domingo, 26 de julho de 2020

[Análise de Declaração]: O retorno de Gabriela Pugliesi. Qual a sua verdadeira intenção?. Técnica "Breakdown"

Após uma grande polêmica envolvendo a Digital Influencer Gabriela Pugliesi, na qual ela aparece desrespeitando o isolamento social em tempos de pandemia, a influencer veio à público pedir desculpas pelo seu comportamento [veja a análise clicando AQUI], que custou a ela, perda de trabalhos, patrocínios e milhares de críticas .
Recentemente, após ter sumido das redes sociais, e da vida pública, Gabriela retorna por meio de um vídeo no qual ela fala novamente da polêmica e explica mudanças internas no que tange a ter se tornado uma pessoa melhor, mais evoluída.
Apesar de, eventualmente, também falarmos de sua linguagem corporal, nesse vídeo vamos focar mais na análise de sua declaração.
Será que realmente houve esse desenvolvimento pessoal, ou será apenas uma jogada de marketing?


Informações iniciais

Para essa análise vamos usar um método chamado de "Breakdown" - além de, posteriormente, fazer algumas outras considerações.
O "Breakdown", é uma técnica de identificação de intenções, de desonestidades e/ou evasividade em declarações escritas.
Segundo Mark McClish, um dos grandes nomes do Statement Analysis e utilizador dessa técnica, toda declaração é constituída de segmentos
Normalmente, um indivíduo ao expressar sua declaração começará contando o que aconteceu antes do incidente acontecer. A partir daí, ele narra, com detalhes o que aconteceu. Por último, ele verbaliza o que aconteceu após o incidente.
Analisando esses três segmentos ("antes", "durante" e "depois") é possível identificar a intenção do agente ao contar a estória, podendo até ser possível determinar se a estória é honesta ou desonesta.
De acordo com esse método, os trechos descritivos do fato ("durante"), devem ser responsável 50% da totalidade da declaração; enquanto os trechos pré-fato ("antes") e pós-fato ("depois"), devem constar 25%, cada um, da estória.
Se essa porcentagem não for respeitada, a intenção é manipular, e provavelmente, estamos diante de uma declaração desonesta ou evasiva.

A partir de agora, usaremos cores para distinguir os segmentos.
Colocaremos em verde o segmento que se refere ao "antes", que nesse caso, funciona como uma introdução.
Estará em azul tudo o que se refere ao segmento "durante". Aqui é narrado o que aconteceu com Pugliesi. O pedido de desculpas, faz parte desse seguimento
A cor vermelha irá se referir a tudo o que aconteceu com Pugliesi "após" o evento.



Vamos à análise:

Declaração:
Oi Gente!
Nossa quanto tempo! Vou tentar começar, mas confesso que eu estou um pouco desconfortável, me sentindo egoísta de gravar um vídeo para falar de mim, diante de tudo isso que tá acontecendo com o mundo, mas faz muito tempo que eu não apareço aqui também não vi outra forma de compartilhar com vocês algumas coisas que eu acho que eu devo, que eu estou com vontade.
Primeiro eu queria dizer que eu vivi dias extremamente necessários fora da internet que foram muito importantes para mim, pro meu aprendizado. E no início foi duro, porque veio acompanhado de um erro né? imaturo, inconsequente. Para que não lembra naquele dia que eu fui a quarentena reunindo uns amigos aqui em casa, fiquei bêbada, falei besteira, aquele dia eu tava muito feliz e esqueci do mundo. Enfim, eu não quero apagar esse, nem esperei esse tempo para ele ser esquecido não. Até porque, por conta desse erro, naquele momento, eu perdi uma boa parte da minha paz, perdi alegria, perdi trabalho, como vocês sabem, perdi a confiança de vocês né? Porque aqui na internet a gente passa a ser definido por um erro e é cancelado também por causa dele, enfim, resumem a gente a isso, e dependendo da pessoa também é bem conveniente esse cancelamento, mas, tudo isso que eu mais perdi, naquele momento, naqueles dias, foi a mim mesma assim, eu comecei a questionar demais, é como se num momento de fragilidade você acreditasse em tudo de ruim que falam que você. E assim sobre, esse episódio então, eu queria mais uma vez pedir desculpa. Se eu te ofendi, nunca foi minha intenção ofender alguém. E me alivia saber que eu prejudiquei a mim mesma e não outra pessoa. E foi difícil tá, eu me perdoar, porque eu fui completamente incoerente com a pessoa que eu sou de verdade, porque eu sei que eu me preocupo com os outros. Eu sei que eu me preocupo com o mundo, com a vida, com a saúde, principalmente. Por isso a incoerência. Mas somos seres humanos né? Incoerentes, muitas vezes contraditórios, mas eu me perdoei, senão nem estaria aqui agora falando com vocês E eu só estou aqui hoje porque eu quero falar com vocês sobre a vida, sobre Deus, sobre como momentos de crise... de tristeza são muito importantes e transformam a gente. Naquele momento eu me vi completamente vulnerável, assim. Mas hoje eu vejo como é maravilhoso porque quanto mais rápido a gente entende nossas vulnerabilidade, esse nosso fracasso, mais rápido a gente cresce na vida. Quanto mais rápido a gente reconhece que não é 100%, a gente chega nesse 100%. É muito bom isso. E o que eu quero, na verdade, é que vocês acreditem que a vida é perfeita para cada um, porque no meu caso, se nada daquilo tivesse acontecido comigo, eu taria naquele mesmo lugar que eu tava. Ué que lugar que você estava? Não tava tudo, né? Tudo bem, Tudo mara? Tudo incrível? tava, tava tudo certo, tava tudo OK... Eu também achava, ééé.. porque não tava vendo o quanto eu tava estagnada, sabe? iludida, eu não tava enxergando, tipo... um palmo na frente assim. Por um momento eu estava tomada pelo ego, o que é normal às vezes né? Nossa maior missão aqui é saber lidar com o ego, e é difícil para caramba! ainda mais nesse meio aqui, com tanta sedução. Eu tava vivendo assim, nessa minha bolha e deixando de olhar para o mundo o tanto que eu deveria! Tava tudo muito confortável, e tal, e nesse lugar do conforto a gente não atende porque fica meio cego mesmo. Assim, por conta disso tudo o que aconteceu comigo, que não daria para resumir em um vídeo, que eu vi muita coisa internamente... Não tem nada que eu acredite mais nessa vida do que nos planos de Deus e na forma que Ele conduz nosso caminho aqui. E principalmente a presença de Deus quando as coisas não saem conforme nosso “planejamento”. O nosso planejamento, na nossa cabeça, ele é todo certinho né?! A gente nunca planeja viver uma crise, um desafio, uma fase ruim... Mas aí de repente chega e, [onomatopéia com a boca] tira a gente do nosso controle, as coisas fogem do nosso controle, e você pensa: por que comigo né? Porque tá acontecendo isso comigo? E essa fase que você considera uma fase ruim. Presta atenção porque nesse momento que você acha que tá tudo “desandando”, que você acha que tudo saia do controle, na verdade aí que Deus está agindo para colocar a gente de volta nesse eixo né? Não é porque tava tudo “perfeito”, que você tava no seu caminho... e eu gente, falo isso claramente porque eu entendi que eu precisava ter passado por isso, para ter a certeza de que eu tava completamente desconectada de mim, naquele período. E eu só enxergaria isso se alguma coisa me brecasse mesmo. Se esses meus planos perfeitos fossem interrompidos por uma força maior. Que eu chamo de Deus. Esses “problemas” - problemas não, vai - desafios, prefiro chamar de desafio, na verdade são a oportunidade da gente dar um passo para frente, da gente se transformar, da gente ser melhor! - se a gente enxerga dessa forma né? Ninguém evolui, ninguém muda e aprendi quando tá tudo confortável, ninguém.
Bom, vocês me acompanham aqui desde 2013, acho né? Vocês me conhecem muito, vocês minhas qualidades, meus defeitos, minha luz e minha sombra, né? Esses dois lados que todo mundo tem. Eu sempre fui muito aberta aqui com tudo. Essa minha espontaneidade, até um tanto quanto ingênua, ne? Que me fez cometer vários erros, acertos, e arcar com tudo isso, porque ser assim tem um preço muito alto mas que eu sempre paguei, porque, pelo menos, me faz viver de uma forma livre; sem medo de ser quem eu sou, sem medo de errar; porque a gente erra. Sem precisar tomar cuidado para falar, ou para fazer alguma coisa porque eu sou “pública”. Só que nesse tempo aqui, o que eu percebi, é que viver assim também é muito cômodo né? O que eu mais refleti todos esses dias é que a gente não pode ignorar a nossa responsabilidade, e cada um tem a sua. Eu não posso pensar só em viver a minha vida, sendo quem eu sou, sendo feliz, falando coisas legais que me ajudam a viver de uma forma mais leve e tal, mas também falando besteira ou coisas bobas né? Às vezes tem que pensar na quantidade de gente que eu, que eu influencio... Aqui. Porque eu sempre compartilhei alegria, felicidade, positividade. Sempre enxergando a vida e as pessoas pelo lado bom, porque isso me dá entusiasmo para viver. Eu acho que sempre tá tudo maravilhoso, ou se não tá agora, vai ficar daqui a pouco. Eu sou assim!. Eu sempre fui assim. Só que às vezes ser assim também fecha os meus olhos para uma parte do mundo que é cruel, para uma realidade triste mas que existe e faz parte da vida né?... Isso. E assim gente, eu realmente - aí vocês acreditem se vocês quiserem - mas eu realmente até hoje, não tinha noção da quantidade de pessoas que eu, que eu alcanço aqui. Eu sempre fui meio sem noção com esse negócio de número, do tanto de gente né, que tá aqui porque me vê como inspiração, porque gosta de mim ou simplesmente, tá aqui para pegar um deslizesinho meu com pessoa pra tripudiar. E que, inclusive, também foram vocês, a galera né, do linchamento e cancelamento de pessoas, foram vocês que mais me ajudaram esse tempo todo. Porque na vida, quando a gente não se coloca nunca como vítima, e sim, como responsáveis por tudo que acontece na nossa vida, a gente não só compreende a dor, como aprende com ela. E também com as pessoas que causaram essa dor. TUDO VIRA APRENDIZADO, tudo na nossa vida veio para ensinar. E hoje, eu vejo que eu precisei me recolher aqui, que eu precisei dar esses passinhos para trás, ser muito resiliente, repensar em MIL coisas, entender de uma vez por todas, que eu preciso ser mais responsável sim, que eu preciso saber que tudo que eu falo e faço TEM um peso muito grande. Eu sei também que eu preciso cada dia mais estudar, me informar, servir, escutar as pessoas que sabem mais do que eu, e tudo isso é um exercício diário. 
A gente tem que ter mais tato, mais sensibilidade sempre para falar do que quer que seja, a gente tem que sempre se colocar cada vez mais no lugar do outro, e dar o nosso lugar de fala, né? É nosso dever isso. Isso serve MUITO para mim mas eu acho que serve para todo mundo aqui, né? Porque todo mundo tem que aprender. 
Mas assim, foi foi tudo isso também que me ajudou a voltar para o meu caminho, que é o caminho que eu quero tá na minha vida, né? Que é um onde todos os dias eu acordo e alimento a minha humildade, a minha empatia, o meu amor pelas pessoas, a minha espiritualidade. É onde cada dia eu tenho que tirar uma dessas camadas que existem entre o corpo físico e a nossa alma, sabe? Essas camadas que é o que eu chamo de... que é o ego, né? O que impede a gente de evoluir como ser humano, que impede a gente de fazer o que a gente veio fazer aqui, porque a gente fica seduzido com essas necessidades imediatas; e depois de pouco tempo voltam a dar esse vazio na gente, né? 
A rede social - falando da rede social agora - que ela é maravilhosa, em vários sentidos; toda essa movimentação na luta contra o racismo, que tem ensinado muito a todo mundo; a união das pessoas, né?, para levantar tantas bandeiras importantes. A gente vê, de fato, como a rede social pode mudar o mundo, se ela é usada para o bem; e também é uma importantíssima fonte de renda para muita gente; mudou a vida de muita gente, inclusive a minha. Mas a gente tem que ter muito cuidado para não se perder aqui também, sabe? para não entrar nessa energia errada, que muita gente dissemina; que esse ódio, esse julgamento todo, tempo todo; essa necessidade e prazer de estragar a vida de uma pessoa. E por outro lado, também se esvaziar um pouco dessa, dessa vaidade que existe aqui, sabe? que torna os elogios, likes, engajamentos a coisa mais importante da nossa vida, deixando a gente cego pro que realmente precisa ser MAIS importante da nossa vida, que é o que? que é nossa família, nossos amigos que estão com a gente aqui quando a gente tá lá em cima, ou lá embaixo; nossa saúde, nossa paz de espírito, nossa espiritualidade, nossos valores, nossa consciência; a gente ser fiel a nossa verdade. Isso é o mais importante. Porque daí a vida tem sentido, sabe?. Até porque no final disso tudo o que a gente leva mesmo daqui é a nossa alma um pouco mais evoluída. São esses valores, né?,  que vão embora com a gente, o resto tudo fica aqui gente, entendeu?
Vou falar uma coisa. TODOS os dias eu agradeço a Deus por tudo, né?, por tudo... mas principalmente, eu agradeci por essa oportunidade que eu tava tendo de enxergar a vida como eu deveria, sabe?. Porque é desse lugar que a gente adquire sabedoria, conhecimento. É onde nossa positividade, poder do pensamento positivo e nossa resiliência é colocada mesmo em prática. Onde aquela fé inabalável, que tem que existir, passa a ter muito sentido. Isso afinou muito meu canal de comunicação com Deus, e fortaleceu muito a minha espiritualidade, porque é nesse lugar - quando a gente tá, né?, vulnerável -  que a gente evolui, aprende, amadurece, escuta as pessoas, cai na real de coisas que a gente não cairia se tivesse sempre tudo bem. 
Então, na verdade, essas fases mais difíceis, elas são as mais importantes da nossa vida. Elas nunca vem por acaso. Tudo que chega para gente é para fazer a gente se corrigir; ser melhor, né?. Todas as situações tem uma coisa muito boa para ser tirada disso, sabe?. E eu tô falando tudo isso aqui, porque eu sei que muita gente tá vivendo agora um momento mais difícil, tá triste, tá sofrendo. Se você tá numa fase ruim agora, aproveita porque ela veio para te ensinar, e ela vai passar porque tudo passa. E ter essa certeza dá um alívio, sabe?, e quando passar você vai ver que você vai ser uma pessoa melhor. Nunca questione nada. Isso tudo, para mim, foi, foi um divisor de águas em vários sentidos, porque eu tô muito feliz hoje de saber que eu sou uma pessoa melhor;  saber que eu posso ser muito melhor, que eu posso fazer mais, que eu tenho muito para aprender ainda, que todo mundo tem muito para aprender aqui… ééé... a gente vai errar ainda, mas que cada erro transforme a gente numa pessoa melhor, e... isso me deixa muito animada, assim, porque é isso que é a vida, né?; e assim eu espero mesmo que o mundo se cure de tudo isso, que as pessoas se curem. E eu  ainda acredito mesmo que tem mais gente boa do que ruim, que tem muito mais gente para ajudar do que para apontar o dedo. Tudo isso que a gente tá passando vai deixar grande lições. Lições pra cada um, e no coletivo. E mesmo eu precisando, né?, ser um pouco mais racional na vida, enxergar mas essa realidade, eu tenho certeza que o mundo vai ser um lugar muito melhor, daqui a pouquinho. Que as pessoas vão ser muito melhores, e eu me incluo nisso também. Que tudo isso vai passar, porque ter essa certeza absoluta que tudo isso vai passar, é o que me faz, apesar de tudo,  viver feliz quase todos os dias; é o que me dá sentido, é o que faz meu coração ficar em paz, é o que alimenta minha fé, enfim. Eu tô falando daqui de mim, né?, de uma experiência pessoal mas com o intuito mesmo de compartilhar com vocês a minha forma de pensar, de levar a vida, de sair de uma fase difícil, de se reerguer, de aprender, de acreditar que tudo tem seu lado bom. Eu vou falar para vocês uma coisa que eu repito para mim todos os dias, todos os dias,assim: cuidem da espiritualidade de vocês, enxerguem os erros como uma oportunidade de crescer como pessoa, cuidado com o ego, com julgamento, não deixa de acreditar nunca que tudo vai ficar bem, que Deus nunca abandona ninguém que logo, logo tudo isso que a gente tá vivendo vai fazer muito sentido. Não importa o que aconteça, tenta manter seus pensamentos firmes na positividade, no bem, no amor, porque isso salva. Enfim a gente vai conversando mais ao longo aí dos dias, da vida; mas o recado que eu queria passar para vocês hoje, na verdade é esse, tá bom? Beijo 

