quinta-feira, 16 de julho de 2020

Análise não-verbal: Entrevista do advogado Frederick Wassef à "Veja". Caso Queiroz. Escondeu Fabrício Queiroz?

O ex-advogado da Família do Presidente Jair Bolsonaro, Frederick Wassef, está no "olho do furacão"; isso porque ele é dono da casa em Atibaia aonde ex-assessor e motorista de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz estava escondido.
O nome do advogado entrou em voga juntamente com a dúvida à respeito dos motivos que fizeram o advogado Wassef ter hospedado Fabrício Queiroz, que é investigado por participar de um esquema criminoso chamado de "rachadinha" na Assembléia legislativa do Rio de Janeiro.
Recentemente, Frederick Wassef deu ma entrevista para a revista "Veja" na qual ele responde a essa e a outras perguntas relacionadas com esse fato.
O que será que sua Linguagem Corporal pode nos mostrar durante essa entrevista? Qual será sua participação no caso Queiroz? Será que Jair Bolsonaro sabia de alguma coisa?

Vamos à análise:

Em 0:21, a "Veja" faz a seguinte pergunta: "Como Fabrício Queiroz foi para na propriedade do senhor, em Atibaia?"
A partir de 0:25, Wassef começa sua resposta com: "Nesse primeiro momento, o que eu posso dizer, me reservando por uma questão de sigilo, é simplesmente o seguinte..."
Aqui, Wassef assume que irá omitir alguns pontos. Ele não irá dizer o que realmente aconteceu, mas sim, o que ele PODE dizer.
Enquanto verbaliza "reservando" percebe-se que ele eleva unilateralmente seu ombro esquerdo
De acordo com a doutrina de Comunicação Não-Verbal, a elevação unilateral do ombro é chamada de "Shoulder Shrug" [recorte acima, em câmera lenta] e indica insegurança no que está sendo dito. Existe internamente uma dissonância cognitiva entre o que está sendo verbalizado e o que realmente aconteceu.
Wassef usa o advérbio "simplesmente" para explicar o motivo. De acordo com Mark McClish, esse advérbio diminui a importância do que será falando sendo usado para mitigar.
Tendo em vista que, em sua resposta, Wassef diz que cedeu sua propriedade para Queiroz porque este estava precisando de ajuda e essa cessão foi algo humanitário de sua parte; por que Wassef tornou esse fato como algo de pouca importância?
A resposta é que existe algo mais importante que está sendo emitido. Houve uma intenção ainda maior do que um ato humanitário.

Inclusive, em 0:51, ao dizer que foi uma questão humanitária, Wassef eleva os dois ombros
Segundo a doutrina de Comunicação Não-Verbal, a elevação bilateral dos ombros indica desconhecimento e/ou falta de comprometimento com o que está falando ("Eu não ligo").
incongruência entre o verbal (questão humanitária) e o não-verbal.
Esse gesto reforça que existe algum motivo mais importante. 

A partir de 1:03, Wassef diz: "Ele não é uma pessoa que podia estar em hotel..."
Logo no começo desse trecho, vemos novamente Wassef elevar unilateralmente o ombro direito.
Nesse contexto, estamos diante de um sinal de insegurança em suas palavras.

A partir de 1:28, Wassef diz: "... e eu deixei à disposição"
Nesse momento ele nega com a cabeça seguido da elevação bilateral dos ombros.
A negação de cabeça diante de uma afirmativa configura incongruência entre verbal e não-verbal.
A elevação dos ombros, segundo a doutrina de Comunicação Não-Verbal podem indicar trivialidade ("O que isso importa?"), falta de comprometimento ("Eu não ligo") e desconhecimento ("Eu não sei")

Ao final desse trecho, Wassef realiza o "Tongue Jut" (projetar a língua para fora da boca), indicando ansiedade, desejo de fuga da situação e até manipulação.

