sábado, 25 de abril de 2020

Análise não-verbal: Sérgio Moro faz acusações contra o Presidente Bolsonaro. Há veracidade? Quais as emoções envolvidas?

Recentemente, o atual ex-Ministro da Justiça Sérgio Moro pede demissão, após ter ficado mais de 1 ano no cargo.
Segundo a Imprensa, o ex-Ministro tomou essa decisão após a exoneração do diretor geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, pelo Presidente Jair Bolsonaro. Valeixo tinha sido indicado para o cargo pelo próprio Sérgio Moro.
Sérgio Moro fez um pronunciamento à Imprensa no qual anunciou a saída do Governo e fez algumas acusações contra o Presidente Jair Bolsonaro.
O que a Linguagem Corporal de Sérgio Moro pode nos mostrar?

Vamos á análise:

Em 0:15, Moro diz: "Foi me prometido, na ocasião, carta branca"
Nesse momento Sérgio Moro exibe uma expressão facial de medo, devido a elevação da parte interna e externa das sobrancelhas, contração no corrugador, elevação das pálpebras superiores e um sutil estiramento horizontal dos lábios.
Nem sempre é possível identificar o fato gerador dessa emoção, apenas que a emoção está sendo experienciada.

Em 0:29, enquanto ainda fala da carta branca que recebeu do Presidente para nomear todos os assessores da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Federal, o ex-Ministro exibe uma expressão de raiva. Nesse caso, a raiva está sendo exibida na face através das contrações do corrugador (responsável pelo abaixamento das sobrancelhas), tensão nas pálpebras inferiores, pressão dos lábios e tensão na mandíbula.
De acordo com Paul Ekman, um dos gatilhos da emoção de raiva é a injustiça. Ou seja, quando um a gente se sente injustiçado por algum motivo, é comum observarmos a raiva em sua face.

Em 0:34, podemos ouvir uma expirada profunda do ex-Ministro Sérgio Moro.
Essa expirada mais estendida é um indicativo de se aliviar de uma situação estressante. É como se o corpo, através da expirada eliminasse o estresse, ansiedade.
Esse sinal não-verbal acontece no momento em que ele está falando sobre a troca do Diretor-Geral da Polícia Federal

Em 0:47, o ex-Ministro Sérgio Moro exibe uma expressão de raiva, devido a contração no músculo do corrugador, tensionamento nas pálpebras inferiores e pressão nos lábios.

Em 0:51 - 0:52, Sérgio Moro engole em seco ao dizer que a troca do Diretor-Geral da Polícia Federal seria feita somente se houvesse uma insuficiência de desempenho ou um erro grave.
Esse comportamento está ligado ao estresse e tensão. Quando experienciamos esses estados emocionais, devido a liberação de alguns hormônios, a boca tende a fica mais seca que o normal, fazendo-se necessário um esforço maior para engolir afim de lubrificar a região da garganta.
Provavelmente, a tensão e o estresse estão ligados ao fato do Diretor-Geral ter sido demitido sem ter tido esses motivos.

A partir de 1:12, Sérgio Moro diz: "Tem outros bons nomes para assumir o cargo de Diretor-Geral da polícia Federal, né?"
Durante esse trecho ele realiza um gesto chamado de "Tongue Jut" que consiste em projetar a língua para fora da boca.
De acordo com o especialista em linguagem corporal Joe Navarro, esse gesto indica ansiedade com o que está dizendo.
Analisando o contexto, essa ansiedade não é congruente com tal afirmação.
Devemos nos perguntar: "Por que Sérgio Moro está se sentindo ansioso ao fazer uma afirmação, simples de ser feita"
De acordo com a doutrina da Comunicação Não-Verbal, essa incongruência pode ser sinal de desonestidade.
Sérgio Moro termina esse trecho com o advérbio "né?". De acordo com estudos de Statement Analysis, terminar com uma pergunta indica dúvida, pois transfere a confirmação do que disse para os interlocutores.
Sérgio Moro não acredita que existem outros bons nomes para assumir o cargo

Em 1:27, ao falar que essa troca no cargo de Diretor-Geral da Polícia Federal seria uma violação à carta branca que foi dada ao ex-Ministro, podemos ver um sutil desvio de cabeça para seu lado esquerdo.
Esse desvio indica distanciamento. O distanciamento não-verbal acontece quando estamos diante de uma informação da qual não gostamos, não acreditamos ou não confiamos.
Esse movimento está diretamente ligado à violação da carta branca dada pelo Presidente.

