sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Análise não-verbal: Dalva Teixeira, filha do médium João de Deus. Acusação de assédio.

O médium espírita, João de Deus, que atende há mais de 40 anos em Abadiânia (Goiás), está sendo acusado de abusar sexualmente e violentar mais centenas de mulheres que iam até Abadiânia para procurar tratamento espiritual.
A filha de João de Deus, Dalva Teixeira, concedeu duas entrevistas em épocas diferentes: A primeira ocorreu em 2016 para um radialista, e nunca foi colocada no ar. A segunda entrevista ocorreu já em 2017, praticamente um anos depois da primeira entrevista; nela Dalva está ao lado de seu pai e desmente toda a história de que tenha sofrido abuso sexual por parte do médium.
O que a linguagem corporal de Dalva Teixeira pode nos dizer nessas duas entrevistas?

ENTREVISTA 1 (2016)

Vamos à análise:

Em 0:28, Dalva diz: "Ele é manipulador, ele é mau, ele é... ele é estranho, ele é diferente... a gente vê que ele é diferente..." 
Ao dizer que ele é manipulador, sua cabeça faz movimentos rápidos de um lado para outro enquanto a direciona para trás. Esse gesto é chamado de "Head Wiggle" e é projetado por indivíduos que demonstram confiança e assertividade no que estão falando. 
O movimento para trás adiciona ao significado uma repulsa ao que está verbalizando, funcionado como um desejo de se distanciar.
As pausas indicam uma intenção de buscar palavras que adjetivam a identidade do pai. Ela não sabe que palavras usar ou tem medo de usar outras palavras

Em 0:30, Dalva emite uma expressão de medo devido a um sutil levantamento das pálpebras superiores, e estiramento horizontal dos lábios.

Em seguida, ainda em 30 segundos, podemos notar uma assimetria facial devido a uma contração mais forte em seu lado esquerdo da face.
Esse gesto tem inúmeros significados dependendo do contexto e dos outros gestos que estão em conjunto. Nesse caso, ele significa racionalização e hesitação em falar.

Ao dizer que ele é mau, Dalva projeta os lábios para frente. Esse gesto é chamado de "Lip Purse" e indica clandestinidade. Há um desejo de Dalva de manter alguma informação (ou parte dela) em segredo.
O fato dela se referir a João de Deus como sendo manipulador, mau, estranho, diferente são palavras que empregam uma certa generalização pois não retratam com fidelidade o comportamento que ele teve com Dalva, de abusador.
Não podemos concluir com plena certeza o porquê Dalva se utiliza desses adjetivos para se referir ao pai, uma das hipóteses seria que ela não sabe como se referir ao pai.



Em 0:34, ela realiza um gesto chamado de "Mutismo" quando seus lábios são enrolados para dentro da boca e existe uma tensão no maxilar.
O "Mutismo" é um gesto clássico de supressão, que pode ser emocional, de algum evento ou de alguma informação. Dentro desse contexto há um desejo de não se pronunciar, de ficar muda em relação ao evento total ou parcialmente. Esse gesto carrega consigo uma alta carga de sentimentos negativos advindo do que está sendo verbalizado.

Em 0:35 ao falar que ele é estranho, ela exibe uma expressão facial de nojo devido a elevação do lábio superior - com incidência maior no lado esquerdo da face.

Ainda em 0:35, Dalva diz que ele é diferente, e nesse momento ela eleva os dois ombros. Esse gesto emblemático indica desconhecimento, dúvida.
Dalva, nesse momento, não sabe o que falar e/ou como falar.

A partir de 1:05, Dalva diz: "O que aconteceu que ele tirou minha roupa toda... ele tirou a dele... e ficou a noite inteira me "amolestando"".
Após dizer "... ele tirou minha roupa toda", Dalva emite mais uma vez o "Lip Purse" (projeção dos lábios) indicando clandestinidade de ideias ou retenção de informação.
Há omissões nesse discurso.
As pausas emitidas por Dalva comprovam essa omissão pois nesses momentos, o cérebro está buscando as palavras que serão usadas em sua declaração.
Devido a omissão, existe uma probabilidade do fato não ter acontecido da forma como Dalva está contando.

Ao falar "amolestando" ela fecha os olhos indicando uma não visualização do fato ou evento. Joe Navarro diz que esse gesto está ligado a emoções negativas e o consequente desejo de evitar que essa imagem ligada ao fato negativo venha à sua mente.
Apesar de omissões, um fato negativo aconteceu.

A partir de 1:13, Dalva diz: "Em viagens, ele colocava o motorista para dirigir, viagens longas, como fizemos uma para a Bahia, ele no banco de... de trás, ele ficava me... "amolestando""
No começo Dalva realiza novamente o gesto chamado de "Head Wiggle", que consiste em movimento com a cabeça de um lado para outro, realizados de forma muito rápida. Indica assertividade no que está falando. Esse gesto pode estar ligado às viagens ou relacionada a alguma viagem específica.
Ao dizer no "banco de trás" ela faz um gesto de distanciamento com a cabeça para trás, juntamente com o ato de fechar os olhos indicando não-visualização ("Eye Shielding"). Esse conjunto gestual pode estar a uma dissimulação ou ao desejo de se afastar da cena que lhe causa um estímulo negativo. 
Nesse trecho existem dois indicativos de incongruência. Ao falar que João de Deus colocava o motorista para dirigir, seus gestos estão em ritmo diferente da fala e ela gesticula para um lado (sua esquerda) e movimenta a cabeça para a direção oposta (para a sua direita)
Podemos notar que existe uma pausa antes de dizer "amolestando". Essa pausa é uma forma do cérebro ganhar tempo para pensar no que dizer ou em qual palavra usará.
A viagem a qual ela se refere realmente aconteceu, porém há uma alta probabilidade de Dalva não ter sido "amolestada" durante essa viagem.

