sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Análise não-verbal: Edison Brittes, acusado de assassinar o jogador de futebol Daniel Corrêa. Há honestidade em sua versão?


O jogador de futebol Daniel Corrêa Freitas foi encontrado morto em Curitiba, após ter supostamente estuprado Cristina Brittes em sua própria casa, durante uma festa. O autor do assassinato foi o empresário Edison Brittes.
Segundo depoimento que consta nos autos, o jogador estava comemorando o aniversário de 18 anos da filha de Edison, com um grupo de amigos, em uma boate de Curitiba. Essa comemoração se estendeu até a casa da aniversariante.
Já na casa, Daniel Corrêa, através de mensagens trocadas com amigos, demonstrou interesse em dormir com a mãe da aniversariante. Além das mensagens, foram enviadas fotos da vítima deitado na cama com Cristina Brittes, enquanto ela estava dormindo. Minutos depois, Daniel Corrêa foi assassinado.
O principal suspeito, Edison Brittes confessou o crime e contou a sua versão do que aconteceu. Será que ele mostra verdade ou desonestidade em seu depoimento?

A análise começa em 1:46. Vamos à ela:

Edison Brittes começa dizendo: "E de repente... uns quarenta minutos que eles tinham chego... eu escuto gritos: Socorro! Socorro! Socorro!..."
O uso do artigo "uns", demonstra incerteza, nesse caso, quanto ao tempo de chegada.
De acordo com estudos de Statement Analysis, o uso do tempo verbal incorreto demonstra inconsistências no que realmente aconteceu e afastamento da cena. Edison conjuga o verbo "escutar" no presente, e não no pretérito perfeito como deveria ser. Isso mostra um desejo de se distanciar da cena, aliviando o seu papel no contexto. Há desonestidade no discurso.
Ainda no âmbito da Análise do Discurso, podemos salientar a repetição da palavra "socorro". mostrando que há uma intenção de dramatizar e convencer do que está falando.
Enquanto verbaliza "Socorro! Socorro! Socorro!" novamente vemos uma elevação nos ombros, dessa vez de forma mais bilateral, demonstrando incerteza.
Ainda nesse segmento podemos ver a elevação da pálpebra superior fazendo com que a esclera fique mais visível, porém existe uma alteração na intensidade dessa elevação. Durante a verbalização do primeiro socorro, a intensidade da ação muscular responsável por essa elevação é bem marcada e pronunciada; já durante a segunda e a terceira verbalização da palavra "socorro", a intensidade passa a ser mais severa. Essa distinção de intensidade no mesmo segmento e em um timing curto, pode indicar manipulação e desejo de criar empatia.
Ao final do trecho podemos ver um sinal de negação com a cabeça.

Em 1:57, Edison continua: "Quando eu cheguei no meu quarto, fui forçar a porta... a porta fechada"
Ao falar que chegou no quarto, existe a elevação unilateral do ombro direito, demonstrando incerteza.
Nesse trecho existe uma inversão na ordem cronológica dos fatos. Primeiro deve-se ter o conhecimento de que a porta estava fechada, para depois forçá-la; então, Edison deveria dizer, primeiramente que a porta estava fechada, para depois verbalizar que a forçou. Essa troca de ordem cronológica, segundo Mark McClish denota incongruência e desonestidade; pois, segundo o mesmo, contamos uma verdade naturalmente na ordem cronológica, e como a mentira é mais trabalhosa de ser contada, como resultado, essa ordem pode ficar comprometida.

Ao falar que forçou a porta, ele realiza um gesto ilustrador de forçar a porta, complementando sua fala; porém temos que nos atentar para a forma como ele ilustra a cena. Quando o gesto ilustrador é feito de forma mais ampla, exagerada e o ritmo da voz não acompanha essa amplitude, podemos dizer que há uma incongruência não-verbal, confirmando o desejo de convencer.

A partir de 2:07, Edison diz: "... eu peguei e dei uma ombrada na porta... e arrebentei a porta..."
Podemos observar que ao falar que deu uma "ombrada na porta" ele realiza novamente um gesto ilustrador de "dar uma ombrada na porta", porém existem alguns pontos a se considerar.
Antes dele iniciar o trecho, existe uma pausa de movimentos e quando ele realiza o gesto ilustrador, sua intensidade de gesticulação se torna muito alta, de repente. Esse salto na intensidade torna a gesticulação mecânico, demonstrando novamente um desejo de convencimento.

Após terminar verbalizando "... e arrebentei a porta..." ele realiza um gesto desnecessário e fora do ritmo da fala; seguido por uma negação com a cabeça. Estamos diante de uma incongruência.
Esse elementos demonstram uma falta de coordenação entre o verbal e o não-verbal, confirmando a desonestidade.

A partir de 2:16, Edison diz: "... Daniel tá em cima dela... tentando estuprar a minha mulher"
Antes de começar a verbalização, Edison engole a seco demonstrando muito nervosismo, tensão e ansiedade
Novamente podemos perceber a utilização errada do tempo verbal. Ele teria que utilizar o pretérito perfeito ("...estava em cima dela...), e não o presente, como foi usado. O uso errôneo do tempo verbal demonstra que esse fato não aconteceu
Enquanto diz "em cima dela" ele eleva unilateralmente o ombro direito, demonstrando dissonância e incerteza no que está dizendo. (foto acima)
O uso da palavra "tentando" pode ser usado para confirmar a incerteza (Mark McClish).
Ao final desse trecho, podemos notar que Edison nega com a cabeça como uma forma de excluir toda a confirmação verbalizada, em relação ao estupro.

Em 2:24, Edison realiza uma elevação unilateral do lábio superior, demonstrando nojo. Essa expressão acontece no momento em que ele diz que viu o Daniel e sua mulher na cama.
Há congruência. Essa foi a emoção que Edison sentiu ao ver os dois juntos na cama.

Em 2:29 ao dizer: "Eu fiquei desesperado", ele nega com a cabeça demonstrando incongruência.
Não, necessariamente foi desespero que ele sentiu.

Em 2:44 a repórter pergunta: "Foi você que matou ele?"
Edison responde "sim" ao mesmo tempo que afirma com a cabeça de forma intensa. Há congruência.
Juntamente ele emite uma emoção de raiva pela contração no corrugador (abaixando as sobrancelhas), contração nas pálpebras inferiores e pressão nos lábios.
Podemos observar também uma contração no bucinador, responsável pela retração dos lábios e estiramento das comissuras. Aqui há também uma emoção de desprezo.


SUMÁRIO: Edison realmente matou Daniel, porém ele não está sendo honesto em sua versão.

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