A declaração possui 162 linhas, das quais:
6 linhas são do segmento "antes";
5 linhas fazem parte do segmento "durante", correspondente ao fato em si;
151 linhas correspondem ao "depois"

Portanto,

3,5% correspondem ao "antes"
2,9% correspondem ao "durante"
93,6% correspondem ao "depois"

Podemos perceber que o "depois" constitui muito mais do que 50% de toda a declaração, quando o normal é constar 25%.
Isto significa que a intenção de Gabriela Pugliesi, ou de sua equipe, é focar mais em todo o desenvolvimento pessoal pelo qual ela passou após o incidente.
Focar no desenvolvimento pessoal gera uma âncora positiva nos interlocutores, pois é inconsciente o estímulo positivo gerado quando se ouve que determinada pessoa atingiu o desenvolvimento pessoal esperado. Podemos dizer que elicia até uma crença positiva. "Se ela conseguiu, eu também consigo". A intenção de concentrar os esforços do vídeo em narrar todo esse desenvolvimento é gerar empatia, e até relacionar figura de Gabriela Pugliesi à capacidade de evoluir.
Se essa declaração foi feita com a intenção de pedir desculpas, estamos diante de uma desonestidade, pois o seguimento responsável ("azul") constitui a minoria da declaração, apenas 2,9%.

***Como pode ser percebido, existe uma quebra de "Breakdown", ou seja, existem elementos de segmentos, dentro de outros. 
Para McClish, essa quebra pode indicar desonestidade, tentativa de convencimento. Ainda segundo o autor, os segmentos devem respeitar a cronologia dos acontecimentos.


Além da análise do "Breakdown" é possível fazermos mais algumas considerações, dentre outras:

  • O vídeo é legendado, isso significa que as palavras de Gabriela aparecem escritas na parte de baixo.
    Legendar vídeo causa maior engajamento, aumenta a credibilidade e facilita ainda mais o entendimento do que está sendo falando, isto porque além do estímulo auditivo, a legenda potencializa o estímulo visual, que tem o input sensorial de 90%.
  • Existem cortes no vídeo, o que significa que ele passou por uma pós-produção com a finalidade de deixá-lo melhorado, mais direto.
    Essa preocupação indica que o vídeo tem a intenção de ser mais racional do que emocional, ou seja, mais elaborada, mais preparada, do que natural.
  • Alguns trechos da legenda não estão exatamente escritos como a Gabriela Pugliesi fala, isso demonstra que existiu um cuidado grande de usar palavras e estruturas gramaticais mais bem elaboradas, que estejam mais de acordo com o intuito de gerar empatia, conexão.
  • Algumas palavras da legenda estão em "caixa alta". Elas são consideradas palavras-chaves, e geralmente são palavras que indicam positividade, força. Essa técnica muito usada no marketing, dispara âncoras positivas que possuímos, inconscientemente, com essas palavras, podendo deflagrar estados emocionais positivos. Gera empatia e rapport.
    "Deus" também é considerada uma palavra-chave. De acordo com McClish, o uso de divindade em declarações potencializa empatia e confiança, pois divindade gera, automaticamente, estímulos positivos.
  • Apesar dessas técnicas para gerar uma positividade para a imagem da Digital Influencer, existem alguns elementos de dúvida na fala de Gabriela.
    Ela se utiliza muito do advérbio "né?" no final de algumas frase. Esse advérbio demonstra dúvida. Esse advérbio acontece nos momentos em que ela está falando de seu desenvolvimento pessoal

De acordo com ensinamentos advindos do Statement Analysis, a tentativa excessiva de gerar empatia, pode ser um um comportamento compensatório que esconde uma intenção de manipulação, e desonestidades
Um discurso emocional e sincero não precisa de exageros, nele a verdade se sustenta por si só.


SUMÁRIO: Pela análise do "Breakdown", a declaração de Gabriela Pugliesi tem apenas a intenção de gerar empatia, conexão com os interlocutores. Essa configuração do "Breakdown", por si só, pode indicar convencimento
Existem elementos que demonstram dúvidas, e acontecem durante sua afirmação de desenvolvimento pessoal.
As técnicas utilizadas, como uso de palavras-chaves em caixa alta, uso de divindade, dentre outros, corroboram para gerar empatia, podendo indicar, também, tentativa de convencimento.
A inserção de segmentos dentro de outros pode indicar desonestidade em algum grau, pois não há respeito pela cronologia.
No geral, podemos classificar esse discurso como racional, ou seja, preparado, artificial, com intenções de racionalização do que está sendo falado.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Análise não-verbal: Entrevista do advogado Frederick Wassef à "Veja". Caso Queiroz. Escondeu Fabrício Queiroz?

O ex-advogado da Família do Presidente Jair Bolsonaro, Frederick Wassef, está no "olho do furacão"; isso porque ele é dono da casa em Atibaia aonde ex-assessor e motorista de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz estava escondido.
O nome do advogado entrou em voga juntamente com a dúvida à respeito dos motivos que fizeram o advogado Wassef ter hospedado Fabrício Queiroz, que é investigado por participar de um esquema criminoso chamado de "rachadinha" na Assembléia legislativa do Rio de Janeiro.
Recentemente, Frederick Wassef deu ma entrevista para a revista "Veja" na qual ele responde a essa e a outras perguntas relacionadas com esse fato.
O que será que sua Linguagem Corporal pode nos mostrar durante essa entrevista? Qual será sua participação no caso Queiroz? Será que Jair Bolsonaro sabia de alguma coisa?