Em 1:42, ao verbalizar "interferência política", podemos perceber que sua voz fica trêmula.
De acordo com estudos da Paralinguagem, voz trêmula é um forte indicativo de estresse e ansiedade.
Esses estados emocionais causam um tensionamento na região da garganta, fazendo com que haja essa alteração vocal.

A partir de 1:48, Sérgio Moro diz: "E o problema é que nas conversas com o Presidente, e isso ele me disse expressamente, que não é só troca do Diretor-Geral. Haveria também intenção de trocar Superintendentes..."
Durante esse trecho podemos notar um aumento nas piscadas. O aumento das piscadas está ligado a ansiedade.

A partir de 2:06, o ex-Ministro diz: "Ontem.. eu conversei com o Presidente, houve essa insistência do Presidente. Falei ao Presidente que seria uma interferência política. Ele disse que... seria mesmo"
Logo no começo, podemos ver que o ex-Ministro Moro demonstra a emoção de desprezo, devido a contração do músculo do bucinador, de formam ais evidente em seu lado esquerdo.
Durante esse trecho podemo ver um aumento significativo do número de piscadas, indicando ansiedade.

Em 2:16, ainda referente ao trecho anterior, no momento em que ele afirma que o Presidente disse "seria mesmo", ele exibe um conjunto gestual muito interessante.
Podemos ver contração no corrugador (responsável pelo abaixamento das sobrancelhas), olhos fechados ("Eye Shielding"), elevação do queixo + queda dos cantos da boca e movimento das mãos em supinação
De acordo com estudos da Comunicação Não-Verbal, o conjunto não-verbal constituído pela contração do corrugador + elevação do queixo + queda dos cantos da boca conjugado com o movimento das mãos em supinação (giro das mãos lateralmente) é um sinal de discordância de pensamentos.
Os olhos fechados funcionam como um potencializador dessa discordância.
Adaptando ao contexto, essa discordância se refere ao fato de Sérgio Moro não concordar com a interferência política.

Em 2:19, ao final desse trecho, podemos ver que o ex-Ministro moro exibe a expressão de raiva devido a pressão nos lábios.

Em 2:22, novamente vemos a expressão de raiva, devido a pressão nos lábios. Dessa vez ela está conjugada com uma expressão de desprezo, devido a contração no bucinador (músculo localizado no canto dos lábios e responsável pela retração dos lábios e estreitamento das comissuras)

Em 2:31, ao dizer que o Presidente queria ter alguém de confiança no cargo para ter acesso às informações e aos relatório de inteligência, o ex-Ministro exibe mais uma vez a expressão de raiva, principalmente, devido a contração do corrugador (responsável pelo abaixamento das sobrancelhas) e tensão nas pálpebras inferiores

Em 2:46, diz: "... E realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação. As investigações tem que ser preservadas"
Enquanto verbaliza "papel da Polícia Federal" podemos ver uma elevação do volume da sua voz, juntamente com tensionamento no corrugador e afinamento dos lábios; e uma expressão de desprezo [foto acima].
De acordo com a Paralinguagem, o aumento no volume da voz está ligado ao desejo de chamar atenção e ser mais incisivo no que está a falar.
A raiva e o desprezo demonstram como Sérgio Moro se sente devido a discordância de ideias.

Em 3:00 podemos ver mais uma expressão de desprezo conjugada com a expressão de raiva.
A raiva é observada devido a contração do corrugador, tensionamento dos lábios.
O desprezo é observado pela contração do músculo do bucinador em seu lado esquerdo.

