domingo, 28 de junho de 2020

Análise não-verbal: Tiago Ramos, ex-namorado da mãe de Neymar falando sobre polêmicas. Veracidade?


Após uma série de polêmicas envolvendo o seu nome, o modelo Tiago Ramos veio à público através de seu Instagram para falar sobre os acontecimentos.
Enquanto ele se relacionava com Nadine, mãe do jogador Neymar, seu nome foi vinculado a uma série de fatos polêmicos, que vão desde omissões em relação a sua sexualidade, relações promíscuas e até agressões contra ex-namorados e ex-namoradas. Mediante a descoberta de tantas informações, o relacionamento entre o modelo e a mãe do jogador Neymar teria chegado ao fim.
Mais um capítulo desse conturbado caso foi escrito quando o modelo feriu o braço após dar um soco em uma vidraça no apartamento em que estava, com a até então namorada, Nadine. Ele teria levado alguns pontos no braço devido ao incidente. Segundo informações, alguns vizinhos relatam terem ouvido gritos vindos da cobertura aonde mora Nadine, sinalizando uma discussão entre o casal. Tiago e Nadine forma até a delegacia depor sobre o caso.
Todos esses acontecimentos fizeram com que a mídia se inclinasse à acreditar que Tiago só estava junto de Nadine para se promover.
Após tudo isso, o jogador Neymar também se viu envolvido neste caso. Um áudio supostamente gravado pelo jogador, em que ele xinga com adjetivos, frases preconceituosas e homofóbicas Tiago Ramos, foi denunciado ao Ministério Público. Acredita-se que Tiago foi o responsável pelas denúncias
No vídeo gravado por Tiago, este nega que tenha feito a denúncia contra Neymar, nega qualquer tipo de agressão, dentre outras coisas. 
O que será que sua Linguagem Corporal tem a nos dizer sobre tudo isso?

Vamos à análise

A partir de 0:02, Tiago diz: "Tô muito triste, muito sati... chateado com essa situação"
Ao dizer que está muito triste e muito sati... chateado, vemos uma contração na parte interna das sobrancelhas que está presente na emoção de tristeza, porém, alguns elementos nos dizem que essa tristeza emitida não é genuína
O primeiro deles é a assimetria. Podemos notar que o movimento com a sobrancelha direita não está simétrico em relação ao movimento com a sobrancelha esquerda. Além disso há uma alta intensidade de arranque, ou seja, a contração facial chega ao seu ápice bruscamente, não havendo uma crescente dessa ação muscular. De acordo com Paul Ekman, ambos os elementos são indicativos de uma emoção falsa.
De acordo com estudos de Statement Analysis, nesse trecho podemos observar que houve o chamado "Ato Falho" (também chamado de "Palavra Riscada"), que acontece quando o agente começa a falar uma palavra, de forma inconsciente, e no meio de sua verbalização, ao se dar conta que vai cometer um erro, ele muda para outra palavra mais consciente.
Reparem que Tiago, provavelmente iria dizer a palavra "satisfeito", mas no meio da verbalização, mudou para chateado.
Além desse elemento verbal, podemos notar o chamado "eufemismo", que acontece quando existe a intenção de diminuir, suavizar ou minimizar o peso emocional de determinada palavra. Ele usa a palavra "chateado" para nominalizar toda a situação polêmica e negativa pela qual ele tá passando. O uso desse recurso de minimização não é congruente com um padrão verbal nesse contexto.
Podemos notar que Tiago usa um distanciamento verbal ao se referir a polêmica como "essa situação". Ao invés de especificar a situação na qual ele está envolvido, ele prefere generalizar. Esse distanciamento é incongruente em um contexto de explicação, e afirmação de inocência.

