segunda-feira, 1 de julho de 2019

Análise não-verbal: A Deputada Flordelis fala sobre a morte de seu marido. Omissões?

Recentemente a Deputada Flordelis e sua família se envolveram em uma polêmica que ganhou as manchetes dos principais meios de comunicação.
O marido da Deputada, o pastor Anderson do Carmo foi morto com vários tiros em frente à sua casa na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro.
Segundo depoimento à polícia, após Anderson ter chegado de uma confraternização, com sua esposa, este teve que retornar à garagem para buscar algo no carro, nesse momento foram ouvidos tiros.
Um dos filhos da Deputada e do pastor, confessou que foi o executor do crime.
A Deputada Flordelis deu uma coletiva de imprensa aonde falou pela primeira vez sobre o ocorrido. O que será que sua linguagem corporal nos diz?

Vamos a análise:

Em 0:17, ao falar do marido, podemos notar a emoção de desprezo devido a elevação unilateral do lado direito e contração do bucinador, também no lado direito

Em 1:20, a Deputada diz: "Tudo isso foi feito por ele"
Nesse momento há uma projeção de língua para fora. Movimento chamado de "Tongue Jut". Em um primeiro momento indica ansiedade, porém de forma mais específica, segundo Joe Navarro, pode indicar, dentre outras coisas, uma intenção do agente de sair ileso da situação.
Trazendo para o contexto, tudo que a Deputada Flordelis, falou até esse momento tem a finalidade de gerar empatia e fazer com que ela consiga fugir de perguntas mais capciosas.

A partir de 1:21, Flordelis diz: "Então meu marido, ele era, ééé... uma pessoa muuuito imporrrtaaante... na minha vida"
Aqui vemos o uso de prolongamentos verbais, agregadores (ééé) e pausas desnecessárias.
De acordo com estudos de Paralinguagem, esses elementos são chamados de "Disfonias da Fala" e indicam um desejo de ganhar tempo para pensar na resposta. O autor Mark Knapp, também se refere a esses elementos como "Distúrbios da Fala"
Um discurso sincero segue um padrão regular, uma fluidez; quando essa estrutura sofre uma ruptura, através dos distúrbios, dependendo do contexto, há uma forte incongruência
Os prolongamentos verbais também nos sinalizam uma tentativa de convencimento.
Ao verbalizar a palavra "importante", notamos que sua voz se apresenta de forma trêmula, indicando um tensionamento nos músculos da garganta, causado pela liberação de hormônios ligados ao estresse.
No final do trecho existe uma pressão juntamente com avanço dos lábios (foto acima). Esse gesto de avanço é chamado de "Lip Purse". Segundo o especialista Jack Brown, esse gesto, nesse trecho, indica uma disparidade entre o que está verbalizando e o que realmente está pensando.

Em 1:37, vemos uma expressão de nojo, pela elevação do lábio superior, queda no canto dos lábios.

A partir de 1:43, Flordelis diz: "... e eu quero justiça"
Ao verbalizar a palavra "justiça" existe uma leve alteração no timbre vocal. Sua voz fica trêmula. Essa característica indica um alto nível de ansiedade.
Ainda ao proferir essa palavra, vemos uma movimento com o braço esquerdo em ritmo diferente da voz. Mais um sinal de ansiedade.
Analisando o contexto, existe desonestidade ao dizer que quer justiça.

A partir de 1:47, a Deputada diz: "Não entendo... entendeu?. Se for provado que foram os meus filhos, eu quero saber o porquê; porque nós estávamos num momento de harmonia muito boa na nossa casa..."
De acordo com estudos de Análise de Declaração, usar uma pergunta durante uma afirmativa ("entendeu?") constitui dúvida do que está dizendo, isso porque a pergunta no meio de uma afirmativa transfere a responsabilidade da resposta para terceiros, se eximindo, portanto, dessa responsabilidade.
Entre as palavras "porque" e "nós" existe uma inspirada funda alterando o padrão cardio-respiratório. Isso nos indica um alto nível de ansiedade ao falar desse tema.
Ao dizer que estavam em um momento de harmonia muito boa, ela existe uma expressão de nojo devido a acentuação da prega naso-labial e a queda do canto dos lábios (foto acima). Aqui temos incongruência. Não houve essa harmonia
Ao falar "nossa casa", sua voz fica trêmula, indicando ansiedade e confirmando, portanto a falta de harmonia.