A partir de 1:46, Wassef diz: "Ao longo... do andar da carruagem... eu... passo a ter informações, e aí eu não vou poder detalhar muito [conjunto gestual] ééé, e eu tive absoluta certeza e convicção [olhar fixo + pausa dramática] que Fabrício Queiroz [pausa dramática] seria [pausa dramática] assassinado"
Nesse trecho vemos algumas pausas desnecessárias [representadas, no texto acima, pelas reticências]. Essas pausas, de acordo com estudos de Statement Analysis, indicam um recurso para se ganhar tempo para pensar no que será falado.
Após dizer que "passa a ter informações" ele continua dizendo que não poderá detalhar muito. Esse tipo de construção verbal indica manipulação. Ele trás uma afirmação importante e relevante e depois corta a expectativa com a frase "eu não vou poder detalhar muito". Popularmente, é como se ele "tomasse o doce da boca de uma criança".

No momento em que diz que não vai poder detalhar muito, ele realiza um conjunto gestual praticamente ao mesmo tempo: afastamento com o corpo + "Eye Shielding", seguido de "Turtle Effect", seguido de expressão de desprezo + olhar para baixo + "Tongue Jut" pressionando os lábios.

O afastamento do corpo é chamado de "movimento de distanciamento", podendo indicar intenção de fuga do que está sendo falado. O "Eye Shielding" (fechamento dos olhos por mais tempo que uma mera piscada) constitui uma potencialização da intenção de fuga.

"Turtle Effect" ocorre quando Wassef eleva ambos os ombros, tensionando-os. Esse sinal não-verbal indica medo diante de uma situação negativa e prejudicial. Desejo inconsciente de se proteger de determinada situação.

E por fim, ele exibe uma expressão de desprezo (contração do bucinador, principalmente no lado esquerdo do canto dos lábios) e projeta a língua para fora ("Tongue Jut"), enquanto olha para baixo.
"Tongue Jut" indica ansiedade, intenção de fuga, indicando também, nesse contexto, manipulação.

Enquanto diz que ele teve absoluta certeza e convicção de que Queiroz seria assassinado, ele faz o que chamamos de "pausas dramáticas". Essas pausas possuem um tempo menor do que as pausas desnecessárias e são usadas para criar expectativa, para dramatizar uma situação e eliciar falsamente uma emoção empática.
Juntando esses sinais podemos dizer que ele tem a intenção de gerar uma grande expectativa nos interlocutores e justificar uma mentira contada anteriormente (manipulação)

O olhar fixo que acontece em 2:00, após ele dizer a palavra "convicção" é chamado de "Deliberate Gaze". 
Esse tipo de olhar indica feedback. Wassef tem a intenção de observar se o que ele está falando, está sendo crível. Ou seja, se estão acreditando no que está sendo falado.
Levando em consideração os sinais presentes neste trecho, esse olhar pode mostrar também a intenção de manipulação e dramatização.

A partir de 2:05, ele diz: "Isto que eu estou falando aqui é... absolutamente real"
Novamente vemos uma pausa desnecessária, como um processo de ganhar tempo no que vai falar, e nesse caso, dar uma intenção mais dramática ao que está sendo falado.
De acordo com Mark McClish, o advérbio "absolutamente" é uma palavra desnecessária e serve pra potencializar o que está sendo falado. Qualquer tentativa desnecessária de potencialização, é sinal de manipulação.
Ao verbalizar a palavra "real" podemos ver um movimento de verbalização exagerado com a boca [foto acima]. Esse exagero é chamado, por Jack Brown, de EMM ("Exagerated Mouth Movement"). Segundo o autor, por esse movimento exagerado ser desnecessário, ele indica uma tentativa de dominância da situação. O que contribui para a manipulação antes citada.

A partir de 2:10, Wassef diz: "Eu tinha a minha mais absoluta convicção e o temor ["Tongue Jut" + movimento de desconforto com o corpo] que ele, além de todo o assédio, tudo que ele pudesse estar passando, ele fosse ser executado no Rio de Janeiro"
"Tongue Jut" ocorre quando o agente projeta a língua para fora. Esse gesto, segundo Joe Navarro indica ansiedade e, nesse contexto, intenção de fugir da situação.
A fuga, está associada, de acordo com esse contexto, a desonestidade em algum nível.
Conjuntamente, há movimento de desconforto com o corpo, confirmando a ansiedade.
Percebemos igualmente o uso da palavra desnecessária "absoluta". Que, como já foi falado anteriormente indica tentativa de manipulação.