Ao final desse trecho (0:05), ele realiza um gesto chamado de "Tongue Jut", que consiste em passar a língua nos lábios. De uma forma geral, indica ansiedade.
Segundo Jack Brown, esse gesto é um forte indício de auto-incriminação ("Eu fiz algo errado"). O auto Joe Navarro cita esse gesto como feito com a intenção de demonstrar que deseja ser evasivo ("Eu quero escapar ileso")

A partir de 0:05, ele diz: "Então eu venho aqui gravar esse vídeo para esclarecer todas essas notícias mentirosas que vem sendo publicada na imprensa"
Ao falar "TODAS", vemos uma elevação assimétrica de sua sobrancelha direita. De acordo com a doutrina de Comunicação Não-Verbal, essa elevação assimétrica é chamada de "Skeptical Eyebrow" e indica dúvida, ceticismo em relação ao que está sendo falado.
A dúvida pode se referir a falta de veracidade das notícias ou ao fato de que ele vai esclarecer todas elas. Essa dúvida pode ser vista como uma alta probabilidade de desonestidade, por ele duvida do que está falando.

Ao final desse trecho (0:11), vemos que existe uma pressão nos lábios, juntamente a isso, uma sutil elevação bilateral dos cantos dos lábios.
A elevação bilateral com a pressão nos lábios, pode ser um indicador de sorriso suprimido. Além disso, existe a hipótese de estarmos diante do chamado "Duping Delight", que segundo Paul Ekman é o sorriso do manipulador. Constitui "Duping Delight" o sorriso de satisfação emitido pelo agente quando ele percebe que está conseguindo manipular, e ser crível no que está falando. Há, portanto, desonestidade.

A partir de 0:13, Tiago Ramos diz: "Bom, eu tentei de todas as maneiras me [pausa desnecessária]... me preservar sobre o assunto..."
Ao verbalizar a palavra "tentei", podemos perceber que existe um afastamento de cabeça para trás. Esse movimento indica a intenção de distanciamento, fuga da situação. Devemos ter em mente que em um contexto de inocência, um movimento de distanciamento mostra incongruência. (o recorte acima procura demonstrar o movimento de afastamento em câmera lenta)
De acordo com Mark McClish, a pausa desnecessária é um recurso utilizado quando a pessoa precisa ganhar tempo na resposta para pensar o que vai ser dito em seguida. Há quebra de fluidez do discurso

Durante a pausa desnecessária, ele realiza novamente o gesto de passa a língua nos lábios ("Tongue Jut"), indicando ansiedade; e em um nível mais específico, demonstra auto-incriminação e fuga

Em 0:21, novamente o gesto de passar a língua nos lábios ("Tongue Jut").
Aqui observamos o mesmo indício de fuga, ansiedade.
Tiago demonstra que sua intenção real era fugir de toda essa situação

A partir de 0:22, Tiago diz: "Eu quero deixar uma coisa bem clara... ééé... em nenhum momento fui a delegacia prestar qualquer tipo de Boletim de Ocorrência contra o Neymar..."
Utilização de agregadores verbais (...ééé...). Esse recurso é parecido com a pausa desnecessária. Indica a intenção de ganhar tempo para pensar no que falará em seguida. Nesse contexto, é incongruente
Durante a utilização dos agregadores, podemos ver que Tiago direciona seu olhar horizontalmente para a esquerda. De acordo com a PNL, esse movimento ocular acessa áreas do cérebro responsáveis pelas lembranças auditivas. O que pode nos indicar que ele está lembrando do que foi falado, talvez na delegacia.
Juntamente vemos em sua face a expressão de medo, pela elevação sutil das pálpebras superiores e o estiramento horizontal dos lábios.
O final desse trecho podemos notar uma alteração em seu fluxo respiratório. O que indica ansiedade e nervosismo.

Em 0:33, enquanto ele ainda continua negando que tenha ido a delegacia prestar B.O contra o Neymar, essa alteração cardio-respiratória fica bem evidente.

Em 0:35, vemos a expressão de desprezo em sua face, devido a contração do bucinador em seu lado direito ao dizer que entende o que o Neymar disse a respeito dele.

