domingo, 22 de julho de 2018

Análise não-verbal: "Dr. Bumbum" se explica nas redes sociais sobre a polêmica que se envolveu



Denis César Barros Furtado, mais conhecido como Dr. Bumbum, é um médico que realizava procedimentos estéticos no Rio de Janeiro.

Denis está sendo investigado da morte da bancária Lilian Calixto de 46 anos. Lilian morreu após passar por um procedimento estético de bioplastia nos glúteos com o Dr. Denis. Lilian, que havia saído de Cuiabá, no Mato Grosso, começou a se sentir mal após os procedimentos, sendo levada urgentemente para o hospital, aonde chegou em estado extremamente grave, segundo a unidade de saúde. Mesmo após a realização de várias manobras para tentar reverter o quadro de saúde da bancária, Lilian veio à óbito no dia 15 de julho.

O suposto médico que realizou os procedimentos foi denunciado, e após alguns dias desaparecidos, finalmente foi achado e detido pela polícia.

Pouco antes de ser detido, Denis gravou um vídeo e publicou nas redes sociais, aonde fala do ocorrido. O que será que sua linguagem corporal e seu discurso querem dizer?


Vamos à análise:


Logo no primeiro segundo do vídeo podemos notar um deslocamento lateral de sua mandíbula. Esse gesto sinaliza que em seu discurso ele fará uma confissão. Quando esse movimento da mandíbula está presente, geralmente há uma hesitação em revelar tudo, e assim, um motivo para mentir. Podemos notar também uma sutil elevação nas pálpebras superiores e contração no músculo risorius/platysma responsável pelo estiramento horizontal dos lábios - isso significa medo. Em suas mãos ele realiza um gesto de batuta (gesto que rege uma conversa, ilustra) que eu gosto de chamar de "dando as mãos a si mesmo".


Entre 0:02 e 0:03 há um aumento nas frequências das piscadas. Isso se dá pelas altas quantidades de adrenalina e catecolaminas que são liberadas no organismo. Sinal de ansiedade extrema.

Aos 0:05 ele fala que aconteceu uma fatalidade, e em sua face podemos notar elevação da parte interna e externa das sobrancelhas, tensão no corrugador ( região entre as sobrancelhas e acima do nariz, responsável por abaixar as sobrancelhas) e estiramento horizontal dos lábios devido a contração do risorius. Expressão clássica de medo.

Em 0:09 ao falar que a morte de sua paciente é uma fatalidade que acontece com qualquer médico, ele nega com a cabeça. Quando há disparidade entre o verbal e o não-verbal, devemos confiar sempre no não-verbal. Enquanto o verbal afirma, o não-verbal nega. Incongruência. Juntamente com essa incongruência podemos notar que ele gesticula com suas mãos para a sua direita e direciona sua cabeça para a esquerda. Falta de alinhamento entre o gesto e o corpo é indício de desonestidade.

Em 0:10 ao começar a falar "uma paciente minha...", ele apresenta uma forte assimetria facial no lado direito de sua face. Podemos perceber que um lado se contrai muito mais que o outro. Isso acontece devido a um forte episódio de ansiedade que o Doutor está experimentando. A quantidade de hormônios como o cortisol, adrenalina que estão sendo liberadas no organismo é bastante alta. A dissonância/conflito entre o que ele está falando e o que realmente aconteceu também contribui para essa lateralidade facial.

0:12 - Elevação das sobrancelhas com uma leve contração do corrugador, elevação das pálpebras superiores, estiramento horizontal dos lábios pela ação do músculo risorius e platysma. Essa é a expressão clássica de medo.Essa mesma expressão de medo aparece em vários outros momentos do vídeo

Em 0:16 podemos notar novamente a assimetria facial ao dizer o nome do procedimento pelo qual a vítima passou (Bioplastia facial). Além dessa assimetria podemos notar também uma dificuldade/hesitação imensa para ele verbalizar o nome desse procedimento. Isso significa que falar sobre o mesmo é de extrema dificuldade para ele porque sabe que falando sobre o assunto, terá prejuízos, já que conscientemente sabe que errou fazendo um procedimento que não deveria. Na foto podemos observar que há uma pressão nos lábios e elevação do mentalis (queixo) causando rugas. Isso acontece pela tentativa de ficar calado, não verbalizar. O medo continua presente na face.

Em 0:22 - 0:24, quando fala que a paciente saiu do consultório muito bem, ele realiza um cluster gestual que significa desconhecimento e incerteza: seus ombros levemente se elevam e permanecem tensionados por alguns segundos, há a elevação do mentalis formando rugas no queixo, seu corpo levemente se afasta para trás, suas mãos giram em posição supinada. Esse conjunto gestual emblemático significa incerteza, desconhecimento do que está falando.

