terça-feira, 16 de abril de 2019

Análise não-verbal: Maria do Rosário falando sobre a condenação de Danilo Gentili.

Recentemente o humorista Danilo Gentili foi condenado à seis meses de prisão por injúria contra a Deputada Maria do Rosário, em ação movida em 2016.
Após essa condenação a Deputada gravou um vídeo aonde fala sobre a condenação do humorista. O que Maria dos Rosário está comunicando de forma não-verbal?

Vamos à análise:

A partir de 0:04, a Deputada diz: "... recebi a notícia de que Danilo Gentili foi condenado em ação que nós movemos contra ele em 2016, pela juíza, a Doutora Maria Isabel do Prado da 5ª Vara Criminal de São Paulo... no crime de injúria"
Durante esse trecho a Deputada exibe algumas expressões de felicidade devido a ação do músculo caninus promovendo a elevação do ângulo da boca e o consequente inflamento nas bochechas.

No final do trecho acima, Maria do Rosário exibe mais uma vez uma expressão de felicidade, mas dessa vez há pressão nos seus lábios.
De acordo com os ensinamentos de Paul Ekman, quando sorrimos mas temos os lábios pressionados, podemos concluir que há o chamado "sorriso suprimido ou refreado". Esse tipo de sorriso é emitido quando o agente sente uma emoção/sensação positiva, mas deseja mostrar que tal emoção/sensação é mais fraca do que realmente está sentindo. Um exemplo clássico é quando estamos na escola e um colega cai no chão. Nosso desejo é de rir, mas temos que suprimir essa sensação para que não percebam sua intensidade real.
Esse sorriso também pode estar ligado ao chamado "Schadenfreude". Essa palavra é de origem alemã e significa a alegria ou satisfação perante o infortúnio ou o dano causado a um terceiro.

A partir de 0:42, a Deputada diz: "Eu até acredito que... a sentença é uma convocação à sociedade brasileira para o bom senso; para que as pessoas usem as redes sociais com respeito, para que ninguém destrate o outro, para que ninguém... utilize de pseudos... brincadeiras, quando na verdade o seu objetivo é apenas o da humilhação"
A preposição "até", de acordo com Statement Analysis, é chamada de palavra adicional. É um elemento desnecessário na oração cuja sua ausência não afeta o sentido. O uso de palavras desnecessárias indicam uma tentativa de convencimento.
Devemos nos atentar também para a utilização da palavra "pseudos". Seria interessante averiguarmos o significado dessa palavra no dicionário interno da Deputada. Se ao se referir a "pseudos brincadeiras", ela estiver querendo dizer brincadeiras falsas, com a intenção de causar degradação, vexame, estamos diante de mais uma tentativa de convencimento. Isso porque o uso da expressão "na verdade" indica oposição e usar "pseudo brincadeiras" (dependendo de seu dicionário interno) e logo depois usar a palavra "humilhação" não mostra oposição de significados e sim convergência. Caso ela Tenha usado duas palavras com o mesmo significado, estando ligadas pela expressão "na verdade", o seu discurso se trona extremamente racional, havendo também a descrença no que está falando. Há o desejo de convencimento.
No campo não-verbal, ao dizer a palavra "pseudos" ela eleva sutilmente o ombro esquerdo, de forma unilateral. Esse movimento indica falta de comprometimento e evasividade (foto acima).

A partir de 1:12, a Deputada diz: "Cabe ao judiciário definir qual é a proporção dos termos da condenação"
Ao dizer "proporção", Maria do Rosário adota uma postura de arrogância pela elevação da sua cabeça em um ângulo maior que noventa graus, contração unilateral na extremidade da boca e olhos semi-fechados.

A partir de 1:18, Maria do Rosário diz: "Eu acredito que... aquilo que... cada um ou cada uma realiza tem contra-partidas de realizada"
O trecho a cima se refere a uma sentença declarativa ("Eu acredito que..."). Esse tipo de sentença tem como objetivo transmitir uma informação. Declara os fatos ou uma opinião, deixando que o interlocutor saiba de alguma ideia ou informação específica. Aqui, Maria do Rosário deseja transmitir suas crenças.
Por estar transmitindo o que acredita, é comum que essa informação seja passada, não-verbalmente, da forma mais congruente, direta e dominante possível.
No caso da Maria do Rosário, ao dizer que ela acredita, sua Linguagem Corporal é de incerteza e até submissão, pois ela declara sua crença ao mesmo tempo em que fecha os olhos ("Eye Shielding"), como não querendo ver o que está dizendo.

A partir de 1:30, a Deputada diz: "Acredito que toda a pessoa tem direito à defesa, mas quando entramos judicialmente em um caso como este, nos buscamos, pelo menos, a reparação... mínima."
Mais uma vez se trata de uma sentença declarativa, e novamente ao dizer "toda pessoa" ela fecha seus olhos como uma não-visualização do que acabou de dizer.
Curiosamente, nessa declaração, ela omite o pronome pessoal "eu" ("eu acredito..."). De acordo com Mark McClish, a omissão do pronome pessoal, é um indício de distanciamento do que está falando.
A Deputada usa a preposição "mas". Ainda de acordo com Mark McClish, o uso dessa preposição exclui a completamente a importância da oração que a precede. Isso significa dizer que para a Deputada, não é importante que toda a pessoa tenha direito à defesa. Essa oração é completamente racional.