A partir de 2:05, a Deputada fala: "Nós estávamos vivendo um momento muito, muito bom... no nosso lar, na nossa família"
De acordo com estudos de Análise de Declaração, a repetição de palavras ("muito, muito") indica uma tentativa de convencimento. Há a necessidade de reforçar para que o interlocutor se convença de que o que está sendo falado é real. A explicação disso é porque o cérebro aprende por repetição, então se a palavra for repetida várias vezes, existe mais chances de que o interlocutor internalize a mensagem, e se convença.
Ao dizer "muito bom", notamos uma negação de cabeça da Deputada, o que constitui uma incongruência entre o verbal (afirmativa) e o não-verbal (negativa).
Logo após, existe uma pausa desnecessária, como um processo para o cérebro ganhar tempo e pensar no que falar.
Ao final desse trecho, novamente vemos uma pressão nos lábios, juntamente com um ligeiro avanço (foto acima), sendo sinal de disparidade entre o que está sendo falado e o que está pensando (Jack Brown).

A partir de 2:26, Flordelis diz: "... e se foi um dos meus filhos, eu quero que eles sejam punidos; eu quero justiça"
Ao dizer "eu quero justiça" notamos um afastamento de cabeça juntamente com uma movimentação arrítmica no braço esquerdo.
Existe também medo em sua face devido a elevação da parte interna e externa das sobrancelhas, juntamente com a contração no corrugador, elevação das pálpebras superiores, estiramento horizontal dos lábios e leve abertura da boca.
Esses dois sinais indicam desonestidade por parte da Deputada ao pedir justiça.

A partir de 2:37, ao dizer que perdeu um amigo, podemos ver uma expressão de desprezo devido a contração no bucinador em seu lado esquerdo

Em 2:53, após dizer que quer justiça pelo que aconteceu ao seu marido, notamos novamente uma expressão de desprezo, devido a contração do bucinador em seu lado esquerdo.

* Em 2:55, uma repórter Pergunta à Deputada o que ela tem a dizer sobre algumas questões que estão circulando na mídia. São elas: (1) A repórter começa perguntando se a Deputada entregou o seu celular à polícia, pois existe uma dúvida se ele estaria perdido ou não; e (2) que Flordelis e mais três filhas colocavam medicamento na comida do pastor, e que inclusive, uma dessas filhas teria pago uma quantia em dinheiro para outro filho da Deputada, para que este matasse do pastor;

Durante a pergunta da repórter a cerca da medicação dada constantemente ao marido, vemos a seguinte sequência gestual:

  • 3:11 - durante a pergunta da repórter sobre a medicação dada constantemente ao marido, vemos uma microexpressão de medo pela elevação das sobrancelhas na parte interior e exterior, contração do corrugador, elevação das pálpebras superiores e estiramento horizontal dos lábios.
  • 3:14 - Ela coça ao lado do nariz, constituindo um gesto pacificador, cuja a função é se acalmar diante de um momento de ansiedade. Podemos confirmar que essa pergunta é um "ponto quente" que a deixa ansiosa.

  • 3:15 - Logo depois ela faz o seguinte conjunto gestual: fecha os olhos, gira a cabeça para sua direita, pressiona os lábios projetando os para frente de forma sutil, emite desprezo (contração bilateral do bucinador). Fechar os olhos, girar a cabeça e o desprezo indicam que a Deputada deseja se afastar do que foi perguntado. Gestos de distanciamento indicam que o agente não gosta, não respeita ou não concorda com o que está sendo visto ou dito.
    O avanço dos lábios ("Lip Purse"), nesse contexto, indica omissão de informação e confiança. Há algo que a Deputada quer omitir e possui confiança de que o que está planejando ou idealizando terá êxito.
  • Ainda em 3:15 ela abaixa a cabeça fecha os olhos e eleva as sobrancelhas
    Fechar os olhos e elevar as sobrancelhas, simultaneamente, são movimentos não-naturais e em sentidos opostos (os olhos se movimentam para BAIXO e as sobrancelhas para CIMA), portanto constituem um forte indício de desonestidade. De acordo com Jack Brown, esses movimentos opostos, conjugados com abaixar a cabeça, podem constituir uma discordância fingida.
    Podemos concluir desse trecho que existe medo em relação ao episódio do medicamento, ao mesmo tempo, Flordelis omite informações relacionados a ele. Juntamente com essa omissão existe um sentimento de superioridade e confiança no que está planejando falar ou agir em relação a esse episódio. Em outras palavras, existe medo, em contrapartida, há também uma confiança em seus planos.

Em 3:18, enquanto a repórter pergunta a Deputada sobre o fato de uma de suas filhas ter pagado um dos filhos para matar o pastor, vemos que Flordelis contrai o corrugador de forma intensa.
Charles Darwin, denominou esse músculo como o "músculo da dificuldade". Ele reparou que essa contração acontece diante de qualquer dificuldade mental ou física. Indica perplexidade, confusão, concentração, determinação, etc.
De acordo com Paul Ekman, essa contração muscular indica falta de compreensão.
Aqui, a Deputada pode estar confusa quanto a pergunta.