Ainda nesse trecho após dizer "... no banco de trás..." ela emite uma expressão de tristeza devido a sutil contração da parte interna das sobrancelhas com tensão no corrugador e quem dos cantos dos lábios.
Aconteceu algum fato que a deixou triste, mas não necessariamente foi "amolestada"

Ao final desse trecho, novamente vemos a projeção dos lábios para frente ("Lip Purse"). Desejo de reter informações sobre o que acabou de narrar ou o fato não aconteceu exatamente como Dalva narra, havendo uma disparidade entre o que está dizendo e como aconteceu.

A partir de 1:28, Dalva diz: "Isso foi até os... 14 anos. Com 14 anos eu me casei para sair de casa."
Nesse momento, Dalva olha para cima e esquerda. Esse movimento ocular está ligado a lembrança de eventos, imagens.
Ao falar que se casou para sair de casa, ela sinaliza afirmativamente com a cabeça de forma congruente.

A partir de 1:39, Dalva diz: "(ele) Me bateu muito com... com coro de laçar boi que tinha um cimento na ponta e com a vara de ferrão. Inclusive eu tenho a cicatriz aqui e... me bateu muito, muito que eu fui para em esta... que eu fui... que eu fui parar... parar no hospital"
Ao dizer que ele bateu muito, ela afirma de forma congruente com a cabeça. Ao narrar os objetos usados para lhe bater, Dalva se utiliza de gestos ilustradores, que são aquele que ilustram, enfatizam o que está sendo falado.
A repetição do advérbio "muito" indica uma tentativa de convencimento da intensidade das agressões.
As pausas desnecessárias e a palavra cortada ("eu fui para em esta...") indicam omissão e racionalização do que falar.
Apesar desse convencimento, há congruência em pontos dessa declaração.

Após mostrar a cicatriz, Dalva exibe uma expressão de raiva devido ao afinamento dos lábios.

Imediatamente em seguida, ela coloca os lábios para dentro da boca ("Mutismo"). Esse gesto está relacionado a supressão de alguma emoção e/ou evento negativo. Há tensão nesse momento.

Antes de dizer que foi parar no hospital pelas agressões sofridas, ela olha para cima e esquerda. Esse movimento ocular está relacionado à lembrança.
O fato dela gaguejar nesse momento indica uma forte carga emocional de ansiedade e nervosismo.


ENTREVISTA 2 (2017)  - Começa em 3:28

Nesse segundo vídeo temos Dalva Teixeira ao lado de seu pai, João de Deus

Dalva começa dizendo: "Quero declarar a todos que essa pessoinha que tá aqui do lado nunca... nunca me a... abusou sexualmente..."
Podemos notar que apesar dela estar com a mão na cabeça de João de Deus, o que automaticamente cria uma conexão, seu corpo se mantém a uma certa distância. De acordo com estudos de Proxêmica, desenvolvidos por Edward Hall - com pessoas próximas, que amamos ou temos um carinho maior nossa tendência é se aproximar corporalmente destas diminuindo as distancias interpessoais. Quando mais próximo fisicamente da pessoa, maior é a proximidade emocional. 
A distância entre Dalva e o pai é maior do que se espera para familiares que se gostam. Não há inclinação corporal em direção a João de Deus. Esse afastamento denota também um afastamento emocional. O que nos leva a crer que a mão na cabeça é artificial.
Devemos nos atentar também para sua declaração. As palavras sendo proferidas no diminutivo como "pessoinha" diminuem a importância e indicam desprezo.
Além disso, de acordo com Mark McClish, a palavra "nunca" não indica uma negação, pois não especifica tempo. Aqui, Dalva não está negando que houve assédio.
A repetição da mesma palavra confirma a ocorrência de assédio. Isso porque a repetição de palavras indica um desejo de convencimento do que está sendo falado. Uma das máximas da comunicação é que a verdade não necessita de convencimento, pois, por si só, já gera crença positiva nos interlocutores.
Notem que antes de verbalizar a frase "abusou sexualmente" ela "engasga" com suas palavras. Isso demonstra um conflito (dissonância cognitiva e/ou emocional) entre a verdade e o que ela está pensando.


SUMÁRIO: Dalva mostra congruência e honestidade ao dizer que foi "amolestada" por joão de Deus.
Apesar dessa honestidade existem momentos em que ela tem o desejo de reter e omitir informações.
No início do vídeo, podemos notar algumas evasividades quanto a identidade do pai, não excluindo, portanto, o fato dele ter agredido e abusado.
Apesar da congruência, existem incongruências em momentos de sua declaração.
No segundo vídeo, Dalva não nega que houve abuso, nos fazendo acreditar que houve tal ato. Inconscientemente ela assume, por meio de sua declaração.

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