Vamos à análise:

Em 0:21, a "Veja" faz a seguinte pergunta: "Como Fabrício Queiroz foi para na propriedade do senhor, em Atibaia?"
A partir de 0:25, Wassef começa sua resposta com: "Nesse primeiro momento, o que eu posso dizer, me reservando por uma questão de sigilo, é simplesmente o seguinte..."
Aqui, Wassef assume que irá omitir alguns pontos. Ele não irá dizer o que realmente aconteceu, mas sim, o que ele PODE dizer.
Enquanto verbaliza "reservando" percebe-se que ele eleva unilateralmente seu ombro esquerdo
De acordo com a doutrina de Comunicação Não-Verbal, a elevação unilateral do ombro é chamada de "Shoulder Shrug" [recorte acima, em câmera lenta] e indica insegurança no que está sendo dito. Existe internamente uma dissonância cognitiva entre o que está sendo verbalizado e o que realmente aconteceu.
Wassef usa o advérbio "simplesmente" para explicar o motivo. De acordo com Mark McClish, esse advérbio diminui a importância do que será falando sendo usado para mitigar.
Tendo em vista que, em sua resposta, Wassef diz que cedeu sua propriedade para Queiroz porque este estava precisando de ajuda e essa cessão foi algo humanitário de sua parte; por que Wassef tornou esse fato como algo de pouca importância?
A resposta é que existe algo mais importante que está sendo emitido. Houve uma intenção ainda maior do que um ato humanitário.

Inclusive, em 0:51, ao dizer que foi uma questão humanitária, Wassef eleva os dois ombros
Segundo a doutrina de Comunicação Não-Verbal, a elevação bilateral dos ombros indica desconhecimento e/ou falta de comprometimento com o que está falando ("Eu não ligo").
incongruência entre o verbal (questão humanitária) e o não-verbal.
Esse gesto reforça que existe algum motivo mais importante. 

A partir de 1:03, Wassef diz: "Ele não é uma pessoa que podia estar em hotel..."
Logo no começo desse trecho, vemos novamente Wassef elevar unilateralmente o ombro direito.
Nesse contexto, estamos diante de um sinal de insegurança em suas palavras.

A partir de 1:28, Wassef diz: "... e eu deixei à disposição"
Nesse momento ele nega com a cabeça seguido da elevação bilateral dos ombros.
A negação de cabeça diante de uma afirmativa configura incongruência entre verbal e não-verbal.
A elevação dos ombros, segundo a doutrina de Comunicação Não-Verbal podem indicar trivialidade ("O que isso importa?"), falta de comprometimento ("Eu não ligo") e desconhecimento ("Eu não sei")

Ao final desse trecho, Wassef realiza o "Tongue Jut" (projetar a língua para fora da boca), indicando ansiedade, desejo de fuga da situação e até manipulação.

A partir de 1:46, Wassef diz: "Ao longo... do andar da carruagem... eu... passo a ter informações, e aí eu não vou poder detalhar muito [conjunto gestual] ééé, e eu tive absoluta certeza e convicção [olhar fixo + pausa dramática] que Fabrício Queiroz [pausa dramática] seria [pausa dramática] assassinado"
Nesse trecho vemos algumas pausas desnecessárias [representadas, no texto acima, pelas reticências]. Essas pausas, de acordo com estudos de Statement Analysis, indicam um recurso para se ganhar tempo para pensar no que será falado.
Após dizer que "passa a ter informações" ele continua dizendo que não poderá detalhar muito. Esse tipo de construção verbal indica manipulação. Ele trás uma afirmação importante e relevante e depois corta a expectativa com a frase "eu não vou poder detalhar muito". Popularmente, é como se ele "tomasse o doce da boca de uma criança".

No momento em que diz que não vai poder detalhar muito, ele realiza um conjunto gestual praticamente ao mesmo tempo: afastamento com o corpo + "Eye Shielding", seguido de "Turtle Effect", seguido de expressão de desprezo + olhar para baixo + "Tongue Jut" pressionando os lábios.

O afastamento do corpo é chamado de "movimento de distanciamento", podendo indicar intenção de fuga do que está sendo falado. O "Eye Shielding" (fechamento dos olhos por mais tempo que uma mera piscada) constitui uma potencialização da intenção de fuga.

"Turtle Effect" ocorre quando Wassef eleva ambos os ombros, tensionando-os. Esse sinal não-verbal indica medo diante de uma situação negativa e prejudicial. Desejo inconsciente de se proteger de determinada situação.

E por fim, ele exibe uma expressão de desprezo (contração do bucinador, principalmente no lado esquerdo do canto dos lábios) e projeta a língua para fora ("Tongue Jut"), enquanto olha para baixo.
"Tongue Jut" indica ansiedade, intenção de fuga, indicando também, nesse contexto, manipulação.

Enquanto diz que ele teve absoluta certeza e convicção de que Queiroz seria assassinado, ele faz o que chamamos de "pausas dramáticas". Essas pausas possuem um tempo menor do que as pausas desnecessárias e são usadas para criar expectativa, para dramatizar uma situação e eliciar falsamente uma emoção empática.
Juntando esses sinais podemos dizer que ele tem a intenção de gerar uma grande expectativa nos interlocutores e justificar uma mentira contada anteriormente (manipulação)

O olhar fixo que acontece em 2:00, após ele dizer a palavra "convicção" é chamado de "Deliberate Gaze". 
Esse tipo de olhar indica feedback. Wassef tem a intenção de observar se o que ele está falando, está sendo crível. Ou seja, se estão acreditando no que está sendo falado.
Levando em consideração os sinais presentes neste trecho, esse olhar pode mostrar também a intenção de manipulação e dramatização.

A partir de 2:05, ele diz: "Isto que eu estou falando aqui é... absolutamente real"
Novamente vemos uma pausa desnecessária, como um processo de ganhar tempo no que vai falar, e nesse caso, dar uma intenção mais dramática ao que está sendo falado.
De acordo com Mark McClish, o advérbio "absolutamente" é uma palavra desnecessária e serve pra potencializar o que está sendo falado. Qualquer tentativa desnecessária de potencialização, é sinal de manipulação.
Ao verbalizar a palavra "real" podemos ver um movimento de verbalização exagerado com a boca [foto acima]. Esse exagero é chamado, por Jack Brown, de EMM ("Exagerated Mouth Movement"). Segundo o autor, por esse movimento exagerado ser desnecessário, ele indica uma tentativa de dominância da situação. O que contribui para a manipulação antes citada.

A partir de 2:10, Wassef diz: "Eu tinha a minha mais absoluta convicção e o temor ["Tongue Jut" + movimento de desconforto com o corpo] que ele, além de todo o assédio, tudo que ele pudesse estar passando, ele fosse ser executado no Rio de Janeiro"
"Tongue Jut" ocorre quando o agente projeta a língua para fora. Esse gesto, segundo Joe Navarro indica ansiedade e, nesse contexto, intenção de fugir da situação.
A fuga, está associada, de acordo com esse contexto, a desonestidade em algum nível.
Conjuntamente, há movimento de desconforto com o corpo, confirmando a ansiedade.
Percebemos igualmente o uso da palavra desnecessária "absoluta". Que, como já foi falado anteriormente indica tentativa de manipulação.

A partir de 2:27, Wassef diz: "Eu também tive a certeza absoluta que quem estaria por detrás deste homicídio, desta execução, iriam colocar isso na conta da família Bolsonaro"
Nesse trecho vemos três sinais não-verbais acontecendo em um curtíssimo intervalo de tempo entre eles.
Ao dizer "certeza", ele realiza novamente o "Exaggerated Mouth Movement" (movimento de verbalização exagerado), indicando tentativa de dominância e manipulação.

Em seguida vemos um sorriso suprimido, devido a elevação bilateral dos cantos da boca. A supressão fica por conta da tensão nos lábios. Esse sorriso suprimido pode ser considerado um "Duping Delight", que consiste em uma satisfação do agente ao perceber que está tendo sucesso em convencer os interlocutores do que está falando (Paul Ekman). Essa emoção é incongruente com o contexto.

