quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Análise do discurso: Bispo Charles H. Ellis III pede desculpas a Ariana Grande pelo ocorrido no funeral de Aretha Franklin.

No dia 31 de agosto, o bispo Charles H. Ellis III, foi criticado amplamente por ter tocado na cantora Ariana Grande próximo ao seu seio direito, enquanto estavam na cerimônia do funeral da cantora americana Aretha Franklin (link da análise não-verbal).
Após a repercussão mundial do fato, o bispo veio à público para se desculpar com a cantora e com todos que se manifestaram negativamente.

Discurso:

"It would never be my intention to touch any woman's breast. I don't know, i guess i put my arm around her. 
I hug all... all the female artist, everybody that was up. I shook there hands and hug them and that's what we're all about in the church. We're all about love. And again, maybe i crossed the border or maybe i was to friendly or familiar, but again i apologize.
I, certainly, want to apologize to Ariana and to her fans, and to her family and to her entire community, if what i said was taken the wrong way and, listen, maybe it's just a joke that went bad, but when you're doing a programme for nine yours, you know, you're trying to keep it lively, you're trying to make some funny references and what have you. I love everybody. And i certainly hope that she will forgive me, and the last thing i want to do is to be a distraction for miss Aretha Franklin, the queen of soul. This is all about her, it's not about me; and i am so sorry"

Tradução:

"Nunca seria minha intenção tocar o peito de qualquer mulher. Eu não sei, eu acho que coloquei meu braço em volta dela.

Eu abraço toda ... toda artista feminina, todo mundo que estava em cima do palco. Eu apertei as mãos e as abracei e é isso que nós somos na igreja. Nós somos todos sobre amor. E de novo, talvez eu tenha cruzado a fronteira ou talvez tenha sido amigável ou familiar, mas de novo peço desculpas. Eu, certamente, quero pedir desculpas a Ariana e aos seus fãs, e à sua família e toda a sua comunidade. Se o que eu disse foi levado ao caminho errado e, veja bem, talvez seja apenas uma piada que deu errado, mas quando você está exercendo uma atividade por nove anos, você sabe, você está tentando mantê-la cheia de energia, você está tentando fazer algumas referências engraçadas e o que você tem. Eu amo todo mundo. E eu certamente espero que ela me perdoe, e a última coisa que quero fazer é tirar o foco da senhorita Aretha Franklin, a rainha do Soul. Isso é tudo por ela, não é sobre mim; e eu sinto muito."

Análise:


"Nunca seria minha intenção tocar o peito de qualquer mulher. Eu não sei, eu acho que coloquei meu braço em volta dela.


I - De acordo com estudos de Statement Analysis, a palavra "nunca" não é uma negação. Quando o discurso se refere a um evento específico que aconteceu, o uso da palavra "nunca" indica um discurso vago. Estatisticamente, um mentiroso usa essa palavra para negar um fato de que foi culpado.

O correto é falar: "Eu não tive a intenção de..."

II - Uso do tempo verbal incorreto. Tendo em vista que o fato aconteceu, o verbo utilizado teria que ser o pretérito perfeito, e não o futuro do pretérito, usado pelo bispo em seu discurso.

Uso do tempo verbal incorreto indica desonestidade.

III - O uso da frase "qualquer mulher" indica distanciamento, tendo em vista que o fato aconteceu com uma mulher em específico e não "qualquer mulher"


IV - "Eu não sei, eu acho..." indica incerteza.

Tendo em vista que o bispo estava presente na cena e foi o agente da ação de colocar o braço em volta da cantora, essa incerteza indica mentira no discurso e um desejo de fugir do que aconteceu. Ele não quer assumir o que fez.

Eu abraço toda ... toda artista feminina, todo mundo que estava presente. Eu apertei as mãos e as abracei e é isso que nós somos na igreja. Nós somos todos amor.


I - Há mudança de tempo verbal em uma mesma frase

Ele diz que "abraça" (presente do indicativo) e depois usa o pretérito perfeito ao dizer "todo mundo que estava presente" Essa mudança indica desonestidade

II - Ao falar "toda artista feminina, todo mundo..." ele usa de generalização. Sendo uma linguagem de distanciamento e, portanto nesse contexto, indica desonestidade.


III - "é isso que nós somos na igreja. Nós somos todos amor" é uma tentativa de justificar o que fez.


E de novo, talvez eu tenha cruzado a fronteira ou talvez tenha sido amigável ou familiar, mas de novo peço desculpas.


I - Tendo em vista que essa é a primeira vez no discurso que ele reconhece que "talvez" tenha agido de forma errada, o uso da palavra "de novo" é desnecessária.


II - A palavra "talvez" indica incerteza. Essa incerteza é uma tentativa de reduzir o comprometimento com o que fez. Ele não diz se fez ou não, diz que "talvez" tenha feito.

