quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Análise não-verbal: ex-assessor, Fabrício de Queiroz. Movimentações financeiras atípicas. Há honestidade?

Fabrício de Queiroz, ex-assessor do Deputado Federal e Senador eleito, Flávio Bolsonaro deu uma entrevista para a emissora SBT falando, pela primeira vez após seu nome ter aparecido em um relatório do COAF (Conselho de Controle de Atividade Financeira) sobre movimentações financeiras atípicas.
Fabrício nega qualquer atipicidade. O que sua comunicação não-verbal tem a nos dizer?

Vamos à análise:

Em 1:19, após Fabrício dizer que é um homem de negócios, podemos ver em sua face um sorriso suprimido. Nesse contexto, podemos interpretar esse sorriso como "Duping Delight".
Esse sorriso é um misto de satisfação com desprezo, e ocorre quando o agente tem a intenção de manipular e sente satisfação quando observa que sua mentira está sendo acreditada pelos interlocutores.
Uma das principais características desse sorriso é o fato deste ser unilateral
Junto com o sorriso do manipulador, podemos notar que há pressão nos lábios, indicando tensão e nervosismo.

Em 1:20, Fabrício diz: "Eu faço dinheiro... eu faço... assim... eu compro, revendo, compro, revendo. Compro carro, revendo carro..."
Nesse trecho existem vários momentos importantes:
Ao dizer "Eu faço dinheiro..." podemos ver um desalinhamento corporal. Sua cabeça se movimenta para sua esquerda e sua mão se movimenta para a direita. Juntamente podemos notar uma negação com a cabeça indicando incongruência entre o que está sendo falado e o que o corpo está expressando. 
Podemos notar ainda que existe a elevação de seu ombro direito ("Shoulder Shrug"). Esse movimento assimétrico indica dissonância entre o que está sendo falado e a verdade. Um dos sinais clássicos de desonestidade.
Ao final desse trecho, Fabrício nega novamente com a cabeça enquanto afirma verbalmente. Há, portanto, incongruência entre o verbal e o não-verbal.

Ao verbalizar a palavra "compro", novamente podemos ver uma elevação de seu ombro direito, de forma mais contundente.
Novamente há uma desonestidade devido a dissonância entre a verdade e o que está sendo falado.

Ao dizer "revendo", Fabrício realiza um gesto pacificador no nariz. Esse gesto é clássico de ansiedade e nervosismo. Ele acontece quando o agente está em um momento de tensão devido a liberação de hormônios como o cortisol e adrenalidade e há um desejo de pacificar, se acalmar diante desse evento estressante.
Nem sempre os gestos pacificadores são indicativos de desonestidade, mas, nesse contexto, devido aos outros sinais, podemos dizer que Fabrício está ansioso pela mentira que está contando, havendo receio de ser pego mentindo.

Em 1:25 ao dizer novamente "revendo carro", ele realiza mais uma vez o gesto de elevar o ombro direito indicando desonestidade.
As repetições das palavras "compro" e "revendo" indicam uma tentativa de convencer, tendo em vista que essas repetições são realizadas de forma desnecessária.

Em 1:28, Fabrício diz: "Eu sempre fui assim..."
Podemos notar que ele afasta a cabeça. Esse movimento é conhecido como gesto de distanciamento, e tem a função de se afastar do que está sendo falado, nesse contexto.
De acordo com Análise de Declaração e a PNL, a palavra "sempre" indica uma generalização. Esse tipo de palavra tem a função de convencimento.

Em 1:30, Fabrício diz: "Eu gosto muito de comprar carro em seguradora"
No começo desse trecho podemos notar que Fabrício direciona seu olhar pra cima e direita. Esse movimento, de acordo com a PNL está ligado a criação de imagens pois acessa uma área do cérebro ligado ao lúdico.
O ex-assessor não está lembrando e sim, criando.

Logo em seguida podemos notar que ele realiza mais uma vez um gesto pacificador de coçar o nariz juntamente com o movimento de fechar os olhos ("Eye Shielding"). Esses gestos conjugados indicam que ele está nervoso pela mentira que está contando e não deseja ter essa visualização.

Em 1:54, ao dizer: "Nosso presidente já esclareceu" podemos perceber que ele movimenta seus olhos horizontalmente para a esquerda. 
De acordo com a PNL esse movimento ocular está ligado a lembrança auditiva de algum som, alguma fala, alguma confirmação.
Nesse momento ele é honesto, pois está lembrando de um momento em que Jair Bolsonaro fez esse esclarecimento, de forma verbal, ao qual ele se refere.
Reparem que ele não esclarece e nem explica o que aconteceu, ele usa um ato do Bolsonaro para se justificar e gerar credibilidade. Em outras palavras ele usa o ato de Bolsonaro para validar sua afirmação. É como se ele quisesse falar: "Se o Presidente já esclareceu, então eu não preciso. Isso já gera credibilidade".