Ao final desse trecho, vemos novamente o "Tongue Jut" (projetar a língua para fora), indicando ansiedade e intenção de evasividade e fuga.
Esses três sinais conjugados, nesse contexto, constituem um forte coeficiente de manipulação.

Em 2:45, ainda se referindo ao fato de supostamente quererem culpar a família Bolsonaro pelo assassinato de Queiroz, em um determinado momento, ele novamente projeta sua língua para fora ("Tongue Jut"), significando, mais uma vez, desejo de fuga, evasividade. Nesse caso, manipulação.

Em 2:48, percebemos um movimento de elevação dos dois ombros.
Como já dito anteriormente, esse gesto de elevação bilateral dos ombros indica desconhecimento do que está sendo falado; nesse caso, indicativo de incerteza.
Pela dinâmica do movimento, podemos perceber que essa elevação é feita de forma inconsciente devido, dentre outras coisas, ao timing do movimento. Nesse caso, além da incerteza, podemos adicionar um desconforto grande ao fazer suas afirmações.

No trecho que se inicia em 2:56 e termina em 3:12, Wassef explica que pediu desculpas ao Presidente Bolsonaro por ter omitido que Queiroz estava em sua residência.
Note que durante esse trecho, existe uma quebra da "linha de base" comportamental de Wassef.
Nos momentos anteriores, sua linguagem corporal estava mais dinâmica, mais expressiva, suas movimentações aconteciam de uma forma mais extrovertida. Nesse trecho, vemos que sua linguagem corporal muda intensamente. Seus movimentos estão contidos com ausência de gesticulação, seu volume vocal diminui.
A diminuição do volume vocal conjugada com a ausência de movimentos constituem um alto indicativo de que ele deseja passar essa mensagem de uma forma mais tímida, sem transmitir muita importância a respeito desse acontecimento. De acordo com a doutrina, a ausência de movimentos mostram que o agente deseja controlar sua linguagem corporal para que nenhum sinal incongruente possa ser vazado pelo corpo. Em outras palavras, é uma forma do a gente manter o foco para que seu corpo não denuncie que existe algum ponto de desonestidade em sua fala.

Em 3:10, notamos um movimento muito sutil com seus braços enquanto diz que pediu desculpas ao Presidente Bolsonaro por ter omitido a localização de Queiroz
O autor Alexandre Monteiro chama de "abanar os braços". E demonstra desconforto no que está falando, podendo indicar até fuga. [observe o recorte em câmera lenta acima - observe principalmente o movimento no braço esquerdo]
Existe uma probabilidade de que haja desonestidade nesse momento.


Percebam que após 3:12, Wassef aumenta seu volume vocal, volta a se movimentar, gesticular e realizar movimentos de verbalização (EMM) com mais intensidade como fazia antes.
Como vimos antes, esse padrão não-verbal em Wassef, constitui indício de manipulação.
Isso se dá porque as afirmações que ele desejava manter de forma mais introvertida, mais tímida, já foram passadas
O trecho a partir de 3:12 se inicia com a conjunção "mas". De acordo com ensinamentos de Statement Analysis, essa conjunção tem a intenção de refutar ou minimizar o que é falado antes. Ou seja, Wassef está tentando refutar ou minimizar tudo o que ele falou entre 2:56 e 3:12.
Geralmente, o período antes do "mas" indica desonestidade em algum grau.

A partir de 3:28, Wassef diz: "Os senhores jornalistas sabem o que aconteceu no dia da prisão de Fabrício Queiroz, às 13:00? Alguém pesquisou?... Neste dia foi quando se deu início na Comissão do início do processo de impeachment do Governador do Rio de Janeiro. Não tô acusando ninguém de nada. Só estou dizendo de uma estranha coincidência..."
Assistindo ao vídeo, vocês vão perceber que aqui, Wassef quis afirmar que a Operação para prisão do Queiroz funcionou como uma "cortina de fumaça" para abafar o impeachment do Governador
Nesse trecho, ele usa algumas técnicas de manipulação;
Ele introduz perguntas em um discurso afirmativo, nesse caso essa técnica é usada como um pressuposição de que Wassef sabe dos acontecimentos.
Ao dizer que não tá acusando ninguém e que é uma estranha coincidência, ele mantém a intenção de manipulação, pois na verdade, ele quis dizer exatamente o oposto. Essa intenção é observada pelo uso do "não" no início da frase.
De acordo com a PNL e a Neurociência, o cérebro não reconhece a negação, processando aquilo que é dito posteriormente. Ou seja, ele está acusando.
Ao verbalizar "Governador do Rio de janeiro", podemos notar uma alteração em seu pitch vocal. Seu a voz se torna trêmula durante esse momento. De acordo com a Paralinguagem e Paulo Sérgio de Camargo, voz trêmula indica ansiedade e, de uma forma mais específica, pode demonstrar também incerteza em suas palavras.
Seus movimentos continuam sendo realizados de forma mais extrovertida, expressiva.

A partir de 4:12, Wassef diz: "Eu me garanto, que eu nunca contei ao Presidente Bolsonaro [movimento inesperado com o corpo] que [pausa desnecessária] eu permiti o acesso à minha residência, à minha casa, ao meu escritório, caso ele passasse por aqui para ficasse o tempo que bem entender..."
Do começo, até o "que", podemos notar que sua linguagem corporal volta a ficar sem movimentos de gesticulação, de uma forma mais contida, com o volume vocal diminuído em relação aos outros momentos do vídeo. Como já dissemos anteriormente, essa quebra da linha de base, indica que ele deseja transmitir essa mensagem de uma forma mais contida para evitar vazamentos corporais que possam denunciar uma possível desonestidade.
O uso da frase "eu me garanto", segundo McClish, constitui um elemento verbal desnecessário, uma auto-afirmação sem qualquer importância para o discurso. Segundo o autor, quem se garante não precisa verbalizar isto. A utilização de frases desnecessárias são um forte indício de manipulação.
Ele usa o advérbio "nunca" para negar que tenha contado ao Presidente. De acordo com Mark McClish, o "nunca" não constitui uma negação. Essa palavra indica indeterminação temporal, ou seja, é vago em relação ao tempo. Tendo em vista que o fato de Wassef ter permitido o acesso aconteceu em algum momento na linha do tempo, a inespecificidade temporal desse evento, indica incongruência verbal, logo desonestidade
A pausa desnecessária que acontece nesse trecho indica um processo mental para ganhar tempo afim de pensar o que será dito e/ou como será dito.
No campo não-verbal, após dizer "Presidente Bolsonaro" vemos um movimento inesperado e brusco com o corpo. Segundo a doutrina de Comunicação Não-Verbal esse tipo de movimento acontece quando o corpo está experimentando um momento de ansiedade e nervosismo. Equivale a um vazamento corporal, que acontece quando há uma dissonância entre o que é verdade e o que está sendo passado. Essa dissonância causa essa resposta inconsciente do corpo.
Existem fortes indícios de que Bolsonaro sabia da localização de Queiroz

Em 4:38, ao dizer que tem seus motivos, percebemos uma expressão de desprezo na face de Wassef.
Essa expressão acontece devido a contração do bucinador no canto direito da sua boca.


