segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Análise não-verbal: Eduardo Costa fala sobre suspeita de estelionato. Venda de imóvel


O cantor sertanejo Eduardo Costa está sendo acusado de estelionato devido à venda de uma mansão construída em terreno de reserva ambiental em um balneário mineiro.
O cantor vendeu a mansão a um casal por um valor entre R$ 6,5 e R$ 7 milhões de reais. Em troca recebeu um imóvel em Belo Horizonte no valor de R$ 9 milhões de reais. Para compensar a diferença, o cantor deu um automóvel da marca Ferrari, uma lancha e uma moto aquática ao casal.
Ao tentar registrar a mansão, o casal foi informado que o imóvel era alvo de uma ação civil pública do Ministério Público Federal e uma ação de reintegração de posse por estar construída parcialmente em uma área de preservação permanente que pertence a FURNAS.
O casal alega que não sabia dos processos envolvendo o imóvel.
O cantor Eduardo Costa prestou depoimento no dia 18 de julho.

Vamos à análise:

Em 0:06, o cantor realiza um gesto chamado de projeção da língua umedecendo os lábios. Esse gesto indica tensão e nervosismo ao falar do tema.
Isso ocorre porque em alguns casos, quando estamos nervosos sobre um assunto do qual estamos falando, o nervosismo resseca os lábios e esse gesto acontece para que possamos umedecê-lo e automaticamente nos acalmarmos. Sendo portanto um gesto pacificador.

Essa projeção da língua ocorre em vários momentos durante o vídeo.
De acordo com o especialista Joe Navarro, esse gesto de passar a língua nos lábios pode ser um indicativo de auto-incriminação. Significando que o agente errou, "fez besteira", deseja escapar ileso.
Nesse mesmo momento, se reparamos nos delegado. Ele está com os lábios pressionados, indicando tensão e nervosismo; e até mesmo apreensão.

Em 0:08, ao falar que a maioria dos imóveis na região têm esse processo cível, podemos notar que ele "coça" a face. Esse gesto é chamado de pacificador, e tem o objetivo de acalmar, tranquilizar. Sempre que esse gesto é realizado podemos dizer que o agente está passando por um momento de nervosismo e tensão.

Em 0:21, momentos antes do cantor dizer que toda pessoa que compra ou vende imóvel na região é ciente desses processos, ele eleva o ombro direito.
Esse gesto chamado de "Shoulder Shrug" é um indicativo de conflito cognitivo entre o que ele sabe que é verdade e o que ele diz. Pode ser interpretado como um sinônimo de incerteza.


Em 0:25, o cantor diz: "quando eu fiz a negociação, é... do meu imóvel, eu já fiz essa negociação, éééé... deixando bem claro pra pessoa que existia esse processo..."
Nesse trecho existem duas considerações relacionadas ao seu discurso: uso de agregadores e pausas desnecessárias. 
Ambos os elementos indicam processamento mental do que vai ser falado. De acordo com Mark McClish, o uso de agregadores verbais (éééé...) indicam um ganho de tempo para o cérebro pensar no que vai falar; para buscar as palavras certas.
A pausa, logo após os agregadores, indicam um alto nível de ansiedade, significando hesitação e reformulação de pensamento. Certamente Eduardo Costa iria dizer algo, mas desistiu.
Após a pausa, ele direcionou seu olhar pra cima e esquerda, conjugado com uma tensão nas pálpebras inferiores, gesto chamado de "Eyes Squint" (foto acima). Indica tentativa de lembrar de algo.
Todos esses gestos nos indicam que o cantor sertanejo quis ganhar tempo para pensar no que ia dizer, após concluir o pensamento do que ia verbalizar, desistiu e mudou suas palavras.
Esse trecho, não necessariamente, nos indica uma desonestidade total em relação ao fato, mas houve omissão.


Em 0:36, Eduardo Costa emite uma expressão de desprezo devido a contração do músculo do bucinador.

A partir de 0:59, o cantor diz: "todos nós estamos sujeitos a passar por situações constrangedoras, e... eu jamais levaria uma pessoa a passar por isso..."
De acordo com a análise do discurso, o fato dele ter falado que "todos estão sujeitos a passar por situações constrangedoras", indica que o cantor reconhece que houve uma situação constrangedora.
O uso de "todos nós" mostra uma tentativa de justificar a situação através de generalização e criar conexão.
O uso de "uma pessoa" ao invés de se referir a outra parte do processo mostra impessoalidade e distanciamento.