Em 2:02, o ex-assessor diz: "Eu nunca depositei R$ 24 mil"
Nesse exato momento ele eleva o ombro direito demonstrando uma dissonância entre a verdade e o que ele está falando
Podemos nos atentar também para a Análise de Declaração. De acordo com Mark McClish, a palavra "nunca" não indica negação pois ela não determina tempo e não específica um evento de forma temporal. Essa palavra, nesse contexto, aonde o tempo é específico, indica desonestidade.
O depósito de R$ 24 mil foi feito.

Em 2:26, Fabrício começa a sua declaração olhando para baixo e à esquerda. Esse movimento ocular está ligado ao acesso a seu diálogo interno. Indica uma intenção de avaliar o que falar, como falar, que palavras usar. Constitui um momento de introspecção, como se ele estivesse travando um diálogo consigo mesmo.

Em 2:31, ao dizer: "Toda hora bate alguém no gabinete pedindo R$ 10 reais", podemos notar que seus olhos se direcionam para cima e direita. Como dito anteriormente, esse movimento ocular está ligado à criação de eventos, imagens.

Em 2:32 há uma expressão de medo pela elevação das pálpebras superiores.

Em 2:35 podemos notar uma expressão facial semelhante ao nojo, devido a elevação do lábio superior e um leve enrugamento na lateral do nariz, porém existe um detalhe:
A expressão semelhante ao nojo, algumas vezes, é realizada com o intuito de convencimento. Elas são chamadas de Expressões Racionalizadoras (Jack Brown). Sua configuração é a mesma presente na expressão facial do nojo, porém a sua real função é gerar empatia para que os interlocutores possam concordar com o que está sendo verbalizado e assim apoiarem suas ideias.

A partir de 2:38, Fabrício diz: "É proibido falar de dinheiro no gabinete. Não, nunca, nunca"
Como já dito anteriormente, a palavra "nunca" não indica negação devido a inespecificidade temporal.
Além de usar essa palavra ele a repete de forma desnecessária. De acordo com estudos de Análise de Declaração, as repetições desnecessárias constituem um forte indicativo de tentativa de convencimento.

Em 2:48, Fabrício diz: "Eu não sou laranja. Sou homem trabalhador..."
Podemos ver mais uma vez o ex-assessor emitindo uma expressão racionalizadora com um intuito de convencimento do que está falando
Ao dizer que é homem trabalhador há uma arritmia corporal. Reparem que sua gesticulação e seu movimento corporal se dá em um ritmo diferente da fala. Isso acontece devido a liberação de hormônios ligados a adrenalina e ao estresse, nesse caso, de ser desonesto.

A partir de 3:02, ele diz: "Eu me abati muito... per... eu, eu, minha, minha calça tá caindo porque... de uma noite eu saio na... aí eu falei "caramba, cara; acabou a minha..." eu era amigo do do cara... passando o que ele tá passando na rua, entendeu?... achando que eu, eu ,eu... tenho negociata com ele. Pelo amor de Deus, isso não existe... eu vou provar junto ao MP"
No âmbito verbal, existem pausas desnecessárias, gagueiras (processo mental para pensar no que falar - cérebro ganhando tempo) e um discurso completamente sem condução lógica, chegando a ser até difícil entender o que ele está querendo dizer. Há desonestidade, evasividade e omissões nesse trecho
Ao dizer que está abatido e a calça está caindo, existe uma intenção de gerar empatia nas pessoas para que se solidarizem com o seu estado físico e de saúde.
No âmbito não-verbal também existem indícios importante de desonestidade. São eles:

3:02 - Expressão Racionalizadora semelhante ao nojo. Intenção de convencer do abatimento. Os olhos fechados, nesse caso, funcionam como um intensificador do desejo de convencer.

3:04 - Acesso ao diálogo interno ao olhar pra baixo e esquerda. Avaliando o que falar.

3:09 - Elevação unilateral do ombro direito. Dissonância entre o que está sendo falado e a verdade.

3:12 - Distanciamento. Movimento de cabeça para trás indicando desejo de se distanciar do que está falando, nesse contexto.











* Todos esses indícios verbais e não-verbais nos indicam que Fabrício está extremamente ansioso e que todos esse trecho é desonesto.


SUMÁRIO: Existem sinais de ansiedade e nervosismo, e nesse contexto, todos esses sinais estão ligados à desonestidade de Fabrício Queiroz ao dizer que: compra e revende carros; que gosta de comprar carros de seguradora; que nunca depositou os R$ 24 mil reais na conta da Primeira-Dama Michelle Bolsonaro; que toda hora entram no gabinete pedindo dinheiro e que é proibido de falar de dinheiro no gabinete; que não é laranja; e que está muito abatido e que não tem negociata com Flávio Bolsonaro.
A única verdade que Fabrício diz durante o vídeo acontece quando ele afirma que Jair Bolsonaro já esclareceu os fatos em relação ao depósito feito por ele à Primeira-Dama, Michele Bolsonaro.

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