terça-feira, 1 de setembro de 2020

Análise não-verbal: Caso Flordelis. Entrevista após acusação de ser mandante do assassinato de seu marido. Sinais importantes

Recentemente, a investigação concluiu que a Deputada e Pastora Flordelis foi a mandante do assassinato que vitimizou seu próprio marido, o também pastor, Anderson do Carmo, em 2019.
Apesar de ter sido denunciada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro e pela Polícia Civil, Flordelis não poderá ser presa agora, por possuir foro privilegiado devido ao seu cargo de Deputada.
Após a denúncia, Flordelis concedeu uma entrevista para o jornalista Roberto Cabrini, aonde fala sobre tal acusação.
Quando o caso ganhou publicidade, na ocasião, fizemos a análise de uma entrevista dada pela Deputada, falando sobre o ocorrido (leia AQUI).
Será que sua linguagem corporal mudou após a acusação? Quais os principais sinais emitidos por ela?

Vamos à análise:

A partir de 1:49, o repórter pergunta: "Sinceramente, a senhora mandou assassinar o seu marido?
Em 1:51, ela responde: "Eu não matei. Eu não fiz isso, que estão me acusando. Eu não fiz"
Ao responder, no primeiro momento, "Eu não matei", Flordelis realiza aqui o que chamamos de "Deflexão". Esse fenômeno consiste em uma maneira de desviar a atenção de alguém para outra coisa com o intuito de ser questionado ou responder exatamente à pergunta que foi realizada. Podemos perceber a "Deflexão" quando a resposta é diferente do que foi perguntado ("pergunta-se A, e responde-se B").
Percebam que o repórter pergunta se ela MANDOU assassinar; enquanto a Deputada nega que MATOU. Ela respondeu algo diferente do que foi perguntado.
Segundo o Dr. David Craig e outras doutrinas a cerca desse tema, a "Deflexão" é um forte indicativo de desonestidade, pois há desejo de fuga da situação.
Ainda nesse momento percebemos uma variação em seu padrão vocal. Sua voz fica mais aguda e trêmula. Ambos são sinais de nervosismo e ansiedade.

Logo em seguida ela repete a afirmação com uma pequena mudança. Ela diz que não fez ISSO. Substituir uma palavra tão importante para o contexto por um pronome demonstrativo ("isso") é chamada, pelo estudo de Statement Analysis, de "linguagem de distanciamento" e indica fuga, desejo de evasividade. Quando o agente faz essa substituição, ele deixa de dizer que não teve tal comportamento, logo não se inocenta.
Por conclusão, quando uma pessoa é inocente, seu comportamento padrão é dizer que é inocente, com todas as letras necessárias. Qualquer comportamento verbal diferente disso, constitui, portanto, desonestidade por quebra de padrão comportamental.

Ainda referente a esse trecho, após dizer: "... que estão me acusando", notamos uma microexpressão de medo, devido a elevação das pálpebras superiores e estiramento horizontal dos lábios.
Há também o tensionamento nos dois ombros ("Turtle Effect"), indicando medo, tensão.

A partir de 1:57, Roberto Cabrini pergunta: "Como a senhora responde a essa acusação da polícia?"
A partir de 2:00, a Deputada responde: "Não é real. Não é verdade. É uma injustiça"
Após dizer a palavra "real", percebemos uma sutil elevação com seu ombro esquerdo ("Shoulder Shrug"). De acordo com Joe Navarro, a elevação unilateral de um dos ombros indica insegurança no que está falando. [O recorte acima, em câmera lenta, mostra a sutil elevação do ombro esquerdo].

Ainda referente ao mesmo trecho, ao dizer a palavra "injustiça" vemos um sutil tensionamento de ambos os ombros. Esse gesto é chamado de "Turtle Effect", e indica nervosismo e medo. Ele tem esse nome ("Efeito Tartaruga") fazendo referência ao movimento que as tartarugas tem, de entrar em seu casco, diante de uma situação de perigo. [No recorte acima, em câmera lenta, podemos ver esse movimento de seus ombros]

Em 2:09, vemos que a Deputa muda sua postura. Ela cruza os braços.
De acordo com a doutrina de Comunicação Não-Verbal, a mudança brusca e injustificável de postura, para uma postura de braços cruzados indica defensividade. Desejo de se proteger. É um gesto beta (submissão).
Logo em seguida, dois segundos depois, ela desfaz a postura.