Em 0:40 vemos um conjunto de sinais interessantes, realizados praticamente ao mesmo tempo.
Primeiro ele passa a língua nos lábios ("Tongue Jut"), o que indica ansiedade, desejo de fuga.
Logo após podemos perceber, através do ar em sua voz, que existe uma alteração em sua respiração, indicando ansiedade e tensão
Por último vemos novamente uma expressão de medo, novamente representada pela elevação das pálpebras superiores e o estiramento horizontal dos lábios.

Em 0:43, Tiago diz: "Então, jamais fiz isso [ir a delegacia para denunciar o Neymar]".
De acordo com Mark McClish, os advérbios "jamais" e "nunca" não são considerados negações quando existe referência de tempo. São vagos.
Quando o ponto da questão é direcionado a um evento específico em um tempo específico, "nunca" e "jamais" se tornam sem validade em um discurso.
Tendo em vista que a suporta ida de Tiago à delegacia aconteceu em uma data específica, o "jamais" demonstra uma incongruência. Logo, uma possível desonestidade

A partir de 0:45, Tiago diz: "Eu e a Nadine fomos sim à delegacia...ééé... esclarecer todo o acontecido, e deixar bem claro que não houve qualquer tipo de agressão, tá bom?"
Ao dizer "fomos sim", ele toca seu peito com a mão espalmada. Esse gesto indica auto-referência, ou seja, citar a si mesmo.
Deve-se haver sincronia entre os gestos e a fala. Ou seja, o gesto não-verbal que ilustra o verbal, deve acontecer no exato momento em que ocorre a verbalização, podendo ocorrer também antes, mas nunca depois. Em outras palavras, quando Tiago refere a si mesmo, o gesto de tocar no peito com a mão espalmada deve acontecer durante a verbalização do pronome "eu". Porém, vemos que ele realiza esse gesto de auto-referência no momento em que ele diz "fomos sim", logo, depois de se auto-referir. Dá-se o nome de "gestos mecânicos" quando são realizados fora de sincronia, e sua finalidade é manipular. Aqui, Thiago faz a auto-referência, e depois de forma consciente realiza o gesto para gerar mais credibilidade.

Ainda referente ao trecho, ao dizer: "... não houve qualquer tipo de agressão"
Nesse momento ele nega com a cabeça, porém, podemos observar que o ritmo da fala está diferente do ritmo em que o gesto é realizado.
O ritmo gestual está mais acelerado que o ritmo vocal.
Quando o não-verbal está discordante do verbal, estamos diante de uma incongruência.

A partir de 1:02, Tiago diz: "Espero que após esse vídeo vocês pensem um pouco antes de falar da gente porque isso tá me prejudicando bastante, profissionalmente; prejudicando a minha família; a família da Nadine, e... pô... já tá muito chato. Tá muito, muito, muito chato mesmo"
Ele se refere ao prejuízo profissional, e à família, como algo "muito chato". Eufemizar um prejuízo profissional e familiar pode ser visto como algo incongruente.
Quando de fato, a pessoa obtém um resultado negativo de uma situação, a ponto de prejudicar a família e o trabalho, não é algo comum ela adjetivar esse resultado com uma palavra como "chato". Tira-se a intensidade emocional negativa do acontecimento.
Essa incongruência demonstra que ele não sente tanto o resultado negativo, como deseja transmitir.
Logo após, percebemos que ele repede o advérbio "muito" três vezes ("muito, muito, muito chato")
De acordo com ensinamentos de Statement Analysis, a repetição de palavra de forma desnecessária, indica intensão de manipular e convencer.