A partir de 1:10, ao falar "tô bem tranquilo, em relação a isso", ele eleva o ombro direito de forma contundente.
Novamente há um conflito cognitivo entre a verdade e o que ele diz. O cantor, definitivamente, não está tranquilo.
Juntamente com esse gesto, podemos notar que o cantor fecha o olho esquerdo. Esse é mais um gesto assimétrico. De acordo com o Paul Ekman, a assimetria é um forte indicativo de desonestidade no discurso.

Em 1:23, Eduardo Costa diz: "Não tenho o que esconder"
Logo após ele verbalizar essa frase, podemos notar que ele sinaliza "sim" com a cabeça. Nesse caso há uma incongruência entre o que é verbalizado e o que o corpo expressa.
Novamente há uma elevação do ombro direito indicando incerteza no seu discurso.

Em 1:33, antes do cantor verbalizar: "Tô respondendo normalmente como cidadão de bem que sou", eleva o ombro direito ("Shoulder Shrug").
Podemos concluir que Eduardo Costa não está tranquilo, com o que está acontecendo.

Em 1:46, o jornalista pergunta se ele responde ao processo de crime ambiental. Mais a frente, em 1:48, Eduardo responde com um gesto incongruente.
O cantor faz um movimento de rotação com a cabeça a partir da esquerda até o centro.
De acordo com Desmond Morris, o gesto de negação com a cabeça pode ocorrer quando o movimento se dá do centro até a direita ou a esquerda, voltando a sua posição inicial. A esse gesto chamamos de "Head Twist".
Como dito anteriormente, Eduardo Costa faz o movimento inverso - da esquerda até o centro. Portanto, não significa negação. Pode ser considerado um gesto de inclusão, afirmação

A partir de 1:56, o cantor diz: "Quando eu comprei o meu imóvel eu já tinha consciência, de que existia esse processo".
Durante a palavra "consciência", ele projeta a cabeça para frente e realiza uma ênfase verbal. Esse conjunto indica confirmação.
Logo depois ele realiza um gesto de projetar a língua lateralmente (foto acima), indicando estresse. De acordo com a melhor doutrina de comunicação não-verbal, quando esse gesto acontece, é como se o corpo estivesse dizendo: "Eu fui uma pessoa má", "Eu fui pego", "Eu fiz uma coisa estúpida", "Eu errei", "Eu consegui escapar ileso" (Joe Navarro).
Esse gesto pode ser visto como um sinal de que, subconscientemente, há a admissão de culpa.
Eduardo Costa, de fato, sabia que algumas casas da região tinham esse processo judicial, porém ele se sente culpado por ter causado algum prejuízo. Existe uma probabilidade dele se achar culpado pela demolição parcial do imóvel.

Em 2:13, após um jornalista perguntar o valor do imóvel vendido, o cantor Eduardo Costa realiza um gesto pacificador de coçar o ombro.
Esse gesto nos diz que ele está nervoso e tenso, e necessita se acalmar. O fato dele estar pacificando o ombro esquerdo com o braço direito acrescenta um desejo de se defender, pois o uso do braço para pacificar a outra extremidade do corpo cria uma barreira, indicando defensividade.
Ele não quer falar sobre o valor do imóvel. A defensividade mostra que existe uma necessidade maior de manter esse valor em segredo.

Entre 2:14 e 2:23 podemos notar que a voz do cantor fica mais aguda. Esse aumento do "pitch" vocal indica nervosismo e tensão.
Isso acontece porque quando estamos vivenciando esse estado de nervosismo, o organismo libera cortisol e adrenalina na corrente sanguínea e simultaneamente os músculos da garganta se tencionam e por isso a voz se afina.

Em 3:11, um jornalista pergunta se foi ele (Eduardo Costa) que construiu essa área que está em litígio.
Apesar do cantor ser congruente, respondendo negativamente ao mesmo tempo que nega com a cabeça, no momento em que ele diz "não", há uma sutil elevação no ombro direito, demonstrando incerteza
O cantor ainda complementa que já comprou o imóvel pronto. Nesse momento ele afirma com a cabeça - congruência.
O cantor é congruente ao dizer que ele não construiu o imóvel e que comprou ele pronto, mas a incerteza mostra que ele pode ter feito alguma obra que ocasionou o litígio, ou contribuiu para ele.