Em 2:18, a Deputada diz: "Eu achava que tinha sido roubo"
No começo dessa afirmação, podemos perceber que Flordelis olha para cima e direita. De acordo com estudos da PNL, o direcionamento do olhar nesse quadrante (após ter passado por um processo de "calibragem"), indica que ela está acessando a área do cérebro responsável pela criação de imagens.
Aqui ela pode estar criando a imagem do roubo, ou criando o que vai falar em seguida - sendo nesse último caso, a utilização do sistema representacional visual para responder. [Na foto acima, é possível ver esse direcionamento do olhar]

A partir de 2:23, Flordelis diz: "Cabrini, eu estava sedada"
Nesse momento vemos uma negação com a cabeça.
Quando temos uma negação não-verbal juntamente com uma afirmação verbal, estamos diante de uma incongruência entre esses canais de comunicação. Pelo fato da comunicação não-verbal representar mais de 50% de toda a nossa comunicação, devemos dar uma atenção maior à expressão do corpo.

A partir de 2:24, o repórter pergunta: "Eram lágrimas de crocodilo? Eram lágrimas falsas?"
Flordelis responde: "... Olha, eu com certeza, na morte do meu marido eu devo ter chorado muitos. Muita coisa fugiu da minha mente por causa da sedação."
De acordo com estudos de Statement Analysis, começar uma resposta com palavras como "olha" indica uma resposta indireta (não disse nem que sim, e nem que não). Segundo Mark McClish, esse tipo de resposta indireta indica um alto coeficiente de desonestidade, demonstrando incerteza em suas palavras, já que essa estrutura evita que seja dada uma resposta direta ("Sim, eu chorei" ou "Não, eu não chorei").
Ainda, na avaliação de seu discurso, ela usa um verbo indicando incerteza ("DEVO"). Esse verbo não confirma que ela realmente chorou, mas apenas que DEVE ter chorado.
Além disso, observamos também uma alta latência no tempo de resposta. De acordo com estudos de Paralinguagem e Statement Analysis, geralmente o tempo entre ouvir a pergunta e respondê-la, é de menos de um segundo. Ela demora um pouco mais que isso.
Devido aos sinais verbais apresentados, existe uma altíssima probabilidade de desonestidade.

A partir de 2:36, Cabrini pergunta: "A senhora estava sendo falsa naquela entrevista?"
Flordelis responde: "Não"
Ao negar verbalmente, vemos que sua voz fica mais aguda. De acordo com estudos de Paralinguagem, a mudança brusca no "pitch" vocal para um registro mais agudo, indica nervosismo e ansiedade, devido ao tensionamento na região da garganta.
Vemos também, nesse momento, uma microexpressão de medo, devido a elevação das sobrancelhas e a elevação das pálpebras superiores. Juntamente é possível observar um afastamento de sua cabeça para trás. Esse "movimento de distanciamento" é congruente com a emoção de medo somado a intenção de fugir da situação. [foto acima]

Além disso, é possível observar uma sutil elevação do seu ombro esquerdo ("Shoulder Shrug").
Como dito anteriormente, esse movimento unilateral dos ombros, pode indicar insegurança em suas palavras.
Nesse mesmo momento, em sua face, vemos também uma expressão de medo, devido a elevação das sobrancelhas e elevação das pálpebras superiores.
[No recorde acima em câmera lenta, é possível observar esses sinais].

A partir de 2:43, Cabrini pergunta: "Por que a senhora não tentou socorrê-lo no próprio local?"
A Deputada responde: "Eu não vi. Já tinham... Quando eu desci, ele já tav... ele... ele já tin... meu filho já tinha informado que já tinham saído com o carro para levá-lo para o hospital"
Percebemos nesse trecho alguns distúrbios vocais. Ela gagueja e não termina algumas palavras. De acordo com estudos da Paralinguagem, esses distúrbios indicam nervosismo e omissões - ao não completar as palavras e mudar o raciocínio. Constituem fortes indícios de desonestidade.
Juntamente, vemos um "gesto pacificador" de coçar a face. "Gestos pacificadores" são aqueles em que o agente coça, esfrega e/ou toca no próprio corpo. Eles indicam que Flordelis está experienciando episódios de ansiedade e nervosismo - tendo em vista, que os "gestos pacificadores" são utilizados para se acalmar diante de um estímulo negativo. Eles estão muito relacionados a desonestidade, dependendo do contexto no qual são inseridos. Tendo em vista que, nesse trecho, temos sinais paralinguísticos também ligados a desonestidade, o "gesto pacificador" confirma essa desonestidade.
Vemos ainda que nesse momento ela fecha os olhos - gesto conhecido como "Eye Shielding". De acordo com a doutrina de Comunicação Não-Verbal, fechar os olhos em um momento crucial como esse, indica intenção de não visualização. No caso, desejo de não visualizar a mentira que está sendo contada.
Há também um forte tensionamento nos ombros. Mais uma vez, estamos diante do chamado "Turtle Effect", indicando desejo de fuga; medo.