SUMÁRIO: Frederick Wassef demonstra emoções de desprezo e medo.
Ele apresenta inúmeros sinais não-verbais de fuga, que é também uma resposta ao medo.
Além da fuga notamos também vários sinais, tanto verbais, quanto não-verbais, de manipulação.
Seu discurso foi muito bem elaborado para gerar credibilidade em suas palavras, porém existem elementos verbais que constituem fortes sinais de desonestidade.
O alto coeficiente de desonestidade pode ser observado também em vários sinais não-verbais que são emitidos constantemente por Wassef, como por exemplo, elevação unilateral de um dos ombros (insegurança), projeção de língua para fora ("Tongue Jut"), dentre outros.

terça-feira, 7 de julho de 2020

Análise não-verbal: Sari Côrte Real fala, ao "Fantástico", sobre a morte do menino Miguel. Caso Miguel. Há desonestidade?


Recentemente, Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, caiu do nono andar de um prédio no qual a mãe trabalhava, no Recife.
No dia 2 de junho de 2020, Mirtes Renata Santana de Souza, empregada doméstica, mãe do menino Miguel foi para seu trabalho, na casa da esposa do Prefeito, Sari Mariana Costa Gaspar Côrte Real, por não ter com quem deixar seu filho, o levou consigo.
Em algum momento do dia, Mirtes saiu para passear com o cachorro de sua patroa, deixando seu filho Miguel sob os cuidados da mesma, que estava em seu apartamento fazendo a unha com uma manicure.
Tempo depois, Miguel sentiu falta da mãe e decide ir sozinho, de elevador, procurá-la. Segundo câmeras de segurança do prédio, Sari, supostamente, teria apertado o botão do elevador para um andar mais elevado, deixando, posteriormente, a porte se fechar com o pequeno Miguel dentro dele.
A câmera de segurança registrou o menino apertando o botão referente ao segundo andar. Quando o elevador para no andar, as portas se abrem e Miguel permanece nele.
Logo após, ele vai para o nono andar. Ao parar, e as portas se abrirem, o menino decide sair do elevador à procura da mãe. Após escalar uma grade aonde se encontravam os ar condicionados referentes aos apartamentos daquele andar, ele sobe em um parapeito, que não resiste ao seu peso, ocasionando a queda de Miguel de uma altura de 35 metros.

Após esse fato, Sari Côrte Real, responsável por cuidar da criança durante aquele momento, foi indiciada pelo crime a abandono de incapaz.
A esposa do Prefeito veio à público através de uma entrevista concedida ao programa "Fantástico" aonde ele conta sobre o fato.
O que será que sua linguagem corporal nos comunica, nessa entrevista?

Vamos à análise:


Primeiramente, é muito importante nos analisarmos a imagem de Sari. 

Podemos observar nela o chamado "Impression Management" ("Gerenciamento de Impressões Pessoais"), que é um processo consciente ou inconsciente no qual as pessoas tentam influenciar a percepção dos demais sobre si mesmas. Esse gerenciamento se baseia em tentar alterar a percepção dos interlocutores de acordo com os objetivos da pessoa. Ou seja, os indivíduos se apresentam de uma maneira que satisfaçam seus interesses.
Podemos observar em Sari o cabelo desarrumado e longo, a pouquíssima maquiagem, a camisa branca e a calça jeans simples, e ela carrega um terço nas mãos.
Esses elementos, basicamente, têm a intenção de demonstrar aos interlocutores que Sari é uma pessoa simples, indefesa, sem muito luxo e sem dominância.
O uso do terço, particularmente é muito interessante, porque gera uma "Âncora" inconsciente de que ela é uma mulher de fé, de princípios, honesta, e outras qualidades relacionadas, inconscientemente, a uma pessoa devota.
(Esses elementos citados, do "Impression Management" podem ser observados na foto acima)

Em 3:11, a repórter pergunta: "O que aconteceu quando você vai atrás dele e vê que ele tá indo para o elevador?"
Em 3:15, Sari responde: "Ele corre para o elevador, chama o elevador. Em um instante ele chega. Ai, quando abre a porta, eu seguro e digo: Miguel, você não vai descer. Volta para casa, espera sua mãe"
Durante a pergunta da entrevistadora, podemos notar que Saris está esfregando o terço que carrega na mão. 
Esse tipo de gesto é chamado de "manipulador" e acontece quando estamos sob um momento de intensa ansiedade e nervosismo. Esse tipo de gesto consiste em esfregar, manipular um objeto (ou o próprio corpo) com a intenção de "transferir" e aliviar a carga nervosa que está sendo experienciada, e assim, se acalmar.
De acordo com estudos de Statement Analysis, a forma como ela responde a pergunta é chamada de "Scripting" (ou "Staying to Script"). Ocorre quando a fala é ensaiada ao invés de ser baseada em uma memória do que realmente aconteceu. Esse tipo de linguagem é ensaiada várias vezes até ficar o mais convincente possível. Indica necessidade de segurar uma informação e/ou manipulação.
Os elementos que constituem esse tipo de linguagem, e estão presentes na resposta acima são: repetição desnecessária da palavra "elevador"; excesso de pontuação, aumentando desnecessariamente a pausa e interrompendo a fluidez verbal; verbalização de períodos verbais desnecessários (excesso de detalhes), principalmente quando diz: "Em um instante ele chega".

Durante a resposta, bem como ao logo de todo o vídeo, podemos perceber que Sari mantem seu olhar fixo na repórter. 
De acordo com Aldert Vrij, esse tipo de olhar é chamado de "Deliberate Gaze". Que basicamente ocorre quando o agente olha fixamente para o interlocutor por um tempo superior ao normal de uma interação, que segundo Alan Pease é de, em média 70%.
Para Vrij, esse olhar está ligado a desonestidade, pois os mentirosos tendem a olhar mais fixamente para o interlocutor porque eles querem convencer de que estão falando a verdade e precisam checar se o interlocutor está acreditando no que está sendo falado.


Em 3:25, a repórter pergunta para Sari se ela não apertou o botão que levaria o menino Miguel para a cobertura.
Em 3:26, Sari responde: "Não. Eu só botei a mão. Fazendo na forma como se eu fosse acionar."
O dizer que só colocou a mão, ela faz um "gesto ilustrador", demonstrando o comportamento de colocar a mão no botão do elevador. 
Teoricamente, a utilização de "gestos ilustradores", cuja a função é ilustrar, demonstrar visualmente alguma ação e/ou comportamento, é sinal de congruência. Porém, existe um detalhe;
A velocidade com que ela ilustra está incongruente com a velocidade com que ela verbaliza a ação de colocar a mão. Há portanto falta de sincronia entre o verbal e o não-verbal. Essa falta de sincronia é um forte indício de desonestidade e manipulação para manter o ensaiado - A intenção é algo do tipo: "Eu preciso fazer o gesto lentamente para não errar, me contradizer"
[É preciso observar esse trecho, no vídeo, para captar essa dinâmica]


Ao final desse trecho, Sari exibe uma microexpressão de medo, devido a elevação das sobrancelhas em suas porções internas e externas; contração do corrugador; elevação das pálpebras superiores; estiramento horizontal das lábios.
Todas as ações musculares na face responsáveis pela emoção de medo foram realizadas de forma bem sutil.



Após a pergunta da repórter sobre o porquê dela ter tido esse comportamento de apenas colocar a mão como se fosse acionar o botão do elevador; 
Em 3:31, Sari responde: "Pra ver se eu conseguia. Minha última alternativa para ver se eu convencia ele a sair. Pra ver se... dessa forma ele achasse que se ele fosse ficar lá, ele iria sair"
No começo dessa resposta, existe um tensionamento nos ombros de Sari. Esse tensionamento é chamado de "Turtle Effect", e indica medo diante de alguma ameaça [Foto acima]. Existe, portanto, a intenção de proteção. Tem esse nome porque é uma analogia ao comportamento das tartarugas que quando estão diante de alguma ameaça, elas entram em seus cascos para se proteger. 
Adaptando a PNL ao Statement Analysis, no âmbito verbal temos uma suposição de causa-efeito. Essa suposição é considerada pela PNL uma distorção. Acontece quando o agente supõe que uma determinada ação produz determinado efeito. Nesse caso, existe uma tentativa, de Sari, de induzir a uma determinada crença. Indício de tentativa de convencimento.
Sari associa seu comportamento de apenas colocar a mão no botão do elevador à última alternativa de convencê-lo a sair do elevador.