A partir de 2:27, Wassef diz: "Eu também tive a certeza absoluta que quem estaria por detrás deste homicídio, desta execução, iriam colocar isso na conta da família Bolsonaro"
Nesse trecho vemos três sinais não-verbais acontecendo em um curtíssimo intervalo de tempo entre eles.
Ao dizer "certeza", ele realiza novamente o "Exaggerated Mouth Movement" (movimento de verbalização exagerado), indicando tentativa de dominância e manipulação.

Em seguida vemos um sorriso suprimido, devido a elevação bilateral dos cantos da boca. A supressão fica por conta da tensão nos lábios. Esse sorriso suprimido pode ser considerado um "Duping Delight", que consiste em uma satisfação do agente ao perceber que está tendo sucesso em convencer os interlocutores do que está falando (Paul Ekman). Essa emoção é incongruente com o contexto.

Ao final desse trecho, vemos novamente o "Tongue Jut" (projetar a língua para fora), indicando ansiedade e intenção de evasividade e fuga.
Esses três sinais conjugados, nesse contexto, constituem um forte coeficiente de manipulação.

Em 2:45, ainda se referindo ao fato de supostamente quererem culpar a família Bolsonaro pelo assassinato de Queiroz, em um determinado momento, ele novamente projeta sua língua para fora ("Tongue Jut"), significando, mais uma vez, desejo de fuga, evasividade. Nesse caso, manipulação.

Em 2:48, percebemos um movimento de elevação dos dois ombros.
Como já dito anteriormente, esse gesto de elevação bilateral dos ombros indica desconhecimento do que está sendo falado; nesse caso, indicativo de incerteza.
Pela dinâmica do movimento, podemos perceber que essa elevação é feita de forma inconsciente devido, dentre outras coisas, ao timing do movimento. Nesse caso, além da incerteza, podemos adicionar um desconforto grande ao fazer suas afirmações.

No trecho que se inicia em 2:56 e termina em 3:12, Wassef explica que pediu desculpas ao Presidente Bolsonaro por ter omitido que Queiroz estava em sua residência.
Note que durante esse trecho, existe uma quebra da "linha de base" comportamental de Wassef.
Nos momentos anteriores, sua linguagem corporal estava mais dinâmica, mais expressiva, suas movimentações aconteciam de uma forma mais extrovertida. Nesse trecho, vemos que sua linguagem corporal muda intensamente. Seus movimentos estão contidos com ausência de gesticulação, seu volume vocal diminui.
A diminuição do volume vocal conjugada com a ausência de movimentos constituem um alto indicativo de que ele deseja passar essa mensagem de uma forma mais tímida, sem transmitir muita importância a respeito desse acontecimento. De acordo com a doutrina, a ausência de movimentos mostram que o agente deseja controlar sua linguagem corporal para que nenhum sinal incongruente possa ser vazado pelo corpo. Em outras palavras, é uma forma do a gente manter o foco para que seu corpo não denuncie que existe algum ponto de desonestidade em sua fala.

Em 3:10, notamos um movimento muito sutil com seus braços enquanto diz que pediu desculpas ao Presidente Bolsonaro por ter omitido a localização de Queiroz
O autor Alexandre Monteiro chama de "abanar os braços". E demonstra desconforto no que está falando, podendo indicar até fuga. [observe o recorte em câmera lenta acima - observe principalmente o movimento no braço esquerdo]
Existe uma probabilidade de que haja desonestidade nesse momento.


Percebam que após 3:12, Wassef aumenta seu volume vocal, volta a se movimentar, gesticular e realizar movimentos de verbalização (EMM) com mais intensidade como fazia antes.
Como vimos antes, esse padrão não-verbal em Wassef, constitui indício de manipulação.
Isso se dá porque as afirmações que ele desejava manter de forma mais introvertida, mais tímida, já foram passadas
O trecho a partir de 3:12 se inicia com a conjunção "mas". De acordo com ensinamentos de Statement Analysis, essa conjunção tem a intenção de refutar ou minimizar o que é falado antes. Ou seja, Wassef está tentando refutar ou minimizar tudo o que ele falou entre 2:56 e 3:12.
Geralmente, o período antes do "mas" indica desonestidade em algum grau.