A partir de 1:20, Tiago diz: "Eu e a Nadine, a gente não, não tem mais nada. A gente [pausa desnecessária] a gente é amigo. Mantemos nossa amizade, mas com caminhos diferentes [tongue jut], entendeu?."
A pausa desnecessária é um recurso para ganhar tempo e pensar no que vai ser falado. Forte indício de desonestidade.
Ao dizer "mantemos a nossa amizade", ele realiza um sutil gesto de negação com a cabeça. Há incongruência entre o verbal e o não-verbal. Logo, desonestidade.
Novamente ele realiza o gesto de passar a língua nos lábios ("Tongue Jut"), indicando ansiedade, fuga (foto acima)
Ele termina a afirmação com uma pergunta. De acordo com Mark McClish, terminar uma afirmação com uma pergunta indica dúvida, pois transfere a responsabilidade da certeza para os interlocutores.

Em 1:41, novamente vemos o "Tongue Jut" indicando ansiedade, fuga.
Aqui, juntamente com essa projeção da língua, ele fecha os olhos por mais tempo que de uma piscada normal. Esse gesto chamado de "Eye Shielding" indica não visualização do que está sendo falado.
Nesse contexto, o "Eye Shielding" funciona como um potencializador da ansiedade e fuga.


SUMÁRIO: Tiago Ramos exibe a emoção de medo ao falar sobre as polêmicas e tem o comportamento majoritário de ansiedade e desejo de fuga da situação. Há também a emoção de desprezo ao justificar a atitude de Neymar
Existem algumas incongruências e dúvidas durante o vídeo, e alta probabilidade de desonestidade ao negar que tenha feito um B.O contra Neymar, ao afirmar que continua amigo de Nadine e ao dizer que não houve agressão
Há também elementos de convencimento e manipulação, tanto no âmbito não-verbal quanto no verbal.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Análise não-verbal: Homem invade a Globo e faz uma repórter de refém. Linguagem corporal do negociador

Recentemente, um homem invadiu a emissora de televisão "Globo" e, com uma faca, fez uma repórter de refém.
Segundo informações, o invasor tinha como objetivo falar com a, também jornalista, Renata Vasconcellos, como não a achou, fez de refém a repórter Marina Araújo.
Diante do fato, a Polícia Militar foi chamada ao local. O Coronel Heitor Henrique Pereira conduziu toda a negociação, que terminou na liberação da refém e prisão do invasor
Como foi a linguagem corporal utilizada pelo Coronel para ser bem sucedido na negociação?

Por não termos acesso ao vídeo completo da negociação, vamos analisar o trecho encontrado.

Vamos à análise:

No começo do vídeo, o Coronel pede pra o invasor larga a faca e diz que vai se afastar.
Em 0:03, mesmo de costas, podemos ver o Coronel mostrando as palmas de suas mãos e se afastando.
De acordo com a doutrina de Comunicação Não-Verbal, mostrar as mãos indicar honestidade, confiança, que não tem nada a esconder.
Segundo o antropólogo Desmond Morris, esse gesto se origina da antiguidade, quando as pessoas, no início da interação, mostravam as mãos para demonstrar que não carregavam armas - a interação poderia continuar sem riscos.
Esse gesto é extremamente congruente com o contexto de negociação, e cria um vínculo de confiança com o assaltante, invasor

Juntamente, vemos o coronel se afastando. Esse movimento de distanciamento aumenta a "Proxêmica" em relação ao indivíduo.
A proxêmica, é o estudo das distâncias em uma interação interpessoal. Quanto maior a distância entre os indivíduos, maior é a liberdade que eles têm de se moverem pelo ambiente caso haja algum tipo de confronto.
Além desse conceito, a distância maior também indica dominância. De acordo com a doutrina focada em liderança, o indivíduo dominante ocupa uma maior área espacial, logo, este mantém um maior distanciamento de quem ele julga submisso.
Essa atitude do Coronel foi extremamente positiva, pois além de reafirmar o que falou que iria fazer, dá ao invasor o status de dominante da relação
De acordo com estudos, as pessoas que agem com comportamentos criminosos, como no caso em análise, desejam ser dominantes na relação; desejam ter a atenção voltada para eles.
Ao fazer isso, o coronel "deu poder a quem quer poder" e ao fazer isso, ele aumentou o nível de confiança do invasor nele.