Em 4:16, o cantor Eduardo Costa se refere ao fato de o terem acusado de estelionato, dizendo: "Eu não faço isso; eu jamais faria isso. Não faz parte do meu caráter fazer isso..."
Não verbalmente, durante as frases "eu não faço isso" e "eu jamais faria isso" ele assente com a cabeça, porém esse assentimento se dá de forma mais intensa, sendo nesse caso um assentimento de confirmação à sua negativa. Congruência e veracidade.
Em relação ao seu discurso, em nenhum momento ele disse que não fez, que não errou. Ele diz "eu não faço isso". Verbo no presente. Logo depois complementa "eu jamais faria isso". Verbo no pretérito imperfeito.
O uso desses tempos verbais se dá de forma parcialmente incorreta, tendo em vista que em nenhum momento ele usou o tempo verbal correto para esse contexto, que seria o pretérito perfeito ("Eu não fiz isso").
O que o cantor quis dizer nesse trecho é que no momento presente ele não faz; o que não exclui a ideia de que no passado ele não tenha feito, não tenha errado.
No momento em que diz "não faz parte do meu caráter fazer isso", ele é sincero.
Podemos chegar a conclusão de que não faz parte do caráter dele agir dessa forma, mas ele pode ter feito algo errado por um descuido ou por um desejo de omitir tal informação sobre o imóvel.

Em 4:25, o cantor emite uma emoção de desprezo, pela contração do bucinador. Sua postura e sua cabeça ligeiramente erguida indicam orgulho
Nesse contexto pode haver a presença de um "Duping Delight" (sorriso do manipulador). De acordo com Paul Ekman esse sorriso é emitido quando o agente se sente satisfeito após perceber que conseguiu convencer em seu argumento.

A partir de 4:28, Um repórter pergunta: "Resumindo: Você nega o prejuízo para a pessoa e que a pessoa já sabia desse dano ambiental da casa?"
O cantor Eduardo Costa responde: "Nego o prejuízo, a pessoa já sabia, e eu jamais daria prejuízo em qualquer pessoa."
Antes de começar sua resposta, em 4:26, Eduardo Costa realiza um gesto chamado de "Lip Purse" - que consiste em projetar os lábios para frente. De acordo com a doutrina, esse movimento indica desacordo e/ou que o agente está planejando algo e deseja manter essa ideia em segredo. E ele sabe que será bem sucedido nesse desejo.
Sua gesticulação com a cabeça é exagerada para trás. De acordo com o especialista Alexandre Monteiro, esse exagero nos indica um gesto de compensação, pois vem depois de um "Duping Delight" e de um pacificador de passar a língua nos lábios
Ao falar "... em qualquer pessoa" ele realiza um gesto que o especialista Jack Brown chama de "Head Wiggle", que consiste em um movimento rápido de cabeça de um lado para outro. Esse gesto significa confiança, segurança e um estado emocional alfa.
Apesar dele demonstrar confiança nesse momento, os estudos de Statement Analysis de Mark McClish mostram que existe evasividade e distanciamento em seu discurso. Segundo McClish, a palavra "jamais" não é negação por não especificar o tempo, sendo considerada linguagem vaga; o uso do verbo "dar" no futuro do pretérito é considerado, para esse contexto, uma negação sem valor, pois o uso desse tempo verbal evita que o agente use o verbo no pretérito perfeito.
A frase "qualquer pessoa" é uma linguagem de distanciamento, pois ele não fala dos compradores nesse caso específico, ele usa de generalização
Em outras palavras, falar: "eu jamais daria prejuízo..." mesmo sendo uma verdade, não exclui a ideia de que já possa ter dado prejuízo antes; pelos usos da palavra "jamais" e da ausência do pretérito perfeito.

Em 5:18, Eduardo Costa projeta seus lábios para frente. Esse gesto indica que há uma intenção de omitir alguma ideia, plano ou intenção.
Em outras palavras, o agente do gesto tem alguma ideia, plano ou intenção que não deseja divulgar; e acha que terá, ou está tendo, sucesso em sua execução.