Um mentiroso quando não quer assumir o que fez usa esse recurso.

III - O uso da expressão "cruzado a fronteira" é feito para evitar falar o que fez. Funciona como uma figura de linguagem. O uso desse recurso gramatical indica fuga, distanciamento e dificuldade em assumir o que fez.


IV - Uso do "mas".

De acordo com estudos de Statement Analysis, o "mas" é uma conjunção que exclui a importância de toda a sentença anterior a ele, voltando a importância para a segunda sentença. O "mas" é usado também para justificar uma mentira.

V - Novamente, há o uso da palavra "de novo" de forma desnecessária, tendo em vista que é a primeira vez, no discurso, que ele pede desculpas.


Eu, certamente, quero pedir desculpas a Ariana e aos seus fãs, e à sua família e toda a sua comunidade


I - De acordo com estudos de Statement Analysis, a palavra "certamente" é um recurso usado para reafirmar o que está falando e convencer que o discurso é verdadeiro. É considerado uma palavra desnecessária

Quando o agente não tem confiança na veracidade do que está dizendo, ele usa o "certamente" para ajudar no convencimento e compensar toda a falta de confiança que possa ter.

II - Uso excessivo e desnecessário da conjunção aditiva "e". Indica desejo de ganhar tempo e um discurso vago.


Se o que eu disse foi levado ao caminho errado e, veja bem, talvez seja apenas uma piada que deu errado, mas quando você está exercendo uma atividade por nove anos, você sabe, você está tentando mantê-la cheia de energia, você está tentando fazer algumas referências engraçadas e o que você tem


I - "se" é uma conjunção subordinativa condicional. Como o nome já diz, emprega uma condição.

É fato que as ações do bispo foram criticadas negativamente por todos, portanto, não cabe aqui, o uso de uma conjunção que indica condição.

II - "escute". Palavra desnecessária para ganhar tempo e pensar no que irá falar em seguida.


III - Novamente há o uso do "talvez" indicando distanciamento e fuga do que ele fez. Podemos concluir que o bispo não quer assumir o que fez e tenta novamente reduzir o comprometimento com o fato.


IV - Se referir ao fato como "apenas uma piada" é um desejo de reduzir a importância do ocorrido.

Essa frase pode confirmar a redução do comprometimento.

V - O "mas" é usado pra excluir a importância de toda a sentença anterior.

Ele quer excluir e diminuir a importância do que ele fez e, para isso, ele justifica falando que é normal usar de referências engraçadas e todos os recursos que possui para manter a energia do trabalho.

VI - Podemos notar que nesse trecho existem algumas mudanças de tempo verbal e uso desnecessário da forma nominal (gerúndio).

Essas duas aplicações indicam falta de sinceridade no discurso.

Eu amo todo mundo


I - Frase desnecessária no contexto. Essa frase destoa do objetivo do discurso, que é explicar o que aconteceu durante o evento.

Falar que ama todo mundo não acrescenta nenhuma informação contundente.

E eu certamente espero que ela me perdoe, e a última coisa que quero fazer é tirar o foco da senhorita Aretha Franklin, a rainha do Soul.

I - Uso de uma palavra desnecessária ("certamente"). Palavra usada para ganhar tempo no discurso.

Nesse contexto, indica falta de interesse que a cantora Ariana Grande o perdoe.
De acordo com Mark McClish, essa palavra é usada pelos mentirosos para tornar o seu discurso mais crível e confiável.

II - Nesse contexto, dado os sinais verbais, o uso da expressão "a última coisa que quero fazer..." é uma forma de dramatização para convencer o seu discurso.


Isso é tudo para ela, não é sobre mim; e eu sinto muito.


I - Esse trecho final indica a intenção de diminuir o foco e a atenção do que aconteceu com a Ariana Grande. Temos aqui um desejo de se evadir e se distanciar do fato.

Nesse momento ele se coloca como principal agente, desviando toda atenção da maior prejudicada, a cantora Ariana Grande.

II - Apesar dele ter falado que sente muito, o bispo não explica o porquê sente muito. A ausência do motivo mostra que essa frase não é emocional, não é verdadeira.



Sumário: As mudanças de tempo verbal, a falta de lógica em suas palavras, o uso de palavras para ganhar tempo, o uso de figuras de linguagem, de palavras desnecessárias mostram que o pedido de desculpas é falso, bem como ele não faz questão de ser perdoado.

Ele não reconhece o erro que cometeu.
Existem mudanças em seu depoimento. Ele não segue uma linha lógica de raciocínio.
Em alguns momentos ele deixa claro que "talvez" tenha feito alguma coisa, mas não confirma se errou ou não.
Se ele acredita que não fez nada de errado, não existia a necessidade de pedir desculpas.
Em nenhum momento ele explica o motivo do pedido de desculpas e não deixa claro suas ações.

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