A partir de 3:28, Wassef diz: "Os senhores jornalistas sabem o que aconteceu no dia da prisão de Fabrício Queiroz, às 13:00? Alguém pesquisou?... Neste dia foi quando se deu início na Comissão do início do processo de impeachment do Governador do Rio de Janeiro. Não tô acusando ninguém de nada. Só estou dizendo de uma estranha coincidência..."
Assistindo ao vídeo, vocês vão perceber que aqui, Wassef quis afirmar que a Operação para prisão do Queiroz funcionou como uma "cortina de fumaça" para abafar o impeachment do Governador
Nesse trecho, ele usa algumas técnicas de manipulação;
Ele introduz perguntas em um discurso afirmativo, nesse caso essa técnica é usada como um pressuposição de que Wassef sabe dos acontecimentos.
Ao dizer que não tá acusando ninguém e que é uma estranha coincidência, ele mantém a intenção de manipulação, pois na verdade, ele quis dizer exatamente o oposto. Essa intenção é observada pelo uso do "não" no início da frase.
De acordo com a PNL e a Neurociência, o cérebro não reconhece a negação, processando aquilo que é dito posteriormente. Ou seja, ele está acusando.
Ao verbalizar "Governador do Rio de janeiro", podemos notar uma alteração em seu pitch vocal. Seu a voz se torna trêmula durante esse momento. De acordo com a Paralinguagem e Paulo Sérgio de Camargo, voz trêmula indica ansiedade e, de uma forma mais específica, pode demonstrar também incerteza em suas palavras.
Seus movimentos continuam sendo realizados de forma mais extrovertida, expressiva.

A partir de 4:12, Wassef diz: "Eu me garanto, que eu nunca contei ao Presidente Bolsonaro [movimento inesperado com o corpo] que [pausa desnecessária] eu permiti o acesso à minha residência, à minha casa, ao meu escritório, caso ele passasse por aqui para ficasse o tempo que bem entender..."
Do começo, até o "que", podemos notar que sua linguagem corporal volta a ficar sem movimentos de gesticulação, de uma forma mais contida, com o volume vocal diminuído em relação aos outros momentos do vídeo. Como já dissemos anteriormente, essa quebra da linha de base, indica que ele deseja transmitir essa mensagem de uma forma mais contida para evitar vazamentos corporais que possam denunciar uma possível desonestidade.
O uso da frase "eu me garanto", segundo McClish, constitui um elemento verbal desnecessário, uma auto-afirmação sem qualquer importância para o discurso. Segundo o autor, quem se garante não precisa verbalizar isto. A utilização de frases desnecessárias são um forte indício de manipulação.
Ele usa o advérbio "nunca" para negar que tenha contado ao Presidente. De acordo com Mark McClish, o "nunca" não constitui uma negação. Essa palavra indica indeterminação temporal, ou seja, é vago em relação ao tempo. Tendo em vista que o fato de Wassef ter permitido o acesso aconteceu em algum momento na linha do tempo, a inespecificidade temporal desse evento, indica incongruência verbal, logo desonestidade
A pausa desnecessária que acontece nesse trecho indica um processo mental para ganhar tempo afim de pensar o que será dito e/ou como será dito.
No campo não-verbal, após dizer "Presidente Bolsonaro" vemos um movimento inesperado e brusco com o corpo. Segundo a doutrina de Comunicação Não-Verbal esse tipo de movimento acontece quando o corpo está experimentando um momento de ansiedade e nervosismo. Equivale a um vazamento corporal, que acontece quando há uma dissonância entre o que é verdade e o que está sendo passado. Essa dissonância causa essa resposta inconsciente do corpo.
Existem fortes indícios de que Bolsonaro sabia da localização de Queiroz

Em 4:38, ao dizer que tem seus motivos, percebemos uma expressão de desprezo na face de Wassef.
Essa expressão acontece devido a contração do bucinador no canto direito da sua boca.


SUMÁRIO: Frederick Wassef demonstra emoções de desprezo e medo.
Ele apresenta inúmeros sinais não-verbais de fuga, que é também uma resposta ao medo.
Além da fuga notamos também vários sinais, tanto verbais, quanto não-verbais, de manipulação.
Seu discurso foi muito bem elaborado para gerar credibilidade em suas palavras, porém existem elementos verbais que constituem fortes sinais de desonestidade.
O alto coeficiente de desonestidade pode ser observado também em vários sinais não-verbais que são emitidos constantemente por Wassef, como por exemplo, elevação unilateral de um dos ombros (insegurança), projeção de língua para fora ("Tongue Jut"), dentre outros.

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