Entre 0:30 - 0:33 ele fala: "... e ela chegou ao óbito algumas horas depois com... parada cardíaca". Além de apresentar novamente uma tensão facial ao falar o motivo do óbito, podemos notar a pausa desnecessária entre "depois com... parada cardíaca". Isso indica muita dificuldade de falar sobre o tema e uma forte hesitação. Essa pausa se dá pelo nervosismo, tensão e ansiedade ao tratar sobre esse tema.

Entre 0:35 a 0:39 ele fala: "mas é uma injustiça o que estão falando de mim na... televisão". Ao verbalizar a palavra injustiça, podemos notar que ele gesticula para frente com um gesto ilustrador chamado de "hand chop" tentando demonstrar assertividade, mas sua cabeça se afasta lateralmente. Esse desalinhamento corporal indica fuga devido a incerteza. Há também uma pausa desnecessária antes de falar "na televisão". Essa pausa confirma a incerteza e adiciona ainda mais tensão e nervosismo na frase com hesitação de falar do tema.

Aos 0:42 ele apresenta um momento congruente. Ele fala que é um absurdo o acusarem de não ser médico, e nesse momento ele afasta as mãos, abre o peito e eleva a cabeça. É um cluster gestual com bom coeficiente de sinceridade, pois cria uma maior conexão com os interlocutores. Ele acredita ser médico.

Em 0:43, de forma intrigante, ele realiza mais um cluster gestual de fuga e incerteza: ele gesticula para a sua direita e desvia a cabeça para a esquerda. Isso é falta de alinhamento corporal. Ele sabe que é medico, mas tabe também que não tem especialização para tal procedimento.

Em 0:49, não podemos ver a face superior, mas podemos dizer que ele sente medo devido a contração do platysma.

A partir de 0:57 ele diz que a paciente saiu rígida do consultório. Nesse momento ele demonstra medo novamente e eleva apenas a sobrancelha direita. Essa assimetria facial é conhecida como "skeptical eyebrow" e indica exatamente dúvida e ceticismo no que está falando. Ele não tem certeza em como a paciente saiu do consultório.

A partir de 1:05 ele diz: "(ela) saiu andando, desceu escadas, conversou, riu, conversou com todo mundo que tava lá; conversou inclusive com outra paciente que tava lá". Esse trecho contém muita informação tanto no discurso verbal, quanto no comportamento não-verbal. Primeiramente ele dá excesso de detalhes. De acordo com Mark McClish, o excesso de detalhes é tão ruim quanto a falta deles. O mentiroso usa esse recurso para que acreditem nele. Um discurso honesto deve ter certos detalhes e mesmo assim ser direto e objetivo. Quando a quantidade de detalhes aumenta, devemos ficar atentos. Ele diz que ela "conversou", "riu" e depois cita a ação de conversar novamente. Isso é perda de raciocínio lógico e até uma forma de convencimento por repetição. Logo depois ele diz que a vítima "conversou com todo mundo" e depois diz que "conversou com outra paciente". Isso é quebra de raciocínio lógico. Pensemos: Se ela conversou com todo mundo, a outra paciente já está incluída nessa conversa; ele não precisava citar isso novamente. É redundância no discurso. Discurso desonesto.

Não-verbalmente falando, em 1:05 ele novamente apresenta a elevação da sobrancelha direita apenas e a face de medo. Em 1:09 ele apresenta assimetria facial; reparem que há uma contração mais forte no lado direito da face. Sinal de tensão, nervosismo, ansiedade.

Em 1:12, ao falar que conversou com outra paciente que estava lá, ele gagueja e novamente uma assimetria facial. Tanto a gagueira quando a assimetria são forte indicativos de ansiedade e nervosismo.

A partir de 1:17 ele verbaliza: "Passou oito, ela fez o pagamento às oito horas, nove horas, dez horas, onze horas, e eu falei: Vamos sair... terminamos aqui". Devemos ficar atentos no final do trecho: "vamos sair... terminamos aqui". Nesse momento ele altera a ordem cronológica. Quando uma história é verdadeira, nosso cérebro automaticamente remonta a história em ordem cronológica, exatamente como aconteceu. Quando mentimos ou omitimos uma informação essa ordem não é remontada, pois o fato não aconteceu; isso faz com que o discurso não siga a cronologia que deveria ser a correta. Nesse caso, primeiro ele convite ela para se retirar e depois diz que terminaram. Se esse fato tivesse acontecido, ele respeitaria a ordem cronológica, que seria, primeiro o anúncio de término do procedimento e depois o convite para sair.




Em 1:26, ele realiza novamente um gesto ilustrador chamado de "pinçamento" (indicador e polegar em união). Esse gesto significa explicação minuciosa de algo. Nós temos uma forte conexão muito mais forte entre o cérebro e os membros superiores, do que entre o cérebro e os membros inferiores; por tal motivo, os movimentos com as mãos são muito mais conscientes do que os gestos com os membros inferiores. Podemos concluir, portanto, que os gestos com as mãos podem ser mais simulados, treinados, controlados.

