sábado, 6 de abril de 2019

Análise não-verbal: Menina pede desculpas após praticar ofensas com funcionário do Bob's. Desculpas verdadeiras?

Recentemente duas meninas, identificadas como Júlia Rodrigues e Thaís Araújo, verbalizaram ofensas contra um funcionário da rede de FastFood Bob's.
As meninas elas estavam em uma das franquias do restaurante, um dos funcionários, chamado Pedro estava limpando o chão. Enquanto isso acontecia, elas proferiam palavras ofensivas e agressivas contra tal funcionário.
Após esse episódio as meninas receberam duras críticas dos internautas, as acusando de racismo e injuria racial.
Júlia Rodrigues veio à público e gravou um vídeo se desculpando pelo ocorrido. Será que seu pedido de desculpas foi verdadeiro?

Vamos à análise:

Em 0:04, podemos ver em Júlia a contração do músculo do corrugador, localizado entre as sobrancelhas, responsável pelo abaixamento das mesmas.
Essa contração muscular indica tensão, nervosismo e dificuldade de falar sobre o assunto.
Notamos também uma contração no músculo do bucinador, na extremidade esquerda do lábio, indicando a emoção de desprezo
Um segundo depois, enquanto diz que até então não havia falado nada em relação ao ocorrido, Júlia realiza um leve afastamento de cabeça para trás
Esse gesto indica um desejo de fugir do fato.

Em 0:07 novamente vemos a contração no bucinador. Novamente há desprezo.

Em 0:09, podemos ver a contração do corrugador juntamente com a elevação da parte interna das sobrancelhas e a queda dos cantos dos lábios. Essas ações musculares indicam a emoção de tristeza.

Em 0:13 - 0:14, ao afirmar que as pessoas estão falando coisas que não aconteceram, ela realiza um gesto com a cabeça de forma descoordenada. Notem que o ritmo vocal é diferente do ritmo corporal. Essa disparidade rítmica indica ansiedade e nervosismo com um alto coeficiente de desonestidade.

Em 0:29, ela realiza uma engolida em seco logo depois de dizer "Eu sei que isso não foi certo"
Isso acontece porque, devido a liberação de hormônios ligados ao estresse e tensão a garganta seca e precisa de lubrificação.
Podemos afirmar que nesse momento, Júlia está experimentando ansiedade.
A pergunta que devemos fazer é: Por que Júlia estaria ansiosa e tensa ao dizer que o que fez não foi correto?

Em 0:33 existe uma contração assimétrica no músculo do bucinador, responsável pela retração dos lábios e estreitamento das comissuras. Essas ações musculares indicam a emoção de desprezo.

A partir de 0:34, Júlia diz: "Eu queria pedir desculpas ao menino do vídeo, aos... aos familiares. Inclusive eu já falei com ele; eu já pedi desculpa"
Primeiro vamos analisar esse trecho sob o prisma da Análise do Discurso. Júlia utiliza o verbo "querer" no futuro do pretérito indicando uma incerteza. O correto seria verbalizá-lo no presente do indicativo, tendo em vista que é um desejo atual.
Júlia se refere à vitima como "menino". O uso do substantivo "menino" ao invés do nome da vítima despersonaliza e indica um afastamento.
Há também quebra de raciocínio lógico. Júlia começa dizendo que "queria pedir desculpas", depois ela diz que "já pediu desculpas". Como pode alguém querer pedir desculpas, já tendo pedido anteriormente? 
No âmbito da comunicação não-verbal, ao dizer "Eu queria pedir desculpa ao menino do vídeo", durante a verbalização da palavra "pedir", Júlia ao piscar os olhos os mantêm fechados por uma fração de milésimos além do normal. Consideramos isso um "Eye Shielding" (desejo de não ver o que está dizendo)
No momento em que diz: "aos familiares", ela eleva sutilmente o ombro esquerdo (foto acima), indicando falta de confiança e insegurança em suas palavras.
Todos esses sinais verbais e não-verbais, em conjunto, indicam que não houve esse pedido de desculpas e não existe essa intenção.

No final do trecho, em 0:40, Júlia ao terminar a afirmação pressiona levemente os seus lábios. De acordo com a doutrina de comunicação não-verbal, pressionar os lábios ao terminar qualquer afirmação indica insegurança em suas palavras.
Há um desejo inconsciente de não ter dito o que disse

A partir de 0:41, Júlia diz: "Eee... queria dizer queee... realmente eu errei"
Notamos nesse trecho um distúrbio da fala, estudado na Paralinguagem, que é o prolongamento verbal. Ela prolonga a conjunção "e" e a conjunção "que". Esse tipo de distúrbio indica a intenção de ganhar tempo para que o cérebro pense no que dizer em seguida. Esse recurso é muito comum em um contexto de desonestidade.
Há também a ausência do pronome "eu" quando diz "queria dizer que". Essa falta do pronome nos mostra que ela não quis assumir sua culpa. Júlia, literalmente está se omitindo
De acordo com estudos de Análise do discurso, a palavra "realmente" é chamada de potenciadora, e tem a intenção de adicionar ênfase com o objetivo de persuadir. Podemos notar que o uso dessa palavra se faz completamente desnecessária para que se entenda o contexto. Geralmente quando ocorre essa falta de necessidade, existe uma intenção de convencimento.
Ao final desse trecho, vemos a contração do bucinador, responsável pela emoção de desprezo (foto acima)

Em 0:47, mais uma vez notamos a contração do bucinador, no lado esquerdo do canto da boca. Desprezo

Em 0:54 - 0:55, Júlia diz: "Eu não sou racista... Eu queria dizer que eu não sou racista porque... eu tenho vários amigos negros"
Ao dizer "eu não sou racista", Júlia projeta sua cabeça para frente a aumenta o contato ocular direto. Esses dois gestos indicam uma tentativa de convencimento do que está falando. Logo após existe uma pausa como uma forma de pensar no que falará em seguida. Esse conjunto é comum em declarações racionais
Em seguida, Júlia novamente utiliza o verbo "querer" no tempo verbal incorreto. O certo seria o verbo no Presente no indicativo, e não no Futuro do Pretérito. Aqui a intenção é atual e não deveria ser uma mera possibilidade e incerteza
Antes de dizer que o motivo de não ser racista se dá por ter vários amigos negros, Júlia projeta sua língua para fora, em um gesto chamado de "Tongue Jut". Esse movimento de língua indica, segundo Joe Navarro, uma intenção de escapar ileso do mal causado. Como se o corpo comunicasse: "Eu quero escapar ileso".


SUMÁRIO: O pedido de desculpas é um ato submisso ("Eu me submeto a você, pois eu errei"). No vídeo não vemos em nenhum momento uma linguagem corporal submissa. Pelo contrário; Júlia emite, em vários momentos a emoção de desprezo, que indica superioridade intelectual e/ou física em relação a uma pessoa, a um evento ou a uma forma de pensar.
Os elementos paralinguísticos e da análise de declaração adicionam uma racionalidade ao discurso; o que também é contrário ao contexto de um pedido de desculpas. Além da submissão, o pedido de desculpas deve ser completamente emocional.
Podemos concluir, portanto, que o pedido de desculpas de Júlia é falso. Não existe qualquer intenção nesse aspecto.
A agente não acredita que tenha errado em suas atitudes.
As emoções negativas, como a tristeza, são devidas às criticas que sofreu, e não ao ato realizado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.