quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Análise não-verbal: Depoimento de Adélio Bispo de Oliveira. Agressor de Jair Bolsonaro

No dia 6 de setembro, o candidato à Presidência Jair Bolsonaro, foi esfaqueado na região do abdômen durante um ato de campanha em Juiz de Fora, enquanto estava sendo carregado nos ombros por seus apoiadores.
O agressor foi identificado como Adélio Bispo de Oliveira.
Em 10 de setembro, o agressor participou de uma audiência de custódia em Juiz de Fora, aonde teve o seu depoimento gravado.

Vamos à análise:

Logo no começo do depoimento, em 17 segundos, podemos ver que o agressor realiza uma microexpressão de desprezo, devido a contração do bucinador no lado esquerdo.

Em 0:26, Adélio passa a língua nos lábios. Esse gesto é considerado um gesto pacificador e tem a finalidade de se acalmar diante de uma situação ou evento que gera muita ansiedade e nervosismo.

Em 0:35, podemos ver novamente a contração do bucinador no lado esquerdo, indicando desprezo.

Em 0:47, ao dizer que está com muita dor na região das costelas, ele não é honesto.
Ausência completa de qualquer expressão de dor.
Durante o vídeo ele vai se mexer em alguns momentos e a suposta dor não vai impedi-lo

A partir de 0:53, ele diz: "Fui preso depois de um certo incidente, então, houve um tumulto, uma confusão muito grande; ali fui espancado bem. Bem espancado, a princípio, mesmo dominado pela polícia..."
Falar "um certo incidente" ao invés de se referir ao que realmente aconteceu é considerada uma linguagem de distanciamento e eufemismo. Adélio tira completamente a importância do que aconteceu.
Ao dizer "ali fui espancado bem", ele realiza gesto rápidos com a cabeça, de um lado para outro. Esse gesto é chamado por Jack Brown como "Head Wiggle" e indica um estado emocional alfa, confiança e segurança no que está dizendo.
Nesse momento, seu discurso é verdadeiro.

Em 1:56, ao dizer: "... foi muito tumulto, não dá pra saber na verdade, né?..."
Adélio verbaliza essa frase com intenso nervosismo. Reparem que a frase sai confusa e a velocidade de sua fala aumenta, junto com uma gesticulação descoordenada.
Ao final, ele expira profundamente, indicando alívio após um evento estressante.

Em 2:00, a juíza pergunta para onde ele foi levado após o tumulto. Em 2:03, Adélio responde: "Havia um pequeno comércio fechado, inclusive com portão de grade; aí o senhor dali, acho que até queria me agredir também com um pedaço de pau, mas o policial, o barrou... obrigou... se identificou e obrigou a abir o portão para que eu entrasse."
Ao falar do comércio com o portão de grade, ele ilustra com as mãos essa localidade. Há, portanto, congruência. De fato, ele foi conduzido para essa localidade.
Segundos depois, ao se referir ao homem com um pedaço de pau, ele demonstra incerteza pelo uso da palavra "acho".
Com a cabeça, ele realiza gestos rápidos de um lado para outro. Esse gesto é chamado por Jack Brown, de "Head Wiggle" e indica segurança, confiança no que está falando.
Não houve essa tentativa de agressão.

No momento em que fala: "se identificou..." ele realiza um gesto pacificador de coçar a área lateral do pescoço, demonstrando ansiedade. Nesse caso, a ansiedade tem uma forte ligação com constrangimento

A partir de 2:27, ele repete a mesma história, da seguinte forma: "Havia um portão, acho que de um pequeno comércio, que tava fechado; portão de grade... E quando me colocaram ali pediram... o próprio dono veio com um porrete; acho que queria me agredir. Os policiais o contiveram e fizeram abrir o portão pra que eu entrasse, me jogaram ali para dentro e tentaram fechar. Aí me levaram para a parte de cima, e depois foi chegando mais policiais, mais policiais; e ali começou uma série de interrogatórios"
Nessa segunda vez, ao dizer que o dono do comércio veio com um porrete e queria agredi-lo, ele demonstra incerteza mais uma vez pelo uso da palavra "acho" .
Adélio realiza um gesto pacificador de coçar a cabeça. Um detalhe interessante é que ele realiza o gesto com o dedo do meio. (foto acima)
Nesse caso há um vazamento corporal do que ele realmente está sentindo. Qualquer gesto realizado com esse dedo, em específico, passa uma mensagem agressiva, destinada talvez a quem queria agredi-lo.
Apesar da veracidade em seu discurso, não houve ação de agressão por parte do dono do imóvel, e portanto, não houve contenção por parte da polícia.

Em 4:19, a juíza pergunta se ele teve a oportunidade de falar com algum familiar. Nesse momento Adélio é verdadeiro ao dizer que um policial que estava disposto a deixa-lo falar com a família, e que ele (Adélio) pediu que não.
Há congruência entre o gesto de negação com a cabeça e a negação verbal.

