terça-feira, 28 de abril de 2020

Análise não-verbal: Gabriela Pugliesi pede desculpas por desrespeito à quarentena. Pedido de desculpas sincero?

Recentemente a influencer digital Gabriela Pugliesi publicou em suas redes sociais vídeos demonstrando que estava participando de uma festa em meio à quarentena do coronavírus.
Esse comportamento foi muito criticado pelos seus seguidores e não seguidores.
Segundos essas pessoas, o fato dela participar de uma festa em um período tão turbulento mundialmente, aonde a ordem principal é todos ficarem em casa de quarentena para evitar que o vírus se espalhe, é um desrespeito ao momento que está sendo vivido.
Após esse vídeo vazar na internet, e após Gabriela Pugliesi perder vários patrocinadores, a mesma gravou em seu Instagram um pedido de desculpas por sua atitude.
Será que esse pedido de desculpas foi sincero? O que sua linguagem corporal pode nos dizer?

Vamos à análise:

Em 0:02, no momento em que Gabriela pede desculpas, ela realiza um gesto com as mãos se entrelaçando. Segundo o antropólogo Desmond Morris, esse gesto indica suplica, proteção. Sendo, portanto, um "gesto ilustrador" de categoria beta (submissão)
O que é interessante de observar nesse trecho, é que, ao mesmo tempo em que ela realiza esse gesto mostrando submissão, sua cabeça está projetada em um ângulo acima de 90 graus. Esse posicionamento, vulgarmente chamado de "nariz empinado", indica um estado emocional de superioridade, arrogância, dominância excessiva.
Podemos dizer que os gestos são incongruentes entre si - enquanto as mãos projetam submissão, a cabeça indica arrogância e dominância.
Segundo Jack Brown, o pedido de desculpas é um contexto que deve ser exclusivamente submisso, pois o agente está em uma posição de vulnerabilidade, em razão do comportamento que levou ao pedido.
Tendo, Gabriela exibido um sinal de dominância, podemos dizer que há incongruência gestual-contextual.

Em 0:04, no momento em que começa a contar o que aconteceu, podemos ver uma elevação consistente, de ambos os ombros e .
Esse movimento é chamado de "Turtle Effect", e demonstra uma intenção do agente em se proteger do acontecimento. Ele é realizado quando o agente experiencia desconforto, medo. Tem esse nome como uma referência ao gesto que a tartaruga faz diante, também, de uma situação de medo e desconforto, no qual ela se esconde no casco.

A partir de 0:04, Gabriela Pugliesi diz: "Ontem eu juntei meia dúzia de amigos aqui em casa, a gente pediu comida, a gente bebeu; eu me passei, postei, falei besteira. Enfim, eu tô extremamente arrependida, tô mal comigo mesma..."
No momento em que ela diz "me passei, postei, falei besteira", sob o prisma da Análise de Declaração (Statement Analysis), houve uma quebra da cronologia temporal dos fatos.
Gabriela Pugliesi ordena os acontecimentos como: 1º. Ela se passou; 2º. Postou e 3º. Falou besteira. Para quem viu o vídeo do fato, o que realmente aconteceu foi que a Influencer, em primeiro lugar, "se passou", depois ela falou besteira e em seguida postou.
A troca da ordem cronológica, por mais simples que seja, segundo Mark McClish, indica um discurso incongruente, que pode indicar desonestidade ou, como no contexto, falta de comprometimento emocional.
Além disso, podemos perceber que a fluidez de seu discurso é consistente com uma declaração racional (não sentida).
Nos discursos racionais, planejados, devido a uma intenção de convencimento e manipulação, geralmente algumas sílabas são um pouco mais prolongadas, em comparação a um discurso mais natural, mais emocional. Essa alteração na estrutura paralinguística pode ser observada da seguinte forma: "Ontem eu juntei meia dúzia de amigos aqui em caaasa, a gente pediu comiiida, a gente bebeeeu; eu me passeeei, posteeei, falei besteeeeira..".

[Discursos emocionais, nesse contexto, sustentam sua credibilidade por si só; os discursos mais racionais, as vezes precisam de alguns elementos de convencimento para alcançar a credibilidade necessária]

Ao final desse trecho, ela faz a conexão entre os períodos verbais com o advérbio "enfim". De acordo com Mark McClish, esse advérbio pode indicar resignação - que é a sujeição ao desejo de outra pessoa.
Diante de todos os elementos vistos nesse trecho, podemos dizer que há um forte indício dessa declaração ser racional. O arrependimento aconteceu porque ela TEM QUE pedir, e não porque DESEJA pedir.

Em 0:19, a Influencer diz: "Eu quero pedir desculpas"
Aqui podemos ver uma microexpressão de medo devido ao estiramento horizontal dos lábios.
Não sabemos exatamente qual foi o fato gerador da emoção de medo, mas uma possibilidade de refere a repercussão negativa que o fato teve.