A partir de 0:10, ao pedir pro Câmera se afastar mais, o Coronel demonstra gestos amplos e acima dos ombros.
Gestos amplos e acima, nesse contexto, indicam a intenção de mostrar para o invasor que suas mãos estão à mostra, e que, portanto, ele não esconde nada; que nenhum movimento minimalista será feito, que possa dar a entender ao invasor que alguma arma ou equipamento será pego e utilizado contra o mesmo.
Em outras palavras, a intenção desse tipo de gesto, nesse contexto, é manter o invasor percebendo que ele não corre riscos.

A partir de 0:12, podemos ver que o Coronel não expõe a palma de sua mão esquerda - que está direcionada para trás.
Esse movimento não é aconselhável pois pode causar desconfiança no invasor.
Provavelmente aqui, o nível de confiança que o Coronel conseguiu já está alto, fazendo com que esse gesto que, deve ser evitado nesse contexto, não tenha tido um efeito negativo.
Aqui, provavelmente, o invasor estava escutando algo positivo para ele.

A partir de 0:25, o Coronel diz: "Rapaz, eu tô dando a minha palavra [que vai levá-lo até a Renata Vasconcellos]. Eu tô dando a minha palavra. Eu sou Comandante do 23. Eu tô dando a minha palavra para você"
Ao falar que é "Comandante do 23" ele usa sua posição de Comandante para criar mais confiança no invasor de que ele vai ter o que procura. De acordo com estudos de persuasão, correlacionar um desejo a uma posição hierarquicamente alta, gera mais confiança de que as coisas vão acontecer de forma positiva para o outro indivíduo.
Podemos observar também a Paralinguagem do General. Ele usa um tom de voz firme, alto e sem tremulações e variações vocais. Tudo isso indica assertividade, certeza. O que contribui para manter ou aumentar o nível de confiança do invasor, nele.

Esse tom de voz firme e positivo para esse contexto, é mantido durante toda a negociação

Em 0:40, ao demonstrar alguma coisa para o invasor, ele posiciona a palma de sua mão na vertical, perpendicular ao chão.
A posição da palma nesse sentido demonstra uma neutralidade. O Comandante não se coloca em uma posição de dominância e nem em uma posição de submissão. Também denota assertividade de forma neutra
Percebam que seu gesto continua amplo, com o mesmo intuito de deixar tudo às vistas do invasor, sem esconder nada.

A partir de 0:46 ele diz: "Meu amigo, eu estou te dando a minha palavra"
No começo desse trecho, ele mostra novamente a palma das mãos para o invasor, indicando confiança e assertividade, e que não tem nada a esconder.
Apesar disso, ele possui sua cabeça elevada em um ângulo maior que 90º. Essa posição de cabeça denota agressividade, arrogância.
Essa posição de cabeça não é muito aconselhada nesse contexto, mas como já dito antes, o nível de confiança que o Comandante já conseguiu do invasor é alta, fazendo com que esse gesto, a princípio negativo para o contexto, não tenha tanto peso.

A partir de 0:53 o Comandante diz: "To desarmado, aqui ó"
Nesse momento ele mostra a palma de suas mãos. Novamente um gesto muito positivo.
Ele significa que não tem nada a esconder e que, literalmente, está desarmado.

Em 0:54, ele continua: "Quer que eu tire o colete também? Eu tiro"
Essa frase foi utilizada para reafirmar a confiança.
O colete, em um PM é um acessório de proteção. Quando ele sugere tirar o colete, ele tem a intenção de demonstrar para o invasor que confia nele - pois ele estaria totalmente despido do que protege sua vida, expondo áreas vitais.
De acordo com Desmond Morris, expor áreas vitais para outra pessoa, passa a ideia inconsciente de que você confia na pessoa a quem está expondo.
Para a Neurociência, quando você demonstra confiar na pessoa, esta, , se sente na obrigação, de forma inconsciente, a confiar nela também. Nesse caso é fundamental que tenha esse laço de confiança pois mostra pro invasor que ele não está sendo subestimado; e como, o desejo do invasor é ser o dominante no contexto, ser subestimado é extremamente negativo.