Ainda referente ao trecho anterior, em 3:37, após dizer: "... se eu convencia ele a sair..." vemos uma microexpressão de medo, devido a elevação das sobrancelhas em suas porções internas e externas, contração do corrugador, elevação das pálpebras superiores e estiramento horizontal dos lábios.

A partir de 3:46, enquanto a repórter fala, podemos observar o nervosismo de Sari ao usar de "gesto manipulador" no terço que carrega nas mãos.
Novamente vemos essa tentativa de se acalmar diante de um estímulo de estresse, ansiedade e nervosismo.

A partir de 3:51, Sari responde: "Não, isso não me passou pela cabeça" ao se referir ao risco que o menino Miguel poderia correr estando ali sozinho.
Nesse momento, enquanto ela nega verbalmente, observamos também uma negação não-verbal com a cabeça de Sari.
Apesar de haver algum nível de congruência, devemos observar a velocidade com que o gesto de negação com a cabeça ocorre.
Perceba que o gesto está muito acelerado em relação a velocidade com que ela verbaliza. Ou seja, os ritmos verbais e não-verbais não estão sincronizados.
Nesse caso, é um indício de nervosismo e tensão.

Em 3:54, a repórter pergunta: "O que você achou que poderia acontecer, se ele ficasse sozinho no elevador?"
Em 3:58, após alguns segundos de pausa, Sari responde: "Eu não, não, não, não achei que seria essa tragédia. Eu acreditei... eu acredit(???) que ele voltaria pro andar... que ele voltaria pro quinto andar..."
Aqui vemos "gagueira", uma "inserção de som intrusivo" durante o verbo "acreditar" e correção de período verbal ("voltaria pro andar" ~ "voltaria pro quinto andar")
De acordo com a Paralinguagem, a gagueira e a inserção de som intrusivo (término inaudível da palavra) são considerados distúrbios da fala. Eles acontecem quando existe ansiedade e nervosismo, fazendo com que a forma como se fala não aconteça fluidamente
A correção do período verbal tem uma particularidade interessante. Geralmente ela acontece quando o agente tem que manter um script que foi ensaiado para ser falado e, acontece um rápido desvio desse script. Essa correção ocorre quando o a gente se dá conta de que houve esse desvio e retorna para o que foi ensaiado previamente.

Durante todo o trecho acima, podemos perceber que seu gesto de negação com a cabeça e sua gesticulação estão muito acelerados, em ritmo diferente da fala.
Novamente há muita tensão e nervosismo ao falar sobre o assunto. O coeficiente de desonestidade é alto, pois geralmente todo esse nervosismo ao ser perguntada sobre o acontecimento não é congruente com o padrão comportamental que se espera nesse contexto, de uma pessoa que está sendo completamente honesta.

A partir de 4:51, Sari diz: "O primeiro momento que eu imaginei foi socorrer. O que a gente podia fazer por ele"
No âmbito verbal do Statement Analysis, ela usa o verbo "imaginar" no pretérito perfeito para se referir a um comportamento que supostamente ela teve.
O verbo "imaginar" significa formar uma imagem mental. Ou seja, um algo que ainda está apenas no campo das ideias. Não houve a intenção de ajudar. O correto seria ela dizer: "o que eu FIZ foi socorrer"

No momento em que ela fala "O que a gente podia fazer por ele" existe uma sutil elevação unilateral com o ombro direito [Trecho em slow motion acima]
Esse gesto indica uma dissonância entre a verdade e o que está sendo dito pela Sari. Há portanto uma incongruência entre o verbal e o não-verbal. O autor Joe Navarro afirma, que essa unilateralidade é um forte indicador de falta de comprometimento emocional com o que está sendo dito.
O somatório desses sinais indica que não houve essa preocupação que Sari tenta transmitir.

A partir de 4:56, Sari continua dizendo: "Eu dirigi. Só Deus sabe como eu dirigi. Nunca cheguei tão rápido, na minha vida, em um hospital. Eu fiquei com ela lá até por volta de 4:30, quinze para as cinco, da tarde; que foi quando eu tive que vir para casa, para poder... ééé...minha amiga precisava voltar para casa, pra eu poder ficar com Sofia"
Ao dizer: "Só Deus sabe como eu dirigi", Sari apresenta alguns sinais não-verbais: negação com a cabeça, seguido de "Eye Shielding" (fechar os olhos por mais tempo que uma piscada), olha para cima e direita e ao final engole seco.
A negação constante de cabeça e o "Eye Shielding" indicam que há incongruência entre o verbal e o não-verbal somado ao desejo de não querer ver o que está falando.
Após a o processo correto de calibragem, quando Sari olha para cima e direita ela cria uma cena mental (PNL).
A engolida a seco demonstra tensão e nervosismo.

Ainda referente a esse trecho, ao dizer: "Nunca cheguei tão rápido, na minha vida, em um hospital"
Essa frase, de acordo com Statement Analysis indica uma frase desnecessária para o contexto. As generalizações ("nunca") e palavras que imprimem intensidade ("tão rápido" e "minha vida" - que dá ideia de algo prolongado), demonstram uma tentativa de convencimento emocional. Quer gerar empatia.
Não-verbalmente, temos o seguinte conjunto de sinais: "Eye Shielding" (não-visualização), "Turtle Effect" (tensão nos ombros) e expressão de nojo devido a elevação da prega naso-labial.
Esses sinais em conjunto, nesse contexto, indicam um forte indício de desonestidade, juntamente com uma intenção de se proteger do que está falando.

No momento em que diz: "Eu fiquei com ela lá até por volta de 4:30, quinze para as cinco, da tarde; que foi quando eu tive que vir para casa, para poder... ééé...minha amiga precisava voltar para casa, pra eu poder ficar com Sofia"
Podemos notar quer existe excesso de detalhes em relação ao intervalo de tempo em que ela ficou, juntamente com verbalização de informações desnecessárias, ao dizer que teve que voltar pra casa porque precisava ficar com Sofia e a amiga precisava voltar.
De acordo com Mark McClish, informações desnecessárias ajudam a deixar a história mais crível. Segundo ele, quando a pessoa deseja ser desonesta ou manipular, ela tende a colocar muitas informações necessárias. Existe uma falácia de que, quanto mais informações a história tem, mais crível ela é.
Uma história verdadeira vai direto ao ponto, pois a verdade se sustenta com seus elementos.
Além disso vemos novamente que seus gestos estão em um ritmo diferente da fala. Eles estão mais acelerados em relação à verbalização.
Como dito anteriormente, essa dissonância entre o verbal e o não-verbal indicam desonestidade e/ou tentativa de manipulação, pois não há sincronia.
Os indícios podem ser tanto de desonestidade propriamente dita ou uma intenção de manter a história que foi ensaiada previamente.
Quando tentamos manter uma versão ensaiada, tendemos a tentar manter um controle maior do nosso compo, para que não haja vazamentos não-verbais. Nessa tentativa é que acontecem essas faltas de sincronia.

