quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Análise não-verbal: O Governador Wilson Witzel e o suposto vazamento de informações. Witzel X Bolsonaro. Caso Marielle Franco.

Recentemente, o Governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel e o Presidente Jair Bolsonaro se desentenderam.
Aconteceu que, o Presidente afirmou, em vídeo, que o Governador vazou informações sigilosas sobre o caso Marielle Franco, envolvendo seu nome.
Segundo o Presidente, Wilson Witzel teria divulgado informações, à mídia, de que o porteiro do prédio em que morava Jair Bolsonaro teria liberado a entrada de Élcio de Queiroz, um dos principais suspeitos do assassinato de Marielle Franco. Ainda segundo o Presidente, durante um evento, o Governador teria passado essa informação sigilosa para ele.
O Presidente afirma perseguição por parte do Governador. E o Governador alega mentira por parte do Presidente.
Vamos analisar a comunicação não-verbal do Governador Wilson Witzel. Será que ele realmente vazou informações sigilosas, ou não?

"Este presente artigo não tem como objetivo manter ou defender uma posição política. A análise é feita, exclusivamente, com base em ciências comportamentais e tem a única finalidade de instruir."

Vamos á análise:

Em 0:07, o Governador começa dizendo: "Jamais vazei qualquer tipo de informação... seja como magistrado, seja como Governador"
De acordo com estudos de Análise de Declaração, a palavra "jamais" não indica negação. Segundo Mark McClish, "jamais" se refere a um discurso aberto, vago em relação ao tempo. Denota, portanto, inespecificidade temporal.
Tendo em vista que, o contexto denota um evento específico (declaração específica de vazamento), podemos dizer que o agente teve a intenção de espalhar a resposta em relação ao tempo, procurando fugir do evento específico.

A partir de 0:11, podemos notar um aumento das piscadas de Wilson Witzel. Esse aumento está ligado à ansiedade e nervosismo.

A partir de 0:13, o Governador diz: "Eu...(sss)... lamento que o Presidente... tenha, no momento, talvez, de descontrole emocional. No momento em que, ele está em uma viagem; não está... talvez no seu estado normal, tenha feito acusações contra a minha atividade como Governador..."
No começo desse trecho vemos um distúrbio da fala chamado de "Inferência de Som Incoerente" - acontece quando o agente vocaliza um som sem sentido no meio do discurso. Esse distúrbio é representado pelo "sss". Quando acontece, significa que o agente pode estar querendo tempo para pensar no que dizer, ou omitindo informação. Além desse, vemos outro distúrbio da fala, que é a pausa desnecessária em alguns momentos do trecho.
Esses dois distúrbios da fala, combinados, fortalecem o indício de que o a gente não sabe o que dizer e todo esse discurso é completamente racional.
Ao dizer "no momento", vemos uma elevação unilateral da sobrancelha direita (foto acima). Essa assimetria é chamada de "Skeptical Eyebrow", e indica dúvida, ceticismo.
Esse sinal não-verbal confirma que ele tem dúvidas de que o Presidente citou o Governador em um momento de descontrole emocional.
Vemos aqui, também, uma incongruência verbal e não-verbal: O Governador está fugindo completamente do padrão verbal e não-verbal, para esse contexto. O raciocínio que devemos ter é o seguinte: no caso concreto, Witzel foi acusado pelo Bolsonaro de divulgar informações sigilosas - o que constitui crime. Seu padrão comportamental deveria ser de emoções como raiva, que tem como gatilho a injustiça (De acordo com Paul Ekman, quando nos sentimos injustiçados, como padrão comportamental, exprimimos a emoção de raiva); o que não é apresentado. Além disso, em seu discurso, o Governador deveria usar palavras mais fortes para exprimir a, suposta, injustiça; ao invés disso, ele apenas diz que o Presidente, talvez, estivesse em um momento de descontrole emocional.
Podemos concluir com base em todos esses sinais que existem desonestidades nesse trecho.

A partir de 0:37, o Governador diz: "Não manipulo o Ministério Público, não manipulo a Polícia Civil..."
De acordo com estudos de Análise de Declaração. Um discurso valioso deve ter em sua estrutura, o pronome e o complemento. No contexto, para haver um discurso mais crível, Witzel deveria ter falado "EU não manipulo o Ministério Público, EU não manipulo a Polícia Civil". Segundo McClish, a ausência do pronome, pode indicar fuga, no sentido de, incapacidade de se associar (ou dissociar) a determinado fato.
Além da ausência de pronome, notamos um erro no uso do tempo verbal. No contexto, o Governador está falando de um fato que aconteceu no passado (acusação de manipulação feita em algum momento do passado), nesse caso, Witzel deveria ter usado o verbo conjugado no Pretérito Perfeito ("EU não MANIPULEI").
Esse erro no tempo verbal, nesse contexto, não significa desonestidade. Aqui, de fato, ele está sendo sincero e honesto - no presente, ele não manipula, mas não significa que no passado ele não manipulou. Esse uso indevido do tempo verbal indica fuga.
Em relação a comunicação não-verbal, podemos notar um aumento repentino no número de piscadas. Indicio de ansiedade e estresse.
Em resumo: Wilson Witzel, no tempo presente, não manipula nem o Ministério Público e nem a Polícia Civil, mas não significa que no passado, relacionado ao contexto, ele não tenha precisado realizar essa manipulação e esteja disposto a realizar novamente.

A partir de 0:48, o Governador afirma: "No meu governo, a Polícia Civil tem independência, o Ministério Público tem, e sempre terá, independência"
Ao dizer que o "Ministério Público sempre terá" independência, ele eleva assimetricamente a sobrancelha direita. Novamente vemos um indicativo de dúvida em relação ao que está falando.
Ele não pode afirmar se essa independência sempre acontecerá.