Em 1:06 o Comandante diz: "A gente vai até ela [Renata Vasconcellos]"
Novamente podemos ver gestos amplos e acima dos ombros.

Em 1:11, o Coronel Heitor diz: "Eu vou sair, não vai chegar ninguém perto. Eu vou ver aonde a Renata está"
Ao dizer que vai sair, ele novamente realiza um gesto extremamente congruente, apontando para a saída atrás dele. Esse gesto é realizado novamente de forma ampla.
Nesse tipo de contexto, até mais do que em outros, é importante que haja completa congruência entre a linguagem verbal e a não-verbal. A incongruência, pode demonstrar, de forma inconsciente, para o invasor que não existe sinceridade, podendo haver uma quebra da confiança, em algum nível.

A partir de 1:16 o Comandante diz: "Eu to saindo"
Nesse momento ele vai se afastando e demonstra a palma das mãos.
Congruência e sinceridade. Mantendo a relação de confiança entre ele e o invasor.

Em 1:24, o Coronel ao pedir pro câmera se afastar, realiza novamente gestos amplos e acima dos ombros.
Como já foi dito, gestos amplos e acima dos ombros reafirma a confiança. O invasor pode perceber que há sinceridade, pois as mãos estão à vista e o gesto está congruente.

Em 1:32, o Comandante Heitor pergunta o nome do invasor.
O nome é a informação mais importante a nosso respeito. É considerada a nossa identidade. É a nossa marca. Perguntar pelo nome demonstra que existe interesse em nós, em saber quem nós somos.
Quando o Comandante pergunta o nome do invasor, sua intenção é chamá-lo pelo nome, e, de acordo com Paulo Sérgio de Camargo, isso cria empatia e dá importância especial a pessoa, no caso ao invasor.
Ao se sentir importante, o invasor mantém a confiança e conexão com o Comandante.

Em 1:35, novamente o Comandante mostra a palma das mãos.
Confiança, sinceridade. Não há nada a esconder.

* Podemos observar uma coisa muito interessante do invasor. Durante todo o vídeo podemos vê-lo usando máscara como uma possível proteção ao Covid-19. Isso indica que ele se preocupa com a própria saúde e integridade.
Geralmente bandidos, invasores, assaltantes, não tem essa preocupação.
Aqui estamos falando de uma "hierarquia de valores". No topo da Hierarquia estão os valores mais importantes para nós.

A preocupação pelo uso de máscara demonstra que ele tem sua saúde como um valor mais importante do que ir a uma emissora, fazer refém para conhecer uma jornalista.
Comumente, isso não acontece em indivíduos que praticam essas atividades criminosas. Geralmente o comportamento criminoso tem um valor mais alto.

Isso pode nos mostrar que esse invasor não tem essa prática criminosa como algo intrínseco à sua identidade, e sim à seu comportamento, de acordo com os "níveis neurológicos" trazidos por Robert Dilts.


SUMÁRIO: O Comandante Heitor Henrique Pereira, ao negociar com o invasor demonstrou sinais não-verbais e se utilizou de técnicas que criam e potencializam a empatia e a conexão.
A todo momento demonstra a palma das mãos indicando sinceridade, confiança e que não tem nada a esconder.
Durante a negociação demonstrou um tom de voz firme, assertivo.
Em alguns momentos, por mais que alguns sinais não sejam tão aconselhados, o nível de confiança que o Comandante criou com o invasor foi tão positivo, que esses sinais não influenciaram.