1:27 a 1:31, ele fala "às onze horas da noite, às onze e meia. Ela sentiu-se mal". Há incerteza entre o horário. Quando ele fala que ela sentiu-se mal, suas piscadas aumentam a frequência, sendo indicativo de ansiedade.

Em 1:35, ele ao falar que a paciente Lilian teve uma queda de pressão, engole de forma mais contundente. Isso ocorre porque quando estamos nervosos, nossas cordas vocais se ressecam, ficando mais difícil para engolir - é o chamado "engolir à seco". É um gesto de extrema ansiedade, podendo estar ligado a mentira ou omissão.

A partir de 1:49, Denis diz: "Eu agradeço, portanto, à Deus; agradeço à todos os comentários positivos, de ajuda, que me enviaram. Milhares. Todos os meus amigos médicos, colegas médicos, pacientes queridos, pessoas que me seguem nas redes e que não duvidam do meu trabalho, e que não duvidam da minha integridade... como médico, e como pessoa... e como filho de Deus.". (1) Agradecer à Deus, em primeiro lugar, pode ser uma tentativa de convencer. Usar uma o nome de uma divindade logo no primeiro momento cria uma maior conexão e empatia com o público; (2) Ele verbaliza a palavra "milhares" de forma solta na frase. O correto seria: "Agradeço aos milhares de amigos...". O uso de palavras soltas se dá pelo fato da mente consciente buscar palavras-chaves que indicam, força, convencimento. A falta de conexão dessa palavra com alguma frase indica um discurso completamente consciente e com o intuito de convencer.; (3) Pausa desnecessária entre "integridade" e "médico" e "pessoa" com "filho de Deus". Falta de fluidez no discurso é um forte indicativo de racionalidade excessiva e discurso armado, podendo indicar também descrença no que está falando (4) Ao falar filho de Deus, a voz muda completamente e há um engasgo. Segundo algumas doutrinas, engasgar enquanto fala algo, da forma como tratada nesse contexto, é um indicativo de mentira e nervosismo, pois de acordo com essa doutrina, engasgar é evitar que a mentira saia.

Aos 2:21, podemos notar que há uma assimetria no lado direito da face na região do lábio superior ao falar das pessoas que dizem que ele usa silicone industrial nos procedimentos. De acordo com Paul Ekman, no livro "telling lies", assimetria facial é um indicativo de comportamento desonesto. Logo após podemos notar que suas piscadas aumentam de frequência, aumentando a desonestidade e a ansiedade.

Aos 2:28, ao falar que vai requerer análise e perícia do glúteo (pra provar que não é silicone industrial), ele eleva a sobrancelha direita. Novamente vimos assimetria facial.

Aos 3:12 ele, após confirmar que não usa silicone industrial nos pacientes, o médico afirma "não teria porque que eu arriscasse minha carreira com isso". De acordo com a análise do discurso, essa frase não contém veracidade, pois existe mudança de tempos verbais, não constitui uma negação direta, e o uso do "isso" é um afastamento. O correto seria "Eu não arriscaria a minha carreira comprando silicone industrial". Não-verbalmente podemos observar que, logo em seguida, após negar com a cabeça, ele faz um gesto de afirmação. Nesse caso, o primeiro gesto (negação) é consciente, como uma forma de dar credibilidade a negação verbalizada; o segundo gesto (afirmação) é feito de forma inconsciente, constituindo um vazamento corporal. Devemos confiar sempre no inconsciente, pois o consciente pode ser manipulado.

Aos 3:24, quando ele fala que esse momento é de tristeza para ele, há uma incongruência. Além do médico não demonstrar tristeza, ele não toca no tórax com a mãos espalmada. Esse último gesto é chamado de "full palmar touch" e indica discurso emocional ao referir a si mesmo. No momento em que ele não toca no tórax ao se referir a si mesmo, esse discurso passa a ser racional, podendo indicar, portanto, desonestidade, tendo em vista que o discurso verbal é emocional (momento de tristeza ara ele e para a família).

Em 3:26 ele demonstra uma pausa desnecessária. Processo para ganhar tempo. A mente consciente usa esse recurso para ganhar tempo de resposta e pensar no que vai dizer em seguida. Se essa pausa é feita no meio de um raciocínio, pode indicar mentira.


Sumário: O "Dr. Bumbum" demonstra intensa ansiedade e nervosismo, além de realizar um discurso armado e se perder em vários momentos em sua linha de pensamento. Há também muitas dúvidas do que ele mesmo confirma. E a emoção predominante desse vídeo é o medo.

* ACESSE AQUI para conferir a outra análise não-verbal do Doutor Denis Furtado (Dr. Bumbum). Foi realizada em parceria com o especialista em comunicação não-verbal David Leucas (Facebook, Instagram

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