específico o assunto não foi esse.
A partir de 1:15, Paulo diz: "Eu bebendo exal.... fiquei exaltado fui em casa aí fiz... aconteceu esse fato"
A palavra "exaltada" foi cortada e logo depois ele quebra a fluidez do discurso adicionando uma paula desnecessária após o "fiz"
Esses recursos indicam omissão de informações importantes com o intuito de se proteger. Em outras palavras, Paulo em um primeiro momento, de forma consciente, não deseja expor que estava exaltado, bem como, não deseja expor o que fez.
Apesar desse desejo consciente de omitir, o inconsciente realiza pequenos vazamentos mostrando o que o consciente deseja que permanece em segredo.
Em 1:19 - 1:20 Paulo diz que se entregou [à polícia]. Nesse momento ele eleva os dois ombros, demonstrando insegurança em suas palavras.
Mesmo com o rosto em perfil, podemos reparar que existe um estiramento horizontal na lateral esquerda, indicando medo.
Há incongruência. Paulo não se entregou de fato.
Em 1:27, o suspeito diz: "Não conheci. Não conheci ele"
Nesse momento ele faz o seguinte conjunto gestual quase simultaneamente:
Ele nega com a cabeça de forma congruente ao mesmo tempo em que eleva os dois ombros mostrando desconhecimento.
Inspira mais profundamente realizando uma macroexpressão conhecida como "Sniff". Essa expressão aparece para camuflar uma emoção de nojo devido a contração do corrugador, franzimento do nariz, a elevação do lábios superior, ambos em uma intensidade alta (por isso, macroexpressão).
Juntamente ele emite um gesto de projeção de língua indicando ansiedade e auto-incriminação.
Realiza o chamado de "Lip Purse", que consiste em projetar os lábios para frente. Esse gesto é um sinal valioso de desacordo (Joe Navarro) ou intenção de omitir informação total ou parcialmente (Jack Brown).
Logo em seguida podemos observar que seus lábios são voltado para dentro da boca. Esse gesto, de acordo com Pierre Weil, indica mutismo, ou seja, há um desejo de reprimir uma ideia ou uma emoção.
Novamente podemos ver o "Sniff" - dessa vez, de forma mais sutil - camuflando a emoção de nojo.
Nesse trecho descrito acima podemos ver que há um coeficiente de sinceridade ao afirmar que não conhecia a vítima. Porém exitem algumas considerações a serem feitas:
(1)"Conhecer" é diferente de "saber". Conhecer alguém indica que existe um certo nível de proximidade, e até intimidade; saber sobre alguma pessoa subentende-se algo mais superficial, há ausência de aproximação (Marcello de Souza). Quando Paulo Sérgio diz que não conhece, ele é sincero; mas não exclui o fato de que ele sabe quem era a vítima.
(2) Existem gestos que indicam ansiedade e omissão. Essa omissão pode estar ligada ao fato dele saber de quem se trata, ou o mais provável, que é a omissão referente ao fato. Existe pontos, detalhes, que o suspeito não deseja falar.
Em 1:37, Paulo diz: "Eu lamento, eu não conhecia ele."
Nesse momento ele inclina a cabeça para a direita deixando o pescoço a mostra e eleva os dois ombros.
Esse conjunto gestual é um emblema e indica desconhecimento.
Paulo, não conhecia a vítima anteriormente ao fato.
Em 1:39, Paulo diz: "Lamento muito. Eu tô sentido, né?"
A ausência de emoção é tão importante quanto a presença dela. Não existem elementos que mostram um arrependimento genuíno.
O uso da expressão "né?", de acordo com estudo de Statement Analysis, indica dúvida
Paulo não afirmou que está "sentido". Ele usa uma pergunta no lugar de uma afirmação.
A ausência da palavra "arrependido" confirma essa desonestidade.
Durante grande parte do vídeo podemos notar que Paulo mantém a contração do músculo frontalis juntamente com o corrugador (na foto acima vemos um exemplo desse momento)
A união desses músculos foram rugas no centro da testa, que são chamadas "rugas do pesar", isso porque os músculos que se contraem e são responsáveis pela sua formação, foram chamados por Charles Darwin de "Músculo do Pesar" ("Grief Muscle").
O especialista Jack Brown diz que quando o agente permanece com esse músculo contraído durante grande parte do tempo enquanto está fazendo seu discurso, há fortíssimo indício de que o agente está atuando e não sendo sincero no que está transmitindo.
SUMÁRIO: Paulo, matou Moa por divergências políticas; e existe indícios de que existe uma outra motivação que o suspeito não deseja expor.
O fato não aconteceu como Paulo está narrando. Sua intenção é de transferir a culpa para a vítima.
Não há arrependimento por parte de Paulo Sérgio.
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