Em 5:20, ele realiza mais um gesto pacificador, visando se acalmar de algum momento de tensão, nervosismo ou ansiedade.

Em 5:21 - 5:22, Eduardo Costa responde à pergunta da jornalista sobre o porquê do casal ter entrado na justiça contra ele.
O sertanejo diz: "Olha... eu não sei. Sinceramente eu não sei. Eu juro por Deus que eu não sei..."
Ele projeta sua cabeça lateralmente para trás havendo desalinhamento corporal. Esse sinais indicam nervosismo e desejo de fugir da situação.
De acordo com estudos de Statement Analysis, começar uma resposta com "olha" indica incerteza no que responder ou como responder, funcionando como uma forma do cérebro ganhar tempo na resposta. Nesse contexto, essa palavra é desnecessária, tendo em vista que Eduardo Costa poderia começar sua resposta com "eu não sei".
Ele reafirma o desconhecimento ("Sinceramente eu não sei. Eu juro por Deus que eu não sei") em uma tentativa de convencer. Quando o agente não sabe, ele não tem essa necessidade de reafirmação.
De acordo com Mark McClish, o uso da frase "juro por Deus" pode ser um indicador de desonestidade. McClish diz que quando o agente cita divindade na resposta é uma incerteza e deseja que a certeza seja garantida ao citar tal divindade.
Em resumo, o cantor faz ideia do motivo de terem procurado a justiça para processá-lo.

Em 5:36, após o jornalista perguntar se a pessoa que comprou era próxima, Eduardo costa exibe uma expressão de medo devido a elevação da parte interna e externa das sobrancelhas, elevação das pálpebras superiores, separação dos lábios.
O advogado também exibe uma expressão de medo pela elevação das pálpebras superiores. Juntamente há um sinal de apreensão pela pressão dos lábios.
Logo depois ao começar a resposta, ele gagueja, indicando que não estava preparado para a resposta e não sabe o que vai responder.
Em 5:39 ao falar que eles se tornaram próximos por causa da negociação, o cantor realiza um gesto mecânico de afirmação com a cabeça, aumenta a velocidade da fala e o tom de voz. Esse conjunto gestual indica uma desonestidade em relação a proximidade que tinham.

Em 5:49, ele realiza o gesto de passar a língua nos lábios de forma mais contundente. Indica muito nervosismo, tensão, ansiedade ao tratar do assunto.
Esse gesto foi realizado por diversas vezes durante o vídeo.

Em 6:12 o jornalista pergunta se ele se arrepende de ter comprado essa casa. A partir de 6:15, o cantor responde: "De hipótese nenhuma. De hipótese nenhuma".
Não-verbalmente, ele nega com a cabeça demonstrando congruência, porém a frase "De hipótese nenhuma" não é considerada uma negação valiosa, tendo em vista que não é verbalizada a palavra "não".
Repetição da mesma frase é uma tentativa de reafirmar.
Ele teve ótimos momentos no imóvel, mas em algum momento, pode ter havido algum tipo de arrependimento, e talvez isso, o tenha feito vender.

Em 7:03, ao falar que compraria o imóvel de novo, ele apresenta muita tensão corporal e faz uma expressão denominada de "Not Face".
Essa expressão foi descoberta em 2016 por pesquisadores da Universidade de Ohio. As pesquisas descobriram uma nova expressão facial que é formada pela união das expressões de desprezo, raiva e nojo. O agente ao emitir essa expressão de "not face" tem a contração do corrugador presente na raiva; o enrugamento do queixo presente no nojo; e a contração dos lábios presente no desprezo. Esse expressão significa desaprovação, discordância.


SUMÁRIO: Eduardo Costa demonstra intenso nervosismo e tensão ao longo de todo o vídeo, que pode ser observado pelas várias vezes em que passa a língua nos lábios. O mesmo gesto, é reconhecido por Joe Navarro como um forte indício de auto-incriminação.
O cantor omitiu informações ao casal, a cerca do processo sobre o imóvel. Essa omissão pode ser em relação ao processo em si, ou em relação a alguns itens do mesmo.
O cantor reconhece que errou e que houve constrangimento.
O sertanejo não compraria de novo um imóvel nessa região, apesar da sinceridade ao afirmar que teve momentos bons no local.

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