domingo, 26 de agosto de 2018

Análise não-verbal: Figurinista Su Tomani falando sobre o assédio que sofreu e o porquê de não ter denunciado. OAB-RJ


A ex-figurinista da Rede Globo, Su Tonani, foi assediada em fevereiro de 2017 pelo ator José Mayer. Logo esse assédio ganhou a mídia causando a demissão do ator, da emissora. José Mayer, na ocasião divulgou uma nota aonde confirma o assédio e se justifica.
A ex-figurinista não tinha vindo à mídia para falar sobre o ocorrido, até que no dia 14 de agosto de 2018, Su Tonani foi convidada a palestrar na OAB do Rio de Janeiro aonde, pela primeira vez, pode falar sobre o assédio que sofreu. Nessa mesma ocasião perguntas foram feitas relacionadas à esse ocorrido.
Essa palestra contou com outras palestrantes como: Flávia Pinto Ribeiro, advogada e secretária da Comissão da Verdade da Escravidão Negra da OAB/RJ (Cevenb); Alessandra Wanderley, advogada e coordenadora de Prerrogativas no Âmbito Militar na Comissão de Prerrogativas da OAB/RJ; Gabriela Moreira, repórter da ESPN (da campanha Deixa Ela Trabalhar).

Vamos à análise [parcial]:

A jornalista pergunta se a figurinista se sentiu pressionada, ou alguma coisa a fez, não ir adiante na denúncia e complementa perguntando como o mercado a recebeu depois dela não ter ido adiante.

Em 0:49 a 0:52, Su Tonani responde que não foi prejudicada profissionalmente. Sua linguagem corporal é incongruente, pois no final dessa afirmativa ela sinaliza sim com a cabeça. Quando existe uma disparidade entre a linguagem verbal e a não-verbal, devemos sempre nos inclinar para a linguagem não-verbal

Em 0:56, Su Tonani continua: "Se algum momento eu pensei em entrar com um processo e ir pras vias jurídicas... jurídica... eu fui extremamente inibida por um delegado que me perseguiu logo após a minha denúncia, e me intimou cinco vezes no meu....no meu... endereço residencial com dois policiais querendo me forçar a depor na delegacia dele..."
Enquanto fala, "jurídicas" sua voz fica trêmula e realiza um gesto descoordenado com os braços.
Esse conjunto significa nervosismo e ansiedade ao tratar do tema ou da possibilidade de entrar na justiça contra José Mayer.

Ao falar que foi inibida por um delegado, em 1:08, ela realiza um gesto de distanciamento com a cabeça junto com um assentimento mecânico. Esse conjunto gestual indica um desejo de se afastar do delegado e uma tentativa de convencimento, que pode ser em relação a inibição.
A palavra "inibição" significa "desencorajar", "ficar impedida". Se analisarmos esse discurso, vamos perceber que o uso dessa palavra não tem um sentido lógico, isso porque, o desejo do delegado ao intimá-la é inversamente proporcional ao ato de inibi-la.
Quebra do sentido lógico é sinal de omissão ou dissimulação

Em 1:12, ao falar que foi intimada cinco vezes ela olha horizontalmente para a esquerda. De acordo com a PNL (Programação Neuro-Linguística) o direcionamento do olhar para esse sentido pode indicar um estímulo auditivo lembrado pelo agente. Pode ser uma fala, um grito, etc.

Ao verbalizar que foram "cinco vezes" ela realiza um gesto de inclinar a cabeça para a esquerda. Esse gesto chamado de "Head Tilt" podendo estar ligado à incerteza por ser um gesto incomum nesse contexto. Em sua face podemos notar uma expressão de nojo pelo levantamento do lábio superior.
Desse conjunto gestual podemos concluir que houve intimação, mas há incerteza quanto à quantidade.
Uma coisa interessante de comentarmos é que a emoção de nojo nos causa repulsa, e essa repulsa, repugnância faz com que nos afastamos do objeto que nos causa essa emoção; esse afastamento pode se dar com a cabeça e/ou com o corpo. Nesse caso, podemos observar que a figurinista ao emitir o nojo não se afasta. Não existe uma inclinação para trás.
Podemos concluir que o nojo não é sentido como Su Tonani deseja demonstrar.

