quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Análise não-verbal: Caso Daniel Corrêa - Parte II. Depoimento de Allana Brittes, filha do homem acusado de matar o jogador Daniel Corrêa.

Allana Brittes, filha de Edison Brittes - o homem responsável por matar o jogador de futebol Daniel Corrêa, fala pela primeira vez depois do crime de homicídio contra o esportista.
A presente análise será feita com base no depoimento de Allana. Para ver a análise não-verbal do autor do crime e pai de Allana, Edison Brittes, basta clicar AQUI.

Vamos á análise:


Logo no começo do vídeo, Allana diz: "Aí estávamos na área de festa..."
Nesse momento ela realiza um gesto pacificador de coçar próximo ao lábio superior. 
O gesto pacificador indica que a agente está sentindo ansiedade, tensão e nervosismos e precisa pacificar.
Quando estamos em um momento de nervosismo, a circulação aumenta e acontecem micro-coceiras na camada mais superficial da pele, daí a a necessidade de coçar.

Podemos concluir que esse tema para Allana gera muita ansiedade. Existe a probabilidade dela também estar sendo desonesta, pois esses tipos de gestos, dependendo do contexto, podem ter uma correlação com a desonestidade. Nesse contexto, essa desonestidade pode estar ligada ao fato de Allana não ter estado na área de festa nesse momento, ou ligada aos fatos que serão narrados, como um todo.


Em 0:10, Allana diz que escutou algumas gritarias segundos depois de ter ido dormir com uma amiga. 
Nesse momento, podemos ver uma elevação unilateral da sobrancelha esquerda. De acordo com a doutrina de comunicação não-verbal, essa assimetria na sobrancelha, é chamada de "Skeptical Eyebrow" e indica ceticismo, dúvida, em relação ao que está sendo falado, visto ou escutado.
Allana não acredita no que está falando.


Em 0:13, Allana diz que desceu de seu quarto e abriu a porta (da onde estava vindo a gritaria).
Nesse momento ela faz um giro lateral com sua cabeça para a direita. 

Podemos considerar que esse gesto foi realizado para ilustrar a ação de abrir a porta. Sendo, portanto, um gesto ilustrador. Nesse caso, temos que avaliar, dentre outras coisas, o tempo em que o gesto foi realizado, sua velocidade e a relação de ritmo entre a fala e o gesto.
O gesto foi realizado poucos milésimos de segundos antes dela verbalizar "abriu a porta", o que pode indicar que o discurso foi armado por isso gesticulação ocorreu antes ou que ela pensou em gesticular antes de verbalizar.

Quanto a sua velocidade, existe uma pequena diferença entre a velocidade em que Allana verbaliza e a velocidade com que gesticula. Isso pode indicar nervosismo e ansiedade.
Allana usa a palavra "abrir" ao invés de "arrombar", divergindo da versão do contada pelo pai - que diz que teve que arrombar a porta para entrar no quarto.
Essa cena dela abrindo a porta, não aconteceu como ela está narrando.


A partir de 0:15, Allana diz: "Ele tava em cima da minha mãe... Tentando estuprar ela"
Ao falar "tentando", ela eleva as sobrancelhas ao mesmo tempo em que fecha os olhos. Temos aqui movimentos inversos - enquanto as sobrancelhas se elevam (movimento para cima), os olhos se fecham (movimento das pálpebras para baixo). Movimentos opostos podem indicar desonestidade por serem incomuns.
Nesse mesmo momento, a voz de Allana se altera diminuindo o pitch vocal. Essa diminuição pode estar ligado ao desejo de fuga e omissão.

No final do trecho, Allana realiza um gesto chamado de "Tongue Jut", que consiste em projetar a língua para fora. Esse gesto, segundo Joe Navarro indica ansiedade, auto-incriminação, fuga da situação. Simboliza uma mensagem não-verbal semelhante a: "Eu fiz besteira", "Saí ileso", "Estou em meio a um dilema".


Em 0:23, Allana realiza um gesto de fechar os olhos por mais tempo que o normal. Esse gesto chamado de "Eye Shielding" indica não visualização de algum evento negativo

A partir de 0:25, Allana diz: "Todo mundo começou a... a querer fazer alguma coisa contra ele, porque minha mãe gritava; e ele não falava nada"
"... fazer alguma coisa..." é uma frase vaga, indicando omissão ("Alguma coisa o que?").
No momento em que verbaliza "gritava", sua voz fica trêmula. Essa mudança na voz acontece porque hormônios ligados a ansiedade são liberados no organismo e tensionam as cordas vocais, alterando a voz.
No final do trecho, Allana engole a seco. Esse gesto é conhecido pela doutrina de comunicação não-verbal como um sinal de ansiedade e nervosismo pelo mesmo motivo citado acima. Além do cortisol e adrenalina tensionarem as cordas vocais, pode ocorrer também o seu ressecamento, havendo a necessidade de lubrificação.
Nesse trecho Allana se mostra extremamente ansiosa e tensa. Nesse contexto, pode demonstrar desonestidade.