A partir de 6:33, A repórter diz: "O delegado coloca no relatório que você não olhou no painel para saber o que aconteceu com o elevador; se ele subiu, se ele desceu. Você não se preocupou com o que ia acontecer?"
Sari interrompe a repórter, e responde: "Na mesma hora eu liguei pra Mirtes, mas ao mesmo tempo eu tava tentando acalmar minha filha, que também tava desesperada com a situação. Eu me vi ali naquela situação, com aquele, todo aquele... com toda aquela movimentação. Minha filha, ele... eu me senti ali naquela situação, sem conseguir falar com Mirtes; minha filha. Foi tudo muito rápido. Foi tudo muito rápido"
Os estudos de Paralinguagem afirmam que existe um tempo entre ouvir uma pergunta e responder. Quando esse tempo não é respeitado, temos que averiguar o motivo. Aqui, observamos que Sari não esperar a repórter terminar de fazer a pergunta e já responde. Essa interrupção indica manipulação e reforça a ideia de uma script para a resposta.
De acordo com Statement Analysis, essa declaração não faz sentido, e possui alguns elementos de manipulação e até desonestidade.
A repórter pergunta de algo que ainda não aconteceu, enquanto Sari responde que ela tentava ligar para a mãe do menino e tentava acalmar a filha que tava desesperada com a situação. Se o evento ainda não tinha acontecido, qual o motivo de tentar ligar para a mãe e tentar acalmar a filha?
Vemos também a repetição de elementos verbais como a palavra "situação" (repete 3 vezes em um curto período de tempo); o fato de não conseguir falar com a mãe do menino e o fato de que foi tudo muito rápido, dentre outros elementos.
Como já tido anteriormente. A repetição desnecessária de elementos verbais é um forte indício de que a história foi montada ("Scripting")
Existem também "gagueira" indicando nervosismo e ansiedade.
Nesse trecho, seus gestos continuam em um ritmo diferente do ritmo da fala.

No mesmo trecho, ao final, quando diz: "Foi tudo muito rápido", reparem quem ela nega com a cabeça durante uma afirmação.
Existe, portanto, uma incongruência entre o verbal e o não-verbal.
O verbal afirma, e o não-verbal nega
Juntamente, vemos o "Eye Shielding", que consiste em fechar os olhos por mais tempo que uma piscada. Indica desejo de não visualizar o que está falando.
A incongruência aliada aos outros sinais, constituem um forte indício de desonestidade.

Em 9:00, a repórter pergunta: "Você sente algum tipo de culpa... ou de arrependimento?"
Após quase dois segundos de pausa, Sari responde: "Eu sinto que eu fiz tudo que eu podia. [latência de quase 3 segundos + engolida à seco]. E se eu pudesse voltar no tempo [pausa desnecessária] eu voltava. Se eu soubesse que tudo isso ia acontecer, eu voltava no tempo e ainda tentava fazer mais do que eu fiz naquela hora"
De acordo com a Paralinguagem e Statement Analysis, existe um tempo mínimo entre ouvir a pergunta e começar a respondê-la, de mais ou menos 1 segundo. Nesse momento, Sari tem uma latência de resposta muito superior a isso, o que indica uma pausa desnecessária, constituindo um forte indício de querer ganhar tempo para pensar no que vai responder. A pausa desnecessária é um recurso muito utilizado para quem precisa pensar em que palavras irá usar e/ou ganhar tempo para lembrar o que foi previamente ensaiado.
Além disso podemos ver que ela não responde diretamente a pergunta, com algo do tipo: "Eu não sinto culpa ou arrependimento", ou "eu sinto culpa e arrependimento". A ausência de respostas diretas, segundo Statement Analysis corrobora com um discurso manipulativo e com desonestidades.
Podemos notar também, que nesse trecho, seus gestos estão em ritmo diferente da fala. Falta de sincronia. Indica ansiedade, e nesse contexto, juntamente com os outros sinais observados, indica desonestidade

A partir de 9:38, Sari diz: "Em nenhum momento... eu fiz nada... prevendo o que aconteceu. Em nenhum momento... eu fiz nada... prevendo o que aconteceu"
Aqui notamos a repetição do mesmo período verbal. Como já dito anteriormente, constitui indício de manipulação
Vemos também pausas desnecessárias, o que contribui para essa conclusão
Não-verbalmente, vemos uma inclinação de cabeça para sua direita. De acordo com Desmond Morris, esse gesto indica tentativa de convencimento, por se tratar de um gesto que indica submissão, devido a exposição da área do pescoço.

A partir de 12:24, a repórter pergunta: "o que você achou do resultado do inquérito?... A mudança da tipificação do crime... prum crime mais forte"
Longa pausa de mais ou menos 9 segundos.
Como dito anteriormente, a latência excessiva para responder a pergunta indica processo mental para ganhar tempo. Nesse caso, podemos dizer que Sari também não sabe como responder à essa pergunta.
Durante esse longo período vemos também ela enrolar os lábios para dentro. Esse gesto é conhecido como "Mutismo" e indica desejo de não falar, quer seja por não saber a resposta, quer seja para não se incriminar.

A partir de 12:41, a repórter emenda outra pergunta: "Você não esperava?"
Sari responde "Não... não dessa maneira... não dessa maneira",
A negação acontece juntamente com a inclinação de cabeça para trás.
Esse movimento é chamado de "movimento de distanciamento", indica desejo de se afastar da situação porque ela constitui um estímulo negativo [Observável no trecho em slow motion acima]
Além disso, notamos também uma alteração no "pitch" vocal. O "não" é pronunciado com uma voz mais aguda. Essa alteração vocal indica ansiedade.
Vemos novamente a repetição do período verbal ("não dessa maneira"). E mais uma vez ela realiza pausas desnecessárias.
Ao dizer "não dessa maneira", ela especifica. Significa dizer que ela esperava que isso acontecesse, mas não DESSA MANEIRA. Esse complemento mais específico, indica desonestidade à resposta negativa
Há, novamente, a inclinação de cabeça, com o mesmo intuito de convencimento.


Em 12:52, a repórter pergunta: "Você tem medo de parar na prisão, Sari?"
Sari responde negativamente e exibe uma expressão de medo, devido a elevação das sobrancelhas, elevação das pálpebras superiores e um sutil estiramento horizontal dos lábios
O medo, diante dessa resposta negativa, indica que Sari tem medo de ir para a prisão

Em 12:58, Sari diz: "Eu tô aqui firme"
Novamente vemos a expressão de medo em sua face (elevação das sobrancelhas, elevação das pálpebras superiores e estiramento horizontal dos lábios

A partir de 13:03, Sariz diz: "E se lá na frente, o resultado for esse... eu vou cumprir o que a lei pedir"
Aqui vemos novamente seus gestos em ritmo diferente da fala.
Sari está experienciando um alto nível de ansiedade ao dizer isso.


SUMÁRIO: Durante o vídeo, vemos que a emoção predominante de Sari é o medo.
Além disso, podemos perceber um alto nível de ansiedade ao falar do resultado que o fato pode causar a ela. Existem também elementos de fuga. Desejo de "escapar"
Os elementos verbais indicam uma alta probabilidade dos discurso de Sari ter sido ensaiado.
Vemos também muito sinais de desonestidade e manipulação. Durante todo o vídeo, Sari mantém o olhar fixo na repórter como uma forma de verificar se ela está acreditando em tudo que é dito (feedback).
Em nenhum momento Sari diz que está arrependida e que se sente culpada pelo acontecido.
Olhando a imagem de Sari nessa entrevista, vemos também que houve o processo de "Gerenciamento de Impressões Pessoais" com o intuito de influenciar a percepção dos espectadores; de passar uma imagem mais frágil, mais simples.