Logo depois em 1:15 o direcionamento do olhar muda para o sentido horizontal à direita. Nesse caso, esse movimento indica um estímulo auditivo que está sendo criado pela figurinista. Podemos reparar também que há um aumento das pálpebras superiores indicando uma expressão de medo.
Ela pode ter criado, por exemplo, alguma fala do delegado ou de outra pessoa.

Em 1:16 a 1:18 ao falar que as intimações se deram em seu endereço residencial, a figurinista Su Tonani gagueja e realiza pausas desnecessárias. Indica nervosismo e tensão. Nesse contexto, existe uma probabilidade de incerteza por parte da figurinista. Essa incerteza está ligada diretamente a incerteza quanto todas as cinco intimações terem acontecido em seu apartamento.
Lembrando que não exclui a possibilidade de terem havido menos de cinco intimações. A incerteza é pontual em relação às cinco.

Ao final da afirmação ela direciona seu olhar para cima e esquerda. Esse movimento ocular está ligado à uma lembrança visual. Essa lembrança pode ser do que ela presenciou.
Podemos notar que novamente há um aumento das pálpebras superiores, indicando a emoção de medo.

Em 1:19 - 1:20, logo depois de acessar a uma lembrança visual, a figurinista fala que tinham dois policiais.
Ela pressiona os olhos, havendo o estreitamento da abertura das pálpebras; e logo em seguida, inclina a cabeça e o corpo para a esquerda e simultaneamente com um assentimento com a cabeça.
Essa pressão no olhos pode indicar necessidade de avaliação (Alexandre Monteiro), foco interno, esforço cognitivo (Luiz Júnior - especialista em PNL). Indica a necessidade de complementar alguma memória, ou enxergar melhor a situação
Os movimentos de inclinação com a cabeça e com o corpo, nesse caso, nos indicam um estado emocional alfa, assertividade, confiança.
A união desses itens demonstra que de fato existiram dois policiais, mas não necessariamente estavam presentes na mesma cena.

Em 1:21 ao falar que o delegado queria forçá-la a depor na delegacia dele, o olhar se direciona horizontalmente para a direita, indicando novamente que a agente está criando um estímulo auditivo, e não lembrando de um.
Há um aumento das pálpebras superiores indicando uma expressão de medo.
Podemos concluir deste trecho que a agente está criando auditivamente um estímulo dela sendo forçada a depor, mas a intimação para que ela depusesse pode ter lhe causado medo.

Durante a palavra "forçar" ela realiza um gesto de fechar os olhos e elevar as sobrancelhas. Esse movimento é considerado atípico, pelo fato de que as ações são realizadas em sentidos opostos.
O gesto de fechar os olhos é feito para baixo (as pálpebras se fecham) e o gesto de erguer as sobrancelhas é feito para cima.
Esse gesto por ter movimentos com direcionamentos divergentes não é natural de ser realizado, significa condescendência, arrogância. Pode existir incerteza no gesto pela divergência e falta de naturalidade no direcionamento dos movimentos dos olhos e das sobrancelhas.

A partir de 1:25, Su Tonani fala: "Eu tive que ir até a... Defensoria pública que emitiu um ofício dizendo que caso eu fosse entrar com uma ação eu iria até uma Delegacia da Mulher para poder fazer isso".
Há congruência entre o verbal e o não-verbal e há uma pausa desnecessária, que nesse caso, se dá pelo fato de não ter lembrado imediatamente o nome do órgão público.
Esse fato, realmente ocorreu.

Em 1:39 ao dizer que o delegado, imediatamente jogou esse ofício na mídia, ela gesticula de forma descoordenada com a mão direita. Isso mostra nervoso e tensão devido a liberação de hormônios como o cortisol e adrenalina na corrente sanguínea
Ela se refere ao delegado como "esse cara". Essa substituição é chamada, pela análise do discurso de "linguagem de distanciamento". Há um desejo de se afastar da figura do delegado por não gostar, não concordar ou não aceitar atos realizados por ele. A "linguagem de distanciamento" também é usada quando queremos omitir informações ou quando estamos à mentir

Em 1:46 a figurinista Su Tonani fala que "esse cara" (o delegado) ficou distorcendo, distorcendo, distorcendo, e mudando o foco.
Ao verbalizar a palavra "distorcendo" podemos notar que ela eleva o ombro direito. Esse gesto chamado de "Shoulder Shrug" indica incerteza no que está dizendo devido a um conflito cognitivo entre o que sabe que é verdade e o que está sendo verbalizado. A repetição da palavra confirma essa incerteza e há um desejo de convencimento por repetição.

