quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Análise não-verbal: Padre Robson de Oliveira suspeito de desviar dinheiro dos fiéis e outros crimes. Inocente?

O Padre Robson de Oliveira, é investigado pela chamada, Operação Verdilhões, por suposta apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e sonegação fiscal.
De acordo com as investigações, o Padre usava laranjas e empresas de fachada para esconder supostos desvios de doações dos fiéis para a construção de uma Basílica em Goiânia. Os valores podem superar R$120 milhões de reais.
O Padre Robson divulgou um vídeo se defendendo dos crimes que são atribuídos à ele.
O que será que sua Linguagem Corporal pode nos dizer em relação a essa sua defesa?

Vamos à análise:

Ele começa o vídeo com um gesto ilustrador com as palmas de suas mãos voltadas para cima.
Segundo a doutrina de Comunicação Não-Verbal, as palmas das mãos para cima indicam que a intenção do Padre é oferecer suas ideias, seu ponto de vista.
Segundo Joe Navarro, esse gesto é denominado de "Rogatory". Ele indica um comportamento universal de humildade, conformidade, ou cooperação, é usado por pessoas que desejam serem aceitas ou acreditadas. As mãos nessa posição são usadas em cerimônias religiosas para demonstrar humildade e piedade.
Ainda segundo o autor, esse gesto não deve ser usado em um contexto de afirmar inocência. Nesse tipo de caso, o ideal são as palmas das mãos para baixo, que demonstram mais dominância, uma comunicação mais assertiva e não tão democrática.
Tendo em vista que trata-se de um líder religioso, as mãos espalmadas para cima podem ser sua "linha de base" não-verbal, apesar de não ser congruente com esse tipo de contexto.
Ele mantém esse gesto ao longo do vídeo.

Em 0:03 vemos um desalinhamento corporal juntamente com o deslocamento sutil do peso corporal para o lado esquerdo.
Percebam que o Padre gesticula para frente, porém sua cabeça está voltada para sua esquerda e seu olhar para frente. À isso chamamos de "desalinhamento corporal". Ele constitui um forte indício de desejo de fuga.
De forma conjugada podemos ver que o peso corporal do padre está concentrado mais na sua perna esquerda. Esse deslocamento de peso corporal indica uma instabilidade emocional.
Esse conjunto indica que esse tema gera nele emoções negativas. Geralmente quando o agente sabe que é inocente e possui comprovações dessa inocência, não costumamos ver essa instabilidade emocional.
[No trecho em câmera lenta acima, podemos observar esse conjunto não-verbal]

A partir de 0:16, o Padre diz: "E devido a situação a qual eu fui colocado, eu entendi... que o melhor caminho seria eu me afastar temporariamente da reitoria do Santuário Basílica de Trindade, e também da presidência da AFIPE"
Quando diz "devido a situação", existe novamente um desalinhamento corporal para a sua esquerda. Segundo a doutrina, quando nos comunicamos com segurança, nosso corpo tende a ficar alinhado. O desalinhamento, portanto, indica um ponto de incongruência e desejo de fugir do que disse, por representar uma quebra do padrão comportamental.

Ainda, durante esse trecho, ele mantém em grande parte do tempo, um discurso fluído e direto; porém, ele faz uma pausa desnecessária entre "eu entendi" e o restante do discurso (quebra da "linha de base" verbal).
Essa pausa desnecessária indica que o cérebro precisou ganhar tempo para formular o que seria dito ou que ele disse algo desonesto e o cérebro necessita dessa pausa para se recuperar.
Juntamente com essa pausa, vemos uma leve pressão em seus lábios. Essa pressão é chamada de "Mutismo" e indica, nesse contexto, que algo desonesto, que não deveria ter sido dito, foi falado. Essa pressão com a boca representa um desejo inconsciente de querer manter a desonestidade para si, não expressando-a.
Aqui, provavelmente não foi o Padre que entendeu que ele deveria se afastar, mas o afastaram.

A partir de 0:28, o Padre diz: "Eu sempre estive e estou a disposição do Ministério Público"
Durante a verbalização "Eu sempre estive", vemos um desalinhamento corporal para a sua esquerda (olha e gesticula para frente enquanto sua cabeça se rotaciona para a esquerda - direções diferentes).
Vemos também, mais uma vez, a estabilidade emocional provocada pelo leve deslocamento do peso corporal para a esquerda.