Em 3:27, a Deputada começa a responder: "Bem, sobre o meu celular..."
Esse trecho é pequeno mas já nos diz muita coisa. Logo após começar a falara responder, a Deputada Flordelis realiza um gesto de projetar a língua para fora da boca, chamado de "Tongue Jut". Segundo Joe Navarro, esse gesto é visto quando o agente acha que vai conseguir sair ileso de alguma situação. Pode indicar também auto-incriminação ("Eu fiz besteira"). Ainda segundo esse autor, quando esse gesto é visto antes de começar o discurso, existe uma alta probabilidade dessa declaração que será feita ser uma forma de evasividade
Em resumo, tudo que a Deputada falar depois de ter realizado o gesto, tem uma alta chance de ser uma manobra manipulativa visando sair ilesa da situação. Ou seja, tudo o que ela falar em relação ao celular tem um intuito manipulativo, logo, um indício de desonestidade.
Notamos que Flordelis responde com elementos incongruentes com uma resposta direta.
De acordo com estudos de Análise de Declaração, uma resposta crível e direta constitui em uma afirmativa ou negativa, seguida da justificativa.
No contexto da pergunta, Flordelis devia responder "Não, eu não entreguei o celular a polícia porque..." ou "Sim, eu entreguei o celular a polícia...".
Em sua resposta, a Deputada começa com uma justificativa, adicionando a ela elementos deflexivos com o intuito de evasividade (elementos que não fazem parte da pergunta - ex: pen drive, fotos, quantidade grande de filhos, etc), e só depois responde a pergunta
Essa estrutura de resposta está incongruente, logo, existe uma intenção de manipular e omitir informações a respeito do celular.

Somente em 4:18, a Deputada começa a responder, de forma direta, sobre a localização do celular. Ela diz: "Se perguntarem pra mim hoje aonde está esse celular; eu respondi ontem na delegacia que eu não sei... né?. Como eu disse, eu tenho uma casa cheia de filhos; e meu celular, como eu disse, eu nunca fui uma pessoa muito apegada a celular; as pessoas que convivem comigo, sabem disso; os meus amigos de fora também sabem..."
Antes de começarmos a analisar esse trecho, temos que observar que a Deputada começa a responder sobre o celular em 3:27, mas a sua resposta direta só acontece em 4:18, quase um minuto depois. Isso por si só já configura uma tentativa de manipulação e fuga.
Ao dizer "eu não sei", existe uma quebra de fluidez, dando uma pausa ligeiramente maior em cada palavra ("eu - não - sei"). Enquanto ela verbaliza essa frase, podemos notar uma projeção de língua ("Tongue Jut") e uma sutil elevação no ombro esquerdo ("Shoulder Shrug"), indicando desejo de fuga e falta de confiança em suas palavras.
Ela sabe aonde está o celular.
Quando diz: "as pessoas que convivem comigo, sabem disso; os meus amigos de fora também sabem..." ela deseja criar empatia. Estudos mostram que em um discurso quando se usa terceiros para nos dar credibilidade, existe uma intenção de gerar empatia e convencimento.

A partir de 4:56 - 4:57, a Deputada diz: "... como todas as minhas coisas, na minha vida, lá em casa é coletiva. Minhas coisas não são muito pessoais. Eu ééé... são minhas e dos meus filhos"
Verbalmente nós notamos uma confusão no discurso juntamente com agregador verbal (ééé...), o que reforça essa confusão
Não-verbalmente notamos que os gestos estão fora do ritmo. Existe uma diferença rítmica entre a voz e o gestual. Essa disparidade constitui uma incongruência, o que é um indicativo de desonestidade.


SUMÁRIO: A Deputada Flordelis apresenta desprezo pelo marido e sinais verbais que confirmam uma falta de ligação emocional com Anderson do Carmo. Há também uma confirmação de que o casamento deles não estava tão bem quanto ela diz.
Há indícios de desonestidade referentes ao seu desejo de que haja justiça nesse caso.
Flordeliz mostra sinais de medo, distanciamento e omissão/confiança ao ouvir uma pergunta sobre a administração de medicamento ao seu marido. Significa dizer que ela não gostou da pergunta e apesar do medo que essa pergunta gera, ela se sente confiante de que terá sucesso executando seu plano ou ideia que está sendo omitida
Em relação ao desconhecimento da localização do celular, ela demonstra sinais fortes de desonestidade.

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