Em 2:05 ao falar "judiciário machista" ela realiza um gesto mais contundente com a cabeça. Esse gesto é descoordenado e em ritmo diferente da fala. Entendemos isso como uma incongruência entre a paralinguagem e a linguagem do corpo.
Nesse momento podem ter ocorrido três coisas:
1) Ela tá usando de "generalização". De acordo com a PNL a "generalização" ocorre quando uma experiência específica ou o que se acredita, passa a representar todas as experiências a que pertence. Nesse caso, temos que perguntar: "Baseado em que ela afirma que o judiciário é machista?". Teoricamente ela só descobriria se o judiciário é machista se o acionasse;
2) Ela pode estar vivenciando um auto-engano. Sabe que nem todo judiciário é machista, mas se força a acreditar nisso, mesmo sem acreditar de fato.
3) Ela está sendo desonesta com o que realmente acredita e quer passar a ideia de que o judiciário é machista.

Em 2:21, Su Tonani diz: "Acho que é muito difícil pra mim foi... assim, né?... tomar a decisão de... para... para ir a público... foi o que eu na época julguei que seria... melhor socialmente falando..."
Existe mudança de tempos verbais; uso da palavra "acho" e "né?" (por si só, indicam dúvida); pausas desnecessárias. Esses três elementos indicam que o discurso possui omissões.
Ela não deixa claro o motivo de ser difícil e prefere omiti-lo.

Ainda durante o discurso, em 2:26 ela realiza um gesto pacificador na mesa como se ela tivesse catando alguma sujeita, ou algum pelo na mesa. Nesse momento ela está experimentando um momento de ansiedade e deseja se acalmar.



Em 2:37, a figurinista Su Tonani diz: "Uma pessoa famosa talvez ela merecia um julgamento público"
O uso da palavra "talvez" indica dúvida em relação a esse merecimento.
Ao falar "julgamento público", em 2:40, a figurinista movimenta a cabeça para a esquerda enquanto gesticula para a direita (foto acima). Esse movimento inverso no sentido do movimento corporal indica dúvida, incerteza.
Podemos notar que seu tom de voz fica mais agudo. Esse aumento do "pitch" vocal indica ansiedade, e como existem gesto ligados à incerteza. Essa voz mais aguda acaba por confirmar a incerteza.

Em 2:45, após terminar o seu discurso e a plateia responder com palmas, Su Tonani abaixa a cabeça, aumenta o contato ocular com a plateia e realiza um sorriso com um misto de satisfação e desprezo.
O aumento do contato ocular é chamado por Aldert Vrij de "Deliberate Gaze". Ele é projetado quando o agente quer aprovação para o que acabou de falar.
O sorriso de desprezo com satisfação é chamado por Paul Ekman de "Duping Delight", ele ocorre quando o agente percebe que foi bem sucedido no que acabou de dizer ou manipular.


Aos 2:46, a figurinista realiza uma piscada com um olho só (olho direito). De acordo com o antropólogo Desmond Morris, esse gesto significa conluio, conivência. Nesse contexto, a figurinista Su Tonani está recebendo um feedback positivo pelos aplausos recebidos. É um recurso para criar conexão com a audiência.
Podemos notar que existe um sorriso unilateral pela contração do bucinador em seu lado direito, indicando desprezo.

SUMÁRIO: O discurso da figurinista Su Tonani apresenta congruências e incongruências.
A figurinista não é honesta ao dizer que não foi prejudicada profissionalmente pelo acontecido. O prejuízo profissional aconteceu.
De fato ela foi intimada por um delegado através de um agente policial, mas em nenhum momento esse fato foi o motivo decisivo para que ela não denunciasse o ator juridicamente. Existem omissões em relação ao real motivo.
Ao final do vídeo ela confirma as omissões e incongruências através do "Duping Delight" e do "Deliberate Gaze".
Há uma alta possibilidade de que a figurinista esteja em um auto-engano em relação a "inibição" do delegado e ao fato deste "forçar" sua denúncia.
Não podemos deixar de salientar que a figurinista Su Tonani foi, de fato, assediada em seu local de trabalho.
Assédio é crime e os assediadores devem ser denunciados!

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