Em 3:00, Flordelis exibe uma microexpressão de medo, principalmente pela elevação das pálpebras superiores e tensionamento nas pálpebras inferiores

A partir de 3:08, Cabrini faz uma afirmação, seguida de uma pergunta: "Em um recado enviado aos seus filhos, a senhora diz: ''Fazer o quê? Separar não posso porque ia escandalizar o nome de Deus". Porque a senhora disse isso?"
Em sua resposta (3:16), ao dizer: "Não existe. Isso não existe", Flordelis realiza uma expressão chamada por Jack Brown de R2E2 ("Racionalization-Rapport-Empathy-Expression") - em uma tradução livre, podemos chamar de "Expressão Racionalizadora". Segundo o autor, a configuração facial dessa expressão é semelhante à configuração facial do nojo, porém sua função é tentar convencer e gerar empatia ou conexão, apesar de não estar se sentindo desta forma. É, portanto, uma expressão manipulativa. [Foto acima]

Em 3:20, a Deputada continua em sua resposta, dizendo: "Se eu tivesse que me separar, eu separaria"
Nesse momento ela eleva, sutilmente, os dois ombros. De acordo com Charles Darwin e Paul Ekman, esse gesto indica desconhecimento, incerteza.
Ela não está certa de suas palavras.

A partir de 3:22, o repórter Roberto Cabrini questiona a Deputada sobre uma mensagem enviada a um de seus filhos, aonde diz: "André, pelo amor de Deus, vamos dar um fim nisso, me ajuda. Cara, to pedindo. Tô te implorando. Até quando vamos ter que suportar esse traste, em nosso meio". Logo em seguida, o repórter pergunta: "Por que a senhora disse isso?"
A partir de 3:35, a Deputada responde com: "Eu jamais chamaria meu marido de traste"
Aqui, podemos notar algo muito interessante em relação à sua resposta.
Se repararmos na mensagem enviada ao filho André, o conteúdo mais importante desta, está no fato dela querer "dar um fim nisso", que claramente se refere a dar um fim no marido, ou dar um fim no que tinham planejado. Porém em sua resposta, a Deputada rebate o fato dela se referir ao marido como "traste". De acordo com estudos de Statement Analysis, a mudança de foco em relação ao ponto mais importante do texto constitui uma forma de "Deflexão". Por haver a intenção de não responder tal ponto crucial, pode ser considerado fuga e omissão por parte da Deputada. Ela foca em uma parte menos importante da declaração, para se evadir de responder sobre algo mais crucial.

A partir de 3:38, Flordelis diz: "Essa mensagem não foi escrita por mim"
Ao final, vemos novamente uma expressão de desprezo, devido a contração do bucinador, na extremidade esquerda do canto da boca.

Em 3:52, o repórter pergunta: "A senhora não omitiu nada?"
Flordeliz responde que "não"
Juntamente à essa resposta, vemos mais uma vez o chamado "Eye Shielding", que consiste em fechar os olhos por um tempo superior ao de uma piscada.
Esse gesto significa que não quer visualizar o que está sendo falado. Logo, um forte indício de desonestidade, pois sua intenção é não ver a mentira que está contando

A partir de 3:55, a Deputada afirma: "Eu preciso saber quem matou o meu marido"
Logo em seguida, Cabrini pergunta: "A senhora não sabe?"
Flordelis responde: "Não. Se eu soubesse eu falaria aqui agora".
Durante o "não", vemos novamente o "Eye Shielding" (desejo de não visualização do que está falando)
Enquanto verbaliza o complemento da resposta ("Se eu soubesse eu falaria aqui agora"), vemos novamente o "Eye Shielding", dessa vez sendo acompanhado da expressão R2E2, cujo intuito é manipular e empatia e conexão. Resumindo, desejo de convencimento. [Foto acima]

Ao final desse trecho, vemos novamente a expressão de desprezo, devido a contração do bucinador no lado esquerdo da face, juntamente com o "Eye Shielding"
O especialista em linguagem corporal Jack Brown afirma que a expressão R2E2, além de ter a mesma configuração facial do nojo, pode ter também a mesma configuração facial do desprezo. Por tal motivo, podemos dizer que ao emitir esse desprezo, sua intenção também é manipular.
Aqui, o gesto de fechar os olhos funciona como um potencializador do desprezo - que, nesse contexto, pode ser visto como uma expressão R2E2.

Em 4:07, o repórter pergunta: "A senhora não está escondendo nada?"
Logo em seguida, Flordelis responde: "Não"
Mais uma vez vemos o mesmo padrão gestual: "Eye Shielding" + expressão de desprezo
Tentativa de manipulação e convencimento. Novamente, o gesto de fechar os olhos indica um potencializador.
Podemos reparar também que sua voz fica mais aguda. Como dito anteriormente, essa alteração do padrão vocal indica nervosismo e ansiedade. Nesse contexto, reforça a afirmação de que ela está sendo desonesta.