A partir de 1:01, o Governador Wilson Witzel diz: "Sequer tive acesso a documentos que constam dessa investigação"
Ao dizer "acesso" nos vemos um movimento exagerado de verbalização. Reparem na abertura da boca e no esforço para dizer essa palavra.
De acordo com o especialista Jack Brown, movimento exagerado de verbalização indica um estado de dominância. O agente que realiza o movimento acredita que ele é o dominante do ambiente.
O movimento exagerado de verbalização, por ser um movimento não-natural (ou seja, os seres humanos não o realizam de forma orgânica) e por transmitir esse estado alfa, pode indicar uma tentativa de convencimento e/ou o agente sabe que não conseguirão provar nada ao contrário do que ele espera.

A partir de 1:05, o Governador diz: "... e se esse documento vazou, como foi apresentado ontem em uma emissora de televisão, que a Polícia Federal investigue..."
Aqui, o Governador verbaliza uma frase usando uma forma condicional ao referindo a algo que é um fato.
É sabido que o vazamento às informações é um fato - realmente o vazamento aconteceu. Witzel inicia esse trecho dizendo "se esse documento vazou".
De acordo com estudos de Statement Analysis (Análise de Declaração), essa incongruência argumentativa pode indicar uma fuga a despeito do que aconteceu. Trazendo pro contexto, Witzel deseja negar, para si mesmo, que o vazamento realmente aconteceu, e pra isso ele usa o "e se..." para tentar suavizar que esse fato tenha acontecido - tendo em vista que a forma condicional exprime uma dúvida, incerteza; e não, um fato.

Em 1:22, acontece um movimento involuntário e assimétrico na sobrancelha direita do Governador. Reparem que nesse momento, a sobrancelha direita de Witzel se eleva, enquanto a sobrancelha esquerda permanece no mesmo nível.
A doutrina de Comunicação Não-Verbal diz que esse movimento é chamado de "Skeptical Eyebrow" e exprime dúvida e incredulidade em relação ao que está verbalizando.

Em 1:33, Witzel diz: "Desafio quem quer que seja a provar que eu vazei qualquer tipo de documento"
Nesse trecho, o Governador adota uma linguagem dissociativa, indicando fuga.
Aqui ele diz que desafia a provarem que ele vazou qualquer tipo de DOCUMENTO. A polêmica que recai sobre ele é em relação ao vazamento de INFORMAÇÃO e não de DOCUMENTO.
Segundo Mark McClish quando usamos uma palavra diferente daquele conduzida pelo contexto, estamos fugindo de nos referirmos à real questão.

De acordo com a sequência da matéria jornalística, a partir de 1:48 o Governador deveria responder sobre o fato dele ter conversado com o Presidente Jair Bolsonaro, em um evento sobre essas informações sigilosas.
Vemos nos trechos seguintes que o Governador usou um recurso paralinguístico chamado de "Deflexão", que consiste em responder uma pergunta simples de forma prolixa e muitas vezes completamente diferente do que foi perguntado. Aqui, pergunta-se A e responde-se B.
A intenção da "Deflexão" é enrolar os interlocutores afim de evitar responder aquela pergunta; quer seja por não saber o que dizer, quer seja por não querer responder, evitando ser expressamente desonesto.

A partir de 2:04, Witzel diz: "Eu não vazei nenhum tipo de informação..."
Aqui apresenta-se um trecho ao qual devemos prestar muita atenção.
Ao verbalizar a palavra "nenhum" notamos uma sutil elevação em seu ombro esquerdo (o vídeo acima representando, em loop e câmera lenta esse movimento com os ombro esquerdo). De acordo com Joe Navarro, esse movimento unilateral de um dos ombros é chamado de "Shoulder Shrug" e pode indicar falta de comprometimento emocional do agente, ou insegurança. Em ambos os casos o indício de desonestidade sobre o que está falando é muito alto. Existe um conflito entre a verdade, que está pronta no cérebro e a mentira que está sendo verbalizada; essa dissonância acaba por resultar nesse movimento unilateral.

A partir de 2:07 o Governador diz: "Eu... não tenho nenhuma responsabilidade sobre o que está acontecendo na imprensa..."
Nesse trecho podemos perceber um aumento no número de piscadas do Governador Wilson Witzel. Esse aumento repentino é um sinal de ansiedade e nervosismo.
Além disso, podemos ver uma pausa maior entre as verbalizações de "Eu" e "não tenho...". Essa pausa desnecessária indica que o cérebro precisa ganhar tempo para pensar o que vai falar em seguida. Esse elemento paralinguístico tira completamente a naturalidade e fluidez do discurso.

Durante todo o vídeo existem algumas expressões de medo, formadas principalmente pela contração do músculo do risorius, promovendo o estiramento horizontal dos lábios
A foto acima representa apenas um exemplo dessa expressão. No caso dela, podemos ver também uma sutil elevação das pálpebras superiores.


SUMÁRIO: O Governador Wilson Witzel apresenta sinais de ansiedade e nervosismo ao tratar do tema. Além disso, podemos notar expressões de medo em alguns momentos do vídeo.
Sua linguagem verbal denota intenções de fuga, a respeito do fato; e algumas incongruências em relação ao padrão do que se espera
No momento mais crucial, quando ele diz que não vazou nenhum tipo de informação, notamos uma sutil incongruência, podendo indicar desonestidade. Porém não podemos confirmar se esse vazamento se deu de forma direta ou indireta

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