domingo, 22 de julho de 2018

Análise verbal e não-verbal: Michel Temer fala sobre o assassinato de Marielle Franco



No dia 14 de março de 2018, por volta das 21:30, a Vereadora e militante dos Direitos Humanos Marielle Franco e o motorista Anderson Pedro Mathias Gomes foram assassinados do bairro da Lapa, no Rio de janeiro. A vereadora foi executada com três tiros na cabeça e um no pescoço. O assassinato motivou fortíssimas reações em todo o território nacional e internacional. Diversos protestos ocorreram em todo o Brasil, e a mídia internacional divulgou amplamente o ocorrido.

No dia 15 - um dia após o ocorrido - o Presidente Michel temer se pronunciou acerca do assassinato da vereadora e do motorista. A análise será realizada em relação a esse pronunciamento

Vamos à análise


Aos 0:08, quando Temer fala que o assassinato da Vereadora Marielle e do motorista é inaceitável, ele exibe uma expressão que indica "consideração fingida", nesse contexto existe uma conjugação com desprezo. Essa expressão de "consideração fingida" consiste na projeção dos lábios pre frente, no direcionamento dos cantos da boca para baixo, nos lábios pressionados e no enrugamento do queixo; e o desprezo se dá devido a elevação do lábio superior, no lado esquerdo da face. Outro ponto interessante para ser observado, ainda nesse trecho, é a pausa que o Presidente faz antes de falar "inaceitável". De acordo com estudo de análise do discurso, a pausa é uma forma do cérebro processar a próxima informação que será transmitida.


Aos 0:09 podemos notar no Presidente a expressão de desprezo, devido a contração do Bucinador, em seu lado esquerdo


A partir de 0:13, ao verbalizar "... como todo os demais assassinatos que ocorreram no Rio de Janeiro...", Temer altera seu peso corporal para sua esquerda. Reparem que ele inclina seu corpo para essa direção. Essa alteração indica instabilidade emocional, ansiedade.


Aos 0:43, enquanto Temer fala que a Vereadora Marielle era uma representante popular que fazia manifestações, trabalhos com o objetivo de preservar a paz e tranquilidade do Rio de Janeiro, ele emite um gesto que indica mutismo. Esse gesto é realizado por Temer ao direcionar seus lábios para dentro e pressioná-los. Ele ocorre quando não queremos ou não podemos externar nossos sentimentos, ou nossa opinião.

Aos 0:49, ao falar que decretaram a intervenção (no Rio de Janeiro) para atingir os mesmo objetivos da vereadora (trazer paz e tranquilidade ao Rio), ele inclina sua cabeça para a trás e direita. Esse é um gesto de distanciamento do que está a verbalizar. Logo depois, notem que ele volta à sua cabeça para a posição normal.

Aos 0:58, Temer diz: "Eu quero... não só, éééé, me solidarizar com a família da Marielle, do Anderson Gomes - o seu morotista - me solidarizar com todos aqueles que foram vítimas de violência no Rio de Janeiro, mas salientar que estas quadrilhas organizadas, estas organizações criminosas não matarão o nosso futuro...". Pela observância das técnicas de Análise do Discurso podemos notar várias incongruências nesse argumento. 1º) A posição da expressão "não só", falada antes do verbo "solidarizar" indica uma negativa ao ato de se solidarizar. A real intenção do Presidente ao verbalizar esse trecho é passar a ideia de que ele quer se solidarizar, não exclusivamente, com a família da Marielle e do motorista, mas com todas as vítimas do Rio. Para que essa ideia seja transmitida de forma correta, ele deveria usar a expressão "não só" após o verbo "solidarizar (Eu quero me solidarizar não só com a família...); 2º) A pausa entre "eu quero" e "não só". Como dito anteriormente, a pausa é um recurso em que o cérebro ganha tempo para pensar em uma resposta. Se o desejo fosse realmente esse, o cérebro não precisaria desse recurso; 3º) O uso de agregadores (éééé). Tem a mesma função da pausa; 4º) Ausência de conjunção antes da frase "me solidarizar com todos aqueles que foram vítimas...". Tendo em vista que Temer já citou a vontade de solidarizar com a família das vítimas do caso, ele deveria usar uma conjunção para ligar as duas intenção de solidarização; 5º) Uso do "mas". Essa preposição exclui a importância de todas as frases prévias à preposição, direcionando a importância exclusivamente para as frases após o "mas". Ou seja, para Temer é muito mais importante citar que as quadrilhas organizadas não matarão nosso futuro. O que ele falou antes do "mas" (Eu quero... Rio de Janeiro) não tem importância para ele, a citação desse trecho de seu apenas por protocolo.

Ainda no trecho marcado no parágrafo anterior, podemos citar alguns detalhes não-verbais. Durante a primeira pausa ("Eu quero... não só...) ele aponta o dedo. Esse gesto é considerado gesto de batuta (usado para reger a fala), ele denota uma agressividade considerável. No trecho em que ele faz esse movimento com o dedo apontado, Temer está fazendo um discurso aonde ele fala da morte da vereadora, do motorista e de outras vítimas, portanto, nesse momento deveria estar ausente qualquer tipo de gesto que denote agressividade. A comunicação não-verbal está incongruente com a intenção que deveria ser transmitida. Logo depois ele esfrega suas mãos com pouca velocidade; de acordo com Alexandre Monteiro e outros especialistas, o ato de esfregar as mãos com pouca velocidade, significa que o único beneficiário do que está verbalizando é o próprio agente do movimento. Ou seja, o que Temer está falando pode trazer benefício apenas a ele.


Em 1:18, ao falar "essas organizações criminosas não matarão nosso futuro", Temer realizar um gesto emblemático (gesto cuja sua significação é reconhecida em um determinado país, região ou no mundo inteiro) de negação (o dedo esticado se movimentando de um lado para outro), porém sua cabeça se movimenta para o lado oposto do gesto. Há, portanto, um forte indício de mentira


Em 1:44, Temer demonstra novamente o mutismo ao falar que eles querem solucionar as investigações de assassinato no menor prazo possível.

A partir de 1:46, Temer diz: "não destruirão o nosso futuro; nós destruiremos o banditismo antes.". De acordo com a análise do discurso, existe uma incongruência. Ele começa afirmando que "não destruirão o nosso futuro"; essa frase indica a certeza de que o nosso futuro não será destruído. A frase a seguir afirma que o banditismo será destruído antes. O uso do advérbio de tempo "antes" indica que existe uma possibilidade do banditismo destruir o futuro, mas que eles serão destruídos antes. Nesse momento, Temer reconhece que o futuro pode sim ser destruído.

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