A partir de 0:33, o Padre diz: "Por isso esse meu pedido de afastamento, vai me permitir colaborar com as apurações, da melhor forma, e com total transparência..."
Enquanto ele fala "me permitir colaborar", notamos novamente o desalinhamento corporal; desta vez de uma forma mais intensa. Sua gesticulação e o seu corpo se direcionam para a esquerda, enquanto seu olhar e sua cabeça se mantêm de frente.
Por fugir da "linha de base", existe aqui forte indício de incongruência/desonestidade.
Esse desalinhamento é observável também quando ele diz "da melhor forma".

Ainda referente ao trecho anterior, ao dizer: "... com total transparência", vemos um conjunto não-verbal interessante:
Ele nega com a cabeça, fecha os olhos por mais tempo que o de uma piscada ("Eye Shielding"), eleva sutilmente o ombro esquerdo e possui uma gesticulação descoordenada (a gesticulação está em ritmo diferente do ritmo vocal. O ritmo do gesto está mais acelerado).
A negação constitui incongruência entre o verbal e o não-verbal (enquanto o o meio de comunicação verbal faz uma afirmação, o corpo nega). Pelo fato de mais de 50% da comunicação ser não-verbal, devemos confiar mais nesses sinais.
A ação de fechar os olhos por um tempo maior do que o de uma piscada, chamamos de "Eye Shielding", e nesse contexto, conjugado com a negação, indica uma potencialização da negação. Ele potencialmente não quer ver a desonestidade que está falando.
A elevação sutil e unilateral do ombro (no caso o esquerdo), é chamado de "Shoulder Shrug" e indica insegurança no que está falando.
A gesticulação estando em ritmo diferente da fala, demonstra mais uma incongruência entre elementos não-verbais da comunicação; tendo em vista que a gesticulação se refere a linguagem corporal e o ritmo vocal se refere a Paralinguagem (estudo que foca nos elementos não-verbais que acompanham a comunicação verbal - tom de voz, intensidade, velocidade, etc.) a disparidade entre esses elementos constitui incongruência, logo, possível desonestidade.
[É possível observar esses sinais no trecho retirado, em câmera lenta, acima]

A partir de 0:44 - 0:45, ele diz: "... toda doação que fazemos ao Pai Eterno, terços rezados, o dinheiro doado, tempo, carinho, trabalho empregados na evangelização, foi toda. Repito: toda; empregada na Associação - na AFIPE - em favor da evangelização"
Ao dizer que "toda doação" foi empregada, o Padre, nega com a cabeça. Novamente vemos uma incongruência entre o verbal e o não-verbal; logo há desonestidade.
Mais à frente, ao dizer: "foi toda. Repito: toda" ele realiza um gesto ilustrador chamado de "Pinçamento" [foto acima]. Esse gesto consiste em unir a ponta dos dedos indicadores e polegares. Ele indica um desejo de esmiuçar a ideia, ser exato no que está falando.
O fato dele repetir "toda" também é bem interessante. De acordo com estudos de Statement Analysis, a repetição pode ser um indício de tentativa de manipulação. Segundo esse estudo, a verdade, não carece de repetição; ela por si só já tem a força suficiente para ser crível para os interlocutores.

A partir de 1:16, ele diz: "Meu coração está sereno... e confiante de que tudo será esclarecido o mais breve possível"
Ao dizer que o coração está sereno, vemos uma sutil elevação em seu ombro esquerdo. Esse movimento é chamado de "Shoulder Shrug" e, segundo o autor Joe Navarro, ele indica insegurança no que está falando [É possível ver esse movimento no pequeno trecho, em câmera lenta].
Existe uma pausa desnecessária entre as palavras "sereno" e "e confiante". Essa pausa desnecessária indica que o cérebro precisa ganhar tempo para pensar no que será falado em seguida, ou precisa se recuperar de uma desonestidade que foi verbalizada.

Ao dizer "confiante", vemos q ele realiza um afastamento com a sua cabeça, para trás e direita.
Esse movimento indica intenção de fugir da situação devido a insegurança que sente [no trecho, em câmera lenta acima, é possível observar esse afastamento com a cabeça]

Ainda se referindo ao trecho anterior, quando ele diz "tudo será esclarecido o mais breve possível" vemos uma negação de cabeça.
Aqui, novamente, há incongruência entre a afirmativa verbal e a negação corporal. Grande possibilidade de desonestidade.