A partir de 3:54, o ex-Ministro diz: "A exoneração que foi publicada... ééé... eu fiquei sabendo pelo Diário Oficial. Eu não assinei esse decreto..."
Aqui notamos agregadores verbais ("ééé") que indicam que Moro está pensando no que vai falar a seguir.
Ao dizer que ficou sabendo pelo Diário Oficial, podemos ver um leve desalinhamento de sua cabeça para sua esquerda. Esse movimento está ligado à intenção de distanciamento. De acordo com o contexto, ele está se distanciando do fato de ter sabido previamente da exoneração.
No momento em que diz: "Eu não assinei esse decreto" podemos observar um gesto de cabeça chamado por Jack Brown de "Head Wiggle", que consiste em movimentos, de alta frequência, com a de um lado para outro [É necessário assistir ao vídeo, nesse trecho, para entender o movimento feito]. Essa movimentação indica confiança e assertividade no que está falando.
Nesse trecho há congruência e honestidade

Em 4:17, Moro diz: "Sinceramente, fui surpreendido" [ao se referir à exoneração]
De acordo com estudos de Statement Analysis, a utilização do advérbio "sinceramente", nesse contexto, pode ser considerado uma palavra desnecessária. Ou seja, sua presença no discurso não altera o sentido. Segundo Mark McClish, o uso de palavras desnecessárias podem ter a intenção de reforçar um pensamento. Na maioria dos casos, o reforço indica tentativa de convencimento. Quando um discurso é completamente honesto, não há necessidades de reforços; ele por si só se sustenta.
O uso desse advérbio nesse contexto pode indicar que Moro provavelmente já fazia ideia, em algum grau, de que haveria tal exoneração.
Ao dizer que foi surpreendido, ele exibe uma expressão composta. Aqui vemos tristeza (em primeiro plano) juntamente com medo - pelas contrações do corrugador, elevação da parte interna da sobrancelhas, elevação das pálpebras superiores e queda das extremidades da boca.
De acordo com alguns autores, a composição dessas duas emoções indicam um sentimento de choque, irritação [foto acima]

A partir de 4:33, o ex-Ministro diz: "Pra mim esse último ato, também, é uma sinalização de que... o Presidente me quer, realmente, fora do cargo. Não me quer presente aqui dentro do cargo"
Sérgio Moro realiza uma pausa desnecessária ("de que... o Presidente"). De acordo com estudos de Statement Analysis, a pausa desnecessária é um recurso usado pelo agente para ganhar tempo e pensar no que falará em seguida.
Ao confirmar que o presidente o quer fora do cargo, ele realiza um movimento de elevação unilateral com seu ombro esquerdo ("Shoulder Shrug"). Esse gesto é considerado um "emblema parcial", e, segundo alguns autores como Jack Brown, esse gesto pode indicar impotência [como se o corpo tivesse dizendo: "se o Presidente quis isso, o que eu posso fazer?"]
No final, ao dizer: "Não me quer presente aqui dentro do cargo" percebemos que existe uma queda em seu volume vocal. Essa diminuição está ligado a um estado emocional negativo, mais ligado a tristeza, vergonha. Pode ser visto também como um indicativo de submissão.

A partir de 4:48, Sérgio Moro diz: "Eu não tinha como aceitar essa substituição.."
Nesse momento ele emite desprezo, pela contração do músculo do bucinador, na extremidade esquerda do canto da boca.

A partir de 4:53, Moro diz: "Há uma questão envolvida do meu... também da minha biografia como juiz; em respeito à lei, ao Estado de Direito..."
Ao falar da sua biografia como juiz, ele ponta para ele mesmo. De acordo com Jack Brown, o gesto de apontar para si mesmo com a ponta dos dedos é um indicativo de assertividade, confiança, de congruência com as suas convicções.


SUMÁRIO: As emoções predominantes no ex-Ministro Sérgio Moro são raiva e desprezo. Bem como medo.
Um dos gatilhos da emoção de raiva é a injustiça. Diante disso, podemos afirmar que Sérgio Moro se sente injustiçado pela perda de seu cargo e por não receber a "carta branca" inicialmente prometida pelo Presidente Jair Bolsonaro.
Sérgio Moro apresenta ansiedade e desprezo ao falar da interferência política na Polícia Federal. Ele não concorda com essa interferência.
O ex-Ministro é sincero quando diz que não sabia da exoneração do cargo, apesar de que já tinha ess suspeita É sincero também quando diz que não assinou o decreto.
Existe emoção de tristeza com medo ao falar da exoneração do Diretor Geral da Polícia Federal. Bem como, ele acredita que não haverá ninguém melhor para a substituição no cargo.
O ex-Ministro também experiencia emoções negativas ao falar da sua saída do Ministério.
Há um forte indício de congruência nas denúncias feitas pelo ex-Ministro Sérgio Moro

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