A partir de 1:56, Maria do Rosário diz: "Tudo isso vai fazendo parte de um ambiente político tóxico, que tem diminuído nossa capacidade de refletir sobre o que é certo e o que é errado"
Ao dizer a palavra "errado" sua voz se torna trêmula. De acordo com estudos da Paralinguagem, a voz trêmula indica nervosismo e ansiedade. Isso acontece porque, ao estarmos nesses estados, existe a contração do músculo da garganta, afetando a vocalização. Devemos nos perguntar, porque a Deputada está nervosa ao falar do que é errado.

A partir de 2:07 - 2:08, Maria do Rosário diz: "Eu lamento um dia ter acontecido esse vídeo... quando eu só queria dialogar com esse senhor... mas eu prezo a decisão judicial"
Aqui percebemos alguns elementos de incongruência.
Após dizer "eu lamento", podemos perceber que ela esboça um sorriso. Esse sorriso, de acordo com o psicólogo Paul Ekman indica o chamado "Dumping Delight" (sorriso do manipulador) e acontece quando o a gente sente satisfação quando percebe que sua manipulação ou desonestidade está surtindo efeito (foto acima)
Durante a verbalização de "um dia ter acontecido esse vídeo" seus movimentos são descoordenados. Estão em ritmo diferente da fala. Há desonestidade.
Os movimentos corporais devem ser realizados durante a fala e congruente com as pontuações verbais. Quando tais movimentos ocorrem depois da fala e não coordenados com as pontuações verbais, podemos dizer que não há sincronia, e de acordo com a doutrina da comunicação não-verbal, quando não há sincronia, existe um altíssimo coeficiente de desonestidade.
Novamente há o uso do "mas", excluindo toda a importância da oração que precede.

Ao dizer "com esse senhor", ela se refere ao comediante Danilo Gentili. Durante esse momento, ela exibe um sorriso de desprezo pela contração unilateral do canto dos lábios, juntamente com os olhos fechados, o que nesse caso funciona como um potencializador da emoção de desprezo.
Tratar o comediante como "esse senhor" mostra um desejo de se distanciar mentalmente, fisicamente, dele

A partir de 2:29, Maria do Rosário diz: "Cabe avaliar... aquele que proferiu a injúria... se vale a pena agir dessa forma... diante... dos resultados que acarreta agora. E diante... dos resultados, que sem dúvida... em termos de humilhação e de... ataque, também me conferiu e conferiu ao meu entorno..."
Nesse trecho existem muitas pausas desnecessárias. Esse recurso é usado pelo cérebro para ganhar tempo na resposta, buscando as melhores palavras para serem usadas. Isso mostra um discurso completamente racional.
Ao tratar o comediante Danilo Gentili como "aquele que proferiu a injúria" ela cria um distanciamento
Entre as palavras "dúvida" e "em termos de humilhação" existe uma pausa maior juntamente com o direcionamento ocular para cima esquerda. Calibrando os movimentos oculares de Maria do Rosário, por meio de outros vídeos, é possível perceber que toda vez que ela movimenta os olhos para essa direção, ela está buscando as palavras para dizer, criando.

Ainda no trecho acima, ao dizer "... também me conferiu..." se referindo a humilhação, ela realiza um gesto incongruente e racional
Quando estamos nos referindo a um episódio emocional, devemos realizar gestos emocionais. Um desses gestos é a mão espalmada no peito. Quando nos referimos a nós mesmos em um contexto emocional, tendemos a espalmar a mão no peito.
Levando em consideração que o discurso, nesse momento é emocional ("A humilhação foi direcionada a mim"), o gesto realizado deveria ser a mão espalmada completamente no peito.
Aqui, a Deputada não faz o gesto, como mostrado na foto acima. Demonstrando que seu discurso é completamente racional


A partir de 3:07, Maria do Rosário diz: "Não comemoro quando alguém ééé... ééé tem uma sentença... desse tipo..."
Aqui, a Deputada faz uso de agregadores verbais (ééé) e pausas desnecessárias. Ambos os recursos são utilizados pelo cérebro para ganhar tempo e pensar no que falar. Trata-se portanto de um discurso racional.
Juntamente, podemos ver um desvio de olhar da Deputada. Nesse caso, tal desvio está ligado a não acreditar no que diz, e portanto não quer que vejam essa descrença.
Se observarmos seus ombros, nesse momento, vamos ver que ela está mexendo em alguma coisa que está na mesa. Esse gesto é chamado de "bengala emocional". Devido a falta de confiança em suas palavras, ela se sente ansiosa e nervosa, e para que se acalmar ela realiza um gesto pacificador
Como já dito em outros artigos desse blog, os gestos pacificadores tem a função de fazer nos acalmarmos diante de momentos de ansiedade e nervosismo. Geralmente eles são realizados no nosso próprio corpo, quando nos tocamos, coçamos durante momentos de estresse. Essa pacificação pode ser realizada também em objeto, tendo o mesmo objetivo.



SUMÁRIO: A Deputada Maria do Rosário, durante todo o vídeo faz um discurso completamente racional. Podemos afirmar que existe uma alta probabilidade dela não ter se sentido emocionalmente afetada com a ação do comediante.
Há felicidade com a condenação de Danilo Gentili. Aqui temos o "Schadenfreude", que é a felicidade sentida pelo dano sofrido por alguém.
Existem momentos de arrogância relacionados à condenação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.