Em 0:35, o repórter pergunta: "Você teve algum relacionamento com esse rapaz?"
Allana responde: "Nunca, nunca, nunca, nunca"
De acordo com Mark McClish, a repetição de palavras indica um desejo de convencer de que está falando a verdade. Pois a repetição é um ato de confirmação e de certificação.
Ainda de acordo com McClish, a palavra "nunca" não significa uma negação, pois ela evita que uma negação valiosa ("não") seja dita; e além disso, essa palavra não especifica tempo, indeterminando-o. Quando uma negação é valiosa e real, o agente fala "não"
Podemos nos atentar também para o tempo de resposta de Allana. Existe um lapso de tempo normal entre escutar a pergunta e iniciar a resposta. Quando esse tempo é reduzido e a resposta acontece quase antes de terminar a pergunta, podemos dizer que a resposta já estava pronta para ser verbalizada.
Allana certamente já teve um envolvimento ou relacionamento com a vítima.

Em 0:43, Allana utiliza novamente a repetição da palavra "nunca" como um desejo de convencimento.

A partir de 0:46, o repórter pergunta: "Ele foi convidado para a festa, na sua casa?"
Logo após, Allana responde: "Na minha casa não. Ninguém chamou ele."
Ela começa sua resposta com "na minha casa, não", dando ênfase de que o convite não foi estendido à sua casa, mas houve um convite para outro lugar.
Allana é congruente nesse momento. Ela nega com a cabeça ao mesmo tempo que nega verbalmente. Há indícios de honestidade.
Ao falar que "ninguém chamou ele", podemos notar que Allana troca o verbo ("convidar" por "chamar") e ela emite uma emoção de desprezo devido a contração do bucinador, em seu lado esquerdo do canto da boca. (foto acima). De acordo com o especialista Alexandre Monteiro, esse desprezo pode ser visto também como um sinal de manipulação.
Ao final do trecho ela olha para baixo pode demonstrar vergonha, e nesse contexto, incerteza.
Essa sequência gestual indica que Allana, de fato, não convidou Daniel para ir à sua casa, mas houve convite para um outro momento. E há incerteza de Allana quanto ao fato de ninguém tê-lo chamado; Há indícios de que alguém o chamou.

A partir de 0:50, o repórter pergunta: "Como que ele chegou lá?"
Antes de começar a responder Allana olha para baixo e realiza um gesto de projetar a língua para fora da boca chamado de "Tongue Jut". Indica um alto nível de ansiedade. Segundo Joe Navarro, podemos pensar que esse gesto representa os pensamentos de: "Eu fui (vou ser) uma pessoa má", "Eu fiz (vou fazer) uma coisa estúpida", "Eu fui pega", "Consegui escapar ilesa".
Allana não tem certeza do que vai falar.

Durante a resposta da Allana, podemos nos atentar para um gesto que acontece com uma certa frequência. Durante esse trecho, podemos notar que a sobrancelhas direita de Allana se eleva de forma assimétrica por três vezes.
Esse gesto chamado de "Skeptical Eyebrow" indica dúvida em relação ao que está contando.
Ela não foi testemunha ocular dessa cena, e não acredita que realmente aconteceu dessa forma.

A partir de 1:17, o Reporter pergunta: "E ele estava sóbrio?"
Allana responde negativamente, e simultaneamente, realiza um gesto negativo com a cabeça. E continua: "Ele tava bem alterado", respondendo afirmativamente com a cabeça
Nesse trecho há congruência entre o verbal e o não-verbal. Veracidade.

A partir de 1:26, o repórter pergunta: "Qual que é a imagem que fica daquela noite com a tua mãe, no quarto?"
Allana responde, em 1:31: "O pior dia da minha vida, né? Eu acho que ninguém quer ver isso"
De acordo com estudos de Statement Analysis, terminar uma afirmativa com uma pergunta ("né?") indica incerteza, pois passa a ideia de que o agente não sabe o que sente e está transferindo a responsabilidade da certeza, para os interlocutores.
Logo em seguida, Allana diz: "Eu acho...". "Achar" é uma palavra clássica que indica incerteza.
Não-verbalmente, podemos nos atentar pela ausência de emoção congruente com o contexto. Allana não esboça nenhuma emoção negativa relacionada com o que aconteceu com a sua mãe.
Há desonestidade no que Allana está transmitindo. Aquele não foi o pior dia da sua vida e ela não viu nada que pudesse transformá-lo no pior dia.


SUMÁRIO: Allana, contou quase a mesma versão de seu pai. E podemos afirmar que ela está nervosa em tratar desse tema.
Ela apresenta algumas incongruências ao dizer que ouviu gritarias, entrou no quarto e viu Daniel em cima de sua mãe, tentando estuprá-la. Segundo sua comunicação não-verbal, nada disso aconteceu.
Ela é congruente ao dizer que Daniel não foi convidado para continuar a comemorar seu aniversário, em sua casa. Nesse momento ela apresenta omissões e se sente culpada por ele não ter sido chamado para continuar a comemoração na sua casa.
Ao contar como a vítima chegou até sua casa, ela conta o que contaram a ela, mas ela não tem certeza se realmente foi daquela forma que aconteceu.
Allana é desonesta quando fala que aquele foi o pior dia da sua vida. Ela sabe que não houve a tentativa de estupro.

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