Em 4:39, a juíza pergunta se ele sofreu, por parte da polícia, alguns maus-tratos, alguma agressão.
Adélio, responde em 4:43: "(vocalização)... um ou outro policial, assim né?, bem autoritário, né? ameaçando; na saída da escadaria, fui entrar no camburão, tomei um soco, foi de um policial mas não lembro quem; tomei um soco e caí. Me pegaram e me jogaram no camburão; mas não lembro qual foi também, muito tumulto, né?"
No começo podemos notar que seu "pitch" vocal aumenta consideravelmente deixando sua voz mais aguda. Isso nos indica uma forte carga de hormônios como cortisol, demonstrando que o Adélio está experienciando um momento de forte nervosismo e ansiedade.
Ao falar que tomou um soco, ele ilustra o soco na cara, porém podemos reparar que ele eleva a sobrancelha esquerda ("Skeptical Eyebrow"). Esse gesto assimétrico demonstra dúvida e incerteza, de quem foi o autor do soco
De fato, ele levou um soco, mas não tem certeza de que foi um policial.

Em 5:59, ao falar que o presos que estão na cela dele são muito humanos, ele eleva a sobrancelha direita - gesto conhecido como "Skeptical Eyebrow". Indica ceticismo e dúvida.
O gesto que ele realiza com a mão é chamado de "Dominant Spider" - é um ilustrador que indica dominância, autoridade e assertividade.

A partir de 6:20, Adélio diz: "... muito desacato, digamos assim, né?, me chamam de bicha, me chamam de viado, disse que ia colocar em uma sala pra ser estuprado por um negão. Disse que eu tinha matado os sonhos dele, o Presidente dele, né?, coisas dessa natureza e... empurrão pra parede, eu tava descalço, pisando com o coturno nos dedos do pé, coisas dessa natureza, né?... e... muita humilhação verbal."
O uso da expressão "digamos assim", significa dizer que o que Adélio está dizendo não deve ser entendido exatamente como declarado. Portanto, pode ser sinal de omissão, desonestidade ou eufemismo.
Ao falar que o chamaram de bicha, de viado, e colocado em uma sala para ser estuprado, ele faz um gesto com as mãos chamado pelo especialista Paulo Sergio de Camargo, de "Carretilha". Indica exatidão e desejo de expor suas ideias (Paulo Sérgio de Camargo).
Quando Adélio diz: "Disse que tinha matado os sonhos dele, o Presidente dele...", ele realiza um gesto chamado "Pistola" (foto acima). Congruente com a ideia de matar alguém.
Ao final, no momento em que diz: "... coisas dessa natureza, né?", ele realiza uma elevação sutil com o ombro esquerdo. Esse gesto chamado "Shoulder Shrug", segundo Joe Navarro, indica falta de comprometimento emocional com o que está falando. Pode indicar também evasividade.
Ao falar que sofreu empurrão na parece e pisão enquanto estava descalço, ele ilustra o ocorrido. Congruência
No momento em que fala "muita humilhação verbal", ele direciona seu olhar no sentido horizontal-esquerdo. Esse movimento, de acordo com a PNL, está ligado a lembranças auditivas. Existe também uma descoordenação entre gesto e fala. A fala está em ritmo diferente do gesto, demonstrando nervosismo.
Podemos concluir que pode ter havido xingamentos, mas ele não foi afetado emocionalmente por eles. Adélio, não vê esses xingamentos e acontecimentos como desacato.

Em 7:08, Adélio diz: "Acho que não tenho mais nada a acrescentar"
A palavra "acho", de acordo com estudos de Statement Analysis, mostra dúvida.
Ele gostaria de acrescentar mais coisas, mas deseja omitir.

Em 7:41, existe uma expressão de desprezo pela contração do bucinador no lado esquerdo. Podemos notar que existe também uma satisfação em sua face.
Nesse contexto, podemos concluir que ele realiza uma expressão chamada de "Duping Delight". Segundo Paul Ekman, essa expressão ocorre quando o agente percebe que foi bem sucedido no que acabou de dizer ou manipular.
Adélio sabe que está no comando da situação, e isso lhe traz satisfação.

Em 8:54, Adélio diz: "... o fato ocorreu, entendeu? houve um ferimento, correto? embora pretendíamos, pelo menos dar uma resposta, um susto, alguma coisa dessa natureza, entendeu?..."
Existe nesse trecho um "ato falho" ao falar "pretendíamos".
De acordo com Sigmund Freud, o ato falho é um equívoco na fala provocada pelo inconsciente. É uma relação entre o intuito consciente da pessoa e o reprimido.
Ao falar "pretendíamos", Adélio assume que não agiu sozinho. Existem outras pessoas por trás do atentado.

Em 10:05, perguntam ao Adélio se ele tem algum receio de permanecer no interior do CERESP. Em 10:13, ele responde: "Olha, se fosse depender dos internos, não"
A palavra "olha" é usada para ganhar tempo em uma resposta.
Ao verbalizar a palavra "não" ele, em um primeiro momento, nega com a cabeça e logo depois afirma.
Significa dizer que conscientemente ele quis negar, mas inconscientemente ele afirma. Sendo assim, é considerado um sinal de desonestidade.

Em 11:33, ao falar que não está fazendo uso regular de medicamento, ele é sincero.
Ele nega com a cabeça, de forma congruente, com a negação verbal.


SUMÁRIO: Adélio Bispo, aparentemente pode se mostrar tranquilo, mas existem sinais de ansiedade e nervosismo.
Apesar de Adélio dizer que está machucado, não existe face de dor.
Ele trata o atentado contra o candidato Jair Bolsonaro, como um incidente. Não existe sinal algum de arrependimento ou vergonha pelo que fez
A história contada por ele do que aconteceu após o atentado mistura verdades e mentiras.
Não houve agressão física por parte dos policiais
Adélio assume que não fez sozinho.
Adélio demonstra uma verdadeira "frieza".

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