A partir de 7:07, Cabrini entre no assunto do dinheiro que entrava na igreja de Flordelis e de Anderson
Em 7:25, Flordelis afirma que uma grande quantia em dinheiro, que deveria ter entrado na conta da igreja, não entrou
Em 7:29, Cabrini pergunta: "Aonde esse dinheiro ficou?"
Logo em seguida, a Deputada responde: "Eu também quero saber"
Nesse momento ela espalma as mãos para cima, eleva as sobrancelhas e existe o direcionamento dos cantos dos lábios para baixo [Foto acima]. A conjugação desses elementos fazem parte de uma das configurações possíveis do gesto de desconhecimento.
A resposta da Deputada juntamente com o gesto de desconhecimento indicam congruência. Logo, ela está sendo honesta. Ela não sabe aonde o dinheiro ficou.

A partir de 7:35, Cabrini pergunta: "A razão do assassinato de Anderson do Carmo reside nesse dinheiro, nessa divisão?"
Logo em seguida, Flordelis responde: "Não sei. Não sei"
Na segunda vez que ela afirma não saber, podemos perceber uma palpebração, ou seja, enquanto está de olhos fechados, suas pálpebras fazem movimentos rápidos, como se fossem espasmos. Chamamos essa palpebração de "Eyelid Flutter" [É possível observar esse sinal não-verbal, no recorte em câmera lenta, acima].
Segundo a doutrina de Comunicação Não-Verbal, esse sinal constitui um indício de nervosismo e dissonância cognitiva/emocional. Ou seja, existe uma "luta" interna entre o que é verdade e o que está sendo dito.
Podemos dizer que o assassinato de Anderson do Carmo não está relacionado, principalmente, com nenhum motivo financeiro.

A partir de 8:12, o repórter Cabrini pergunta: "É justo que eles estejam presos e a senhora não?"
A partir de 8:17, a Deputada responde: "Olha... eu não, eu não tenho que tá presa. Eu não matei o meu marido e nem mandei matar. Por que me prender?"
Aqui vemos novamente uma demora em responder a pergunta. Cabrini termina de fazer sua pergunta aos 8:15, e Flordelis começa sua resposta mais de dois segundos depois.
Como dito anteriormente, o tempo entre terminar de ouvir a pergunta e respondê-la, geralmente leva no máximo um segundo. Essa latência maior praticada pela Deputada indica um processo para se ganhar tempo para pensar no que será respondido.
Além disso podemos observar um aumento brusco no volume de sua voz. De acordo com estudos de Paralinguagem, o volume vocal deve ser aumentado de forma gradativa, em um discurso. O aumento brusco constitui a quebra de padrão verbal. Constitui-se indício de tentativa de convencimento.

A partir de 8:25, o repórter pergunta: "Será que a senhora disse algo que possa ser interpretado como uma ordem de assassinar Anderson?"
Logo em seguida, a Deputada responde: "De jeito nenhum. Todo mundo dentro de casa e fora de casa sabiam o valor que meu marido tinha para mim"
Observamos aqui, que houve a quebra da estrutura de uma resposta direta. De acordo com Mark McClish, uma resposta direta é constituída de uma afirmação ("sim") ou uma negação ("não") seguida de um complemento. Não vemos essa estrutura na resposta da Deputada, que começa sua resposta com "De jeito nenhum". Essa composição verbal não é considerada uma negação, logo não existe resposta direta. Ausência de resposta direta indica omissão e desonestidade.
Para complementar sua resposta ela usa o recurso de inserir terceiros para aumentar sua credibilidade. Ao dizer que "todo mundo dentro de casa e fora de casa sabiam do valor que meu marido tinha pra mim", ela pretende ser crível colocando outras pessoas no contexto. De acordo com pesquisas de Statement Analysis, quando inserimos terceiros, nos tornamos mais confiáveis porque se outras pessoas podem confirmar minha história, a tendência é que os interlocutores confiem no que está sendo dito, através de uma espécie de "comportamento de manada". Há manipulação.


SUMÁRIO: A Deputada Flordelis experiencia, majoritariamente, as emoções de desprezo e medo; bem como ansiedade e nervosismo.
Podemos ver vários indícios de manipulação, tanto no campo verbal, quanto no não-verbal.
É observável também comportamentos verbais e não-verbais de fuga e evasividade.
Durante o vídeo apresentado, é possível notar vários sinais que, aliados ao contexto, indicam desonestidade em relação a inocência da Deputada. Dentre outros, um dos sinais mais vistos, ao longo do vídeo, é o chamado "Eye Shielding", aonde o seu desejo é de não visualizar o que está falando.
Em momentos importantes, a Deputada demonstra sinais de insegurança.
Há também vários indícios verbais de omissão.
O único momento de honestidade ocorre quando Flordelis diz desconhecer o destino do dinheiro que deveria estar investido na igreja.