A partir de 1:24, o Padre diz: "Sabemos que a vida é feita, não somente de alegrias, mas também de provações. o meu caminho nessa missão evangelizadora nunca foi fácil. Desde o início, como você bem sabe, já testemunhei várias vezes a você, isso. Sempre carreguei muitas cruzes"
O Padre Robson se utiliza de um discurso de vitimização. De acordo com ensinamento de Statement Analysis, esse tipo de discurso é utilizado para gerar empatia e comoção dos interlocutores. De acordo com estudos, declarações de sofrimento tendem a gerar, nos interlocutores, uma forte conexão e tornam a estória contada mais crível.

A partir de 1:53, o Padre diz: "Por isso eu nunca desisti"
Nesse momento ele realiza uma dinâmica de movimentos em direções opostas. Enquanto suas sobrancelhas se elevam (movimento para cima), seus olhos se fecham (movimento para baixo). De acordo com a doutrina de Comunicação Não-Verbal, os movimentos e sinais corporais devem ser realizados de uma forma fluida, acompanhando um mesmo sentido e direção, pois é algo inconsciente. para o autor, Jack Brown, essa movimentação divergente, por não ser natural e incomum representa um alto coeficiente de desonestidade, já que foge do padrão da comunicação corporal.
O autor reconhece, que existem casos em que essa divergência não indica desonestidade em si, mas são observadas na expressão de emoções que podem ser tidas como negativas, em alguns contextos. Por exemplo, essa divergência pode ser observada em emoções como desprezo, aonde existe uma superioridade moral.
Nesse caso em específico, somado a essa dinâmica de movimento opostos, vemos um desalinhamento corporal para a sua esquerda, o que reforça uma possível desonestidade.

A partir de 2:10, o Padre Robson de Oliveira pede que os fiéis permaneçam unidos em oração.
Durante esse pedido ele realiza um gesto ilustrador de dar as mãos a si mesmo [foto acima].
Esse gesto indica desejo de cooperação e ajuda. Há congruência entre o verbal e o não-verbal

Em 2:19, ao falar do pedido para que tudo seja resolvido, novamente, vemos suas mãos voltadas para cima - "Rogatory". Nesse contexto, devido aos sinais apresentados durante o vídeo, indica o desejo do Padre em ser acreditado; desejo que suas ideias sejam aceitas. Devemos nos lembrar dos ensinamentos de Joe Navarro, que diz que, nesse contexto de tentativa de demonstrar inocência, o ideal é posicionar as palmas das mãos para baixo, apresentando maior dominância e assertividade.
Podemos observar também que ele fecha os olhos por mais tempo que o de uma piscada normal. Esse movimento é chamado de "Eye Shielding" ele pode indicar desejo de não visualização do que está acontecendo e/ou sendo dito. Nesse caso, juntamente com a posição das mãos, ele pode demonstrar também um potencializador do desejo de ser acreditado.

* Durante todo o vídeo, o Padre não utiliza uma linguagem direta (p.ex: "Eu não pratiquei tal crime").
Esse tipo de linguagem seria congruente com o contexto apresentado. Tendo em vista que quando somos acusados injustamente de algo, nossa providência é, em primeiro lugar, nos defendermos e negarmos o feito.
A ausência desse padrão comportamental por parte do Padre Robson Oliveira indica incongruência. O que constitui um alto indício de culpabilidade


SUMÁRIO: Durante vários momentos, vemos o Padre realizar vários desalinhamentos corporais, indicando desejo de fuga - o que é incongruente com o contexto, pois quando vamos nos defender, queremos nos mostrar e expressar nossa inocência, e não fugir.
Notamos instabilidades emocionais devido a troca de peso corporal.
Existem inseguranças em relação ao caso concreto. Devemos nos perguntar: "Se o Padre se diz inocente, de onde vem sua insegurança ao falar do caso?
Há sinais não-verbais incongruentes, logo, com alto coeficiente de desonestidade, ao falar que toda a doação é empregada em favor da evangelização.
A também possível desonestidade ao afirmar que irá colaborar com transparência e que está confiante.
Há incongruência também, ao falar que ele entendeu que deveria se afastar de sua Associação e da reitoria. Provavelmente alguém o afastou.
Em nenhum momento ele utiliza linguagem direta (p.ex: "Eu não cometi tal crime"), o que seria congruente com um padrão comportamental em um contexto de inocência. Ao invés disso, ele se utiliza de um discurso com intenção de se vitimizar, afim de gerar empatia dos interlocutores.