Em 0:22, após dizer "Não é pra juntar gente em casa", novamente podemos ver uma microexpressão de medo, dessa vez peal elevação das sobrancelhas em sua porção interna e externa, elevação das pálpebras superiores e estiramento horizontal dos lábios.

Em 0:38, Gabriela diz: "Eu tenho que ter responsabilidade"
Nesse momento ela realiza um "gesto pacificador" de passar a mão na região lateral do pescoço e na nuca. Juntamente podemos ver também uma expressão de medo pela elevação das partes internas e externas das sobrancelhas, aumento das pálpebras superiores e estiramento horizontal dos lábios.
Como já sabemos, "gestos pacificadores" são aqueles que consistem em realizar auto-toques com a intenção de se acalmar diante de um estado de ansiedade, nervosismo. De acordo com a doutrina de Comunicação Não-Verbal, a ansiedade é um estado emocional que PODE acontecer quando se está sendo desonesto.
O especialista em linguagem corporal, Jack Brown, através de observações, percebeu que a área da cabeça em que o gesto manipulador acontece pode nos dar indícios se a ansiedade experienciada tem uma alta ou baixa relação com a desonestidade. Segundo ele, quando o gesto manipulador acontece na região lateral do pescoço e nuca indicam, o que ele chama de "Ansiedade-Honesta", ou seja, tem pouca relação com uma desonestidade.

[É importante dizer que Jack Brown usou bases empíricas para chegar a essa conclusão, sendo assim, não podemos usar essa informação como um padrão, como uma verdade absoluta. O contexto deve sempre ser analisado]

Tendo em vista o contexto em que se apresenta, quando Gabriela Pugliesi passa mão na região lateral do pescoço e da nuca, podemos dizer que ela está ansiosa e nervosa por não ter tido um comportamento responsável.
No campo verbal, de acordo com a PNL, "Eu tenho que..." constitui um "Operador Modal de Necessidade". Adaptando esse conceito da PNL para a Análise de Declaração, é possível concluir que Gabriela Pugliesi se sente na obrigação de ser responsável. Ter essa obrigação, não necessariamente expressa uma vontade. As obrigações estabelecem regras quanto o que é necessário e apropriado. Não são flexíveis.
Aqui, a Influencer está afirmando que ela tem responsabilidade porque ela tem essa obrigação, e não necessariamente porque ela é assim.

[Quando o discurso está pautado em um "Operador Modal de Necessidade", quando os deslizes comportamentais acontecem, tendem a existir sinais mais fortes de ansiedade, pois a pessoa tende a se cobrar demais, tendo em vista que ela não é assim, apenas TEM QUE  ser.]

Em 0:43, ainda enquanto se refere às responsabilidades que tem diante das coisas que fala, Gabriela Pugliesi realiza um gesto chamado "Tongue Jut", que consiste em passar a língua nos lábios. Esse gesto indica ansiedade. De acordo com o especialista em linguagem corporal Joe Navarro, esse gesto, de uma forma mais específica é um sinal de auto-incriminação. Como se o corpo dissesse "fiz besteira".

Em 0:45, a Influencer diz: "Eu queria pedir desculpas do fuuundo do meu coração"
Mais uma vez aqui vemos um prolongamento verbal na palavra "fundo". De acordo com Mark McCLish os prolongamentos são desnecessários em discursos. Sua única função é manipular, aumentando a intensidade da credibilidade.
Juntamente ela realiza o gesto de fechar os olhos chamado de "Eye Shielding". De acordo com a doutrina de Comunicação Não-Verbal, esse gesto indica desejo de não-visualização diante de um estímulo negativo. Nesse contexto da análise, ele pode ser interpretado também como um agravador. Ela está tentando aumentar a intensidade de sua fala para tornar mais crível.


SUMÁRIO: A influencer digital Gabriela Pugliesi apresenta, majoritariamente emoções de medo; e ansiedade pelo acontecido..
Ela apresenta comportamento auto-incriminador. Sabe que errou.
O pedido de desculpas é um contexto completamente emocional, porém, a influencer apresenta sinais que constituem racionalidade e superioridade no pedido. Essa incongruência mostra que o pedido de desculpas não está sendo sentido. Em outras palavras, há alta probabilidade do pedido de desculpas não ter sido feito por ter ferido, de alguma forma, à sociedade; mas sim por ter sido profissionalmente prejudicada.
De tudo isso, podemos concluir que ela sabe que errou, mas pede desculpas apenas porque não quer se prejudicar mais do que já se prejudicou.
Foi observado que Pugliesi se cobra em ser responsável. O que, pode ser congruente com sua profissão.

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